quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A arte de sonhar


Exercícios[1] para o desenvolvimento do SONHAR

PRATICA 1 - Fazendo a ponte do sonho

1. Direcione seu intento para a lucidez interior do seu sonhar – isto é, realize enquanto está indo dormir que irá sonhar. Diga a si mesmo várias vezes ate cair no sono – eu vou ensonhar. Escolha a entrada, procure suas mãos, ouça sua própria voz, e diga-se, - assim que eu encontrar minhas mãos ou ouvir minha própria voz, estarei ensonhando.

2. Soe um gentil alarme para acordar depois de três horas dormindo, e depois de mais duas horas seguidas. Acordando várias vezes durante a noite permite que você recorde mais facilmente todas as atividades do sonhar e dizer a si mesmo para continuar.

3. Da primeira vez que tiver freqüentemente lucidez, comece a olhar para objetos pré-selecionados que não sejam de sua posse, escolha uma pedra lisa. Quando você encontrar este objeto em particular no sonhar, comece a procurar por eles no mundo desperto, sabendo que quando tiver êxito, dê um tempo. Estes objetos serão sinalizados pelo poder para ajudar você.

4. Quando você encontrar seus objetos do sonhar no seu mundo desperto, você terá feito a ponte do sonho. Peça permissão para a energia do objeto para levá-lo pra casa com você, se isso for possível. Coloque-o num lugar à vista, onde possa vê-lo ou senti-lo ou tocá-lo quando estiver caindo no sono. Se o objeto for uma pedra, mantenha-o seguro sobre sua região umbilical enrolando-o num saco e amarrando-o no seu cinto. Se isso não for possível fisicamente, pegue o objeto sonhado, fotografe-o ou toque-o ou simplesmente se lembre dele.

5. Quando você puder fazer a ponte, fique atento à qualquer aspecto dela, o lugar, a pessoa, a idéia, o poder, algo de melhor deste mundo, procure a paz. Conforme for praticando, ficará mais clara e resistente à fundação e ao retorno, até ficar fortalecido o que você fez em realidade, caminhando através do sonhar.

PRATICA 2 – FAZENDO AS PAZES COM PAI-MÃE

1. Faça uma oferenda para apologia do masculino-feminino principio criativo, e para a Terra. Esta oferenda pode ser na forma de uma serie de preces, uma cerimônia, ou uma musica especialmente escrita. Escolha sua oferenda no Sonho, e assim fazendo a ponte do sonho até que tenha sido mostrada a você. Se você receber uma música, cante-a. Se você encontrar os termos de sua prece, recite-a sonhando, então olhe para o mundo desperto e ordene a criação. Talvez você ouvirá a prece que terá que fazer, ou verá a cerimônia que interpretará.

2. Leve sua oferenda a um lugar sagrado que dia a você da criação e que você se sinta convidado a oferecer esta energia.Você pode levar sua prece feita com cuidado e arte, que contenha pequenos elementos que representem seu ícone de paz e entendimento. Você pode recitar a prece ou fazer a cerimônia ali, talvez incluindo elementos e poderes da natureza. Se o seu presente for uma música, cante-a ou toque-a com sentimento enquanto queima copal ou tabaco sagrado.

3. Finalmente, deixe seu intento neste lugar. Talvez o diga em voz alta, e em voz alta agradeça. Saia dali calma e silenciosamente, com a mente em silêncio, cheio de gratidão.

PRÁTICA 3 – RECAPITULAÇÃO

1. Faça uma descrição inteira dos eventos ou situações que desejar que drenaram sua energia, reexaminando-os de momento a momento, incluindo cada detalhe. Concentre-se em um evento, pessoa, ou situação de cada vez, focando nas maiores e mais críticas áreas de sua vida primeiro.

2. Quando você tiver terminado de escrever, crie uma fogueira cerimonial e queime todo seu escrito. Respire o calor do fogo em suas narinas e até expandir seu abdômen. Esta inspiração é sua energia, vindo livre e solta pelas chamas ordenando que volte para limpá-lo.

3. Quando o fogo estiver apenas em brasas, respire a última resplandecida e exale forçadamente pelo nariz, empurrando o abdômen exalando e movendo a cabeça para a direita. Libere a expiração de todos os anexos das experiências e disperse as cinzas muito longe, para serem limpas e recicladas pela Terra.

4. Uma vez que a fogueira esteja completamente desfeita, colete as cinzas restantes frias e enterre em qualquer lugar ou as disperse sobre água corrente, recitando uma prece de perdão e libertação.

PRÁTICA 4: PURIFICANDO A ENERGIA SEXUAL

1. Explore a natureza da energia vinculada que foi criada através da interação sexual. Esta pode ser percebida como fibras, como tentáculos que a conectam com sua energia criativa em sua manifestação potencial de seu parceiro, ou parceiros. Pergunte a si mesmo se deseja que sua energia criativa seja aplicada desta forma.

2. Se você deseja libertar a si mesmo de emaranhados energéticos desta natureza, você deve, primeiro, é claro, cortar todos os relacionamentos sexuais com parceiro ou parceiros de quem você deseja remover sua energia.

3. Após uma recapitulação minuciosa individual então se segue (capitulo anterior)

4. Depois da recapitulação, você deve analisar os parceiros que criaram estas fibras energéticas de conexão e porque são indesejáveis. Então você deve esforçar-se para não repeti-los. A recapitulação deverá dar-lhe suficiente impulso de energia para ajudá-lo em sua tarefa de desconectar-se de seus parceiros.

5. Um período de sóbrio celibato seguindo a isso, ou lealdade para um muito íntimo e verdadeiro parceiro, junto com uma recapitulação, fará uma purificação adicional, desemaranhando e renovando as energias.

PRÁTICA 5: RECUPERANDO A ENERGIA PERDIDA

1. Examine as áreas de sua vida onde você investiu energia que deveria ter finalmente sido retornada para você e não foi. Exemplos podem ser pais disfuncionais que continuam dando sua energia em abusivos modos, ou um filho quem você não pode parar de tratar como bebê.

2. Realize uma minuciosa recapitulação de pessoa ou pessoas sem informá-las que você o está fazendo. (veja o capítulo recapitulação)

3. Intente sonhar onde, num ato singular, você recupere toda perdida ou deslocada energia da expressão individual. Faça uma ponte com alguns elementos do ato no mundo acordado. Por exemplo, se você sonha que você toca o ombro direito de seu pai e sua energia retorna a você via a força de seu intento, procurando alguma ocasião de tocar seu ombro de maneira parecida, tendo em mente o silêncio poderoso do intento, e sinta que o ato é completado.

4. Examine algum comportamento de seu encorajamento a individual repetição desses eventos debilitantes, os suspenda. Isso soltará as fibras de conexão deles com você nas formas indesejáveis. As fibras murcharão e a definhará da energia individual que eles estiveram utilizando.

PRÁTICA 6: LIBERANDO ENERGIA DA NATUREZA

1. Escolha um lugar ensolarado, talvez uma lisa rocha ou uma relva próxima a um rio ou bica. Deite-se sobre o lugar, com o rosto para baixo e completamente relaxado. Expire toda a energia tóxica exalando com um gemido suave, apertando o abdômen quando exalar. Sinta a pesada, cansada e doentia energia sendo drenada para a Terra para ser reciclada. Se existir água corrente por perto, permita a sensação flua para lavar dentro de você, posicionando-se a fim de que a energia flua dos seus pés para o seu corpo, para sua cabeça e além dela. Liberte a energia tóxica com o mesmo gemido exalado e aperto abdominal.

2. Caia no sono por um momento e permita que o processo continue em sonho, liberando a energia ainda mais completamente.

3. Role para cima sobre suas costas e permita que a luz do sol renove todos os aspectos de seu ser. Deixe a luz do sol penetrar em seus olhos, apenas em parte tapados, usando suas pálpebras para abrandar a luz. Permita que a Terra recarregue sua coluna com sua forte e quente energia. Respire e expanda seu abdômen numa inalação, sentindo-se sustentado pela Terra.

4.Caia no sono novamente e continue o processo de renovação no sonhar, bebendo a energia iluminada em seu sonho e iluminando sua consciência.

5. Acorde e agradeça ao lugar. Reanime-se, levante e alongue-se, respirando profundamente.

PRÁTICA 7: MODELANDO O SONHO

1. Comece olhando para o ser escolhido no sonho, podendo ser uma serpente, uma águia ou mesmo uma árvore. Peça permissão para unir-se com ele e foque seu olhar nos seus olhos, ou sua essência, vendo o excesso da criatura com sua visão periférica. Sinta a energia recíproca.

2. Suavemente dissolva a barreira entre o eu que está sonhando você e o eu que está sonhando a criatura.

3. Permita que sua energia corporal viaje, fazendo um zoom, mais e mais na forma desejada e se mova adiante.

4. Compartilhe pacificamente com a consciência já presente ali, o corpo e a percepção onde você está compartilhando.

5. Explore o comprimento do domínio de seu sonho que sua energia permitir, lembrando que quando você “voltar” da energia do sonhar, terá acabado.

6. Não é necessário sonhar que você retorna à sua forma normal. Isto ocorre naturalmente quando sua energia do sonhar é treinada. Você acordará do sonhar com um conhecimento fresco e percepção de ambas energias física e corporal.

PRÁTICA 8: O ALTAR

1. Para preparar o altar para um ritual de purificação e poder, você precisa primeiro encontrar um lugar sagrado dentro de sua casa que seja privado e apropriado para o trabalho cerimonial. Você precisará de uma mesa, um baú vazio ou uma câmara com uma prateleira.

2. Escolha um tecido, entre um estampado ou de cor lisa, para cobrir a mesa, baú ou prateleira. Você pode escolher derreter cera de multicoloridas velas sobre sua mesa, criando uma sólida camada para fazer o trabalho, ou cobrir a mesa com o tecido.

3. Escolha itens que representem todos os poderes de completude do útero. Estes itens, que incluem água, um bastão ou energia fálica, a faca, o principio florescente, a bacia representando o espaço do útero e o sangue, e o fogo aceso na forma da vela.

4. Medite sobre a mesa e tente perceber se algum desses poderes representados está faltando em você. Masculino, por exemplo, sempre que você não saiba como encontrá-lo em seu espaço uterino. Mulheres, ao contrário tem freqüentemente dado sua energia fálica, algumas vezes sem o saber.

5. Medite sobre a mesa para discernir algum desequilíbrio, áreas de depleção ou super-ênfase. Procure por áreas que pareçam zangadas, prejudicadas, ou energeticamente impuras. Seguido a isto, faça uma recapitulação. (Ver capítulo Recapitulação)

6. Purifique sua mesa inteira com fumaça de copal, numa máxima neutralização e poderosa purificação espiritual dentro da fumaça. Deixe a mesa instalada bem protegida, quando você voltar para novos trabalhos.

PRÁTICA 9: Uma simples versão da respiração de fogo

1. Fique com seus pés separados na largura dos ombros, as pernas relaxadas ainda enraizadas e os joelhos um pouco flexionados. Deixe seus braços caírem de lado, frouxos e soltos, dedos um pouco curvados. Alinhe sua espinha e pescoço em linha reta e deixe seu pescoço e ombros relaxados, mantendo a postura. Olhe suavemente à distância.

2. Agora respire pelo nariz, puxando os músculos do períneo e contraindo o abdômen quando inalar. A energia deve subir na forma de calor, da área da contração, que neste caso, é na região umbilical. Continue a respirar desta forma até sentir o calor.

