segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As aventuras do sapo Kambo - primeira parte

O bico do tucano


Certo dia, Kambô coachava pela floresta, caçando mosquitos, quando encontrou seu amigo tucano chorando, em seu galho de árvore.

- O que foi que houve, amigo tucano? - perguntou Kambô.

- É meu bico, Kambô. Ele é muito grande – falou o tucano aos prantos. - É quase do tamanho do resto do meu corpo. Os papagaios gozam de mim e as araras falam de mim pelas costas.

- Você não devia se incomodar com a opinião deles – argumentou Kambô - “eles tem é inveja desse lindo seu bico amarelo”.

- Mas, não é uma questão de vaidade, Kambô. É difícil voar com um bico grande desses. Eu vivo cansado. E tenho que dormir de lado para não cair.

- Em compensação você pode guardar bastante comida bem protegida – lembrou Kambô, acrescentando: “o espírito da grande floresta diz que temos que aprender a tirar proveito das nossas dificuldades”.

- É, e o que vou eu fazer com esse bico?

- Calma, Tucano, se a Mãe Natureza te deu um bico grande, alguma utilidade ele deve ter – disse Kambô. E acrescentou: “Tudo que existe tem uma causa.” O tucano ouviu Kambô, mas não deu muita atenção. “Que função poderia ter aquele bico enorme senão faze-lo passar por tanta vergonha e sofrimento” – pensou.

Acontece que naquela mesma hora andava por ali Jibóia, uma cobra muito gulosa, que gostava especialmente de sapos e rãs. O que Jibóia não sabia é que a Rainha da Floresta tinha dado um poder especial a Kambô, a capacidade de transformar veneno em remédio. E quando viu o sapo conversando com tucano, pensou logo: “vou armar meu bote aproveitando que ele está distraído”. Então Jibóia foi se arrastando silenciosamente pela mata e atacou o sapo de repente, engolindo-o de uma única vez. Porém, logo depois Jibóia fez uma careta e cuspiu Kambô, gritando: “Água, água. Estou queimando por dentro. Água, eu preciso de água.” E sumiu correndo pela floresta a procura de um igarapé. É que, em situações de perigo, o sapo Kambô sua e seu suor é um veneno mágico que cura as pessoas boas e pode matar os que não tem bom coração. Kambô, no entanto, ficou desacordado e o amigo tucano foi socorrê-lo.

- Amigo Kambô, amigo Kambô! – gritava o tucano, mas o sapo não respondia. Então, a ave pegou o amigo com grande bico e levou-o voando até o rio. Quando chegou à água, Kambô recobrou os sentidos e voltou ao normal.

- Obrigado amigo tucano – disse Kambô – e vamos agradecer também à Rainha da Floresta por ter dado um bico grande o suficiente para salvar a vida dos seus amigos.

- Obrigado também Kambô por ser meu amigo e ter me mostrado a importância do meu bico – disse o tucano, muito contente, não só por ter salvado seu companheiro querido, mas também por ter descoberto o valor de sua diferença.

As aventuras do sapo Kambo - segunda parte

O rei Mapinguari


Na floresta africana, o leão é o rei dos animais. Porém, aqui no Brasil na floresta amazônica, o rei é o Mapinguari, uma preguiça gigante que muitos pensam que não existe mais e vive escondido na mata profunda.

O Mapinguari não é o rei porque por ser o mais forte (coisa que ele não é), o mais esperto (também não é o caso) nem mesmo o mais rápido (ele só perde para as tartarugas); mas devido a uma democrática eleição que o escolheu como o mais adequado para o majestoso cargo.

Tudo começou quando o Tamanduá quis ser o rei da floresta e os outros animais não concordaram: “ele nem da mata é”. Os macacos andavam se transformando em humanos e também não podiam assumir a chefia do reino animal. Então, a coruja propôs uma eleição. Todos podiam votar e ser votados, os dois que tivessem mais votos, concorreriam em uma segundo eleição. E quem vencer na segunda vez, será o rei da floresta e todos teriam que aceitar.

Houve, então, um grande alvoroço com vários bichos fazendo campanha, dando presentes e prometendo coisas absurdas. Mapinguari, no entanto, passa o tempo todo dormindo em sua árvore e ninguém sabia em quem ele ia votar. A sua amiga Anta foi visitá-lo e perguntou:

- E aí Mapin, vai votar em quem? – perguntou a Anta curiosa.

- Em ninguém, todos estão mal intencionados, comadre Anta. Eles só querem o poder para tirar vantagem – respondeu o Mapinguari – Eu só votaria em alguém que fosse honesto e não quisesse o poder para se aproveitar como esses oportunistas interesseiros, eu só votaria em alguém que se sacrificasse pelos outros.

- Votar em quem não quer ser eleito?

- Claro, se todo mundo votar em um que não queira, ele vai se sentir forçado a ser candidato no segundo turno, comadre Anta – argumentou a preguiça.

- O senhor está me saindo em belo do estrategista – provocou a Anta.

- Além do que o sol já é nosso rei e a floresta, nossa rainha – continuou Mapinguari, completando já com sono e vontade que Anta fosse embora para poder voltar a dormir - Nós não precisamos de governo, se eu fosse eleito não faria nada e daria tudo certo.

A anta ficou surpresa com a sabedoria da resposta de seu amigo e contou a todos que se Mapinguari fosse eleito, ele “não faria nada e daria tudo certo”. A estória ganhou a mata como se fosse o fogo de incêndio na palha seca e no dia da votação o resultado apresentava o Tamanduá e o Mapinguari praticamente empatados nos primeiros lugares.

Na segunda etapa da eleição, o Tamanduá fez uma campanha de marketing político completa, se esforçando por apresentar uma plataforma política de propostas formada por reivindicações de diferentes segmentos do reino animal (levantadas através de pesquisas de opinião), oferecia apoio e proteção aos bichos mais fracos e reclamava contra os candidatos anarquistas, que “são sempre contra tudo e nunca fazem nada”.

Enquanto isso, o Mapinguari não fazia nada mesmo, “para não agradar nem desagradar ninguém” – segundo contou sua comadre anta, “deixando quieto tudo que já está”. Com o transcorrer da campanha, com os correligionários do Tamanduá começaram a brigar entre si pelas vantagens e o excesso de exposição do candidato fez com que a postura de não-interferência da preguiça se fortalecesse mais e mais.

E foi assim que 90% dos bichos encantados da Floresta elegeram o rei Mapinguari I, soberano dos animais mágicos por um período indeterminado de tempo.

A preguiça, após assumir o trono (que foi levado para sua árvore), nomeou o Tamanduá embaixador da floresta das terras distantes dos pastos, a comadre Anta para primeiro-ministro e a Dona Onça como ministra da guerra (só para o caso de haver algum problema inesperado), decretando ainda que naquele dia em diante nada mais fosse decidido sem houvesse discussões dos animais em plenárias democráticas.

E depois foi dormir por alguns meses.

As aventuras do sapo Kambo - terceira parte

A revolta das formigas


Entretanto, nem tudo era paz e tranqüilidade na Floresta Encantada. A violência covarde dos predadores finais da cadeia alimentar, as injustiças territoriais impostas pela força e, sobretudo, as diferenças raciais entre as espécies criavam conflitos constantes e acabavam com o descanso do rei Mapinguari I. A Anta, primeira-ministra do governo da mata, corria para um lado, corria para o outro; enquanto o rei permanecia sempre acima dos conflitos e das partes envolvidas. E assim os dois juntos iam administrando os conflitos cotidianos da floresta – até o dia da greve geral das formigas.

