segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

o poço

 


Pode-se trocar uma cidade de lugar, mas não se pode mudar um poço”. I Ching

Cavei um poço dentro de mim e nele me enraizei para viver com liberdade. 

Me tornei um escravo da autonomia, centralizando as trocas da vida. Plantas, animais e outras pessoas passaram a viver em meu entorno, vivendo em meus ritmos sem perceber. 

Maldita independência que me fez depender dos dependentes, sou parasita dos que me sugam. 

Todos retiram água sem restrições, mas ninguém pede, agradece, nem percebe que existo como ser. 

Aliás, é comum que, as pessoas se vendo refletidas em minhas águas, me acusem de seus próprios defeitos.

Eu sou um poço profundo, dentro de mim tem um mundo que ninguém nunca vai ver. Se não posso sair do lugar, sou anterior a quem me procura e continuarei vivo depois que se forem. 

Sou eternamente fixo, crucificado no chão, com tudo girando em minha volta.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

As 12 Noites Santas

É o assim denominado período que vai da noite de Natal (25) até a noite anterior ao dia dos Reis (05), quando, segundo a antiga tradição cristã,  bençãos divinas se derramam sobre nós através dos portais das 12 constelações do Zodíaco, o cinturão de estrelas em volta do espaço sideral no qual existimos.

As 12 badaladas da meia noite do Natal anunciam a vigília que é um preparo espiritual, como se as Noites Santas fossem uma prévia dos 12 meses do ano que se inicia.

As virtudes recebidas das hierarquias espirituais nesta época, através da meditação, injetam suas forças no nosso desenvolvimento espiritual ao longo do novo ano.

Uma atenção especial deveria ser dada aos sonhos como mensageiros do espírito.


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A tradição das 12 Noites Santas e o Zodíaco


Podemos associar esta tradição à sabedoria antiga do Oriente através do relato da Jornada dos Reis Magos do Evangelho de Mateus. 2.2 a 10
Na noite em que nasceu o Salvador, uma estrela se iluminou e este era o sinal há muito esperado pelos Iniciados do Oriente, que durante 12 noites seguintes seguiram o brilho da estrela que os precedia até alcançar a criança que havia sido  anunciada como o Messias.

O relato do Evangelho de Mateus nos remete para os mistérios espirituais da antiguidade, etapa do desenvolvimento da humanidade
da época do assentamento na região do Mediterrâneo quando aqueles que eram iniciados desenvolviam a visão clarividente através da qual, o que hoje é considerado pela astronomia como corpos siderais, eram vistos por eles como a manifestação de seres espirituais em atividade constante e transmutação contínua. 

A este antigo estado de consciência clarividente está associado o surgimento da astrologia, esta sabedoria baseada na analogia do movimento e posição dos astros com o destino humano. Ao fazermos a vigília das Noites Santas podemos retomar a jornada dos Reis Magos através da ligação interior com este sabedoria a respeito das 12 constelações do Zodíaco.

 


Quem são os seres que vamos encontrar na jornada das 12 Noites Santas?


Rudol Steiner refere-se às hierarquias espirituais em muitas de suas palestras. Inicialmente ele lhes dedica um capítulo na Ciência Oculta (1905) descrevendo a atuação delas na evolução do universo e do ser humano.

As nove hierarquias espirituais podem ser contempladas  como esculturas no portão sul da Catedral de Chartres desde o século XIII. Chartres foi a mais importante catedral gótica da idade média e neste portão, chamado de Portão da Transubstanciação, as hierarquias formam uma escada ascendente que representa o ensino espiritual da Escola de Chartres. O aluno deveria, de degrau em degrau (gradualmente), adquirir consciência destes seres espirituais que representavam diferentes estados de consciência.

Neste aprendizado o pensamento era considerado um instrumento necessário para a percepção do espiritual desde que fosse casado com a vivência dos sentimentos e assim tornavam-se ambos, pensar e sentir, órgãos de compreensão e de participação no mundo espiritual. 

Os nomes das hierarquias se originaram de um manuscrito de Dionísio, o Aeropagita que fundou a primeira escola esotérica cristã da antiguidade. Dionísio, um iniciado dos antigos centros de mistérios gregos,  renomeou os seres divinos que era chamados como os seres de Vênus, os seres de Mercúrio,etc.. a partir da revelação do Cristo feita a ele por Paulo de Damasco em Atenas.

O manuscrito sobreviveu ao longo de séculos até ir parar em Chartres e é intitulado: "Os Nomes divinos e a Teologia Mística", descrevendo dramaticamente os nove níveis de seres divinos associados em grupos de três hierarquias que participaram da evolução da terra e do ser humano.

A primeira hieraquia inclui os Serafins, Querubins e Tronos que iniciaram a evolução estando tanto no seu início como no seu fim – no Alfa e no Omega,
Eles atuam a partir do divino, da esfera macrocósmica que é denominada como a esfera do Pai, de Deus, de Alá, do amor divino, da doação cósmica. Eles são seres de um estado evolutivo anterior ao nosso, tão avançados em sua evolução que foram capazes de fazer fluir de si a sua própria substância dando nascimento ao atual estado do nosso sistema solar.

A segunda hierarquia é formada pelos Kyriotetes, Dynamis e os Exusiai.

Enquanto no processo de configuração do nosso Cosmos a primeira hierarquia atuou de fora, eles, de dentro do processo, acolheram os planos divinos transformando-os em sabedoria, dando-lhe movimento e  forma.

E por último a terceira hierarquia, os Arqueus, Arcanjos e Anjos próximos ao seu humano porque desenvolveram a sua essência nesta etapa evolutiva em que nós, Anthropos, nos encontramos e na qual estamos destinados a nos tornar co-criadores da evolução..