3. O próximo passo é tentar puxar a energia cálida acima de sua espinha e pela parte de trás de suas costas até a altura atrás do coração. Isto é feito endereçando as costas na inalação e ainda acompanhando por uma contração abdominal, com um puxão suave no períneo. Quando a energia subir pelas costas até a altura do plexo solar, ela se tornará cálida. Agora, com uma inalação adicional, acompanhada por uma contração abdominal, abra a parte detrás de seus ombros flexionando-os, curve seus ombros um pouco para dentro. Isto fará subir a energia até a parte detrás do coração e você sentirá o calor se expandindo até seus braços e mãos, podendo senti-la zumbir ou suar. Você pode ainda sentir ruborizar-se. Isto é normal.

4. Alinhe a curvatura da nuca na próxima inalação. Uma contração abdominal é necessária, mas o puxão do períneo já não é mais necessário. Tente inalar com a parte detrás de sua garganta e orelhas para respirar agora mais energia do ar.

5. Um suspiro pelo nariz, acompanhado por uma contração abdominal, trará a respiração até seu olho interior, que o aquecerá, expandindo-o. Este “olho” é localizado a uma polegada dentro da testa, diretamente centralizado acima do nariz e entre as sobrancelhas, talvez a três quartos de polegada acima delas. O olho pode zumbir e abrir se você estiver preparado. Isto é essencial para Ver com certeza certos tipos de energia durante a cura. Levante um pouco a cabeça à frente e permita que o calor se torne fundido e se mova até a frente, o lado líquido de seu corpo. Você pode senti-la verdadeiramente gotejando, como se óleo ou mel morno fosse escoado gota a gota pela sua testa.

6. Agora alinhe sua cabeça o gotejar acumulará no seu palato. Este trago de energia encherá a frente, como se você derramasse-a na pele.

7. Inale a energia líquida vaporizada até a área do coração expandindo os pulmões para cima. Isso estimulará suave e gentilmente sentimentos de amor. Como se a energia fundisse além, baterá no plexo solar e espinha para os lados.

8. Massageie a corrente morna em seus órgãos internos, o baço à esquerda e o fígado, pâncreas e vesícula biliar à direita. Lembre-se de continuar expandindo seu abdômen na inalação.

9. Daqui, a energia procede descendo diagonalmente de cada lado para ser colhida em sua área reprodutiva. Numa inalação com expansão abdominal, encha o fundo de seu lago energético.

10. Finalmente, com uma suave contração abdominal, exale e retorne a energia que foi armazenada no centro da atenção. Atrás do umbigo.

PRÁTICA 10 – CÍRCULOS XAMÄNICOS

Forme um círculo de mulheres e garotas de todas as idades onde o conhecimento possa ser compartilhado abertamente com sabedoria e sem tabus. Esses círculos podem ser formados em torno de um tema como medicina herbal, maternidade, cerimônias sagradas, arte ritual, ou ainda a preparação de comidas especiais. É essencial que a sabedoria de todas as presentes seja honrada, não há temas que sejam inaceitáveis para discussão ou trabalho sagrado, e que o melhor nível de confiança, respeito, apreciação e amizade seja adotado.

Um círculo masculino de todas as idades pode ser baseado sobre os mesmos valores, a sabedoria de todos os ciclos da vida. Aqui o conhecimento do mesmo sexo pode ser compartilhado abertamente sem medo. Os temas podem ser habilidades de sobrevivência, a busca da visão, tenda do suor, um ofício, jardinagem, ou medicina herbal.

O ponto importante para o conhecimento é que a experiência seja passada adiante. Chon sentia que estes círculos criam um céu seguro, um lugar para experimentar e aprender respeitosamente não importando a idade, um lugar onde buscamos aconselhamento. Eles são predecessores de irmandades e fraternidades xamânicas, mentores sábios homens ou mulheres, um conceito de todo perdido em nossa sociedade do qual todos precisamos desesperadamente.

PRÁTICA 11 – SONHANDO O CORPO ENERGÉTICO

1. A intenção desta prática é afiar e desenvolver o sonhar com o duplo, num repleto e articulado corpo energético com a habilidade de operar como o corpo físico num alto nível, um corpo capaz de manter a força de vida em si mesmo no momento de transformação da morte.

2. Este processo é contínuo. O praticante é constantemente movido a buscar refinamentos, mesmo no momento da morte e além. Isso é consumado pela aplicação artística do duplo a todo esforço – mas primeiro, é claro, temos que nos empenhar para desenvolvê-lo.

3. O processo é sempre iniciado com a mesma tarefa de sonhar. Primeiro se empenhe em sonhar que você está em seu corpo, repleto de bem-estar e que você está olhando sobre seu próprio corpo físico dormindo deitado na posição e lugar que você genuinamente está.

4. Não deverá ter fio de prata de nenhum tipo. Isso não é projeção astral, que somente remove uma pequena porção de energia e consciência do corpo físico e o ata ao cordão umbilical além da parte que não se pode viajar. Forjando o corpo energético remove toda a porção de energia que não é requerida para manter um lento batimento cardíaco e respiração, e permite a oportunidade de expressar a energia neste reino, assim como em outros.

5. Olhe atentamente seu corpo dormindo, e verifique para sua satisfação que é realmente você mesmo em seu próprio lugar e tempo. Você não precisa se preocupar nem morrer de medo se seu corpo físico abrir os olhos e olhar de volta. Você já está naquela posição. Seu corpo permanecerá imóvel, mas vivo.

6. Explore o sentimento de estar em seu corpo energético. Não se atenha em ir tão longe em sua primeira tentativa. Em vez disso, concentre em estar completamente presente e dê uma volta em torno de onde está. Proteja seu corpo primeiro com seu intento sonhador, e talvez dê um passeio curto.

7. Com essa mudança de forma, não é necessário voltar em seu corpo físico. Quando sua energia é usada inteira você retorna automática e gentilmente. Quanto mais energia você construir para trabalhar, mais tempo você ficará no duplo. Alguns praticantes, como Chon, podem permanecer dobrados e podem na verdade fazer seus afazeres diários com seu duplo sonhador!

PRÁTICA 12 – RASTREANDO ENERGIA

1. Realize uma circulação da respiração de fogo.

2. Na segunda inspiração, enquanto você move a energia para cima pela espinha até a área atrás do coração, mantenha os braços relaxados e deixe a energia ramificar-se partindo do coração e encher os braços e mãos com pulsações magnetizadas. Sinta a pulsação, umidade ou formigamento passando pelas mãos e dedos. Mantenha os braços relaxados com os dedos suavemente curvados.

3. Continue trazendo energia para cima nas costas com a respiração de fogo, por último ativando o olho interior pela respiração através da área atrás da testa. Então aponte a cabeça suavemente para transferir a energia através de sua testa até o lado líquido do corpo (Chon chamava a frente de lado líquido, porque a maioria das glândulas e órgãos fluidos estão formados na frente).

4. Respire para baixo no lado da frente do corpo, usando a expansão abdominal na inalação até a energia alcançar o coração e de novo fluir até os braços e mãos com calidez e desta vez, um adicional suave e cuidadoso sentimento de amor.

5. O primeiro exercício desenvolve sensibilização, mãos curativas para usar a respiração de novo a fim de bombear o corpo energético em torno dele. Usando uma exalação moderadamente forçada através da área atrás da garganta, atrás da testa e narinas, combinada com contração abdominal, bombeando ar para fora. O som desta respiração faz lembrar uma bomba de bicicleta. Isto encherá o fogo do seu corpo energético.

6. Agora teste a sensação magnetizada de suas mãos levantando-as, ainda mantendo-as relaxadas e com os dedos suavemente curvados. Gentilmente, mova-as próximo uma da outra até sentir que se repelem como pólos de dois ímãs. Use a respiração para bombear e incrementar seu campo e construir a distância entre as palmas das duas mãos. A extensão da distância que você pode manter antes de sentir suas palmas se repelirem é a distância que estará capaz de sentir irregularidades durante o rastreamento e mover a energia numa forma correta e equilibrada.

7. Pratique sempre. Quando você retornar a energia, siga o resto do processo para completar a respiração de fogo, trazendo a energia toda para baixo à frente do corpo, para ser armazenada no centro da vontade.

PRÁTICA 13 - PRÁTICAS ORGÁSTICAS FEMININAS

1. Esta respiração é similar à respiração de fogo. Em vez de empurrar energia para cima pelas costas e descer pela frente, é empurrada para cima numa coluna central de energia e jorrada para fora do topo da cabeça. Então flui sobre os lados e é coletada novamente num empurrão até o ponto inicial, para ser trazida novamente para cima de novo e de novo.

2. Comece a contrair e empurrar para cima os músculos vaginal e adjacentes. Combine esta ação com uma inalação poderosa pelo nariz, acompanhada por uma contração abdominal.

3. Continue esta respiração e movimente e intente ativar para cima as contrações uterinas, enquanto empurra para cima todos os músculos reprodutivos. (Este movimento é bom para posicionar o útero apropriadamente dentro do corpo, e conter os efeitos da gravidade e menstruação. O fluir empurra a energia para o útero através da vagina, em vez de expelir energia dela. Se estiver menstruando, faça a respiração deitada de costas).

4. Agora ascenda a energia e a sensação para o diafragma e então até a área do coração. Faça poderosas respirações acompanhadas por empurrões para cima no diafragma e contrações abdominais. Continue todos os passos anteriores, adicionando estes movimentos a eles.

5. Inale através da área atrás da testa e combine com contração abdominal e puxão para cima. Isto empurrará a energia para cima do coração para o olho interior. Dali, continuando a inalação, durante a qual todos estes passos são combinados de uma só vez, a energia jorrará para fora do topo da cabeça. A exalação deverá ser de profunda satisfação e liberação. A energia fluirá para seus dois lados e sobre os braços ou mais, e então será coletada no lago interior em seu útero.

CAPÍTULO 14 - ENERGIA SEXUAL MASCULINA

A seguir descreve a prática da respiração da serpente, visualizando a boca na genitália, o corpo na espinha e o chocalho na cabeça, inalando, com uma contração abdominal, subindo a energia pela espinha até o topo da cabeça, retendo e fazendo subir o fluido seminal, relaxando as pernas (em pé), retendo a ejaculação. Quando a energia chegar até a área do coração, mova os olhos para cima atrás do crânio, continue inalando e fazendo contrações abdominais, concentre a energia no olho interno, na glândula pineal. A energia atingirá o clímax ficando ereta e vibrando ou "chocalhando" a glândula pineal, abrindo o olho interno quando estiver pronto. Esta sacudida pineal libera prazer, bem-estar e é um realce de sabedoria, um elixir dentro do cérebro.

PRÁTICA 15 - SONHAR E ENERGIA SEXUAL

1. O intento do sonhar é Ver o processo evolucionário de sua energia sexual. Empreenda este intento em sua tarefa. Cada noite depois de se recolher, repita esta tarefa consigo mesmo várias vezes, em pensamento ou em palavras enquanto você cai no sono.

2. Durante o sonhar, não intente nada a não ser a visão de sua própria energia sexual, como se estivesse vendo a formação de uma borboleta dentro de uma crisálida luminosa. Não se preocupe com nada.

3. A visão é diferente para cada um e poderá ser diferente a cada sonho, como uma visão de paisagem ou ver a energia como o corpo de uma serpente, ou como uma fênix.

4. Esta tarefa fala diretamente ao corpo energético, e neste sentido não é difícil intentar o empreendimento. De qualquer forma, requer energia sonhadora, e sem uma quantidade suficiente de energia em reserva, não será fácil de cumprir.

5. As melhores avenidas para armazenar energia sonhadora são todas as respirações de fogo, tirando e liberando energia da natureza, recapitulação minuciosa e recuperação de energia, e conservação prudente de energia sexual.

