terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Zaratustra


 Assim nasceu Zaratustra

Conta que há muitos anos, em uma pequena vila onde hoje é o Irã, nasceu um menino destinado a trazer a alegria ao mundo. Por isso, ele quando nasceu não chorou, ao contrário, riu.

O xamã daquela tribo, temendo o final de seu domínio, disse aterrorizando os pais da criança: "Estamos em um mundo cruel e violento. De que esta criança está rindo? Ele está zombando de nossa dor, está debochando de nosso sofrimento".

Mandou então jogar o recém-nascido em uma fogueira, para que morresse consciente das mazelas do mundo. Mas, sem que ninguém conseguisse explicar, a criança sobreviveu sem nenhuma queimadura, brincando entre as brasas e as cinzas.

O feiticeiro exclamou: "Só pode ser uma criança demoníaca! Vamos deixá-la no caminho do gado para que seja pisoteada pela manada!" E assim fizeram, mas nenhum animal atropelou o menino, que ficou amigo dos animais.

"Vamos entregá-lo para loba que vive na caverna. Ela dará a essa criança seu destino: ser alimento de seus filhotes" - proclamou mais uma vez o xamã. Mas, também desta vez, a criança com sua mansidão e amor, conquistou os favores da loba, que a levou de volta aos braços de sua mãe, aflita com as provas impostas ao seu filho.

Quando procuraram o feiticeiro para que ele admitisse seu erro, não o encontraram. Aliás, nunca mais ele foi visto, desapareceu envergonhado de suas maldades. 

E o pequeno Zaratustra cresceu e se tornou o avatar do Zoroastrismo e dos ensinamentos de seu livro sagrado, Zenda Avesta. 

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

A voz sem verbo

 



Vim da Luz de Deus

E a Ela estou retornando ...

Vi a voz sem verbo

e Ela está me chamando …


O Um de Todo em mim

me diz quem realmente sou

flor deste jardim

de passagem aqui Eu estou.


Pacificando os pensamentos

A alma reflete as estrelas

girando todo firmamento

em dança divina centelhas


Vivo vida a celebrar

A grandeza deste firmamento

Deixo Allah me leva lá

feliz mesmo com sofrimento


Dou Adeus aos meus amigos

Lembrando que nunca fui só

Volto a luz e levo amor

E o resto retorna ao pó.


Áudio



sábado, 16 de dezembro de 2023

Vipassana


 BUDISMO NA VEIA

O grande tesouro de sabedoria e espiritualidade do Budismo é a meditação Vipassana. A técnica foi elaborada por Sidarta Gautama, o 1º Buda, há 2.600 anos. Como foi a primeira meditação, ela está na raiz tanto das meditações zen quanto das meditações visuais e mântricas das escolas tibetanas.

Vipassana significa “insight”, ver as coisas como elas realmente são. É a observação da experiência da percepção direta. E o princípio subjacente é a investigação e entendimento dos fenômenos manifestados nos cinco agregados: o apego à forma física, às sensações ou sentimentos, à percepção, às formações mentais e à consciência. Ou seja: tornarmo-nos conscientes das sensações do corpo; dos afetos individuais; da sintaxe da percepção; dos padrões coletivos de cognição do pensamento; e, finalmente, conscientes de nossa própria consciência, da consciência do contexto de enunciação da própria consciência. A técnica tradicional é dividida em duas etapas: Anapana, em que apenas concentra atenção em um ponto específico do corpo (o mais comum é a entrada e a saída de ar das narinas); e Vipassana propriamente dita, que consiste em movimentar a atenção pelo corpo no sentido ascendendo e descendente, como um scanner. Não há mantras, visualizações ou respiração específica, mas sim a observação da respiração (esteja ela profunda ou rápida).

A meditação Vipassana foca a interconexão entre mente e corpo, a qual pode ser experimentada diretamente por meio da atenção disciplinada às sensações físicas. Essa técnica de meditação, utilizada por dez dias consecutivos dentro do nobre silêncio e de uma dieta vegetariana de baixa caloria, leva a observação da mente pela consciência como algo objetivo, externo à percepção.