- Companheiras, é chegada à hora de dar um basta nessa luta de classes, nessa exploração de nosso trabalho pelas cigarras, que passam o verão cantando e, no inverno, querem parte de nosso alimento – discursava uma formiga operária, acrescentando – basta de desigualdade, basta de injusta, basta de mentira!

As cigarras, por sua vez, se defendiam como artistas-celebridades, cantando músicas sobre como a inveja do belo cria o despeito da crítica. Tinha até um rap que cigarras entoavam enquanto as formigas trabalhavam que dizia que cantar a verdade era seu trabalho. Algumas cigarras chegaram até a defender a sindicalização da categoria para proteger sua atividade artística. Mas, a verdadeira causa da revolta não foi a luta de classe com as cigarras. As formigas sabiam que assim como a comida alimenta o corpo, a arte alimenta para o espírito – e que elas precisavam das cigarras para ser felizes.

A verdadeira causa da revolta das formigas foi a invenção da rodinha.

Tudo começou quando se percebeu que as formigas amazônicas são menos produtivas que as formigas de outros países, uma vez que o custo/tempo/esforço do transporte alimentar parecia ser muito maior aqui que no exterior. Após mandar um espião para realizar uma pesquisa sigilosa no estrangeiro, chegou-se a conclusão de que a grande diferença era tecnológica: ao invés de carregar um único pedaço de comida na cabeça, as formigas estrangeiras estavam usando um carrinho de uma roda, capaz de carregar três pedaços de comida de uma vez só. Para usar o carrinho, as formigas brasileiras teriam que pagar um royaltie às estrangeiras em comida, o que criaria uma dívida externa. Em contrapartida, além de diminuir o tempo de transporte, a invenção prometia diminuir também o custo com mão-de-obra, uma vez que se poderia demitir duas formigas e manter apenas uma fazendo o trabalho das três.

Nunca havia tido desemprego entre as formigas. E pior: o fato de duas formigas ficarem sem trabalho diminuía a remuneração dada àquela que trabalhava - que se via obrigada a se esforçar mais (e ganhar menos) para não ser substituída.

- A greve tem que ser geral porque se apenas demitidas trabalharem, morrerão de fome - dizia uma das formigas revoltadas.

- E as outras vão morrer depois de tanto trabalhar – completava outra.

- Abaixo a tecnologia! Abaixo a mudança! Abaixo a roda! – protestavam e em seguida gritavam palavras de ordem ensandecidas: “Formigas, unidas, jamais serão vencidas; formigas, unidas, jamais serão vencidas”.

A situação era realmente muito difícil, pois se as formigas parassem haveria conseqüências ambientais para toda floresta. Consultado, o rei Mapinguari I declarou do alto de sua árvore não entender porque as formigas queriam tanto trabalhar e porque todo mundo temia que elas parassem de trabalhar. “A sabedoria vem da ociosidade” – filosofou lá do seu galho, sugerindo que as duas formigas restantes poderiam cantar como as cigarras. E voltou a dormir, buscando uma solução para o conflito em seus sonhos profundos.

Quando a comadre Anta já estava perto de dar um treco, de tanta preocupação com problema, apareceu Kambô.

- Vamos abrir uma escola: a Escola da Floresta – sugeriu o sapo – nela, não apenas as formigas, mas todos os animais que estiverem livres da obrigação do trabalho poderão se aperfeiçoar e aprenderem novas coisas.

- E poderemos ter nossos próprios inventos sem ter que pagar por isso – acrescentou a Anta.

- A tecnologia e progresso material não são ruins para floresta, mas é preciso saber utilizá-los com sabedoria – explicou Kambô – e isso só se aprende com uma boa escola, comadre Anta.

E assim “para preservar as tradições e desenvolver a criatividade”, o rei Mapinguari I inaugurou a Escola da Floresta, “instituição animal para o aprendizado do novo, do futuro e do antigo, sem finalidade lucrativa outra senão a de promover o desenvolvimento dos bichos, da mata e de toda terra” – como gostava de dizer.

As aventuras do sapo Kambo - quarta parte

O Escorpião e o Sapo

Uma das aulas obrigatória para todos os animais da Escola da Floresta era sobre o grande dilúvio há muitos anos atrás. Era a primeira vez que professora Gambá ia contar essa estória para uma turma de jacarés novatos. Insegura, ela começou:

- O grande dilúvio foi um castigo divino dos seres encantados contra os animais e contra o homem, que continuavam em uma guerra dissimulada de todos contra todos, não apenas destruindo uns aos outros, também à Natureza – disse, acrescentando - Uma das estórias mais conhecidas é a do sapo e do escorpião. Vocês querem que eu conte?

- Sim – disseram quase que em coro os filhotes de jacaré.

- Então, vamos lá – disse a professora sentando se confortavelmente em seu cesto, acima do alcance dos seus alunos – Tudo começou quando as águas subiram acima das árvores e o escorpião ia morrer afogado. Um sapo surgiu e disse: “Escorpião, suba aqui nas minhas costas que eu sei nadar e te salvo a vida até que as águas baixem”. O escorpião, então, respondeu: “Cuidado, sapo, pois sou um escorpião e minha natureza é traiçoeira”. Ao que o sapo retrucou: “Mas se você me atacar durante a enchente, também morrerá será que sua natureza está acima de sua racionalidade”.

Para representar o diálogo, a professora Gambá contracenava com o próprio rabo peludo, fazendo ora o papel do sapo, ora o do escorpião.

- Como não tinha opção, o escorpião aquiesceu e subiu nas costas do sapo. “Ou viveremos os dois, ou então morreremos os dois” pensou. Com o passar do tempo, no entanto, foi dando um desejo irresistível no escorpião de ferrar o sapo, mesmo que isto significasse também seu fim – dissera a professora criando um suspense.

- E quando não conseguiu mais segura seu desejo, o escorpião atacou o sapo e os dois morreram – terminou a Gambá rapidamente.

- Não, não foi assim, não – protestou o jacaré assu, interrompendo a história pela professora gambá – Meus tios estavam lá e viram tudo: o escorpião atacou mas o sapo não morreu.

- Morreu sim – disse a professora.

- Não, morreu não – insistiu o jacaré – só se foi o sapo cururu e essa estória for de outra floresta. Porque o nosso sapo Kambô desta floresta aqui derrotou o escorpião durante o dilúvio.

- Como é que? – perguntaram os outros interessados.

- Foi assim – começou o jacaré, com o charme característico dos contadores de estórias – os dois passaram três dias e três noites na chuva. O escorpião nas costas do sapo.

No final do terceiro dia, o escorpião ameaçou: “Compadre sapo, não agüento mais, vou te atacar”.

Então, Kambô argumentou: “Não faça isto compadre escorpião, será que seu instinto é mais forte que sua consciência?” Não era e o escorpião atacou. Mas como Kambô tem um veneno muito mais potente do que o escorpião, quem ficou envenenado foi ele e o sapo ficou ainda mais forte, adquirindo imunidade também daquela substância.

Kambô ainda disse: “Eu transformo o veneno que lançam contra mim em vacina para curar as pessoas”. E completou, enquanto o escorpião morria: “Obrigado, amigo escorpião, por ter me atacado porque agora estou mais forte e posso derrotar inimigos ainda maiores”.