PRÁTICA 16 – SONHANDO DESPERTO

1. Esta prática é uma aplicação de “Fazendo uma ponte com o sonho”, ainda mais expansiva. Preferivelmente então escolha um item, ou uma pessoa, ou mesmo um lugar comum focando seu intento no sonhar e trazendo-o ao reino acordado, escolha uma abertura no sonhar desperto como objeto do seu intento.

2. Por exemplo, você sonha que entra num jardim à noite à luz do luar. Você desperta completamente dentro do sonhar para perceber que você está na verdade presente ali com seu dobro energético. Então você adiciona um novo toque. Seu sonho que em algum momento você entrou no jardim à noite assim como a luz do luar, você será capaz de acessar seu dobro energético. Esta é uma estratégia adicional. Seu sonho que assim como a ocasião, onde você está presente no jardim será como seu corpo energético, assim como ele está agora.

3. Isso abre algumas possibilidades de trazer o dobro completamente ao mundo acordado, através de um portal desenhado especialmente, seu jardim à luz do luar. Uma vez que o portal é trazido ao mundo acordado, permanecerá ali até que este tenha servido ao propósito intentado. Este propósito é escolhido pelo poder em si mesmo, e não por pequenos motivos do ego. Um portal é diferente de uma ponte, onde o portal é aberto, enquanto a ponte é meramente um meio de ir de um lado a outro.

4. Isso é atravessar, assim como o sonhar e trazer o portal até onde possamos mais tarde viajar através dele até outros reinos, ou para o passado ou o futuro no tempo, com o corpo físico intacto. Pense que o portal seja assim como um casulo na fabricação do sonhar do espaço e tempo, para isso é sua verdadeira natureza. Pense na ponte como uma base para você se pôr a fim de construir o portal.

PRÁTICA 17 – SONHANDO COM PASSES MÁGICOS

1. Foque seu intento sonhador sobre a área de seu corpo que você quer energizar. Escolha áreas vitais como os órgãos internos ou ossos, a menos que você tenha doença nesta área específica que você colocará seu foco.

2. Intente sonhar que esta energia aparecerá nesta área de maneira perceptível e permita que este processo ocorra, mantendo sua lucidez.

3. Foque agora sobre o refinamento da freqüência para realçar a qualidade e a pureza, a luz, ondas estáticas e amplitude. Use a força de seu intento para guiar e modular a energia.

4. Canalize a energia até a área específica desejada, direcionando o nível de penetração com a força de seu intento.

5. Concentre todos essas ações numa “tacada”, num gesto acompanhado com um poderoso intento, que pode ser trazido até o mundo acordado. Pratique esses passos no sonhar até que o processo seja suave e esforçado.

6. Traga a energia para manter o intento do sonhar enquanto realiza a “tacada” no mundo acordado, da maneira como foi feita no sonhar.

PRÁTICA 18 – MEDITAÇÃO DE UNIÃO

Esta é uma bonita prática usada para transformação, para se tornar um com o objeto de seu intento. Pode ser usada por amantes ou amigos também, para se tornar um com outro alguém. Comece estando sentado com os braços relaxados, diretamente à frente um do outro. Esvazie a mente de todos os pensamentos e respire da barriga, expandindo o abdômen de maneira relaxada ao inalar.

Olhem profundamente e com a mente silenciosa, um para os olhos do outro. Permita a si mesmo ser preenchido com o outro, esvaziando completamente de si mesmo. Não julgue, tema ou se apegue de nenhuma forma.

Neste momento, faça um lugar para o outro dentro de você. Faça isso com gentileza estendendo seu braço direito à frente. Digam um ao outro energeticamente “Eu faço um lugar para você dentro de mim”.

Gentilmente, recoloque o braço de volta ao seu lado. Isso diz energeticamente ao seu parceiro “Eu fiz lugar para mim dentro de você”.

O parceiro responde fazendo os mesmos movimentos no momento apropriado. Note: Esta prática sempre trará sentimentos reprimidos e os olhos encherão de lágrimas. As lágrimas limpam a janela dos olhos. Não permita a si mesmo romper em soluços de indulgência. A fim de sustentar a energia o vaso não pode ser quebrado. Simplesmente fique com a inundação de sentimentos e respire. Olhe através das lágrimas.

O efeito desta prática é tão profundo que pode sincronizar as ondas cerebrais. Você pode notar o menor sinal indicador depois, como de vez em quando movimentos idênticos compartilhados entre vocês, talvez ainda feitas no mesmo momento.

PRÁTICA 19 – EQUILIBRANDO OS QUATRO COMPARTIMENTOS ENERGÉTICOS

1. Estabeleça o intento sonhador para conferir a condição dos seus quatro compartimentos energéticos. Você pode, por exemplo, sonhar que encontra um fogão com quatro queimadores. Qual é a condição dos quatro queimadores? Está faltando algum? Algum deles está incapacitado, entupido? Qual a condição do fogão em geral e do lugar onde ele foi encontrado?

2. Tente limpar seus compartimentos. Faça algum reparo se for necessário. Veja se pode descobrir a localização de algum que esteja faltando.

3. Tente ativar os compartimentos no sonho. Se, por exemplo, eles são queimadores num fogão, veja se podem ser acesos. Não force nenhum deles. Simplesmente veja que compartimentos serão ativados e os que não forem. Peça ao seu corpo energético discernimento para qualquer problema que você possa encontrar.

4. Faça uma ponte com o sonhar num ritual em sua Mesa ou altar (esta prática está no capítulo 8). Limpe a mesa inteira, armazenando seus implementos de energia sexual num lugar a salvo e sagrado. Acompanhe esta limpeza com uma recapitulação de toda energia sexual representada, e de cada revelação que você possa encontrar no sonhar com respeito ao seu compartimento energético. O resultado chegará do silêncio e vazio.

5. Escolha quatro velas para representar seus quatro compartimentos e coloque-as sobre a mesa na forma da Roda da Medicina (um círculo perfeito dividido em quatro partes por uma cruz, com cada vela posicionada no norte, sul, leste e oeste) ou na forma dos quatro queimadores num fogão.

6. Acenda cada uma delas na ordem que seu corpo energético guiar para fazê-lo. Isso em si mesmo já dirá grande coisa. Se você sentir que uma das velas não estiver muito iluminada, remova-a da mesa e coloque em seu lugar uma pequena tigela reDonda de água com algumas flores dentro.

7. Entre novamente no sonhar na noite seguinte e examine os quatro compartimentos novamente. Talvez você sonhe como se eles fossem quatro jardins adjuntos e separados. Há portões entre os jardins abertos ou fechados? Qual a condição de cada jardim e qual é sua natureza?

8. Faça uma ponte com o sonho em sua mesa e trabalhe com as velas e água novamente. Desta vez, coloque quatro tigelas de água e flores que representem seus quatro compartimentos na área de trabalho da mesa. Se alguma área não parecer clara ou se a água não responder a ela, substitua a vela correspondente neste lugar e acenda a chama.

9. O ganho é ser capaz de trabalhar em grupos de quatro sólidos, ou de pares de dois em dois, em outras palavras em força total, e ter isso espelhado pelo sonhar, que deve confirmar que todas essas percepções que você tiver em sua mesa de trabalho possam ser precisas e equilibradas.

PRÁTICA 20 – VENDO ENERGIA

1. Escolha um lugar onde você possa estar fora da visão e observar transeuntes sem ser perturbado, como um lugar numa praça ou num parque. Sente-se, talvez num banco fora da passagem, e silencie sua mente. Deixe ir embora todos os seus pensamentos e descrições da “realidade”.

2. Respire profundamente, expandindo o abdômen quando inalar. Relaxe seu corpo e seu olhar. Tente não permitir que o diálogo interno prenda suas percepções.

3. Suavize seu foco e veja os transeuntes com silêncio interno. Não os descreva para si mesmo de nenhuma maneira. Veja se você consegue suspender a programação incrustada em você para descrevê-los como seres humanos dentro de uma civilização humana. Apenas olhe sobre eles com um foco suave, como se fossem fenômenos nunca antes visto pelos seus olhos.

4. Suspenda suas descrições desta maneira, veja se você pode ter um vislumbre da força vital radiante que os anima. Mude seu foco para outros itens dentro de seu campo visual e compare as diferenças. Olhe para outros seres humanos, plantas, árvores, seguindo o mesmo procedimento. Suspenda suas descrições. Você pode perceber variações, em vez de meramente utilizar interpretações ou definições descritivas? Ainda inclua objetos em seu olhar como lâmpadas e fontes. Não os racionalize. Como as energias deles se diferem? Como se parecem?

5. Intente ver tudo como energia, não como animada ou inanimada. Verifique diferenças não baseadas em conceitos pré-concebidos, mas baseados em pura percepção. Tente sentir o mundo com estes olhos. Os resultados poderão ser surpreendentes. Isso é muito revigorante e benéfico para o corpo e a mente relaxar as estruturas impostas ou acordos consensuais e Ver desta forma.

PRÁTICA 21 – SONHANDO A MORTE

1. Esta tarefa do sonhar é transmitida pela energia do desafiante da morte vista pelos xamãs do deserto. É costume praticá-la para o momento da morte.

2. Este sonho precisa ser permitido para acontecer. Não pode ser forçado. Entramos no sonhar e permitimos que o sonho se torne nossa própria morte, não no sentido profético, mas simplesmente como uma prática. O processo da morte pode ser ativado no sonho por um ser fora de nós mesmos, ou nosso próprio corpo energético pode iniciar a prática, desde que o praticante tenha suficiente controle e consciência do que este ser empreende.

3. Permita que a morte ocorra, sonhe seu caminho pelo processo ao invés de ficar apavorado e acordar. Esta segunda resposta é muito comum, e é instintivo alguém ficar engendrado pelo medo. Entretanto, pode ser superado.

4. Permita que o vazio total ocorra sem permitir nenhuma interrupção na sua consciência do sonhar. Se a interrupção for inevitável, não fique com ninguém mais do que o tempo necessário. Então comece a reconfigurar sua consciência, limpando-a no mais essencial do que a primeira configuração. Não degenere em sonho ordinário ou em sonhos do ego.

5. Em vez disso, esforce-se para trazer a consciência essencial de volta com você até o mundo acordado numa simples, silenciosa e vazia humildade. Foque-se na paz.

PRÁTICA 22 – OFERENDA DO CORAÇÃO

1. Esta é uma meditação comovente que pode ser empreendida à parte como uma preparação para a
oferenda à Águia. É chamada de Oferenda do Coração e era praticada pelos antigos Mayas e Toltecas. Estes movimentos são ainda remanescentes do Sun Dance Offering, praticado entre os povos nativos das planícies.

2. Expandindo o abdômen ao inalar, incline para trás o mais longe possível, expandindo os braços para abraçar o sol. O pescoço está completamente relaxado. A cabeça caída para trás frouxa, com os olhos abertos, olhando para dentro do topo da cabeça. Os braços estão frouxos, ainda mantendo o abraço expandido. As costas estão curvadas para trás. As pernas estão separadas na largura dos ombros, firmemente enraizadas na Terra, com os joelhos levemente curvados.

3. Permaneça nesta posição e se estenda completamente nela, mantendo a respiração. Solte seu corpo sobre ela inteiramente, oferecendo cada grama de seu ser e esvazie o coração dentro de seu peito para o sol queimando sobre sua cabeça.

4. Permaneça nesta posição até seu peito queimar e você sentir a energia do centro do coração expandindo com a luz e o calor. Continue até sentir que está preste a ficar inconsciente. Visualize a Águia pegando um pedaço de seu coração neste momento.