Primeira hierarquia         Segunda hierarquia             Terceira hierarquia
Serafins                          Kyriotetes                             Arqueus
Querubins                       Dynamis                              Arcanjos
Tronos                            Exusiai                                 Anjos   

Já nos últimos anos de sua vida, em uma palestra intitulada a Palavra Cósmica e o Homem Individual (2/05/1923) ,  Rudolf Steiner chama a atenção para o fato de que o homem auto consciente deveria  re-aprender a vivenciar as hierarquias na sua vida interna como realidades.

Nesta palestra ele diz que estes seres espirituais vem ao nosso encontro quando nos preparamos para conhecê-los e falarão à nossa alma primeiramente como pensamentos e sentimentos, e só depois então o perceberemos como realidades.

Em um texto intitulado "O Zodíaco e as Hierarquias Espirituais", Sergej Prokofieff, atualmente um dos dirigentes mundiais da Antroposofia, inspirado por diversas palestras de Rudolf Steiner,  descreve o ensino espiritual de Chartres  nesta tradição da vigília das 12 noites santas.

Ele delineia a escada de expansão da consciência que ajuda a dar nascimento, no último degrau, ao ser divino em cada um de nós.

O primeiro degrau da escada se assenta na esfera humana terrena e cada degrau nos leva gradualmente à esfera macrocósmica, à esfera divina.

Prokofieff faz uma analogia entre este caminho de transformação e o processo de desenvolvimento descrito por R. Steiner como o caminho de Jesus a Cristo.

Jesus nasce como a criança arquetípica destinada a se desenvolver como um ser humano de tal forma que possa acolher em si o Eu do Cosmo no Batismo do Jordão.

Este acontecimento místico  derramará sua influência por sobre toda a história humanidade como um grande arquétipo de desenvolvimento espiritual.
 

 

PRIMEIRA NOITE SANTA

Soam as 12 badaladas da meia noite anunciando o Natal.  Vem a aurora, atravessamos o dia, cai a noite e uma luz se acende no céu irradiando um brilho que emana da Constelação de Peixes e ilumina a primeira vigília santa.

Estamos no primeiro degrau da escada que está assentada na esfera humana terrena na dimensão da existência do anthropos – o ser da liberdade.

A liberdade é uma das duas principais forças espirituais que nos foram destinadas conquistar ao longo da vida. A outra força será ao final da escada, o amor.

A sabedoria antiga nos conta que foram as forças espirituais de Peixes que configuraram os pés humanos. Quando observamos os pés verificamos que eles são formados em forma de uma abobada que vai propiciar simultaneamente com a verticalização da coluna o andar ereto, primeiro grande aprendizado da vida. Quando criança nos arrastamos, engatinhamos e finalmente nos erguemos e nos apoiamos-nos próprios pés superando as forças da gravidade significando isto uma grande conquista e a condição para o desenvolvimento do pensamento, sendo o pensar o que diferencia o Humano dos outros reinos da natureza.

Ao longo da vida seguidamente fazemos uma analogia íntima com este fato:

“andar nos meus próprios pés, saber por onde ando,”, seguir os meus próprios passos,” “não vou andar nos passos de ninguém” são expressões que expressam uma correta relação com a terra e com o destino em termos de liberdade pessoal.

Nesta primeira Noite Santa recebemos da constelação de Peixes os impulsos para se firmar nos próprios pés e se erguer, condições básicas para alcançar a liberdade individual, meta ao qual nos destinamos como seres individualizados
 

SEGUNDA NOITE SANTA 

Nasce o Sol, atravessamos o segundo dia, cai a noite e uma nova luz brilha no céu irradiando da Constelação de Aquário o segundo degrau desta escada espiritual. Deste portal emanam para nós as forças espirituais dos Anjos.

Os anjos são representados pela figura de um ser que derrama a água, o símbolo da vida e assim eles também são chamados de “Filhos da Vida”.  

Eles são os seres espirituais imediatamente superiores a nós mantendo conosco uma relação próxima. O encontramos logo cedo no nascimento quando “parecemos anjos” nosso corpo vital ainda muito latente, cheio de vida.

Na infância ele é chamado de “Anjo da Guarda” e é sempre representado em todas as culturas protegendo a criança dos perigos sendo o seu guia e como guia ele permanece ao longo de toda a nossa vida.

“Pergunte ao seu anjo da guarda” freqüentemente escutamos quando estamos em dúvida em relação ao caminho a seguir, a que decisão tomar.

Na vida adulta ele se transforma em nosso Guia Espiritual, nosso verdadeiro Self . “Assim deverás ser” nos fala no íntimo transmutando continuamente forças vitais em forças de consciência fazendo surgir nos pensamentos as imagens orientadoras para a nossa vida.,  

Nesta segunda Noite Santa recebemos através do Portal da Constelação de Aquário os impulsos dos Anjos para que possamos enxergar e permanecer fieis aos nossos ideais. Os nossos ideais iluminam e protegem o nosso caminho e apontam para onde devemos seguir.


TERCEIRA NOITE SANTA 

Atravessamos mais um dia, cai a noite e uma nova luz brilha no céu irradiando da Constelação de Capricórnio o terceiro degrau nesta escada espiritual e deste portal emanam para nós as forças espirituais dos Arcanjos. Os Arcanjos são denominados de seres da luz. Rudolf Steiner os descreve na Ciência Oculta como aqueles seres que durante a evolução acordaram ao enxergar o seu próprio reflexo no exterior. Quando eles doaram sua própria essência esta sua essência era a própria luz que irradiou para os quatro cantos do universo. A luz dos arcanjos é representada hoje em nós pela nossa inteligência que irradia para o meio ambiente e torna consciente para nós mesmos e para o mundo a nossa própria existência.