- Kambô é o predador dos predadores – arrematou a professora Gambá, feliz por ter aprendido uma versão melhor da estória do sapo – na próxima aula vamos conhecer a história dos três pintores do retrato do rei Mapinguari I.

E encerrou a aula porque já chegava o final da tarde, hora de todos voltarem às suas casas.

As aventuras do sapo Kambo - quinta parte

O retrato do rei


Quando chegou a idade avançada, quis o rei Mapinguari I deixar sua imagem para as próximas gerações de bichos mágicos e reais. E convocou a Capivara, a melhor pintora do reino da Floresta Encantada, para pintá-lo e deixar sua majestosa imagem para o futuro. Acontece que Mapinguari, como era muito preguiçoso, estava muito barrigudo e ao ver seu perfil fielmente reproduzido no retrato, com o buchão pendurado na árvore, o bicho vaidoso bradou: “Vou expulsar a Capivara da Floresta Encantada”!

O Lobo-guará, o segundo melhor do pintor da floresta, foi então convocado para pintar o rei Mapinguari. E, sabendo do que havia ocorrido antes, pintou o soberano com porte atlético, jovem, cercado por várias preguiças fêmeas apaixonadas. Mapinguari era vaidoso, mas não era burro: “Vamos expulsar este lobo bajulador” – gritou revoltado.

Kambô, o terceiro pintor, foi então convocado e enfrentou o dilema: "se pintar a verdade o rei vai me expulsar e se pintar a mentira, também". Acontece que o rei gostava de dormir de lado, em uma posição que a enorme pança não aparecia. E o sapo, esperto, sabendo desse detalhe, resolveu pinta-lo no deitado de lado no trono de modo que a barriga não aparecesse. E assim, os que conheciam o rei se divertiam com a malandragem de Kambô e os que não conheciam, não percebiam nada.

- É preciso saber dizer a verdade sem ofender – explicou o sapo, que se tornou o principal conselheiro do rei Mapinguari I, sendo chamado toda vez a comadre Anta precisava de ajuda ou que algum assunto difícil de resolver precisa-se ser solucionado.

As aventuras do sapo Kambo - sexta parte

O sonho do sapo e do príncipe

O lento cair da noite na floresta é um espetáculo difícil de descrever: as cigarras, os sapos e os pássaros da noite cantam como que chamando as sombras e a escuridão. Depois, abre-se um grande silêncio noturno, majestoso, integral, pesado. E com esse silêncio sombrio das matas, surgem também as estrelas no céu e a Lua iluminando a noite, com sua luz com de prata. Em uma noite de lua cheia, o sapo Kambô sonhou que era um príncipe de reino distante, chamado Salomão. E, no sonho de Kambô, o príncipe Salomão sonhava que era um sapo que vivia na floresta. Era um sonho dentro de outro sonho que era real.

- Será que sou um príncipe que sonha que é um sapo ou será que sou um sapo que sonha ser um príncipe? – perguntou Kambô ao seu grande conselheiro espiritual, o monge louva-deus.

No sonho (ou no sonho no sonho), o príncipe Salomão vivia infeliz, pois se sentia prisioneiro de uma vida sem graça, árida, por vezes até violenta, em que os todos agiam apenas para satisfazer seus interesses. Kambô sentia saudades da Floresta, embora nunca tivesse saído dela.

O monge louva-deus ouviu, escutou, pensou e disse a Kambô:

- Apenas um beijo de amor pode responder a esta questão – disse o louva-deus, coçando as patas – você terá que fazer uma viagem às terras distantes, onde vivem os homens decaídos, e procurar por alguém que te dê um beijo apaixonado. Só então descobriremos a sua verdadeira natureza, se você é um príncipe humano que sonha que é um sapo ou se é um sapo que sonha que é um príncipe.

Kambô não gostou daquela estória de beijo, mas compreendeu que devia ir conhecer o príncipe do sonho e decidiu partir da floresta rumo ao sertão onde moravam os homens. Despediu-se então do louva-deus e seguiu o caminho dos rios que desciam das florestas altas até as terras secas dos desertos.

As aventuras do sapo Kambô - sétima e última parte

THE END

Kambô subia os rios rumo aos sertões, por detrás das grandes montanhas, em que os homens moravam. Ele ia obedecendo aos seus sonhos, com a missão de encontrar um determinado homem a quem daria um dom. Também lhe havia sido profetizado que ele encontraria seu grande amor durante a jornada.

Ninguém da Floresta Encantada sabia, mas a dona Cobra, inimiga antiga do sapo mágico, exilada pelo rei Mapinguari I, havia dominado os homens através de um feitiço na Árvore do Bem e do Mal. Ela planeja, com seus homens-serpentes enfeitiçados, construir o Império da Serpente, controlando todo o planeta através do Sistema Capitalista.

Embora não reclamasse, Kambô andava meio chateado com sua vida e com a Floresta Encantada. Ele fazia sua parte: viajava levando dons mágicos e ajudando as criaturas sagradas, dava aulas de esperteza na Escola da Floresta e ainda ajudava a dona Anta no governo do rei Mapinguari I.

- É uma boa vida, mas sem desafios de transformação – pensava o sapo com uma certa aceitação inconformada, enquanto subia rumo às cabeceiras dos rios.

Ao passar por iguarapé, no entanto, Kambô viu o Tamanduá, bicho que havia sido derrotado nas eleições para o trono da floresta e mandado como diplomata para as terras dos pastos distantes, com seu enorme nariz dentro de um buraco em uma encosta de ribanceira.

- O que faz por aqui, compadre Tamanduá – perguntou o sapo.

- Nada, nada, nada – disse assustado o bicho pego de surpresa – vim aqui atrás de umas formigas mas já estava de saída, quando vi algo se movendo aqui no buraco e pensei uma fazer um lanche. Mas era só isso e há estou de saída.

Após o Tamanduá se afastar, Kambô foi até o buraco ver o que o bicho queria com tanta vontade de manter em segredo e viu uma grande aranha prateada.

- Kambô, meu amor! – disse a Aranha – você me salvou! Esse Tamanduá queria me matar a mando da Dona Cobra, que está prestes a destruir a Floresta Encantada para construir um Shopping Center, o templo da Mãe Serpente.

- Temos que impedir isto! – retrucou o sapo animado.

- Pois eu vim aqui para te avisar – continuou a Aranha - apenas o elixir extraído da Árvore da Vida pode derrotar o encantamento da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal – com que a serpente enfeitiçou os homens. Você deve levar a bebida Ayahuasca para o homem de nome Salomão, que veio das terras além do mar e está agora no Império do Sol por trás das montanhas. Só isto salvará a Floresta Encantada da destruição, agora e em um futuro distante.

Kambô, então, chama seu amigo Tucano e com ele vooa direto até Machu Pichu, onde salomão e um grupo de homens já o esperavam. Lá, eles consagram a bebida sagrada firmando um pacto de paz e prosperidade recíproca entre a Floresta Encantada e o mundo dos homens. Kambô deu ao rei Salomão o dom de retonar à vida no ano de 2012 para consolidar a pacificação entre os mundos e dissolução definitiva do encantamento macabro da serpente.