5. Agora fique ereto, trazendo seus braços esticados acima da cabeça. Incline-se profundamente, mantendo a posição dos braços e deixando-os seguir graciosamente sua descida. Exale profundamente quando descer; deixe suas pernas retas, alongue sua espinha, e toque o chão com as palmas das mãos. Libere cada parte da expiração e do ser, até que você esteja totalmente vazio. Fique inclinado e exale ainda mais, contraindo o abdômen completamente ao exalar, até que nada reste em você senão puro vazio.

6. Fique ereto, inale, e agradeça, levando seus braços até seu peito e unindo as palmas das mãos em posição de prece sobre seu coração.

7. Saiba que cada vez que você faz esta oferenda, você se purifica. Concentre-se no amor incorruptível quando pratica. Não pense em si mesmo. Em vez disso, agradeça à Águia. Devolva tudo o que tiver recebido sem ressentimento ou egoísmo. Magnifique o que tem recebido pela gratidão a ela, quando devolver o seu todo máximo em oferenda.


[1] Extraído do livro A Serpente do Arco-íris tolteca - Don Juan e a arte da energia sexual, de Merilyn Tunneshende, tradução exclusiva da Dra. Arlinda Silva para os integrantes da lista dos rastreadores de vida.

Loucura controlada


“- É possível insistir, insistir realmente, mesmo sabendo que o que se está fazendo é inútil - disse ele, sorrindo. - Mas primeiro temos de saber que nossos atos são inúteis e, no entanto, temos de proceder como se não soubéssemos. É esta a loucura controlada de um feiticeiro.”
Uma Estranha Realidade, pág. 75

“- Será que você me conta mais a respeito de sua loucura controlada?
- O que é que você quer saber a respeito?
- Diga-me, por favor, Dom Juan, o que é exatamente a loucura controlada?
Dom Juan riu à grande e provocou um estalo, dando uma palmada em sua coxa.
- Isto é loucura controlada! - falou, e tornou a dar uma palmada na coxa.
- O que quer dizer?
- Estou contente que você afinal me pergunte acerca de minha loucura controlada, depois de tantos anos, e no entanto não teria a mínima importância para mim, se você nunca perguntasse. E no entanto resolvi ficar feliz, como se me importasse, porque você perguntou, como se importasse que eu ligasse. Isso é loucura controlada!
Nós dois rimos muito. Abracei-o. Achei a explicação dele uma delícia, embora não a entendesse muito bem.”
Uma Estranha Realidade, pág. 77

“- Com quem você pratica a sua loucura controlada, Dom Juan? - perguntei, depois de um longo silêncio. Ele riu.
- Com todo mundo!
- Então, quando é que você resolve praticá-la?
- Cada vez que eu ajo.
Achei necessário recapitular, nesse ponto, e perguntei-lhe se a loucura controlada significava que os atos dele nunca eram sinceros, e apenas os atos de um ator.
- Meus atos são sinceros - disse ele - mas são apenas os atos de um ator.
- Então, tudo o que você faz deve ser loucura controlada! - falei, realmente surpreendido.
- Sim, tudo.
- Mas isso não pode ser verdade - protestei - não acredito que todos seus atos sejam só loucura controlada.
- Por que não? - respondeu ele, com um ar misterioso.
- Isso significaria que nada lhe importa e você não liga realmente para nada ou ninguém. Veja o meu caso, por exemplo. Quer dizer que não se importa se eu me tornar um homem de conhecimento, se eu viver ou morrer, ou fizer qualquer coisa?
- É verdade! Não me importo. Você é como Lúcio, ou qualquer outra pessoa em minha vida, minha loucura controlada.”
Uma Estranha Realidade, pág. 77

“- Estou com a impressão de que não estamos falando sobre a mesma coisa. Eu não devia ter usado o meu caso como exemplo. O que eu queria dizer era que devia haver alguma coisa no mundo com a qual você se importe e que não seja loucura controlada. Não creio que seja possível a gente continuar a viver se nada realmente nos importa.
- Isso se aplica a você - respondeu. - As coisas importam a você. Perguntou-me acerca de minha loucura controlada e eu lhe disse que tudo o que faço com relação a mim e meus semelhante é loucura, pois nada importa.
- O que eu digo, Dom Juan, é que, se nada lhe importa, como é que você pode continuar a viver?
Riu depois de um momento, em que parecia estar resolvendo se devia ou não responder-me; levantou-se e foi para os fundos da casa. Acompanhei-o.
- Espere, espere, Dom Juan - falei. - Quero mesmo saber; você tem de me explicar o que quer dizer.
- Talvez não seja possível explicar - disse ele. - Certas coisas em sua vida lhe importam porque são importantes; seus atos certamente são importantes para você, mas, para mim, não há mais nenhuma coisa importante, nem os meus atos nem os de meus semelhantes. Mas continuo a viver porque tenho minha vontade. Porque temperei minha vontade em toda minha vida, até ela se tornar limpa e sadia, e agora não mais me importa o fato de nada importar. Minha vontade controla a loucura de minha vida.
Agachou-se e passou os dedos por umas ervas que tinha posto a secar ao Sol num pedaço de pano.
Eu estava confuso. Jamais poderia ter antecipado o rumo que minha pergunta tomaria. Depois de algum tempo, pensei num bom argumento. Disse-lhe que, em minha opinião, alguns dos atos de meus semelhantes tinham a maior importância. Observei que a guerra nuclear era positivamente o exemplo mais dramático de um desses atos. Disse que, para mim, a destruição da vida na face da terra era um ato de uma enormidade arrasante.
- Você crê nisso porque está pensando. Está pensando na vida - disse Dom Juan, com um brilho nos olhos. - Não está vendo.
- Eu sentiria outra coisa se estivesse vendo? - perguntei.
- Quando o homem aprender a ver, ele se encontra sozinho no mundo, apenas com a loucura - disse Dom Juan, misteriosamente. Parou um momento e olhou para mim como se quisesse avaliar o efeito de suas palavras. - Seus atos, bem como os atos de seus semelhantes em geral, parecem-lhe importantes porque você aprendeu a pensar que são importantes.
Ele usou a palavra "aprendeu" com uma entonação tão especial que me levou a perguntar o que ele queria dizer com aquilo. Parou de mexer nas plantas e olhou para mim.
- Aprendemos a pensar sobre tudo - disse ele - e depois exercitamos nossos olhos para olharem como pensamos a respeito das coisas que olhamos. Olhamos para nós mesmos já pensando que somos importantes. E, por isso, temos de sentir-nos importantes!
Mas quando o homem aprende a ver, entende que não pode mais pensar a respeito das coisas que ele olha, e se não pode mais pensar sobre as coisas que olha, tudo fica sem importância.”
Uma Estranha Realidade, pág. 78

“- Aquilo que você me disse hoje à tarde sobre a loucura controlada me perturbou muito. Não consigo compreender o que você queria dizer.
- Claro que não consegue compreender - falou. - Você está tentando pensar a respeito, e o que eu disse não se coaduna com seus pensamentos.
- Estou tentando pensar a respeito, porque esse é o único meio pelo qual eu, pessoalmente, consigo entender alguma coisa. Por exemplo, Dom Juan, quer dizer que uma vez que o homem aprenda a ver, tudo no mundo passa a ser sem valor?
- Eu não disse sem valor. Falei sem importância. Tudo é igual, e dessa forma sem importância. Por exemplo, não há meio de eu dizer que meus atos sejam mais importantes do que os seus, ou que uma coisa seja mais essencial do que outra; e, portanto, todas as coisas são iguais, e sendo iguais são sem importância.
Perguntei-lhe se suas declarações eram uma afirmação de que o que ele chamara de "ver" era realmente um "meio melhor" do que apenas "olhar para as coisas". Ele disse que os olhos do homem podiam desempenhar ambas as funções, mas que nenhuma das duas era melhor do que a outra; no entanto, treinar os olhos apenas para olhar, para ele, era um desperdício desnecessário.
- Por exemplo, precisamos olhar com nossos olhos para rir - disse ele - porque só quando olhamos para as coisas é que pegamos o lado engraçado do mundo. Por outro lado, quando os nossos olhos vêem, tudo é tão igual que nada é engraçado.
- Quer dizer, Dom Juan, que o homem que vê nunca pode rir?
Ficou calado por algum tempo.
- Talvez haja homens de conhecimento que nunca riem falou. - Mas não conheço nenhum. Aqueles que eu conheço vêem e olham, de modo que riem.
- Um homem de conhecimento também pode chorar?
- Suponho que sim. Nossos olhos olham, de modo que podemos rir, ou chorar ou regozijar-nos, ou ficar tristes, ou felizes. Pessoalmente não gosto de ficar triste, de modo que sempre que presencio alguma coisa que normalmente me entristeceria, limito-me a mudar meus olhos e vejo a coisa, em vez de simplesmente olhar para ela. Mas quando encontro alguma coisa engraçada, eu olho e rio.”
Uma Estranha Realidade, pág. 80

“- Há muitos homens de conhecimento que fazem isso - falou. - Um dia eles podem simplesmente desaparecer. As pessoas podem pensar que eles caíram numa emboscada e foram mortos por causa de seus atos. Preferem morrer porque não se importam. Por outro lado, prefiro viver e rir, não porque importe, mas porque essa escolha é de minha natureza. O motivo por que digo que prefiro, é que eu vejo, mas não é que prefira viver; minha vontade me faz continuar a viver a despeito de tudo o que eu possa ver. Você não me está entendendo agora por causa de seu hábito de pensar en­quanto pensa.
Essa declaração me intrigou muito. Pedi que ele explicasse o que queria dizer. Repetiu a mesma frase várias vezes, como que se dando tempo para arrumá-la em termos diferentes, e depois expôs seu argumento, afirmando que, por "pensar", ele queria dizer a idéia constante que temos de tudo no mundo. Disse que "ver" eli­minava esse hábito e até eu aprender a "ver" eu não podia realmente compreender o que ele queria dizer.
- Mas se nada tem importância, Dom Juan, por que importa que eu aprenda a ver?
- Já lhe disse uma vez que nosso destino como homem é aprender, para melhor ou pior - afirmou. - Aprendi a ver e lhe digo que nada realmente importa. Agora é sua vez. Talvez algum dia você aprenda a ver e então saberá se as coisas importam ou não. Para mim nada importa, mas talvez para você tudo importará. Você já devia saber que um homem de conhecimento vive pelos atos, não por pensar nos atos, e não por pensar no que vai pensar depois que acabar de agir. Um homem de conhecimento escolhe um caminho de coração e o segue; e depois olha e se regozija e ri; e então ele vê e sabe. Sabe que sua vida terminará muito depressa; sabe que ele, como todos os outros, não vai a parte alguma; sabe, por que vê, que nada é mais importante do que qualquer outra coisa. Em outras palavras, um homem de conhecimento não tem honra, nem dignida­de, nem família, nem nome, nem prática, mas apenas a vida a ser vivida, e, nessas circunstâncias, sua única ligação com seus seme­lhantes é sua loucura controlada. Assim, o homem de conhecimento se esforça, transpira e bufa; e, se se olhar para ele, parece um homem comum, só que tem que a loucura de sua vida está controlada. Como nada é mais importante do que outra coisa qualquer, um homem de conhecimento escolhe qualquer ato e age como se lhe importasse. Sua loucura controlada o leva a dizer que o que ele faz importa e o faz agir como se importasse, e no entanto ele sabe que não é assim; de modo que, quando pratica seus atos, ele se retira em paz, e quer seus atos sejam bons ou maus, dêem certo ou não, isso não o afeta de todo.
"Um homem de conhecimento pode preferir, por outro lado, permanecer totalmente impassível e nunca agir, e comportar-se como se ser impassível realmente lhe importasse; ele também será sincero agindo assim, pois isso também seria sua loucura controlada”.
Uma Estranha Realidade, pág. 82