 Os arcanjos se tornaram na evolução guardiões da inteligência cósmica com a missão de proteger o amor divino contido nesta inteligência que criou e transformou tudo em sabedoria para o bem de todos .

Nesta terceira Noite Santa recebemos através do Portal da Constelação de Capricórnio os impulsos dos Arcanjos para o fortalecimento da nossa personalidade através da expansão da luz e autonomia da nossa inteligência.
 

QUARTA NOITE SANTA

Atravessamos mais um dia, cai a noite e uma nova luz brilha no céu irradiando

da Constelação de Sagitário de onde emanam as forças espirituais dos Arqueus, os Seres da Personalidade. Isto significa que eles não só possuem um Eu como sabem que o possuem e através desta consciência intensificada eles criam uma imagem de si no exterior.. Eles projetam no exterior a força de sua luta interna que é a própria luta do centauro, do ser humano emancipado por um lado na sua inteligência mas por outro lado, em luta constante para superar suas forças animalescas, seus instintos selvagens, suas forças egoísticas.

Os arqueus são considerados os Espíritos do Tempo porque esta luta é a própria luta de desenvolvimento humano do nosso tempo abrangendo algo que ultrapassa todas as etnias e se torna uma influência cultural na nossa civilização.

Aqui a tarefa anterior dos Arcanjos que era proteger a sabedoria cósmica das intenções egoístas é ampliada pelos Arqueus estando expressa no desafio da nossa civilização moderna na luta entre o materialismo exarcebado e a preservação dos recursos naturais.

No portal sul da Catedral de Chartres a escultura de Micael preside as 3 hierarquias. Rudolf Steiner constantemente se refere a ele como o Regente desta nossa Época com a missão de dominar o dragão o ser mítico em cuja forma está representado o nosso intelecto onde a sabedoria cósmica foi apropriada através da compreensão das leis, através da ciência natural e precisa ser colocada no mundo de forma mais ampla para o bem de todos. Tanto no aspecto pessoal de construção da personalidade como neste aspecto temporal esta luta representa um cair e levantar constantes.

Nesta quarta Noite Santa recebemos através do Portal do Sagitário os impulsos espirituais dos Arqueus para o fortalecimento da personalidade de forma que tenhamos forças de estabelecer e sustentar impulsos mais abrangentes na nossa vida que nos orientem para o futuro e que contenham metas espirituais para a nossa existência.
 

QUINTA NOITE SANTA

Nasce de novo o sol, atravessamos um novo dia e cai a noite e uma nova estrela brilha no céu irradiando da Constelação de Escorpião através do qual emanam as forças espirituais dos Exusiai os Seres da Forma. Agora atingimos o âmbito da segunda hierarquia. Eles também foram seres de um estado evolutivo anterior tão avançados em sua evolução que podem acolher os planos divinos e torná-los manifestos de forma que haja uma concordância entre a esfera macróscomica da consciência cósmica e o nosso sistema solar que é uma expressão microcósmica onde a nossa existência humana está inserida, onde a biografia humana transcorre.

Os Exusiai estão envolvidos nos processos de criação de um novo ser, na transformação de uma forma em outra, na metamorfose constante da substância,.

Na Bíblia eles são chamados de Elohins e no corpo humano as forças de     

Escorpião configuraram os genitais a partir dos quais é possível a procriação ou seja a criação de um novo ser físico.

Estamos no âmbito das forças sexuais que são as forças que oscilam tanto para o egoísmo mais absoluto, aquilo que pode ser caracterizado como o mal porque ao oferecer a possibilidade da maior satisfação imediata podem subjugar o humano ao nível do animalesco. Mas que também trazem uma das maiores possibilidades para a superação do egoísmo e transcendência de forças. Se em Sagitário tínhamos a imagem de um cair e levantar constantes entre o animalesco e o humano aqui temos a imagem de uma luta na nossa vida interior entre a morte e ressurreição. E esta é uma luta que ocorre em âmbito muito individual onde em liberdade oscilamos entre as sombras que obscurecem o nosso ser, os esconderijos onde vive o Escorpião venenoso e as forças de expansão do ser representadas pela águia que se eleva às alturas e de lá contempla o Todo.

O Escorpião é então o signo das forças duplas, tanto destrutivas, retrógadas que mudam constantemente de aparência e invadem a nossa alma caotizando a vida como é também portador de forças construtivas que tem a ver com transmutação constante e contínua superação para que a substância divina, o Espírito possa em nós ser plasmado de novo e sempre. No apocalipse esta característica de forças duplas é apresentada como a espada de dois gumes.

Nesta quinta Noite Santa recebemos através do portal de Escorpião os impulsos espirituais dos Exusiai para aceitar por um lado as nossas fraquezas, e por outro lado recebemos impulsos espirituais para a superação e transformação destas forças.

 

SEXTA NOITE SANTA

Temos o nascer do sol, a passagem de mais um dia e o cair da sexta Noite Santa. Uma nova estrela brilha no céu irradiando da Constelação de Balança o portal através do qual emanam as forças espirituais dos Dynamis os Seres do Movimento. Continuamos no âmbito da segunda hierarquia. Na evolução os Dyamis acordaram ao perceber o que estava ocorrendo em volta deles e atuaram criando um equilíbrio dinâmico, uma correta relação, uma permanente reciprocidade entre as coisas. Estar em desequilíbrio significa estar separado, não está inserido na unicidade de todas as coisas. Suas forças configuraram a bacia que é responsável pelo equilíbrio no manter-se ereto.