Quando retornou à Floresta Encantada, Kambô foi recebido com festa. Dona Anta tinha preparado uma homenagem, com direito a discurso e banda de música. A Aranha prata foi convidada para entregar um medalha de honra ao mérito a Kambô, os alunos da Escola da Floresta foram liberados mais cedo para poderem ir ao evento cívico e até o rei Mapinguari disse que ia estudar a possibilidade de sair de sua árvore para receber o novo heroi. Porém, na hora da homenagem começar, quem apareceu foi a dona Cobra, acompanhada de seu capanga o Tamanduá, e foi logo dizendo:

- Vim fazer uma denúncia da maior gravidade – disse a serpente - este sapo, que todos pensam ser um heroi, é na verdade um traidor, pois foi ele, juntamente com a Vó Aranha, sua amante e cumplice, que trouxeram os homens, esta praga destrutiva da grande mãe, para o Quarto Mundo. Foram eles que provocaram todo este desequilibrio e agora querem posar de salvadores da catástrofe que eles próprios criaram. - E, sentindo que havia despertado a dúvida em alguns animais presentes no festejo, a serpente continuou:

- Foi Kambô que fez um acordo com a morte, autorizando os homens a viverem aqui, foi Kambô que prometeu levar uma parte deles de volta ao Terceiro Mundo, foi Kambô que os estimulou a destruir o Quarto Mundo ...

- Não, não – protestou Kambô – não foi assim ...

- Sou testemunha do que a cobra fala é verdade – atestou o Tamanduá – aumentando ainda mais desconfiança em vários bichos da Floresta Encantada.

- Vamos fazer um desafio para ver quem está falando a verdade – proclamou o rei Mapinguari I, que subitamente apareceu, saindo de sua reclusão habitual – vocês dois vão passar mil anos (um dia no tempo da Floresta Encantada) morando entre os humanos. No final deste tempo, quem levar os bons homens de volta ao Terceiro Mundo e os maus para serem reciclados como alimento para o Segundo Mundo, será considerado vencedor da prova e poderá voltar à Floresta Encantada. E o outro será banido para sempre.

Assim, o sapo Kambô veio habitar entre nós e aguarda o momento para, junto com a reencarnação de seu amigo o rei Salomão, comandar a mudança dos homens para um outro plano de vida e finalmente poder voltar à Floresta Encantada e aos braços de sua querida rainha Aranha.

quarta-feira, 3 de março de 2010

ENTEÓGENOS

  1. Plantas de Poder
  2. Cacos do Mundo
  3. A lenda da cocaína
  4. Santo Daime
  5. mitologia da ayahuasca
  6. Kambô, O Espírito do Pajé
  7. lenda Kashinawá da Ayahuasca  
  8. Jurema Rainha

ESOTERISMO


  1. Simetria e Paradoxo
  2. Cacos do Mundo
  3. Budismo
  4. Recapitulando Castaneda
  5. Gurdjieff e o Eneagrama
  6. Rudolf Steiner
  7. Ken Wilber
  8. Osho
  9. O Espelho de Oxum
  10. Os erros de Leônidas  
  11. O Tarô como mapa cognitivo
  12. Resumo do livro A Profecia Celestina James Redfield
  13.  Jogos de competição pela energia (James Redfield)

POESIA


  1. Soneto hermenêutico
  2. Pai Nosso da Transformação
  3. As Flores do Bem
  4. Meus mandamentos

XAMANISMO BRASILEIRO

  1. Santo Daime
  2. Kambô, O Espírito do Pajé
  3. Lenda Kashinawá da Ayahuasca
  4. O Espelho de Oxum
  5. Umbanda é caridade
  6. Identidade no candomblé
  7. A chave de São Pedro  
  8. Jurema
    Rainha

XAMANISMO HAVAIANO




  1. Huna – Karuna
  2. Filosofia Huna por Jaguar Dourado 
  3. Waiho Wale Hahiko por Gisele Barbosa 
  4. Hooponopono

XAMANISMO SIBERIANO

  1. Célula Mater
  2. Xamanismo Siberiano por Jaguar Dourado


XAMANISMO TOLTECA




  1. Recapitulando Castaneda
  2. Passes Mágicos
  3. A travessia das feiticeiras
  4. Os quatro compromissos
  5. As três bruxas
  6. Auto-importância
  7. Recapitulação por Castaneda
  8. Recapitulação por Taisha
  9. Espreita
  10. Não fazer
  11. Poder pessoal
  12. Arte de Sonhar
  13. Loucura controlada 
  14. Os nove caminhos

terça-feira, 2 de março de 2010

A descida de Inanna

Certa vez a deusa Inanna decidiu fazer uma visita a Enki , o deus da sabedoria, que morava no Abzu , o céu dos deuses sumérios. Enki conhecia as leis do céu e da terra, o coração dos deuses, assim como todas as coisas. Inanna tinha como propósito honrá-lo e lhe proclamou uma oração.

Enki mandou preparar bolo, água fresca e cerveja. Mas os dois se embebedaram no encontro, perdendo a medida do que estavam fazendo. O deus da sabedoria acabou perdendo sua sabedoria, enfeitiçado com os encantos de Inanna , e foi, cálice a cálice, revelando os mistérios para deusa. Ao final, o deus diz para Inanna conquistar o poder sobre os três domínios, deve descer aos infernos e voltar, e, portanto conhecer a realidade da vida e da morte.

- É o trânsito entre o mundo inferior e superior, entre a vida e a morte, entre o céu e a terra, entre o homem e a mulher que nos leva à grande Verdade.

Inanna era a Rainha do Céu e da Terra, mas não sabia nada do submundo e sua missão agora é desvendar seus segredos. Havia sete portais que Inanna deveria cruzar rumo ao seu objetivo final. Em cada uma destas portas se vê despojada de seus instrumentos de poder, desde sua coroa até suas vestes. No sétimo e último portal, totalmente nua, Inanna encontra-se com Ereshkigal , sua irmã gêmea e rival. Cada elemento abandonado por Inanna em cada portal tem um significado. A coroa, por exemplo, representa o poder intelectual. Suas jóias e adornos simbolizavam seu poder material. As vestes reais seriam as defesas da personalidade, uma das formas de proteção contra tudo e todos. Totalmente nua, seria a única forma com que Inanna poderia se relacionar com sua sombra. Neste estado vulnerável, a deusa enfrenta sua irmã, é presa e crucificada num poste do mundo inferior. Como iniciada, ela se rende corajosamente ao próprio sacrifício, para ganhar nova força e conhecimento. Como a semente que morre para renascer, a deusa se submete. Sozinha e na escuridão, Inanna oferece-se em sacrifício, testemunha a morte das forças férteis e traz a si mesma como semente. Mas a aceitação de sua vulnerabilidade, a descoberta da necessidade do sacrifício e da transformação para que os ciclos da vida se perpetuem, na verdade aumentaram o poder de Inanna , assim como sua compreensão e beleza.

Ao terceiro dia, devido à interferência de seu amigo Enki , a deusa Inanna ressuscita dos mortos e retorna pelos sete portais do inferno, pegando de volta seus pertences. Entretanto, ela retorna à vida reintegrando sua sombra Ereshkigal , com um aspecto demoníaco, os "olhos de morte" para escolher os que devem ser levados aos seus domínios infernais.

Descobre então, que seu marido Damuzzi , em sua ausência usurpara-lhe o lugar no trono do céu. Ficou colérica e permitindo que os demônios lhe prendessem e o levassem. Depois sentiu pena dele e o libertou. No entanto, apenas durante uma parte do ano. Assim, durante o outono e inverno, Damuzzi permanece no inferno e as colheitas não se reproduzem, enquanto que na primavera e verão, ele sai da terra para participar do reino de cima e a colheita é farta.