Em outras técnicas, há uma expansão da consciência que extrapola os limites do ego, mas essa permanece dentro da mente. A consciência em estado de percepção ampliada acessa níveis profundos do inconsciente, mas permanece dentro dos limites da estrutura mental. O que acontece com a técnica Vipassana é diferente: através da focalização da atenção na respiração (fronteira sensorial entre o intencional e o involuntário), acessam-se os padrões profundos do inconsciente, vistos pelo lado de fora.

É a fala que organiza a memória com sua narrativa. Com ‘o nobre silêncio’, há um aumento da memória e sua reorganização fora dos padrões discursivos. Não apenas lembramo-nos de mais coisas, como também a forma como nos recordamos dos eventos não é tão ego-centrada. Com silêncio, a memória não funciona mais por lembranças discursivas, mas sim por recordações visuais.

As sensações de dor e sofrimento emocional devido às restrições perceptivas do enorme esforço cognitivo voltado para atenção sobre o corpo e a respiração fazem emergir desejos de aversão e as sensações de bem estar corporal fazem emergir desejos de cobiça (não só sexuais, mas de repetição de situações prazerosas).

Quando temos experiências ruins, desejamos não repeti-las e surge a aversão; quando temos experiências boas, desejamos repeti-las e então surge a cobiça. Normalmente, em outras técnicas ou terapias com foco sensorial, esses desejos de repetir experiências prazerosas são vistos como positivos, mas quando vistos objetivamente na Vipassana, eles se mostram obsessões neuróticas tão nefastas quanto às aversões inconscientes que nos impedem de aceitar a vida.

Aliás, esse é um ponto importante em dois aspectos. Primeiro: o Budismo prescreve a ‘equanimidade’ ou a capacidade de entender o lado positivo das experiências ruins e o lado negativo das experiências boas, mas esse equilíbrio só pode ser desenvolvido na prática através da técnica da Vipassana.

A prática da meditação Vipassana traz toda a hermenêutica budista embutida em si. A ideia de não-reação, por exemplo, perpassa toda a doutrina budista; e na Vipassana não se deve reagir nem às dores, nem às outras sensações, sentimentos ou percepções – apenas observar.

A meditação treina na prática seu praticante na noção aceitação budista. E o mais importante: o Budismo é a única hermenêutica religiosa que compreende (ou que deseja compreender) criticamente as experiências psicológicas positivas e, principalmente, que prescreve a suspeita em relação à transcendência.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Tarô para si mesmo

A pergunta: COMO LER O TAROT PARA MIM?

Minha resposta:
-Durante meus numerosos anos de estudo e prática de Tarô, a coisa mais difícil que eu encontrei foi ler o Tarô para mim mesmo. Penso que acontece com todos os tarólogos: é quase impossível ser visto de forma objetiva, temos uma forte tendência para nos enganarmos a nós mesmos. Se a resposta dos Arcanos não nos convém, nós damos desculpas como: “Misturei as cartas de forma distraída”, “Hoje não estou bem concentrado”, “Este Tarô está gozando comigo! ”.
Vou te dar um método para você aplicar algo que você já sabe: Tarô é um espelho que lhe dá as respostas que você já carrega no seu inconsciente. Se você não se conhece bem, é porque você não se atreve a fazer as perguntas que despertariam para as respostas que você esconde...
Se você quiser resolver o que está sofrendo, eu vou lhe dar uma maneira de usar os 22 Arcanos Maiores que o ajudará a enfrentar as perguntas que você pode hesitar em fazer a si mesmo. Tente, quando receber essas perguntas, se concentrar e responder com a maior sinceridade, profundidade e coragem possível... Misture os Arcanos por cinco minutos e depois deixe o pacote descansar. Tome um Arcano todos os dias, - a experiência vai durar 22 dias - e responda às perguntas que ele te faz.