No trabalho biográfico estudamos a expressão da Balança por volta dos 28 anos que é o marco de mudanças entre as forças do passado que nos carregaram até aí e as forças do futuro que trazem a possibilidade de uma nova expressão da nossa individualidade através da nossa capacidade de transformar a herança da educação herdada. . Os Dynamis nos oferecem a possibilidade de colocar as influências do passado e as possibilidades do futuro, o dentro e o fora, os processos de fusão e de separação em uma correta relação de reciprocidade, em um equilíbrio dinâmico.

Na sexta Noite Santa através do portal da Balança recebemos dos Dynamis os impulsos espirituais para desenvolver o equilíbrio interior e conseguir conter as forças de dispersão para se ter uma vida coerente e harmoniosa.


SÉTIMA NOITE SANTA

De novo temos o nascer do sol que anuncia o novo dia e no final deste o cair da noite. Uma nova estrela brilha no céu emanando luz da Constelação da Virgem o portal do qual emanam as forças dos Kyriotetes os Seres da Sabedoria.

Na evolução eles acordaram ao perceber a existência de outros seres para os quais criaram então o espaço do acolhimento. Estamos ainda no âmbito da segunda hierarquia que acolhem e realizam os planos divinos.

As forças do Signo da Virgem configuraram o ventre que é um aspecto físico do feminino que pode receber e gerar outro ser. A alma, a nossa vida interna também tem esta qualidade do feminino de levar para dentro, de acolher no íntimo e de guardar a nossa essência, o nosso Eu.. A Virgem é a imagem terrestre da Alma cósmica, a Sofia e ela é considerada virgem porque corresponde a um aspecto de nossa alma que permanece intocada pelas necessidades terrestres e pode então acolher e gerar o Espírito individualizado em nós. Isto significa um estado de entrega e doação constantes, de cortesia e polidez.

Na sétima Noite Santa através do portal da Virgem recebemos os impulsos espirituais dos Kyriotetets que são capacidades de criar o espaço para algo novo ser gestado no íntimo e de encontrar forças a partir do seu próprio interior para fazer desabrochar a sua vida.

 

OITAVA NOITE SANTA

Nasce um novo Sol, atravessamos mais um dia e vem o cair da noite.

Uma nova estrela brilha no céu emanando luz da Constelação de Leão, o portal do qual emanam as forças dos Tronos os Seres da Vontade .

Alcançamos a primeira hierarquia, de seres espirituais muito evoluídos que manifestam as intenções divinas atuando da esfera macrocósmica para dentro do nosso sistema solar.

Na evolução os Tronos eram seres tão completamente conscientes de si que seu querer era sua própria substância e este querer é tão exaltado que estes seres produziam calor e doaram sua própria substância.

As forças de Leão configuraram o coração humano e os dirigentes da antiguidade e os reis da idade média associavam sua realeza com este signo que era relacionado com a coragem e a prontidão de realizar no exterior o que é determinado a partir de dentro: a voz do coração.

Na oitava Noite Santa, a partir do portal do Leão recebemos os impulsos de entusiasmo e coragem para enfrentar as provas que o destino nos trazem

 

NONA NOITE SANTA

De novo sai o Sol, atravessamos um novo dia e vem o cair da noite.

Uma estrela brilha no céu emanando o seu brilho da Constelação de Câncer o portal do qual emanam as forças espirituais dos Querubins os Seres da Harmonia.

Foi a ação dos Querubins no início da evolução que criou o cinturão protetor de estrelas em volta do nosso sistema separando-o da totalidade macrocósmica

Esta ação está expressa na própria configuração do tórax: as forças de Câncer configuram os doze pares de costela, o invólucro protetor físico do coração, o órgão da vida.

Os Querubins trazem o impulso para que as transições de um ciclo para outro ocorram de forma harmoniosa. Eles atuam na forma da espiral cujas forças vem do ciclo anterior, criam um invólucro e se direcionam para o próximo ciclo – em uma seqüência repetitiva, harmoniosa. Podemos observar estas espirais cósmica também em ciclos menores da natureza . São os Querubins que cuidam por exemplo que a semente do outono renasça como uma nova planta na primavera.

Na biografia encontramos também estas transições no nosso desenvolvimento que às vezes se apresentam de forma dramática como crises.

Na nona Noite Santa através do portal de Câncer recebemos os impulsos espirituais dos Querubins que nos trazem força para nos harmonizarmos com o novo e cria aconchego para que os momentos de transição ocorram de forma harmoniosa.


DÉCIMA NOITE SANTA

De novo sai o sol, atravessamos um novo dia e vem o cair da noite.

Uma estrela brilha no céu emanando seu brilho da Constelação de Gêmeos, o portal através do qual emanam as forças espirituais dos Serafins os Seres

do Amor. Amor que não está mais assentado nos laços físicos, nos laços da paixão mas em laços espirituais. O amor fraterno.

Os gregos tem um mito através do qual podemos saber do que se trata.

O mito do Kastor e do Polydeukes irmãos que eram filhos da mesma mãe com pais diferentes sendo que Castor era mortal e o Polydeukes imortal. Ocorreu que Castor morreu e o seu irmão foi até Zeus e pediu que a sua imortalidade fosse retirada e concedida ao Castor e Zeus comovido tornou-os ambos imortais e os colocou no céu na forma de uma constelação. Ou seja elevou-os a condição macrocósmica e o que os tornou imortais não foram os laços de sangue mas o abrir mão de si que resultou numa forma ainda mais elevada de amor.