HUNA - KAHUNA


DR. Sebastião de Melo - Coordenador Cultural da Associação de Estudos Huna


A palavra KAHUNA é um termo antigoe ainda em uso hoje.É pronunciada “ca-rú-na” e significa“GUARDIÃO DO SEGREDO”.

A HUNA é um sistema simples e prático de conhecimentos psicológicos e filosóficos. é a sabedoria milenar dos antigos GUARDIÕES DO SEGREDO,os Kahunas havaianos, que nos auxilia a olhar para dentro de nós mesmos e a desvendar os mistérios que encerramos em nosso ser.

Origem da Huna

A Huna é um conhecimento que vem dos mais antigos habitantes da Terra, cuja origem remonta ao continente perdido de MU, também conhecido como Lemúria.O povo de MU formou várias colônias e espalhou o Conhecimento Huna por várias regiões como: Birmânia, Índia, Egito, Europa, Américas, sendo possivelmente a Atlântida a mais evoluída de todas.

O continente de MU submergiu após cataclismos intensos e em seu lugar surgiram as Ilhas Polinésias, há cerca de treze mil anos.No Havaí, com a sobrevivência de habitantes de MU, o conhecimento Huna foi preservado até hoje.

MAX FREEDOM LONG diz que vem de um povo que partiu do Egito através do Mar Vermelho, e que, em canoas chegou ao Havaí. o interêsse apareceu no ano de 1937, A primeira publicação do livro MILAGRES DA CIÊNCIA SECRETA no Brasil foi em 1961. Rituaiis, Caminhada sobre o fogo, Curas instantâneas, investigação do futuro, etc.

SERGE KING diz que se origina de estelares, os quais vieram da Constelação da Plêiade, tendo um dos grupos se estabelecido na Terra, num continente do futuro Oceano Pacífico, o qual era denominado de MU e seus habitantes de POVO DE MU. Este continente submergiu e formou-se a Polinésia. Criaram uma língua que é falada em toda Polinésia.

Em seu livro MAGIA E CURA KAHUNA – Saúde Holística e Práticas de Cura da Polinésia – Diz: “Agora os tempos mudaram, e, por causa da rapidez de comunicação, da expansão da consciência em boa parte do mundo, e do crescente entendimento das realidades alternativas, começa-se a sentir que o conhecimento de HUNA precisa ser difundido ao máximo em todo o planeta”.

Os kahunas ensinam que a mente humana não está capacitada a entender uma forma de consciência superior que não seja semelhante à sua própria; por isso, todos os esforços humanos para imaginar as características de um deus máximo e supremo seriam uma perda de tempo. Embora acreditassem que deveria haver uma suprema fonte criadora, suas orações não eram direcionadas a esta fonte.Havia estágios de níveis de consciência acima do homem, como existem níveis abaixo dele; os kahunas dedicaram pouca atenção a outro nível que não fosse o imediatamente acima do nosso próprio.

HUNA é uma teoria psicofilosófica. Tem um cunho teórico e prático, tratando de todos os assuntos que se referem ao ser Humano em sua totalidade.Traz em si, um cunho de religiosidade por saber que não é possível desligar o ser humano desse sentido da vida, assim como também do sentido mitológico, presente em todas as épocas da história (civilização) humana.Os adeptos da Huna podem fazer parte de qualquer religião, ou não. Com o crescimento das idéias Huna, cada um vai desenvolvendo suas crenças de maneira livre, por sofrer mudanças em seus valores e padrões, que é a finalidade primordial desse conhecimento.

O PRINCIPAL FOCO

A MUDANÇA DE VALORES E PADRÕES PARA CRESCIMENTO ESPIRITUAL E POSTERIOR EVOLUÇÃO DO SER HUMANO.

Ela estará sempre atualizada e indicando rumos para a humanidade mais evoluída, mas indica como um fator principal de seu crescimento e evolução, não ferir e o amor compartilhado, o único capaz de trazer felicidade, paz e tranqüilidade a todos os povos.

Conceitos que uma vez ENTENDIDOS,sentidos e verdadeiramente aplicados nos dão melhores condições para que possamos interferir em nossas ações e mudar nossos padrões de vida e ação (viver e agir) no mundo.Pouco a pouco vamos nos transformando e tornando nosso caminhar pela vida de uma maneira mais serena e Feliz.

O princípio da Psicofilosofia H U N A é não ferir, isto é, não causar sofrimento a si mesmo, aos outros e à natureza. Na Língua Havaiana as palavras eram formadas através das raízes que tinham significados próprios e que, unidas formavam palavras com significados bem definidos e também representavam símbolos, com os quais conseguiam ações práticas, verdadeiras e de magias.

Na prática temos entre outros elementos, a PRECE AÇÃO(uma maneira de rezar/orar ao Eu Superior (Aumakua), por intermédio do Eu Básico (Uhinipili). Com a Prece Ação obtemos bons resultados. Ela é usada principalmente, para curas e alívio de qualquer tipo de sofrimento.

A Teoria nos diz que o ser humano é formado de três espíritos ou aspectos independentes entre si, mas interligados nas ações; um depende do outro para se desenvolverem e crescerem e de um corpo físico (kino) quando reencarnados.

Existe uma energia que chamamos de MANAS que é o elemento de coesão entre os três, tendo cada um sua própria Mana. O corpo é uma imagem manifestada dessa coesão por meio de uma substância.

Mana - aka

Essa substância de origem divina permeia todo o universo e em consonância com a mana torna possível as manifestações. É denominada de substância AKA. Para que isso ocorra, cada espírito possuí um(CORPO) KINO-AKA que lhe é peculiar e tem funções determinadas. Sendo a Huna uma teoria de transformações, costumamos denominar cada um desses elementos pelos seus nomes

Natureza tríplice do Ser Humano, segundo os Kahunas:

• AUMAKUA - Eu Superior - (Superconsciente)

• UHANE - Eu Médio (consciente)

• UNIHIPILI - Eu Básico - (subconsciente)

AS TRÊS MANIFESTAÇÕES DA ENERGIA OU FORÇA VITAL M A N A

Essa energia, chamada pelos Kahunas de MANA, é a mesma que os hindus denominam prana e está relacionada com todasas formas de energia vital, não importa o nome que receba,chi,ki, etc). Surge a partir da alimentação e do ar que respiramos. Podemos aumentar o suprimento de mana também por uma ação da mente, como na Prece-Ação

Para acumular uma sobrecarga de mana é necessário simplesmente explicar ao EU BÁSICO o que deve ser feito e pedir-lhe para executar a tarefa, quando não há dúvidas. Respirar! Respirar P R O F U N D A M E N T E!!

MANA como um símbolo de ENERGIA VITAL. Quando desejavam acumular uma sobrecarga, respiravam PROFUNDAMENTE E VISUALIZAVAM a MANA subindo como água sobre uma fonte, CADA VEZ MAIS ALTA, até que transbordasse no alto, sendo o corpo a fonte e a água : a MANA. A mana parece ter forma de inteligência própria. mas na realidade é a consciência do eu básico dirigindo a projeção. projetado dela - nela - realizando as manifestações e também as coisas aserem realizadas com ela (mana).