“- Você pensa em seus atos - falou. - E, portanto, tem de acreditar que seus atos são tão importantes quanto você pensa que são, quando, na realidade, nada do que se faz é importante. Nada! Mas então, se nada importa realmente, conforme você me perguntou, como posso continuar a viver? Seria mais simples morrer; é isso que você diz e acredita, pois está pensando na vida, assim como agora está pensando em como seria ver. Queria que eu o descrevesse para você para poder começar a pensar a respeito, assim como faz com tudo o mais. No caso de ver, contudo, pensar não é a questão, em absoluto, de modo que não lhe posso dizer como é ver. Agora, quer que eu descreva os motivos de minha loucura controlada, e só lhe posso dizer que a loucura controlada é muito parecida com ver: é uma coisa sobre a qual não se pode pensar.
Ele bocejou. Deitou-se de costas e esticou os braços e as pernas. Os ossos de1e estalaram.
- Esteve fora muito tempo - disse ele. - Você pensa demais.
Levantou-se e foi para o chaparral espesso ao lado da casa. Alimentei o fogo, para conservar a panela fervendo. Já ia acender um lampião de querosene, mas a penumbra era muito calmante. O fogo do fogão, que dava luz suficiente para eu escrever, também criava uma luminosidade vermelha em volta de mim. Larguei minhas notas no chão e deitei-me. Estava cansado. De toda essa conversa com Dom Juan, a única coisa pungente em meu espírito era que ele não ligava para mim; aquilo me perturbou muito. Durante vários anos, eu depositara confiança completa nele. Se não tivesse essa confiança, eu teria ficado paralisado de medo com a idéia de aprender o conhecimento dele; a premissa em que eu baseara minha confiança era a idéia de que ele me apreciava pessoalmente; na verdade, eu sempre o temera, mas controlava meu medo porque confiava nele. Quando tirou aquela base, fiquei sem nada para me apoiar e senti-me desamparado.”
Uma Estranha Realidade, pág. 83

“Falei a Dom Juan que meu conflito era oriundo das dúvidas suscitadas pelas palavras dele a respeito da loucura controlada.
- Se nada importa realmente - disse eu - ao se tornar um homem de conhecimento, a pessoa se encontrará forçosamente tão vazia quanto meu amigo, e numa situação nada melhor.
- Isso não é verdade - replicou Dom Juan, num tom cortante. - Seu amigo está solitário porque há de morrer sem ver. Em sua vida, apenas envelheceu e agora tem de ter mais pena de si ainda do que antes. Sente que jogou fora 40 anos porque andou atrás de vitórias e só encontrou derrotas. Nunca há de saber que ser vitorioso e ser derrotado são a mesma coisa.
"Então, agora tem medo de mim porque eu lhe disse que você é igual a tudo o mais. Está sendo infantil. Nosso destino como homens é aprender e a gente procura o conhecimento como vai para a guerra; já lhe disse uma centena de vezes. Vai-se ao conhecimento ou à guerra com medo, com respeito, sabendo que se vai à guerra, e com uma confiança absoluta em si mesmo. Deposite sua confiança em si, não em mim”.
"E então você teme o vazio da vida de seu amigo. Mas não existe vazio na vida de um homem de conhecimento, posso garantir--lhe. Tudo está cheio até à borda”.
Dom Juan levantou-se e esticou os braços, como se estivesse tocando em coisas no ar.
"Tudo está cheio até à borda - repetiu ele - e tudo é igual.
Não sou como seu amigo que apenas envelheceu. Quando lhe digo que nada importa, não o digo do jeito que ele o faz. Para ele, sua luta não valeu a pena porque ele foi vencido; para mim não há vitória, nem derrota, nem vazio. Tudo está cheio até à borda; tudo é igual, e minha luta valeu a pena”.
"A fim de se tornar um homem de conhecimento, a pessoa tem de ser um guerreiro, não uma criança choramingas. E preciso lutar sem desistir, sem reclamar, sem hesitar, até ver, só para compreender então que nada importa.”
Uma Estranha Realidade, pág. 85

“- Você se preocupa demais em gostar das pessoas ou em pensar se gostam de você - falou. - Um homem de conhecimento gosta e pronto. Gosta daquilo ou da pessoa que quer, mas utiliza sua loucura controlada para não se preocupar com isso. O oposto do que você está fazendo agora. Gostar das pessoas ou ser apreciado por elas não é tudo o que se pode fazer, como homem.
. Ficou olhando fixamente para mim, com a cabeça inclinada para um lado.
- Pense nisso - disse ele.
- Há mais uma coisa que desejo perguntar, Dom Juan. Você falou que temos de olhar com nossos olhos para rir, mas acredito que rimos porque pensamos. Veja um cego, ele também ri.
- Não - respondeu. - Os cegos não riem. Seus corpos estremecem um pouco com o riso. Nunca viram a parte engraçada do mundo, e têm de imaginá-la. O riso deles não é uma gargalhada.
Não conversamos mais. Eu tinha uma sensação de bem-estar, de felicidade. Comemos em silêncio; depois, Dom Juan começou a rir. Eu estava usando um galho seco para pôr os legumes na boca.”
Uma Estranha Realidade, pág. 86

“- Como é que um homem de conhecimento pratica a loucura controlada, quando se trata da morte de uma pessoa que ele ama?
Dom Juan foi colhido de surpresa por minha pergunta e olhou para mim de modo estranho.
- Veja seu neto, Lucio, por exemplo - disse eu. – Seus atos seriam loucura controlada, no momento da morte dele?
- Veja meu filho Eulálio, é um exemplo melhor - respondeu Dom Juan, calmamente. - Foi esmagado pelas pedras quando trabalhava na construção da Estrada de Rodagem Pan-Americana. Meus atos para com ele no momento de sua morte foram loucura controlada. Quando cheguei à área das explosões, ele estava quase morto, mas o corpo dele era tão forte que continuava a se mexer e dar pontapés. Fiquei diante dele e disse aos rapazes da turma da estrada para não mexerem mais nele; obedeceram-me e ficaram ali em volta de meu filho, olhando para o corpo estraçalhado. Também fiquei ali, mas não olhei. Desviei os olhos para poder ver sua vida pessoal se desintegrando, expandindo-se incontrolavelmente além de seus limites, como uma neblina de cristais, pois é assim que a vida e a morte se misturam e expandem. Foi o que fiz no momento da morte de meu filho. E só isso que se poderia fazer, e isso é loucura controlada. Se eu tivesse olhado para ele, teria visto que ele ficava imóvel e teria sentido um grito dentro de mim, pois nunca mais havia eu de ver sua bela figura andando pela terra. Em vez disso, eu vi a morte dele, e não houve tristeza, nem sentimento algum. Sua morte foi igual a tudo o mais.
Dom Juan foi calado por algum tempo. Parecia triste, mas depois sorriu e bateu na minha cabeça.
- Por isso você pode dizer que, quando se trata da morte de uma pessoa que eu amo, minha loucura controlada consiste em desviar o olhar.
Pensei nas pessoas que eu mesmo amo e uma onda de autocomiseração terrivelmente opressiva me envolveu.
- Sorte a sua Dom Juan - falei. - Pode desviar o olhar, mas eu só posso olhar.
Ele achou graça naquilo e riu.
- Sorte, uma bosta! É trabalho duro.”
Uma Estranha Realidade, pág. 87

“- Se entendi corretamente, Dom Juan, os únicos atos na vida de um homem de conhecimento que não são loucura controlada são aqueles que ele pratica com seu aliado ou com Mescalito. Certo?
- Certo - respondeu, rindo. - Meu aliado e Mescalito não estão num plano de igualdade conosco, os seres humanos. Minha loucura controlada só se aplica a mim e aos atos que pratico quando em companhia de meus semelhantes.
- No entanto, é uma possibilidade lógica - falei - pensar que um homem de conhecimento também considera seus atos com seu aliado ou com Mescalito como loucura controlada, não é verdade?
Olhou-me por um momento.
- Você está pensando outra vez - disse ele. - Um homem de conhecimento não pensa e, portanto, não pode encontrar essa possibilidade. Veja meu caso, por exemplo. Digo que minha loucura controlada aplica-se aos atos que pratiquei em companhia de meus semelhantes; digo isso porque eu posso ver meus semelhantes. No entanto, não posso ver através de meu aliado e isso torna a coisa incompreensível para mim; dessa forma, como poderia eu controlar minha loucura se não vejo através dele? Com meu aliado ou com Mescalito sou apenas um homem que sabe ver e que fica confuso com o que vê; um homem que sabe que nunca há de compreender tudo o que o cerca.
"Veja seu caso, por exemplo. A mim não importa que você se torne um homem de conhecimento ou não; no entanto, isso importa a Mescalito. Obviamente, importa a ele, senão não faria tanta coisa para mostrar seu interesse por você. Observo o interesse dele e ajo nesse sentido, no entanto seus motivos me são incompreensíveis."
Uma Estranha Realidade, pág. 88

“- Seja bem-vindo à minha humilde cabana - disse ele, em tom de desculpas, em espanhol.
As palavras dele eram uma expressão cortês que eu já ouvira em várias regiões rurais do México. No entanto, ao pronunciá-las, ele sorriu alegremente, por nenhum motivo aparente, e eu sabia que ele estava pondo em prática a sua loucura controlada. Não se im­portava a mínima que sua casa fosse uma cabana. Gostei muito de Dom Genaro.”
Uma Estranha Realidade, pág. 90

“Um assunto secundário que surgiu no curso de nossa interação com os guerreiros de Dom Juan foi o da loucura controlada. Dom Juan me deu uma explicação sucinta uma vez quando discutia as duas categorias nas quais todas as mulheres guerreiras eram necessariamente divididas, as sonhadoras e as espreitadoras. Disse que todos os membros do seu grupo sonhavam e espreitavam como ações habituais de suas vidas diárias, mas que as mulheres que formavam o planeta das sonhadoras e o planeta das espreitadoras eram as grandes autoridades nas suas respectivas atividades.
As espreitadoras eram as que recebiam o impacto do mundo diário; as gerentes de negócios, as que lidavam com as pessoas. Tudo que se relacionava ao mundo de assuntos comuns passava por elas. As espreitadoras eram praticantes da loucura controlada, assim como as sonhadoras eram praticantes do sonho. Em outras palavras, a loucura controlada é a base da espreita, e os sonhos são a base do sonhar. Dom Juan disse que, de um modo geral, a maior realização de um guerreiro na segunda atenção era sonhar, e na primeira atenção, espreitar.
Eu tinha compreendido mal o que os guerreiros de Dom Juan tinham feito comigo em nossos primeiros encontros. Tomei as atitudes deles como atos de trapaça - e essa ainda seria minha impressão hoje se não fosse a idéia da loucura controlada. Dom Juan falou que as suas atitudes comigo tinham sido lições de mestre em espreita. Disse-me que a arte da espreita era o que seu benfeitor tinha lhe ensinado antes de qualquer outra coisa. A fim de sobreviver entre os guerreiros do seu benfeitor ele tivera de aprender aquela arte rapidamente. No meu caso, disse, já que eu não tive de me bater por mim mesmo com os seus guerreiros, tive de aprender a sonhar primeiro. Quando chegava o momento adequado, Florinda saía para me guiar nas complexidades de espreitar. Ninguém mais podia falar deliberada- mente comigo sobre isso; podiam apenas me dar demonstrações diretas, como fizeram em nossos primeiros encontros.
Dom Juan explicou longamente que Florinda era uma das melhores praticantes da espreita por ter sido treinada em toda a sua complexidade pelo seu benfeitor e suas quatro guerreiras espreitadoras. Florinda foi a primeira guerreira a chegar ao mundo de Dom Juan, e por isso ela era minha guia pessoal- não só na arte da espreita, mas também no mistério da terceira atenção, se eu algum dia chegasse lá. Dom Juan não fez declarações sobre isso. Disse que eu teria de esperar até estar pronto, primeiro para aprender a espreitar e depois para entrar na terceira atenção.
Falou que seu benfeitor tinha concedido tempo e cuidado especiais para ele e seus guerreiros em relação a tudo que pertencia ao aperfeiçoamento da arte de espreitar. Usava técnicas complexas para criar um contexto apropriado para uma contrapartida entre os ditames do regulamento e o comportamento dos guerreiros no seu mundo diário, quando eles interagiam com as pessoas. Acreditava ser essa a forma de convencê-los de que, na ausência da auto-importância, o único modo de um guerreiro lidar com o meio social era em termos de loucura controlada.
Ao longo do desenvolvimento de suas técnicas, o benfeitor de Dom Juan lançava as ações das pessoas e as ações dos guerreiros contra as exigências do regulamento, e então se retirava e deixava o drama natural se desenrolar por si próprio. A loucura das pessoas tomava a frente por algum tempo e arrastava os guerreiros consigo, como parece ser o curso natural das coisas, e só se recompunha no final, com os desígnios mais abrangentes do regulamento.
Dom Juan nos disse que a princípio ele se ressentira do controle do seu benfeitor sobre os participantes. Chegou a dizer isso na cara dele, mas ele não se perturbou. Argumentou que o controle era meramente uma ilusão criada pela Águia. Ele era apenas um guerreiro impecável, e suas ações eram uma humilde tentativa de refletir a Águia.
Dom Juan disse que a força com a qual o seu benfeitor desempenhava seus desígnios originava-se de seu conhecimento de que a Águia é real e final, e que o que as pessoas fazem é de extrema loucura. Os dois juntos deram origem à loucura controlada, que o benfeitor de Dom Juan descrevia como a única ponte entre a loucura das pessoas e a finalidade dos ditames da Águia.”
O Presente da Águia, pág. 169