No Evangelho temos a sentença desta forma de amor: “onde dois estiverem reunidos em meu nome eu estarei no meio deles” – ou seja abre-se mão do próprio Eu e ganha-se outro Eu que é eterno.

A fraternidade é o mais poderoso impulso para a vida social porque ela pode quebrar as barreiras de status, de etnia e de crenças.

Na décima Noite Santa através do portal de Gêmeos os impulsos espirituais dos Serafins ajudam a vencer a barreira do individualismo e da solidão.


DÉCIMA PRIMEIRA NOITE

De novo vem o Sol e um novo dia e ao cair da noite uma estrela brilha no céu emanando seu brilho da Constelação de Touro portal por onde adentra à esfera do Zodíaco vindo das regiões macrocósmicas o sopro do espírito.

Se lembrarmos dos Reis Magos estava próximo o lugar onde se encontrava a criança e iluminando a noite o brilho da estrela que os precedia ampliava enormemente a dimensão do deserto. A alma se elevou tocando outra dimensão que não é terrena e o Espírito Santo adentra a dimensão humana manifestada no Batismo de João sob a forma de uma pomba.

É uma noite de grande expansão da alma, os horizontes se ampliam e a nossa alma pode se elevar a um estado anímico cósmico alcançando a dimensão da alma do Cosmos, da Sofia divina e sentir a presença do espírito . No Antigo Egito isto era representado nas esculturas que portavam os chifres do Touro com o espaço entre eles preenchido por um disco solar coroando a cabeça do faraó considerado o descendente direto de Deus.

Foram as forças do Touro que configuraram a laringe, o órgão da fala que segundo o Steiner está em transformação e que nos estágios evolutivos futuros do ser humano a palavra terá de novo a força plasmadora referida nas Gênesis de todas as religiões. No princípio era o verbo e o verbo estava em Deus.

A palavra será como uma lança sagrada de expressão do amor divino.

Na décima Noite Santa através do portal do Touro o Espírito Santo emana a plenitude do amor divino inspirada como persistência em relação ao que se pretende alcançar.


DÉCIMA SEGUNDA NOITE

Um novo Sol e um novo dia e no cair da última noite desta ascensão através das hierarquias espirituais. Alcançamos o último degrau desta escada que já nos transportou para as fronteiras do universo.

Este é o portal por onde o filho de Deus, o Eu cósmico adentrou da esfera macrocósmica, da esfera do Brama, Javé, de Alá, da esfera do divino para a nossa existência. Através deste portal ressoa no nosso cosmos vindo das regiões macrocósmicas além do zodíaco a voz do Pai

“Este é o meu filho muito amado, hoje eu o engendrei.”

Como um eco longínquo é feito o Reconhecimento a síntese de todo o caminho unindo o Natal ao Batismo. O Natal como o nascimento da criança natural e o Batismo como o posterior nascimento da criança divina o Cristo como uma luz brilhando no interior, como um Sol interno na alma livre e plenamente consciente.

A voz de Deus é a voz da consciência humana que eleva o Eu de uma condição terrena, inferior a uma condição cósmica, superior trazendo para o ser humano a possibilidade de se tornar o ser da liberdade e do amor – a décima hierarquia espiritual .

 


Palestra proferida por Edna Andrade na Clínica Tobias em São Paulo no Natal de 2006
O texto pode ser reproduzido desde que citada a autoria.

Bibliografia
A Ciência Oculta – R. Steiner – Ed. Amtroposófica
O Zodíaco e as Hierarquias Espirituais – Sergei Procoffiev
The Golden Age of Chartres – René Querido – Floris Books

 

domingo, 25 de dezembro de 2022

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

terça-feira, 25 de outubro de 2022

As oito sinapses

 

Fenomenologia da Consciência


A teoria dos oito cérebros, de Timothy Leary (1961), recentemente atualizada por Robert Anton Wilson (1987), como oito circuitos neurocerebrais.

Essas teorias dividem a cognição em duas:

A Cognição Ordinária ou o lado esquerdo do Cérebro1 responsável pela cognição atual do mundo, formada por quatro circuitos integrados: o circuito da sobrevivência (ou a Consciência), o circuito das emoções (ou o Ego), o circuito da linguagem (ou Mente) e o circuito sócio-sexual (ou a Personalidade). Esta cognição é, em parte, é consciente de si e de seu contexto de formação.

A Cognição Extraordinária ou o lado direito do Cérebro, formado por funções ainda adormecidas que correspondem às nossas possibilidades de evolução: o circuito neurosomático, o circuito neuroelétrico, o circuito neurogenético e o circuito neuroatômico. Também é chamada, por vários, autores, de Individualidade, em oposição à Personalidade.

Cognição Ordinária

A Consciência equivale neste sistema à percepção sensorial da realidade, que remonta à cognição dos invertebrados, ao 'cérebro réptil' ou à capacidade de agir instintivamente. A neurociência atual considera que essa consciência-percepção é produzida pelo 'Arqueocortex'.

"Este cérebro invertebrado foi o primeiro a evoluir (faz de 2 a 3 milhares de milhões de anos) e é o primeiro a ativar-se quando nasce uma criatura humana. Programa a percepção numa espécie de codificação dividida em coisas 'boas e nutritivas' (para as que se sente atraído) e 'perigosas e tóxicas' (as que evita ou ataca)." (WILSON, 1987, 1)

Assim entendida, a consciência não é algo transcendente ou metafísico, mas um circuito de informações instintivas essenciais à sobrevivência. A consciência é o 'ser-no-mundo'. Ela não é um fenômeno em si, mas o espaço em que os fenômenos acontecem, uma clareira em meio a um universo sombrio, uma abertura pela qual vemos a realidade2.