A MANA DO EU BÁSICO

O Eu Básico capta a energia vital dos alimentos e do ar que respiramos armazena a MANA em seu KINO- AKA compartilhando-o com os outros EUS

A MANA-MANA DO EU MÉDIO

A força vital - MANA - fornecida pelo EU BÁSICO (unihipili) ao EU MÉDIO (uhane) é transformada de uma forma sutil em uma voltagem superior (MANA-MANA). A duplicação da palavra significa que o seu poder estará duplicado. Essa força conhecemo-la como VONTADE e é a mola propulsora que conduz à AÇÃO.

MANA-LOA DO EU SUPERIOR (AUMAKUA)

A MANA ENVIADA ao Aumakua pelo unihipili é transformada em energia de alta voltagem, sob a forma de gotículas de água energizada, com o poder de desintegrar e reintegrar a matéria, de CRIAR E HARMONIZAR. É usada na cristalização das formas-pensamentos enviadas como IMAGENS na Prece-Ação, como um pedido ao unihipili que memorizando-o o conduz ao AUMAKUA, o qual, responde com sua BÊNÇÃO, dando-se assim no agora/aqui, a cura ou a concretização

O DESEJO; A PRECE-AÇÃO; A REALIZAÇÃO

A PRIMEIRA COISA A SER FEITA É DECIDIR O QUE SE DESEJA.

Naturalmente, um grande número de pessoas nunca chega à decisão. Elas vão tropeçando, desejando uma coisa hoje e outra amanhã. Raramente conseguem o que querem, ou desejam, por sempre existir uma dúvida sobre o resultado.Quando uma pessoa decide sentar-se, pesquisar-se cuidadosamente e fazer o inventário de suas habilidades, necessidades, falhas, oportunidades, obrigações e o todo da condição de seu meio ambiente, ela empreende uma tarefa que não deverá ser posta de lado semi-acabada.

V i g i e , sempre, três coisas no estudo da magia huna. Deve haver alguma forma de c o n s c i ê n c i a, uma força (energia) e uma substância por trás, dirigindo os dirigindo os processos de magia.

A natureza básica da Magia, segundoMax Freedom Long, após contato com Dr. William Brigham, Cientista do Museu Bishop de Honolulu exige: Uma forma de consciência (Aumakua). Que usava alguma força (mana), e manipulava essa força através de alguma espécie invisível de substância física (aka) .

Eles iam diretamente ao assunto. E podiam dar-se ao luxo de assim proceder, pois possuíam um sistema que, de fato, DAVA RESULTADOS. Não tinham, portanto, nem salvadores, nem salvação: nem céu, nem inferno, e estavam livres do famigerado pecado original.

OS SETE PRINCÍPIOS DO XAMANISMO HAVAIANO

1 O mundo é o que você pensa que ELE é. (IKE)

Corolário: Tudo é um sonho. Todos os sistemas são arbitrários. Utilização do poder do pensamento.

Atributo ou Talento: Visão

Desafio: Ignorância

Cor: Branca

2. Não há limites (KALA)

Corolário: Tudo está interligado. Tudo é possível. Separação é apenas uma ilusão útil. Utilização das ligações energéticas.

Atributo ou Talento: Esclarecimento

Desafio: Limitação

Cor: Vermelha

3. A energia segue o fluxo do pensamento (MAKIA)

Corolário: A atenção segue o fluxo energético. Tudo é energia. Utilização do fluxo de energia.

Atributo ou Talento: Focalização

Desafio: Confusão

Cor: Laranja

4. Seu momento de poder é agora.(MANAWA)

Corolário: Tudo é relativo. Utilização do momento presente.

Atributo ou Talento: Presença

Desafio: Procrastinação

Cor: Amarela.

5. Amar é compartilhar com.... (ALOHA)

Corolário: O Amor aumenta quando o julgamento diminui.Tudo está vivo, atento e reativo. Utilização do poder do amor.

Atributo ou Talento: Bênção

Desafio: Raiva

Cor: Verde

6. Todo o poder vem de dentro. (MANA)

Corolário: Tudo tem poder. O poder vem da permissão (da criação). Utilização do poder da permissão (da criação).

Atributo ou Talento: Permissão

Desafio: Medo

Cor: Azul

7. A eficácia é a medida da verdade. (PONO)

Corolário: Existe sempre outra forma de se fazer algo.Utilização do poder da flexibilidade.

Atributo ou Talento: Tecelão de Sonhos

Desafio: Dúvida

Cor: Lilás.

O eu superior, sem dúvida, sabe ainda melhor do que os outros eus, aquilo que o ser total necessita; (compreende-se como ser total :O eu básico o eu médio e o eu superior) Ele não interfere com a sua vontade e se omite, para deixar as lições da experiência serem aprendidas com os esforços, para conseguir as coisas necessárias, exceto em situações graves.

Segundo os kahunas, o ser humano é formado por três espíritos ou aspectos independentes (distintos) entre si, mas interagindo (interligados) em todas as funções. Um depende do outro para se desenvolver e necessitam de um corpo quando encarnados para poder crescer e evoluir (ciclo de vida e morte). Eles são interligados pelos cordões-aka, por onde circula a energia vital; mana. Cada um tem suas características e funções próprias.

O corpo é o modelo da imagem do Unihipili e Uhane, produto manifestado dessa coesão por meio da substância Aka que permeia todo o Universo como fruto de mana (poder divino), transformada em mana energia vital,

O UNIHIPILI OU EU BÁSICO

No unihipili estão as memórias genéticas programadas responsáveis pelos: Instintos, Emoções, sentimentos e as memórias experienciais ou aprendidas, fruto das ações do dia a dia. Seu pensamento instintivo é ilógico e só tem condições de comunicação por um raciocínio próprio; só tem raciocínio dedutivo próprio para cada espécie (para algumas linhas de estudo), atendendo às necessidades instintivas e fisiológicas (só se manifesta como um ser, através do que está memorizado genética e experiencialmente). Armazena todas as formas-pensamentos como memórias, todas as crenças e emoções, processos involuntários e fisiológicos do organismo que promovem seu funcionamento.

UHANE OU EU MÉDIO

É O ESPÍRITO (o aspecto) consciente dos três eus. É o espírito que fala, analisa, raciocina, ORDENA E DECIDE. É o que POSSUI a (dono da) vontade (único que pode pecar, ferir ou prejudicar alguém ou a si mesmo). Recebe as informações de várias fontes, as ORGANIZA, lhes dá significado e direciona a ação. Todos os padrões de referência em RELAÇÃO à realidade que nos envolve são aceitos e estabelecidos por ele. Cria memórias que são arquivadas no UNIHIPILI (EU BÁSICO) Age em conjunto com o Eu Básico, pois este lhe fornece as Memórias para imaginar, fazer ideações e pensar. Ele ordena e decide as ações PRATICADAS (necessárias), sejam mentais ou físicas. Seu pensamento ALÉM DE DEDUTIVO é essencialmente INDUTIVO, o que é uma propriedade exclusiva do ser humano; portanto, só o homem possui UHANE (Eu Médio). Os outros animais possuem unihipili e Aumakua.

Através da V O N T A D E o UHANE ou EU MÉDIO (consciente) pode aprender a trabalhar de forma direcionada e consciente com os dois EUS, levando o indivíduo ao equilíbrio e harmonia para o seu crescimento e pleno DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL, pela reformulação das memórias.