“Florinda foi a primeira guerreira. Foi seguida de Zoila, Delia e depois Hermelinda. Dom Juan disse que seu benfeitor tinha insistido sem cessar para que eles lidassem com o mundo exclusivamente em termos de loucura controlada. O resultado final foi um grupo estupendo de praticantes, que pensavam e executavam os esquemas mais complexos.
Quando todos tinham adquirido um grau de eficiência na arte de espreita, seu benfeitor achou que era hora de encontrar a mulher nagual para eles. Fiel a seu método de ajudar a todos a ajudarem a si próprios, esperou para trazê-la ao mundo deles quando todos fossem peritos na espreita e quando Dom Juan aprendesse a ver. Embora Dom Juan se queixasse enormemente do tempo desperdiçado na espera, reconheceu que o esforço reunido deles em garanti-la criara um laço mais forte entre todos, revitalizando o compromisso da busca de liberdade.”
O Presente da Águia, pág. 170

“Ela declarou que essas eram as preliminares essenciais da espreita
que todos os membros do seu grupo tinham passado como introdução a exercícios mais apurados da arte. Sem fazer os exercícios preliminares para recuperar os filamentos deixados no mundo, e particularmente para desprezar os que os outros deixaram neles, não há possibilidade de manipular a loucura controlada, pois esses filamentos estranhos são a base da capacidade ilimitada de auto-importância de uma pessoa. Para exercitar a loucura controlada, já que ela não visa a enganar ou punir as pessoas ou se sentir superior a elas, tem-se de ser capaz de rir de si próprio. Florinda disse que um dos resultados de uma recapitulação detalhada é a graça de se ver face a face com a repetição monótona da auto-estima de alguém, que está no cerne de toda a interação humana.
Ela enfatizou que o regulamento definia a espreita e o sonho como artes, portanto, a serem representadas. Disse que a natureza produtora de vida da respiração é também o que dá sua capacidade de limpeza. É essa capacidade que faz da recapitulação uma questão prática.”
O Presente da Águia, pág. 228

“Florinda se impressionava muito com o último princípio. Para ela ele resumia tudo o que ela queria dizer a mim nas suas instruções de última hora.
- Meu benfeitor era o chefe - disse Florinda. - Assim mesmo, olhando para ele ninguém acreditaria. Sempre usava uma de suas guerreiras como fachada, misturando-se livremente entre os doentes, fingindo ser um deles, ou fazendo-se passar por um velho idiota varrendo as folhas secas com uma vassoura improvisada.
Florinda explicou que para aplicar o sétimo princípio da arte de espreitar, tem-se de aplicar os outros seis. Assim, seu benfeitor ficava sempre por trás dos bastidores. Graças a isso ele era capaz de evitar ou aparar conflitos. Se houvesse discórdia, nunca era com ele e sim com a guerreira que estivesse servindo de fachada.
- Espero que você tenha percebido a essa altura - continuou ela - que só um mestre em espreita pode ser um mestre em loucura controlada. A loucura controlada não significa o estudo das pessoas. Significa, como meu benfeitor explicou, que os guerreiros aplicam os sete princípios básicos da arte de espreitar a tudo o que fazem, desde os atos mais simples até situações sérias de vida e de morte. A aplicação desses princípios redunda em três resultados. O primeiro é que os espreitadores aprendem a nunca se levarem a sério; aprendem a rir de si próprios. Se não se importam de parecer bobos, podem enganar a qualquer um. O segundo é que aprendem a ter uma paciência sem fim. Nunca estão com pressa, nunca se desesperam. E o terceiro é que aprendem a desenvolver uma capacidade infinita de improvisação.”
O Presente da Águia, pág. 231

“Disse que, para os feiticeiros, a espreita era o alicerce sobre o qual tudo o mais que faziam era construído.
- Alguns feiticeiros têm objeção ao termo espreita - continuou -, mas o nome surgiu porque implica comportamento sub-reptício.
"É chamado também a arte da furtividade, mas esse termo é igualmente desafortunado. Nós mesmos, por causa do nosso temperamento não-militante, o chamamos arte da loucura controlada. Você pode chamá-lo como quiser. Entretanto, iremos continuar com o termo espreita uma vez que é tão fácil dizer espreitador e, como meu benfeitor costumava dizer, tão estranho dizer fazedor de loucura controlada.
Eles riram como crianças à menção de seu benfeitor.”
O Poder do Silêncio, pág. 93

“- Na arte de espreitar - continuou Don Juan - há uma técnica que os feiticeiros usam muito: loucura controlada. Segundo eles, a loucura controlada é a única maneira que têm de lidar consigo mesmos, em seu estado de consciência e percepção expandidas, e com todos e tudo no mundo dos afazeres diários.
Don Juan explicou a loucura controlada como a arte do engano controlado ou a arte de fingir estar profundamente imerso na ação - fingindo tão bem que ninguém pudesse distingui-lo da coisa real. A loucura controlada não é um engano direto, mas um modo sofisticado, artístico, de estar separado de tudo permanecendo ao mesmo tempo uma parte de tudo.
- A loucura controlada é uma arte - continuou Don Juan. - Uma arte que causa muitas preocupações, e muito difícil para se aprender. Muitos feiticeiros não suportam isso, não porque haja alguma coisa inerentemente errada com a arte, mas porque é preciso muita energia para exercê-la.
Don Juan admitiu que a praticava conscienciosamente, embora não gostasse particularmente de fazê-lo, talvez porque seu benfeitor fosse tão adepto a ela. Ou talvez fosse porque sua personalidade - que ele disse ser basicamente tortuosa e mesquinha - simplesmente não tinha agilidade necessária para praticar a loucura controlada.
Olhei para ele com surpresa. Parou de falar e fixou-me com seus olhos maliciosos.
- Na época em que chegamos à feitiçaria, nossa personalidade já está formada - disse, e encolheu os ombros em sinal de resignação -, e tudo que podemos fazer é praticar a loucura controlada e rir de nós mesmos.
Senti uma onda de empatia e assegurei-lhe que para mim ele não era de modo algum mesquinho ou tortuoso.
- Mas esta é minha personalidade básica - insistiu. E eu retruquei que não era.
- Os espreitadores que praticam a loucura controlada acreditam que, em questão de personalidade, a raça humana inteira entra em três categorias - disse ele, e sorriu da maneira que sempre fazia quando estava me preparando algo.”
O Poder do Silêncio, pág. 233

“Don Juan perguntou a Tuliúno sobre a aparência de Túlio. Ele respondeu que o nagual Elias sustentava que a aparência era a essência da loucura controlada, e os espreitadores criavam aparência intentando-a, antes que a produzindo com a ajuda de disfarces. Os disfarces criavam aparências artificiais e pareciam falsos aos olhos. Intentar aparências era exclusivamente um exercício para espreitadores.
Tulítre falou em seguida. Disse que as aparências eram solicitadas do espírito. Elas eram pedidas e forçosamente chamadas; nunca eram inventadas de modo racional. A aparência de Túlio precisara ser chamada do espírito. E para facilitar isso, o nagual Elias colocou todos os quatro juntos num pequeno quarto isolado, e ali o espírito falou-lhes. O espírito disse-lhes que primeiro tinham de intentar sua homogeneidade. Após quatro semanas de isolamento total, eles conseguiram a homogeneidade.
O nagual Elias disse que o intento os havia fundido um ao outro e que haviam adquirido a certeza de que sua individualidade passaria despercebida. Agora tinham de chamar a aparência que seria percebida pelo observador. E ocuparam-se, chamando o intento para a aparência dos Túlios que Don Juan vira. Tiveram de trabalhar com muito empenho para aperfeiçoá-la. Focalizaram-se, sob a direção de seu professor, em todos os detalhes que iriam torná-la perfeita.”
O Poder do Silêncio, pág. 247

“Um guerreiro não tem honra, nem dignidade, nem família, nem nome, nem país; ele tem apenas a vida para ser vivida e, nessas circunstâncias, sua única ligação com seus semelhantes é sua loucura controlada.”
A Roda do Tempo, pág. 55

“Como nada é importante do que qualquer outra coisa, um guerreiro escolhe qualquer ato e age como se lhe importasse. Sua loucura controlada o faz dizer que o que ele faz importa e o faz agir como se importasse, e contudo ele sabe que não é assim; de modo que, quando completa seus atos, ele se re­tira em paz e quer seus atos tenham sido bons ou maus, dado certo ou não, isso absolutamente não o preocupa mais.”
A Roda do Tempo, pág. 56

“Um guerreiro pode escolher permanecer totalmente impassível e nunca agir, e comportar-se como se ser impassível realmente lhe importasse; ele também estará certo agindo assim porque isso também seria a sua loucura controlada.”
A Roda do Tempo, pág. 57

Os Nove Caminhos


Taisha disse que seu tema seria “As nove formas de mover o ponto de aglutinação”[1]. Acrescentou que o objetivo da bruxaria é voltar a perceber a energia diretamente; esse é o esforço de gerações de bruxos. Eles vêem a energia dos seres humanos como ovos ou casulos luminosos; alguns são redondos ou com forma de sino, outros são oblongos com a parte de baixo plana. As porções mais baixas do último estão cravadas em uma obscura e viscosa matéria, que não deixam a energia mover-se; a maioria dos seres humanos tem a parte de baixo plana.

É um prazer para os bruxos “ver” um ovo luminoso totalmente redondo flutuando livremente. É um prazer para seus próprios corpos energéticos perceber tal visão. Todos os seres luminosos possuem um ponto de intenso brilho na altura da omoplata na superfície do ovo luminoso, esse é o ponto de aglutinação, através do qual passa milhões de fibras possibilitando a percepção. Se o ponto de aglutinação é deslocado, percebem-se mundos diferentes porque o ovo luminoso contem bilhões de pontos para onde pode deslocar-se; Porque então limitarmos nossa percepção apenas a este mundo?