O Ego, por sua vez, corresponde ao circuito das emoções e a uma estruturação de identidade espacial e de uma relação de poder, de propriedade em relação ao meio ambiente e a outros egos (alter-egos). O ego é uma estrutura de identidade territorial, em que o animal se apossa do espaço.

"Este segundo e mais avançado biocomputador se formou quando apareceram os vertebrados e a competição pelo território (talvez uns 500.000.000 A.C.). No indivíduo este enorme túnel de realidade é ativado quando as cintas mestras do DNA disparam a metamorfose do arrastar-se ao andar. Como sabem todos os pais, o menino que começa a caminhar já não é uma criatura passiva orientada a sobrevivência biológica, mas um mamífero político, cheio de exigências territoriais físicas e psíquicas, rápido em intrometer nos assuntos familiares e nos objetos de decisões." (WILSON, 1987, 1)

Assim, enquanto a Consciência corresponde à sensação de estar aqui e agora em corpo orientado para a sobrevivência animal; o Ego orientado por afetos e desafetos é o segundo circuito sensorial mamífero do status (atualidade-não atualidade) no grupo ou tribo. Para a neurociência é o Paleocortex ou "cérebro límbico".

Atualmente, à identificação/negação da consciência com as formas do mundo estrutura o que chamamos de Ego. Dentro dessa definição, há duas formas de compreender o ego: a oriental e a ocidental. A oriental deseja que ele seja transcendido pela consciência. Um belo exemplo atual dessa forma é a de Eckahart Tolle:

O ego é um conglomerado de formas de pensamento recorrentes e de padrões emocionais e mentais condicionados que estão investidos de uma percepção do Eu” (2002, 52-53).

Para Tolle, o Ego é o eixo do tempo/horizontal (uma sucessão de momentos – mas o passado só existe quando nos lembramos e o futuro só existe quando nós o imaginamos); a consciência (ou a presença, a sensação pessoal imediata) é o eixo místico agora/vertical. A forma ocidental é ternária e descende da ideia de que temos um demônio pessoal (o eu inferior, o instinto animal, a criança interior) e um anjo da guarda (o eu superior); e sua grande vantagem consiste em colocar o ego como observador tanto em relação aos impulsos instintivos como às demandas espirituais. Nesse modelo ternário, o Ego é um mediador externo e não há a oposição radical entre ego e consciência da tradição oriental.

A Mente, neste sistema, representa a organização do circuito da linguagem. Ela se formou quando os hominídeos começaram a se diferenciar dos demais primatas (uns 4-5 milhões A.C.) e é ativado quando o menino, já maior, começa a administrar utensílios e a linguagem de forma própria. Para Wilson, a ...

(...) "impressão desses três circuitos determina, aproximadamente à idade de três anos e meio, o grau e o estilo básicos de confiança/desconfiança que coroaram a 'consciência', o grau e estilo de truculência/sujeição que determinaram o status do 'ego', e o grau e estilo de perícia/deselegância por meio do que a 'mente' manejará instrumentos ou ideias." (1987, 2)

E, assim, do ponto de vista evolutivo, a Consciência é basicamente invertebrada, flutuando passivamente para a alimentação e a proteção do perigo; o Ego é mamífero, sempre lutando pelo status dentro da ordem tribal do grupo; e a Mente é paleolítica e formadora da cultura humana e confrontando-se com a vida através de uma matriz de instrumentos e de simbolismos.

A neurociência chama de 'Neocortex' à porção de 85% da massa cerebral que desempenha essas funções. Pode-se dizer que o ego é formado pela fala e a mente, pela escrita (pelo pensamento abstrato, descontextualizado).

Osho usa uma metáfora interessante, dizendo que a Mente é um espelho, coletivo e externo, e o Ego é nosso reflexo, circunstancial e efêmero, neste suporte no qual nos vemos indiretamente, uma vez que nos recusamos a olhar frente e a frente para nós mesmos (OSHO, 2004, 62). Ambos, no entanto, mente e ego, são estruturas de identidade construídas por nós (por nossa consciência) através dos outros.

A 'Personalidade adulta' ou 'quarto cérebro' é, para Leary/Wilson, a estrutura psíquica que organiza o circuito sócio sexual, é típico do Homo Sapiens.

Este quarto cérebro se formou quando os grupos de hominídeos evoluíram para sociedades e programaram comportamentos sexuais específicos para seus membros, uns 30.000 a.C. É ativado na puberdade, quando os sinais de DNA desencadeiam a liberação glandular de hormônios sexuais e se inicia a metamorfose ao estado adulto. Os primeiros orgasmos ou experiências de acoplamento imprimem um rol sexual característico que, novamente, é gerado de forma bioquímica e permanece constante durante toda a vida, a menos que alguma forma de lavagem de cérebro ou reimpressão bioquímica o altere (1987, 3).

Não existem estudos neurocientíficos sobre onde e como essa atividade psíquica se desenvolva. Aqui se considera que a Personalidade é um circuito de sinapses cerebrais que coordena as relações entre a Consciência, o Ego e a Mente. A personalidade assim entendida é também uma máscara, uma persona, atrás da qual se esconde uma individualidade psíquica formada pelos circuitos da cognição extraordinária.

Nos meios esotéricos chama-se de Personalidade a este ‘eu falso’, construído a partir do medo e das exigências da socialização, e de Individualidade ao ‘eu verdadeiro’. A função da Personalidade é interpretar a Individualidade e não a esconder ou reprimir. É como uma vitrine que apresenta ao conteúdo da loja, não adianta quebrá-la ou subtraí-la, é preciso reorganizá-la.