AUMAKUA - EU SUPERIOR - O SUPER CONSCIENTE

Devemos:

1. Aceitar a existência deste espírito, o Pai Ancestral infalível - Adora-lo! Ama-lo! Crer que é a manifestação divina em nós. Convida-lo a ocupar o lugar que é DELE no ser humano.Ofertar mana; constante e diretamente, por meio do unihipili.

2. Fazer Prece-Ação e outras práticas hunas, encaminhando-as por meio do unihipili com fé sem dúvida (PAULELE). Todas as preces encaminhadas ao Eu Superior, devem ser formuladas pelo uhane e conduzidas ao unihipili, Eu Básico (subconsciente) pelos cordões-aka.

Os Kahunas acreditam, que tudo que existe, sejam elas seres humanos, animais, vegetais e minerais, até os objetos e mesmo as formas-pensamentos têm corpos sombreados (kino-akas) e estes subsistem, mesmo depois da morte física, passagem que propicia aos três espíritos, a volta ao seu real estado, para futuros aprendizados de novos sonhos básicos de vida.

EU SUPERIOR (AUMAKUA)

Devemos nos lembrar de que o Eu Superior Pai ancestral infalível, passou pela experiência de ser um unihipili , eu básico e depois um uhane, eu médio. Cresceu e evoluiu espiritualmente através de todas as experiências nos níveis vivenciados para alcançar sua condição atual, semelhante a de um Deus. Ele sabe como tratar cada problema que enfrentamos.

Quando formamos pensamentos, dizem os Kahunas, também produzimos formas-pensamentos. Como a maioria dos pensamentos vem em seqüência e relacionados uns aos outros, o corpo sombreado do unihipili ou da forma-pensamento do (uhane), acaba formando agrupamentos. Estes agrupamentos são comparados pelos Kahunas a cachos de uva (símbolos do agrupamento das memórias do unihipili em seus kino-akas).

Conhecimento - Estudo - Sentir - Intenção - Ação

HUNA - O SEGREDO

Petroglifo n.2

XAMANISMO HAVAIANO

O termo Xamã pode ter-se originado da palavm SAMAN, do povo Tungu da Sibéria. Significa "alguém que está exaltado, comovido, elevado". Por outro lado pode ter suas raizes, num antigo vocábulo Indu, que significa "aquele que pratica austeridade". Hoje este termo e muito usado pam os sacerdotes, pajés e Kahunas ou seja todos aqueles que trabalham ligados com as antigas tradições em contato direto com a natureza. Nas ilhas havaianas Xamãs/Kahunas eram guardiães de HUNA "O SEGREDO"

O DECODIFICADOR

Max Freedon Long foi o incansável pesquisador e decodificador de Huna. De religião Batista, pesquisador incansável muitas vezes frequentava a Igreja católica, com um amigo de infância Neto de fazendeiros do Iowa, viveu momentos agradáveis no meio rural. Quando menino viveu em Wyoming e desde os sete anos de idade, experimentava a realização de sonhos. Seus pais possuíam os mesmos dons. Estudou Ciência Cristã, Teosofia além da prática do Zen com um bispo americano. Mais tarde aperfeiçoou-se com um Mestre Japonês experimentando o Satori. estudou todas as religiões ao seu alcançe. Após cursar a escola normal, formou-se em psicologia.



O SONHO

Os quatorze anos vividos no Havai, ocorrem de forma bastante peculiar. Numa noite viveu um sonho marcante. Nele em instruído a ir em um cruzamento de duas ruas em urna cidade próxima. Ao acordar seguiu as orientações. Lá chegando, encontrou um velho amigo de infância, que estava desesperado. Havia se inscrito em um programa do governo americano para lecionar no Havaí e só poderia desistir se arranjasse alguém para substituí-lo. Seu objetivo em lecionar em uma famosa praia turística; contra sua vontade, fora designado para lecionar em um sítio afastado.

A VIAGEM

Convencido, em 1917, Max chega ao Havai. Depois de uma viagem de vapor fora de Honolulu, conhece a escola, onde lecionaria por um período. Maravilha-se com o lugar perto do vulcão Kilauea. Os espetáculo das atividades vulcânicas provocava admiração em Max. A escola em composta de três salas, localizada em um vale solitário, entre uma plantação de açúcar e um enorme sítio. Lá muitos trabalhadores havaianos trabalhavam. O proprietário era um homem branco, vivendo muitos anos no Havai.

No convívio diário toma contato com discretas referências, sobre os Xamãs os Kahunas. (Ka significa Guardião e Huna segredo)

Seu espírito questionador levava-o a muitas perguntas,entretanto. percebia que seu interesse não era recebido de bom grado. A vida nativa da região escondia um segredo velado aos estrangeiros. A colonização do Havaí sofreu forte influência de missionários cristãos. Através do poder político, eles legislaram e proibiram as atividades mágicas dos kahunas.

PELE

Mesmo assim os mitos e lendas corriam entre a população. pele, deusa habitante do vulcão Kilauea, visita os nativos pedindo tabaco. Casos de magia em que pessoas culpadas por ofender alguém ou quebrar o Kapu - rígido código religiosos e social e eram punidas e pela magia havaiana. A magia havaiana era usada para prever o futuro ou modificá-lo, realizar curas, ressuscitar mortos, contatar espíritos, manipular materializações, andar em lava quente e etc.

Prosseguindo as suas pesquisas, Maz visitou a biblioteca de Honolulu, e pegou por empréstimo alguns livros. escritos por missionários cristãos, os livros formavam uma visão deturpada das atividades dos Kahunas. Em menos de um século os Kahunas foram considerados mau elementos, cultuadores de primitivas superstições. Nos distritos isolados os Kahunas continuaram a praticar oferendas à deus Pele. O povo havaiano permanecia fiel as regras de Kapu. As práticas, ritos e crenças, permaneciam vivas, faziam parte do cotidiano havaiano.

Ídolos de Madeira

Em 1820, antes da chegada dos missionários, grandes plataformas de pedras estavam erguidas ao longo das oito ilhas, com ídolos de madeira e seus altares para sacrifícios

Apesar das leis impostas pelos colonizadores, nenhum oficial de policia ou magistrado havaiano se atrevia a colocar na prisao os Kahunas. A magia havaiana continuava viva e oculta dos brancos. No inicio do quarto ano. Max Freedon mudou-se para Honolulu e conheceu 0 museu Bishop. Fundado pela realeza havaiana. destinava-se a amparar crianças de sangue havaiano. Sua visita tinha 0 objetivo de encontrar respostas a inúmeras perguntas. Long conheceu o respeitado curador do museu

Dr. Brighan. experiente em escavações e nas pesquisas havaianas era conceituado pelo museu Britânico. Com Dr. Brighan. Max enriqueceu e avançou muito em suas pesquisas. Deixou o relato em seus livros,de inúmeros casos. entre eles. a cura instantânea de uma perna fraturada. por uma Kahuna. Um incrível caso do afogamento de um menino e a constatação de sua morte. Após horas do acidente. foi chamado urn Kahuna. que ressuscitou o menino. Outra experiência foi com Brigham e um grupo de havaianos quando andaram sobre lava quente. Além do susto Brigham teve suas botas incineradas.

Max encerrou suas pesquisas em 1931. Desvendar "0 Segredo" que dava aos Kahunas poder. parecia estar definitivamente restrito e velado aos estrangeiros.