Nossa capacidade para a inter-subjetividade como seres humanos é tal, que todos mantemos o ponto de aglutinação na mesma posição. A parte brilhante ao redor da zona interior do ovo luminoso é o que conta para a auto-reflexão; o mesmo brilho incandescente que deveria cobrir o resto da totalidade que tem sido devorada pelos voadores.

O ponto de aglutinação do homem não havia se movido muito desde a Idade Média, quando muito, apenas um triz. Sem dúvida, a luminosidade do ovo luminoso tem diminuído bastante. O corpo energético é um conglomerado de energia que se agrupa em um núcleo.

Os feiticeiros intentam juntar outra vez o corpo energético com o corpo físico. (Taisha disse que ambos estão essencialmente separados desde o nascimento).

Dom Juan disse a Taisha que com as práticas de bruxaria, o corpo energético acercava-se mais e mais, até que finalmente sentia-o como um cansaço na parte de trás da cabeça.

Através da disciplina e do treinamento, os bruxos podem fazer que seu corpo energético apareça como o corpo físico e vice-versa. Taisha viu pela primeira vez o corpo energético depois de desenvolver bastante sobriedade mediante o silêncio interior, desta forma permitiu a luminosidade de seu ovo luminoso crescer outra vez além do nível de seus joelhos. Então Emilito lhe mostrou seu corpo energético, encenando algo assim como “o passe de estremecimento” (uma vibração que permite aos bruxos agitar ao corpo físico). Tal como Emilito o fez, seu corpo energético apareceu como uma nuvem de energia que o envolvia.

Isto é algo que não se pode ver com os olhos, porém sim com o corpo energético. Estes são os nove caminhos em que os discípulos de Don Juan foram treinados. Todos resultam harmoniosos e não são nocivos se procedermos lenta e atentamente. Os nove caminhos podem ser usados em separado ou em combinação com os outros.

1 - Tensegridade
2 - Recapitulação
3 - Não-fazeres
4 - Pequenos Tiranos
5 - Técnicas de Observação
6 - Silêncio Interior
7 - Disciplina e ações impecáveis
8 - Sonhar
9 - Espreitar

Nota: Os nove caminhos estão listados basicamente em ordem ascendente, em relação à consciência necessária para praticarmos adequadamente. Os últimos, sonhar e espreitar, sendo de todos os mais intricados, requerem haver aumentado nosso nível de consciência (luminosidade) pelo menos acima dos tornozelos.

1 - Tensegridade

A cada um dos discípulos do nagual Juan Matus lhes foi dada uma linha de passes. Clara Grau ensinou a Taisha uma série de movimentos para serem realizados no solo, entretanto Emilito ensinou-a outros, para pratica-los nas árvores . No princípio de sua estadia na casa dos bruxos, Taisha não tinha permissão para entrar no ginásio de Clara devido ao fato de ser radioativa (não havia recapitulado o suficiente). Clara havia aprendido artes marciais na China e era uma mestra na prática de bastões.

Um dia Taisha intentava dar uma olhada as escondidas no ginásio através de uma pequena fresta no muro que ela mesma havia feito. Manfredo (que finalmente foi-se com a partida do velho nagual, porque sua consciência cobriu a totalidade de seu corpo fazendo-o igual ao restante dos membros), começou a arranhá-la e latir repetidamente. Depois que Taisha foi descoberta, perguntou a Manfredo porque a havia delatado; ele manifestou que só estava tratando de alertar Clara de que já era hora de lhe ensinar os passes.
Clara ajustou os movimentos ao tamanho de Taisha.

Este fato demonstrou ao grupo de Carlos Castaneda que se podiam amoldar os passes para que outras pessoas os realizassem. Clara lhe disse que fizesse os passes com total atenção e silêncio interior. Desta forma estariam imbuídos do intento de aumentar a consciência e acender novas fibras que, em essência, causaram um movimento do ponto de aglutinação.

Taisha disse que a haviam instruído para focar seu intento em duas áreas de estrelas mortas quando realizaram os passes da comporta estelar; a constelação Boreal e a estrela Binária Rotante, que faz o olho do Touro na constelação de Touro.

2 -Recapitulação

As Chacmols estão recapitulando, e mais adiante nos descreverão o processo. A recapitulação é uma técnica dos velhos bruxos, desenhada para desenredarmos energeticamente de nossos laços com o passado. Livranos de nosso forte vínculo com as velhas interpretações e nos permite perceber novos estímulos. Também está concebida para dar descanso aos velhos filamentos fixos e permitir-nos, desta maneira, perceber novas bandas, novos filamentos, antes ignorados.

Através da Recapitulação sabemos que as novas percepções são apenas momentâneas; então não nos permitirmos prendermos outra vez em velhos padrões.

Quando movemos a consciência até os velhos filamentos, observando cada detalhe, e logo voltamos outra vez ao presente, acompanhado do processo do respirar, afrouxamos o ponto de aglutinação. A Recapitulação revela, ademais, nosso inventário completo de ações ou reações e nossos padrões básicos de comportamento. Isto nos capacita, depois de recapitular, escolher novas ações, como por exemplo, os não-fazeres.

As mulheres são seres inorgânicos em 50%, apenas tem que aquietar seu diálogo interno e se transformam em seres tubulares. Taisha tem dois seres inorgânicos vivendo com ela, Globus e Phoebus; são seres identificáveis individualmente. O ponto de aglutinação pessoal e a configuração energética de Taisha está encaminhando-se até a posição dos seres inorgânicos, permitindo-lhe incrementar os vislumbres de seus hóspedes.

3 - Não-Fazeres

Não fazer significa, essencialmente, não usar itens de nosso velho inventário de ações e reações. A recapitulação nos permite dispor desse inventário permitindo-nos um momento de pausa.

Quando um bruxo comporta-se de maneira totalmente estranha para si mesmo, começam a acender novas fibras em seu ovo luminoso. O corpo energético desperta e responde como resultado dessas novas iluminações. Começam com lentas interrupções, que tratam de romper com a concepção de que o mundo e sua continuidade é um caminho seguro.

Taisha recordou a um professor da UCLA, que ilustrava a seus estudantes com o seguinte exercício para que compreendam a visão que os filósofos e fenomenologistas tem da percepção: pois prismas presos em grampos ou algo parecido que os estudantes levavam. Mirando através deles, o mundo se via ao revés. (Taisha recordou também a estória de um estudante de antropologia que uma vez encontrava-se no cemitério e começou a ver espíritos. Assustou-se tanto que em um minuto esqueceu-se da antropologia). Com essas máscaras com os prismas invertidos, levou os estudantes a compreensão de “como caminhar uns poucos passos com elas permitia uma nova percepção”.

Os não-fazeres são realmente interrupções de nossa continuidade, como por exemplo, fazer algo com a mão oposta a habitual. Estamos “não-fazendo”, quando utilizamos um item que não forma parte de nosso inventário; também pode ocorrer sob condições de grande tensão. Esses momentos nos obrigam a mudar nossa idéia do que cremos que podemos fazer.

O explorador azul tornou realidade um sonho de Taisha e a levou, com um amigo ao Grande Canyon, onde passaram a noite em uma pousada ao pé do mesmo.

(Taisha comentou que alguém havia feito a reserva apenas para eles). Taisha então chamava-se Anna Maria Cordoba, uma estudante da UCLA. Seu acompanhante não sabia nada dela.

*Taisha estava muito preocupada de como iria realizar o caminho de volta e sair do Grande Canyon, devido ao fato de que naquela época sua forma física era terrível. Não dormiu a noite toda e tomou café ao longo das horas, prejudicando seu estômago. O explorador azul tão pouco dormiu, já que todos dividiam a mesma habitação.

Taisha insistiu para que ao regressarem tomassem o mesmo caminho que fizeram ao vir. Isto permitiria enviar seu corpo energético ao caminho pela noite, para estabelecer o intento ou uma fundação energética, que possibilitaria fazer o caminho de volta. No dia seguinte enquanto caminhavam ela foi recolhendo coisas pequenas, como pedras, nas quais descarregava sua fadiga. Também explicou que podemos deixar a fadiga nos cantos arredondados ao nos apoiarmos nos mesmos . Ademais, existe uma forma de obter energia que consiste em segurar as mãos de forma particular (obs: aqui o sentido parece ser o de posicionar as mãos de uma forma particular, onde os dedos juntos, voltam-se para dentro, de forma relaxada, como se fosse uma garra).

Basicamente, para sobreviver à viagem de volta, Taisha executou seu repertório inteiro de não-fazeres, incluindo saber que ervas inalar e observando mediante a técnica da mirada fixa, o lugar onde descansar. Geralmente, quando o corpo físico está esgotado, a configuração energética toma o comando. Ademais, Taisha utilizou o não-fazer de “o poder de mula”, obtendo assim a energia dos carregamentos de mulas de que desciam pela montanha. Taisha também foi a primeira a despertar, o que permitiu pegar a energia que levavam as mulas que passavam ao seu lado. Empregou também pequenos filamentos das pedras ao longo do caminho para extrair energia.

O resultado de todos esses não-fazeres foi que Taisha conseguiu chegar uma hora antes de seus jovens companheiros, que chegaram a certa altura estar a sua frente.

4 - Pequenos Tiranos

Os feiticeiros afirmam que o que mantem fixo o ponto de aglutinação em sua posição atual é nossa ênfase e preocupação em nós mesmos (auto-reflexão). Como liberarmos da preocupação com o eu? Existem três caminhos:

a) Tornando-nos abstratos ou mediante a loucura controlada. Nossa tendência é fazermos de nós mesmos mais importantes do que em realidade somos, quando deveríamos ver realmente que tudo o que nos rodeia é apenas ENERGIA: as árvores, os predadores, os animais, etc…

b) Através dos pequenos tiranos. Estão em todas as partes e podemos utilizá-los para espreitar nossa importância pessoal. Os pequenos tiranos fazem que surjam a tona certos comportamentos os quais estamos presos ou condicionados.

c) Mediante o reconhecimento de que somos seres destinados a morrer. Porque então ter import6ancia pessoal? Essa consciência, assim como o lugar da não-compaixão, é uma mudança no ponto de aglutinação.
Taisha nos advertiu que o perigoso e provável é que ao vencer um pequeno tirano, nossa importância pessoal aumente. Por exemplo, Carlos Castaneda viu a Clifford, um amigo, caminhando com a cabeça raspada, sem camiseta e um colar de alhos ao redor do pescoço.

Clifford era um peido, porque pensava que podia melhorar as coisas e faze-lo tudo mais perfeito que os outros. Os não-fazeres e o trato com os pequenos tiranos, devem ser levados de forma tranqüila e simples, sem que ninguém o saiba, não devem ser como um comportamento social ou de grupo, mas uma tarefa de guerreiro.

5 - Técnicas de observação

Mirar fixamente (gazing), não é mirar, é algo que está entre perceber e mirar. As técnicas de observação são utilizadas para nos ajudar a romper a certeza de que este mundo é um mundo de objetos. Mirar fixamente está estruturado para romper a tendência da percepção envolta na subjetividade do mundo ou presa aos padrões da ordem social.

Podemos mirar fixamente a areia, as pedras, as folhas…

Podemos observar as árvores sempre e quando não estivermos de mau humor. Nesse caso é melhor mirar o horizonte ou o mar. O oceano é suficientemente vasto para absorver esses sentimentos. O método utilizado pela velha Florinda consistia em dar rápidas olhadas, escolhendo coisas que possivelmente não pertenciam àquele local em particular, para sobrecarregar seu campo visual. Pode-se também fazer uma observação de varredura, de 360 graus ou, alternativamente, olhar para cima e para baixo.