Atores e atrizes de teatro costumam ‘se trabalhar’ escolhendo personagens semelhantes aos de suas personalidades, como uma forma de reinterpretá-los e superá-los, lapidando sua individualidade.

Também se pode pensar na Personalidade como os 40% da identidade pessoal que pode ser modificada (as sinapses móveis entre os neurônios) e na Individualidade como o que não se pode mudar (os circuitos cerebrais fixos, que se formam ao longo da vida). De toda forma, a Personalidade é uma estrutura de identidade construída pela consciência através do medo externo (o Ego) e de um espelho para se ver através dos olhos dos outros (a Mente).

A consciência vive no fundo da caverna e projeta a personalidade como fachada para o lado de fora.

Cinema e percepção

O místico Ramana Maharshi (1972) desenvolve uma analogia entre cinema e percepção, em que se observa o processo cognitivo descendente, do abstrato para o concreto

Em um primeiro momento, a Consciência é a percepção. Representa a luz que projetada sob diferentes objetos. Se prestarmos atenção ao que vemos, os olhos se iluminam; se buscarmos perceber os sons, a consciência se focara em nossa capacidade auditiva; e assim por diante. Nesta analogia, a consciência é a atenção que se desloca segundo nossa percepção seletiva.

Assim, como a luz é produzida por uma lâmpada, a consciência é produzida por um suporte, de uma esfera luminosa, o Self, Eu superior ou centelha divina. E este é o segundo momento da comparação de Mararshi. O terceiro momento desta analogia consiste na lente que a luz da lâmpada transpassa na projeção de um filme e a Mente Coletiva e externa por onde consciência do Self passa ao perceber as diferentes dimensões (racional, sentimental, sensorial) da realidade. A mente aqui não é individual, e sim um filtro social, intersubjetivamente construído.

No quarto momento do processo, a Consciência projeta sua luz através da Mente Coletiva com assertividade, formando um foco, um centro direcional da consciência imediata chamado de 'atenção'. A criação do Ego, este centro de direcionamento da consciência, cria também o tempo contínuo, a narrativa do passado e as esperanças futuras.

No quinto passo da analogia de Maharshi surge a comparação entre a projeção do filme e o "Observador", isto e, um eu-foco formado para observar o pensamento, a mente e as percepções da consciência. Este observador é um determinado enquadramento autoconsciente que criamos para nos tratar na terceira pessoa e existe em várias meditações. Nesse ponto também se pode localizar a Personalidade – uma vez que apenas uma minoria observa ao próprio filme, preferindo simplesmente projetá-lo. Portanto, desenvolver um 'Eu Observador' ou um 'Eu Exibidor' (a Personalidade) vai depender da consciência em relação ao Ego e à Mente.

No sexto nível da analogia, surge um elemento externo: a película. E, internamente, os fotogramas do filme projetado correspondem às variadas formas mentais (arquétipos, memórias, imagens) que formam o pensamento e a imaginação simbólica. Agora, percebe-se que realidade é semelhante à projeção das imagens na tela do cinema. A diferença é apenas no modo de representação: no cinema as imagens são projeções bidimensionais; e a realidade é holográfica e solida. Mas, também, tanto no cinema como na percepção, há as imagens de referências externas (sensoriais, mentais, emocionais); há imagens produzidas pela memória, outras pela imaginação. O sétimo nível da percepção, então, é a interpretação seletiva das imagens, em que classificamos involuntariamente os diferentes itens de nossa percepção.

E finalmente, há o mecanismo responsável pela projeção das imagens, a máquina ou o corpo. Este mecanismo recebe as imagens automaticamente e não tem consciência plena de seu significado. Chama-se aqui essa instância de espaço exterior. O importante nessa analogia entre cinema e percepção é visualizar o processo cognitivo em seu conjunto em sete etapas sucessivas: a consciência (a luz e o self), a mente coletiva, o ego, o observador/personalidade, a linguagem simbólica, a realidade interior e a realidade exterior.

Cognição extraordinária

Esses modelos são apenas algumas das várias fenomenologias dos estados de consciência possíveis. Estudando várias tradições religiosas diferentes, Ken Wilber (2006, 272-273) oferece um modelo de analogia universal das fenomenologias quaternárias, a partir das categorias de corpo, mente, alma e espírito.

Gurdjieff afirma que a personalidade é construída horizontalmente através do tempo e a individualidade, pela experiência vertical da eternidade. Horizontalmente, somos todos iguais, nivelados pela morte; porém, há alguns que vivem o presente de modo mais profundo. Os animais vivem suas vidas horizontalmente, apenas alguns homens, ao entrar em contato vertical com a eternidade, adquirem uma alma (OUSPENSKY, 1980, 89).

Nessa perspectiva, o homem só constrói uma individualidade quando ativa os circuitos cerebrais da cognição extraordinária. Conhecendo a si mesmo, "somos mais e mais capazes de acelerar nossa própria evolução" - acredita Wilson, propondo que enquanto os quatro circuitos do lóbulo esquerdo (Consciência, Ego, Mente e Personalidade) contêm as lições aprendidas de nossa biografia e presentes (pessoal e coletivo); os quatro circuitos do lóbulo direito (Neuro-somático, Neuro-elétrico, Neuro-genético e Neuro-atômico) é um verdadeiro anteprojeto evolutivo de nosso futuro.

O circuito neuro-somático entra em atividade quando o sistema nervoso percebe sua capacidade de lúdica e compreensiva. Este "quinto cérebro" surgiu faz uns 4.000 anos nas primeiras civilizações do ócio. Quando ativado, este circuito produz uma conexão hedonista, uma diversão extática, um desapego de todos os anteriores mecanismos compulsivos dos primeiros quatro circuitos. Leary achava que essa sensação, no momento evolutivo adequado, desencadearia uma mutação neuro-somática ou uma desprogramação nos mecanismos de manutenção da Cognição Ordinária. Também se pode associar essa auto percepção somática como um estado propiciar de regeneração orgânica, quando entramos em um estado de consciência que "nos cura" através da compreensão e da adaptação às situações.