O LOUCO - Qual é o seu objetivo na vida? De quê ou de quem você quer se livrar? O que você realmente quer ser ou fazer? O que te proíbes?
O MAGO – Quais são meus valores e opções? O que devo escolher e o que devo remover? O que estou começando? Quem ou quem estou enganando?
A PAPISA - O que eu acumulo? O que eu escondo? O que eu guardo em mim, puro e intacto? Qual é a minha relação com a minha mãe? Quem ou o quê eu critico sem parar?
A IMPERATRIZ - O que estou criando? O que está acontecendo em mim? Quem me ama, quem eu amo? Quais são as experiências que eu me permito fazer? Vou me atrever?
O IMPERADOR - Estou satisfeito com meu trabalho? Cuido bem da minha saúde? Vivo em um território que me agrada? O que estou construindo, quem estou dando trabalho? Eu sou útil para os outros? Qual é a minha relação com o meu pai? Há alguma coisa que me interesse mais do que dinheiro?
O PAPA - É justo o que desde criança me ensinaram ou me fizeram acreditar? Além de triunfar materialmente, eu tenho um ideal espiritual? Se existisse um Deus, como seria? Posso mostrar algo aos outros? Posso curar ou confortar alguém?
OS ENAMORADOS - Como estão as minhas relações emocionais? Eu tenho um casal de verdade? Quem é a pessoa que eu mais amo? Estou feliz? As pessoas com quem eu frequento alegram a minha vida? Em que me sinto insatisfeita? Eu gosto do que estou fazendo?
O CARRO - De onde eu venho, onde estou, para onde vou? Estou conseguindo realizar o que eu tinha proposto? Estou triunfando ou estou falhando? Qual é a sabedoria ou doutrina que me guia? Eu realmente acredito no que digo que acredito? Em que me admiro, em que desprezo? Quais são meus aliados?
JUSTIÇA - O que devo cortar da minha vida? Quais ideias devo remover? De quem ou de quem devo me separar? O que devo equilibrar, harmonizar? Estou me dando o que mereço? Quem devo castigar? Do que me sinto culpado?
O EREMITA - Em quê ou em quem eu acredito? O que eu mais sei? De quem ou de quem estou me afastando? O que eu quero ensinar? Estou em crise com quem ou com o quê? O que devo sacrificar ou desistir? Para onde vou, dizendo que não sei para onde vou? Por que eu causei minha solidão?
A RODA DE FORTUNA – Qual ciclo da minha vida acabou? O que tem de mudar? O quê ou quem pode me ajudar? Quais são minhas chances? O que é que eu continuo a repetir? Eu me deixo abater pelo fracasso ou tomo isso como uma mudança de caminho? O que é que me liga doentio ao passado?
A FORÇA - Que tipo de força eu tenho: força intelectual, força emocional, força sexual criativa, força material? Eu me proponho com minhas ideias mudar o mundo? Me sentindo ignorante ou tanto? Proponho dar meu amor? Estou me sentindo egoísta? Pretendo realizar meus desejos? Me sentindo impotente ou frígida? Pretendo me realizar? Estou me sentindo cobarde? O que devo domar?
O ENFORCADO - O que devo sacrificar? De quem ou o quê devo me afastar? O que devo dar a mim mesmo? O que devo estudar? De quem ou de quem eu tenho rancor? De quê ou de quem estou sendo vítima? O que estou escondendo? O que devo parar de fazer ou suportar?
A MORTE - O que deve morrer em mim? O que devo largar? O que está se transformando em mim? Qual é a razão da minha raiva profunda? Se eu não pudesse ser punido, quem mataria ou faria desaparecer? Que revolução eu desejo fazer?
TEMPERANÇA - Quem pode me proteger? Quem eu protejo? Qual relacionamento devo estabelecer comigo mesmo? Quem devo curar? Qual é a minha principal ferida emocional? Quem ou o que me fez perder a fé? Eu acredito em bondade e pratico?
O DIABO - Qual é a paixão que me tem amarrado? Que desejo sexual reprimo em mim? A quem me vendi? Que tentação me assombra? Qual é a minha capacidade criativa? Quais valores que eu considero negativos em mim, devo realmente usar para alcançar o que eu quero? De que preconceitos inculcados por uma religião devo me libertar?
A TORRE - De quê ou quem, depois de um conflito rebentar, eu me separo? O que está desmoronando na minha vida? De que fechamento eu fui capaz de escapar? Quais são as energias que estão sendo liberadas em mim?
A ESTRELA - Eu encontrei meu lugar ideal, o território sonda me realizou? Para quem ou para onde devo direcionar minha energia? Eu amo meu planeta e luto para salvá-lo da indústria prejudicial? Eu sou capaz de aceitar o sucesso? Nunca termino o que começo ou se terminar faço tudo para destruí-lo?
A LUA - Qual é a minha capacidade de receptiva? Eu sou capaz de admirar os valores dos outros? Tenho a modéstia de aceitar meu grande valor espiritual? Qual é o meu ideal impossível? Tenho medo da loucura? Ainda sou capaz de gestar alguma coisa? Reconheço alguém como superior a mim? Eu sou uma mãe não possessiva nem invasora?
O SOL - O que me dá energia, alegria, sucesso? Partilho tudo o que sou e o que tenho? Posso aceitar o sucesso sem me destruir? Estou construindo algo novo e importante? Eu sou capaz de deixar o passado para trás e começar uma nova vida? Confio no outro ou na outra? Eu sou um pai presente, generoso e carinhoso para meus filhos?
O JULGAMENTO - O que está renascendo em mim? Quais são os desejos irresistíveis que me dominam? Eu me sinto capaz de criar uma família feliz? Com quem estou colaborando para fazer algo que nos leve a uma realização superior? Aceito em me tornar um humilde canal dos desejos do cosmos?
O MUNDO - Qual é o resultado de tudo o que eu fiz e que mudanças isso faz em mim? Me sentindo realizado? Me sentindo trancado em um mundo obsoleto? Aceito a simples felicidade de estar vivo? Eu junto com pessoas que me alegram a vida ou com pessoas que me levam à destruição?