Podemos observar as folhas, perfilando-as ou contandoas.

Isto pode ocasionar uma mudança abrupta que façam as folhas desaparecerem, ao substituir o fundo por um primeiro plano. Esta é uma técnica para romper nosso padrão de percepção e para intentarmos perceber a energia diretamente.

6 - Silêncio interior

Este é um assunto de acumular mais e mais silêncio interior. Quando Taisha chegou aos cinco minutos (para Florinda foram oito), seu ponto de aglutinação atravessou os limites usuais. Para Carol Tiggs o ponto crítico é de vinte e três minutos de silêncio interior.

Nesse ponto ela pode “parar o mundo”. Como nagual, sua massa energética é bem maior e leva muito tempo para movê-la. Alguns budistas utilizam um ramo fino ou um bastão desde o chão até a frente como uma forma de concentrar-se para alcançar o silêncio interior.

Também podemos acender um fósforo, molhar a ponta e observar a outra ponta, intentando o silêncio. Quando alguém chega ao seu umbral crítico de silêncio interior, pode alcançá-lo mais rápido e de forma prolongada.

7 - Disciplina e ações impecáveis

A disciplina não significa ordem ou regime e sim impecabilidade, dando a cada um de nossos atos total concentração e intento inflexível, sem esperar nenhuma recompensa pessoal.

Os bruxos sustentam que temos que atuar como se o que fizéssemos fosse o nosso último ato sobre a terra. Proceder impecavelmente nos torna desagradáveis e sem sabor para os predadores. Estes não são nem bons, nem maus, são apenas parte de um universo predatório; assumem a forma humana para nós porque a um nível subliminar estamos conscientes deles. Neste ponto Taisha mostrou as ampliações das fotos dos predadores, como aparece transcrito em notas anteriores. As fotos mostram uma figura de dois ou três metros de altura a esquerda da pirâmide principal, com as montanhas ao fundo. Parecia uma pessoa com braços ou asas por cima da cabeça, voando, com as pernas dobradas nos joelhos e estiradas para trás. Taisha nos disse que os voadores ou predadores encontram-se onde há grandes aglomerações de pessoas.
Nós, os adultos, não vemos esse tipo de coisas; as crianças os vêem nos primeiros anos, antes de serem socializadas.

Algumas pessoas podem alcançar um alto estado de consciência bastante rápido. Em certa ocasião, Carlos Castaneda visitou uma mulher de oitenta anos que vivia em uma casa de retiro; dita mulher havia recobrado a consciência depois de vinte anos em estado de coma.

A senhora, havia escrito um livro sobre um grupo de índios e vivia com um deles (bruxo co-escritor?), o qual ao final da visita, um dos índios disse a Castaneda que lhe parecia injusto que ele, que estava avançando muito rapidamente em suas práticas de bruxaria com relação a eles (o grupo do nagual?) não pudera estar um tempo mais falando e fazendo amigos realmente.

Castaneda viu neste comentário a máxima arrogância por parte do homem. Dois anos mais tarde, o nagual se viu em uma tormenta enquanto dirigia do México a São Diego pela auto-pista oito. Acercou-se então um caminhão reboque que lhe indicou que o seguisse, ficando sob a sua guarda. Castaneda pos-se ansioso porque não sabia até onde ia o caminhão e fazia sinal para que o condutor do caminhão parasse.

Finalmente, os dois veículos terminaram em uma estrada de pedras.

O motorista do caminhão era o índio. Este disse a Castaneda que estava pagando uma dívida com ele, por sua instrução. Fez saber ao nagual que estavam na segunda atenção juntos. Aparentemente, o homem tinha o nível de energia e consciência necessário para levar Castaneda dentro de seu “ensonhar”. Tão logo o caminhão foi embora, Castaneda encontrou-se outra vez na auto-pista 8.

8 - Ensonhar

“Ensonhar” não significa ter sonhos lúcidos. No sentido que os bruxos concedem a esse termo, ensonhar quer dizer ter um grau de controle necessário para fixar o ponto de aglutinação em qualquer posição que se desenvolva durante o sono. O conteúdo dos sonhos não conta, o que conta é por quanto tempo e com que intensidade podemos mante-lo ali. Temos que espreitar nossos sonhos para fixar o ponto de aglutinação em qualquer posição que o “sonho”‘ nos leve. Então podemos voltar ao mesmo sonho uma e outra vez, apenas por ter conseguido fixar o ponto de aglutinação neste sonho.

Começamos despertando de um sonho e nos localizando nele; necessitamos a fixação em algo que queiramos fazer no sonho, isso nos despertará. Mais tarde quando estamos totalmente conscientes de novo, podemos repetir os mesmos movimentos que fizemos em nosso “sonhar” para trazer nosso corpo energético ao nosso corpo físico.

9 - Espreita

Os bruxos dizem que primeiro devemos espreitar a nós mesmos através da recapitulação. Levar a cabo esta premissa requer ser implacável com nós mesmos, na valorização de quem somos e como é nossa vida. Taisha deu-se conta, graças a sua recapitulação, que era extremamente complacente (como muitos de nós), e que fazia qualquer coisa para conseguir o que queria.

Dom Juan a chamava de “eu quero que”. Além disso era incapaz de sentir afeto por algo. soltar seu ponto de aglutinação, Taisha ficou tanto tempo nessa nova posição que alucinou. Quando voltou a seu estado original continuou vibrando, sem mover-se para nenhum lugar, como uma máquina funcionando no vazio. (provavelmente seu ponto de aglutinação ficou errático)

O grupo de Dom Juan preocupou-se tanto por este motivo que decidiram colocar-la nas árvores. Seu ponto de aglutinação fixou-se então em uma nova posição enquanto estava na casa sobre as árvores. Taisha experimentou sentimentos pela primeira vez, que eram estranhos, como afeto pelas árvores. Ademais sentiu como as árvores comunicavam-se através de “bolhas” de sentimentos. Taisha estava utilizando filamentos diferentes dos usuais.

Depois de dois anos, seu ponto de aglutinação voltou a estabilizar-se, então lhe foi dada uma nova tarefa como espreitadora: a de fixar seu ponto de aglutinação em uma nova posição que correspondia a uma moça ingênua e super-feminina buscando um marido. Esta foi uma mudança dramática, já que nas árvores, seu ponto de aglutinação havia se movido para uma posição atlética, livre e masculina, inclusive seu ponto de aglutinação direcionou-se para fora e o ponto de aglutinação na maioria das mulheres encontra-se voltado para dentro.

Durante mais de um ano Taisha fez o papel de Madeline Rigo, aperfeiçoando-se em francês, etiqueta, cozinha e etc., para conseguir ser uma mulher desejável para o matrimônio; recebeu diferentes ofertas. Este período terminou quando apaixanou-se por um homem inadequado, que havia sido sacerdote. Era um homem jovem, obsessivo, com sentimentos de culpa e profundamente pertubado, que passava seus dias dirigindo um ônibus e passeando ao redor das igrejas. Taisha, como Madeline, decidiu que ia salva-lo.
Os bruxos vêem a loucura como uma super-ênfase ou fixação em manter as fibras de luminosidade em um ponto particular.

Ele decidiu colocá-lo nas árvores. Uma vez que subiu o homem tornou-se completamente louco. Depois desse escândalo o tempo como Madeline findou-se.

A seguinte posição de espreita assinalada para Taisha foi como a mendiga Alfonsina, um grande salto, já que anteriormente havia sido uma ingênua consentida. Dom Juan contratou uma mendiga para ensinar a Taisha tudo sobre ser mendiga e servir como sua mãe. Quando viu a asquerosa espelunca onde vivia a mulher, Taisha quis fugir imediatamente. Localizou a Dom Juan para implorar-lhe que a deixasse voltar. Dom Juan lhe disse para escolher entre voltar ao seu mundo (o de Taisha), ou ser Alfonsina até as profundidades.

A consciência de Taisha era já o sufucientemente alta para atuar como a verdadeira Alfonsina. Taisha teve unicamente sua disciplina e seu intento inflexivel nesta experiência, e devido a tensão vivida, chegou a experimentar amor por sua mãe; assim foi a mendiga Alfonsina, sem sentir vergonha ou lástima.

O papel de Alfonsina acabou quando uma mulher que havia intentado levar Taisha a sua casa para assea-la e vesti-la e a quem Taisha havia evitado anteriormente, conseguiu seu objetivo, banha-la e retirar-lhe a sujeira de sua pele enegrecida, mostrando que podia tornar-se “branca”. Este fato assinalou o fim de Alfonsina. A quarta e última posição de espreita de Taisha foi como um homem, Ricky. Ricky era um jovem americano apaixonado pela vida e identificado por todas as pequenas coisas que damos por certas. Ele levava vantagem nas oportunidades da vida, porém a principal característica dele era o conhecimento de que sua vida ia chegar ao fim.

Quando não temos ego é fácil entrar em um universo paralelo, além disso o emissário do sonhar, que é sempre uma voz feminina, nos descreve como é. Nesse universo podemos interatuar com os seres inorgânicos, os aliados para os antigos videntes. Entramos em seu mundo pelo sonhar, aonde nossa velocidade ajusta-se a deles. Os espreitadores podem adaptar-se a essa velocidade através da vigília em repouso, com a voz que lhes dissem o que devem fazer para conseguir tal.

Dois seres inorgânicos com os quais Taisha está conectada tem entrado em nosso mundo. Eles tem levado Taisha em muitas viagens a lugares distantes de seu mundo, muitos dos quais são acessíveis para nós. Ela também tem sido levada para mundos espantosos da segunda atenção, razão pela qual ficamos sem ve-la durante um ano. Eles também a tem levado a lugares tremendamente aterrorizantes de seu universo.

No reino dos seres inorgânicos temos a muito prazeirosa impressão de flutuar e nos movemos a grande velocidade. Os seres inorgânicos são entidades “femininas” buscando energia masculina, que é muito estranha em seu universo, um universo que é muito perigoso para ser visitado por homens na maioria das vezes. Os bruxos dos tempos antigos decepcionaram-se com os seres inorgânicos, porque não conseguiram as recompensas que esperavam e julgavam merecer.

Eles acreditavam que os seres inorgânicos os ajudariam, por exemplo, contra os invasores espanhóis. O grupo de Carlos Castaneda constatou a capacidade dos seres inorgânicos de sentir afeto, um afeto genuíno e profundo, relaxante como nenhuma outra coisa. Eles fazem coisas pelos bruxos devido ao seu afeto livre e sem expectativas. Os seres inorgânicos estão dispostos em nos ajudar sem ter em conta a brevidade de nossas vidas em relação ao tempo de vida deles. Quando nos pomos em contato com eles através de um profundo afeto, eles nos tornam capazes de prolongar nossa atenção, nossa consciência.

Do ponto de vista da razão, os seres orgânicos podem parecer-nos como demônios, já que estão interessados em estender nossa consciência de maneira tal que chega a ser quase eterna, em troca de um intercâmbio de energia.

O velho nagual dizia que são como nossos primos, existindo em uma linha paralela a nossa. A única forma de aumentar nossa potencialidade é entrando em seu mundo. Os seres inorgânicos não nos ajudam por caridade. Dom Juan dizia que o universo está permeado por uma onda de profundo afeto, do qual os seres inorgânicos estão cheios. Quando essa onda de afeto nos golpear, deixem que ela os leve, porque ela permite que o Espírito os leve, então voamos em direção ao Infinito. Estaremos navegando num intrépido vôo, em extase, com total abandono. Não haverá meio de expressar tal experiência e isso também não terá importância.

[1] Instituto Omega. Curso de Tensegridade, Maio 26-29 de 1995. Transcrito a partir das anotações de Rich Jennings.