Já o circuito neuro-elétrico entra em atividade quando o sistema nervoso descobre sua função de meta programação, atuando como um tradutor universal das linguagens ao um padrão binário de uma linguagem primária.

Enquanto o circuito neuro-somático havia uma mudança de comportamento pela adaptação passiva, a cognição neuro-elétrica é propositiva e há uma mudança existencial por reprogramação ativa. Para Leary ...

" (...) o sexto cérebro consiste no sistema nervoso sendo consciente de se mesmo, independentemente dos mapas de realidade impressos cognitivamente (circuitos I-IV), e até mesmo independentemente do êxtase corporal (circuito V) e suas características (...) são: a simultaneidade, a eleição múltipla, a relatividade e a fusão instantânea de todos os sentidos em universos paralelos de possibilidades alternativas."

O circuito neuro-genético é ativado quando o sistema nervoso começa a receber sinais do interior do genoma individual, por meio do diálogo DNA-RNA. Aqui o Ser se torna consciente de seu Destino. Para Leary, esta mutação leva a diferentes tipos de experiências "fora do corpo": "recordações de vidas passadas", "projeções astrais", etc. Wilson associa esse circuito ao "inconsciente coletivo" de Jung e ao "inconsciente filogenético" de Groff e Ring.

E o circuito neuro-atômico é ativado quando o sistema nervoso é percebe sua fonte de energia quântica, a luz e a idéia de espaço-tempo são eliminadas. A barreira einsteiniana da velocidade da luz é transcendida e escapamos da realidade eletromagnética das coisas e dos objetos para viver em um universo relacional. Para Leary, a "consciência atômica" é a conexão explicativa máxima do homem, que no futuro unirá a parapsicologia e a metafísica na primeira teologia científica, empírica e experimental da história. E para Wilson, "o 'cérebro' cósmico inteiro micro-miniaturizado na hélice do DNA, é a inteligência local guiando a evolução planetária."

Neste modelo, a cognição ordinária é composta por quatro circuitos neurológicos e a cognição extraordinária é construída, hipoteticamente, por quatro circuitos sinápticos possíveis. Cada circuito extraordinário corresponde ao desenvolvimento de um circuito da cognição ordinária.

Modelo biográfico

Segundo os chineses, em uma vida “há 20 anos para crescer/aprender, 20 anos para lutar e 20 anos para alcançar a sabedoria”. A psicologia biográfica subscreve esta afirmação e ainda subdivide em setênios (períodos de sete anos) cada uma destas três grandes fases.

Na primeira fase, do nascimento até os 21 anos, observa-se a formação do corpo e da personalidade em três etapas: até os sete anos, dos oito aos 14 e daí a maturidade. Cada uma dessas etapas de sete anos corresponde a um determinado estágio de desenvolvimento do corpo e da personalidade e a passagem de uma etapa para outra implica em uma crise e uma adaptação. Ao final dos sete anos, a criança vive uma crise de socialização; aos 14, a crise da sexualidade; e aos vinte a crise de identidade.

Da mesma forma, a psicologia biográfica subdivide a fase adulta (21-42) e fase madura (42-63) em três etapas de sete anos cada, com crises de transição. Enquanto nos primeiros três setênios da vida o indivíduo vive um predomínio dos fatores biológicos sobre os subjetivos, ele terá também um período igual em que há um equilíbrio e um período de decadência biológica e oportunidade espiritual a partir dos 42 anos de ipossibilidade de desenvolver, aos 49 anos, uma alma inspirativa (ou buddhi) a partir da mente (ou de repensar os aspectos morais adquiridos dos sete aos 14).

Aos 56, há possibilidade de formar uma alma intuitiva (ou atma) a partir do corpo vital (ou de reviver os aspectos mais profundos da formação da personalidade, moldados durante a primeira infância) – o que corresponde ao circuito neuro-genético.

E, finalmente, o circuito neuro-atômico corresponde à consciência quântica, ao nagual.

Há um espelhamento dos três aspectos (motor, mental e emocional) da Personalidade entre a primeira e a última das etapas da vida. Ao invés do desabrochar potencial de várias almas a partir dos diversos corpos esotéricos, pensa-se aqui em termos de desenvolvimento de circuitos cerebrais da consciência e da reforma da Personalidade. Mas é apenas uma diferença de linguagem. O importante é a consciência das etapas e fases da vida, das crises etárias e possibilidades de mudanças pelas quais todos passam. E, é claro, das estratégias e objetivos de vida que traçamos para cada fase.


1 Para saber tradicional, em que o (sujeito) observador é o (objeto) observado, o racional é o lado direito e o esquerdo, o lado mais emotivo. Para o saber científico, em que o observador é externo, a relação é invertida: o lado esquerdo é que é o racional; e o direito, o emotivo.

2 Além da dimensão perceptiva, a Consciência tem também uma dimensão moral, que leva em conta os valores que a contextualiza. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas Ser no mundo e do mundo, referenciando a percepção em valores construídos culturalmente. Alguns filósofos chamam de consciência fenomenal à experiência da percepção, e de consciência de acesso ao processamento das coisas que vivenciamos durante a experiência. O desenvolvimento perceptivo da consciência se dá através do treinamento da Atenção. O desenvolvimento ético da consciência só é possível através de sucessivas mudanças de valores.