Alexandre Jodorowsky

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

findo tempo

 


(eu acredito que) A destrutividade destruirá os destruidores. É importante evitar ser destruído e saber esperar o momento certo de voltar. A hora agora é de enfrentar os medos íntimos e descobrir como melhor resistir, redistribuir recursos e energia de modo estratégico.

(Só assim) A irracionalidade enlouquecerá os inconscientes. Desejo clareza em nossa mente. Ficar consciente da própria insignificância é a única forma de fazer alguma diferença no caos. Sempre foi e agora também será.

(E então) A iniquidade liquidará seus ódios como sujeira descendo no ralo. Esse mal só existe para gente se apurar e se unir. Este é o destino.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

quarta-feira, 19 de julho de 2023

O jogo da vida

Uma pergunta simples: a vida é um jogo? A vida é algo que disputamos, em que há vencedores e perdedores? Acredito que não, mas que talvez a vida esteja se tornando um jogo. Ou que talvez ela seja um jogo que eu jogue sem saber. Eis um quebra-cabeça de minhas ideias, agora formando uma imagem maior e mais abrangente que o universo narrativo: o lúdico. 

O lúdico existe antes do outro, antes da história/escrita, não é exclusivamente humano. Está na base pré-verbal da atividade cognitiva. Os jogos aqui eram ritualizações das narrativas, memória e atualização das crenças arcaicas. 

Com a escrita e a história, há uma domesticação do brincar pela necessidade de atenção contínua, surgem as regras e os jogos. O lúdico passa a ser mais competitivo e se configura como uma estratégia de poder. Os jogos passam a sublimar conflitos e se tornam jogos de poder. 

Então se, por um lado, o jogo foi sendo progressivamente domesticado pelo poder e suas narrativas; por outro, o lúdico permaneceu parcialmente selvagem (a incerteza lúdica) e absorveu a estrutura linguística e cultural que o enquadrava. E agora, na pós história? O lúdico se tornou 'gamificação'? A gamificação das práticas sociais ameaça a democracia como método de decisão coletiva?

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