PSICOFILOSOFIA

De volta ao continente Norte Americano e vivendo na California em 1935. Max acordou no meio da noite com uma idéia. Devido seus anos de vivencia no Havai, observou e estudou os mitos, simbolos e lendas havaianos além de ser testemunha ocular de "milagres". Sabia que a magia dos kahunas possuía muitos nomes para os elementos. Estes. transmitidos de geração em geração oralmente.

Em 1820 missionários cristãos compilaram um dicionario com muitas falhas em sua tradução. A interpretação das palavras havaianas. era feita através de conceitos deturpados. Max usou o dicionário e somando sua admirável capacidade de observação juntamente com as experiências vividas no Havai. Assim decodificou e estruturou o que ele chamou de: Psico-filosofia HUNA. Sua formação acadêmica. contribuiu para correlações entre a psicologia e a tradição dos Kahunas.

Compilando elementos da Magia Havaiana. Max sistematizou. decodificou e identificou os elementos . Max fundou a Huna Research, associação ativa nos dias atuais. divulgando a Psicofilosofia Huna. Conhecida internacionalmente e com muitos associados. Possui sede própria no Brasil.

Filosofia Huna


Jaguar Dourado
O mundo ocidental é essencialmente objetivo em sua abordagem na definição da realidade. Os ocidentais acreditam no que podem ver. A Filosofia Huna compreende a realidade como os níveis de experiência objetiva por um lado e níveis de consciência subjetiva por outro. Para os Kahuna, o nível físico objetivo da realidade cotidiana comum, que a ciência considera como a única realidade “possível” ou “real”, é apenas o primeiro de diversos níveis possíveis de experiência e consciência. Nesse nível físico, tudo é percebido como separado de todo o resto.
O nosso nível subjetivo de pensamentos e emoções é o nosso segundo nível de realidade conforme o pensamento Huna. Este é também o nível no qual fenômenos psíquicos, como telepatia, clarividência e psicocinese, são vivenciados. Como a realidade física comum, também é um nível de ação, mas no segundo nível; tudo esta em contato com tudo por meio de fios de uma “substância energética ou etérea”, chamada Aka na língua havaiana. Na tradição huna, tudo no universo está conectado a tudo, formando uma vasta rede ou teia formada por esses fios de Aka no segundo nível. Estas conexões podem acontecer por intermédio de pensamentos e intenções, elas são “ativadas” pela atenção. Concentração sustentada, como a praticada durante a meditação, teoricamente aumenta a força ou o volume do contato.
No segundo nível de realidade, o tempo é sincrônico, ou seja, tudo o que já aconteceu no passado, assim como tudo que irá acontecer no futuro, pode estar acontecendo ao mesmo tempo, interconectado por meio do campo Aka. Por isso, como ressalta os Kahuna, não existem inícios ou fins no segundo nível de realidade (ou percepção), apenas ciclos e transições. Aplicada ao conceito de reencarnação, essa perspectiva sugere que o passado e o futuro de uma pessoa poderiam teoricamente estar acontecendo todos ao mesmo tempo, interconectados por meio do campo Aka no segundo nível de realidade.
Como o tempo é sincrônico nesse nível de realidade, as conexões Aka podem se estender através do tempo e do espaço. Talvez este seja o caminho pelo qual certos indivíduos possam se lembrar de fragmentos de suas vidas passadas.
O terceiro nível de realidade (ou percepção) é “o mundo espiritual”. Chamada Pó em havaiano, ela é a realidade incomum pelo qual os Xamãs das tribos tradicionais viajam, em estados xamânicos de consciência, para se encontrar com os espíritos. Este é o nível da viagem mental-astral em que tudo é percebido simbolicamente, e chamado pelos Kahunas de Ike Papakolou, “percepção de terceiro nível”.
Na tradição Kahuna, o reino dos espíritos é dividido em mundos inferior, médio e superior, como também ocorre nas maiorias das tradições xamânicas de toda parte. Milu é o mundo inferior, o “reino sob a terra”, para onde o Xamã viaja em estados xamânicos da consciência para adquirir espíritos aliados para si e conhecer o poder, normalmente na forma simbólica de animais, plantas, objetos ou espíritos. O mundo médio é Kahiki, o aspecto incomum do plano físico da realidade comum cotidiana. Este é o lugar dos sonhos, o lugar para onde vamos quando sonhamos, à noite, quando dormimos, ou de forma estruturada, orientada a um objetivo, como o Xamã faz quando desperto. Tudo o que existe na realidade cotidiana, aqui, deve ter um equivalente de sonho, lá. O mundo superior é conhecido como Lanikeha. Este é o nível arquetípico dos deuses, deusas, heróis e heroínas mitológicos, os espíritos Aumakuas ancestrais e os nossos guias espirituais.
Na Filosofia Huna, existe ainda mais um nível de realidade, o quarto nível, Ike Paakauna. Este nível é descrito como um estado puramente subjetivo de consciência mística da unidade essencial do universo e de tudo o que há nele. É a dimensão holístico-espiritual na qual tudo é vivenciado. Este é o nível de transmorfose e identificação, o nível de percepção em que os Xamãs experientes podem fazer contato e se fundir com cardumes de peixes na água ou cervos nas montanhas para conduzi-los às redes dos pescadores ou aos arcos dos caçadores. Uma forma diferente de caça e pesca. Também é o nível em que se pode fazer contato com o campo divino, o vasto vazio carregado de potencial. No quarto nível, tudo é percebido como parte da unidade, e a “unidade” como parte de todas as coisas.
Segundo os Kahuna, tudo o que existe na natureza, existe em três estados diferentes do Ser, físico, mental e espiritual, com cada nível expressando um aspecto exterior. Para os seres humanos, por exemplo, o aspecto físico exterior era o Kino, o corpo material, e sua contra-parte interior, o centro energético, o Kino’ka, uma espécie de corpo duplicado invisível quando contem a força que dá ao indivíduo.
No nível mental do Ser, a mente interior é fortemente integrada com o corpo físico num nível de consciência chamado Unihipili, ou mais comumente, Ku, “corpo-mente”. O Unihipili vivencia o mundo exterior, armazena memórias e é a fonte de emoções e sentimentos. É através dele que é possível receber informações sobre os níveis incomuns de realidade. É o nível da mente por meio do qual as experiências visionárias ocorrem. O aspecto exterior da mente se concentra basicamente no mundo exterior. Esse é o nível mental, intelectual do self humano e é chamado de Uhane, ou Lono. Este aspecto da consciência é o pensador, o analisador e o tomador de decisões, recebendo informações sobre os mundos exterior e interior por meio do Unihipili. É quem controla as ações e o comportamento de uma pessoa, cujas decisões são traduzidas em ação pelo Unihipli interior que funciona diretamente com o corpo físico.
O nível espiritual do self é chamado Kane Wahine’, um termo que designa um espírito pessoal que é ao mesmo tempo masculino e feminino. O termo mais genérico, Aumakua, é utilizado para designar este aspecto, e acha-se em cada pessoa, cada coisa manifesta na natureza, tanto animada quanto inanimada, possui um. O Aumakua de cada coisa manifesta existe no mundo espiritual, em Ao Aumakua, e ao contrário dos aspectos físicos e mentais do self, o aspecto espiritual não morria.
No pensamento místico havaiano, seres vivos no plano físico da existência são os aspectos exteriores do seu Aumakua interior. Cada pessoa, planta, animal, rio ou pedra se originam como uma forma pensamento, cuja fonte é seu Aumakua. Tudo na natureza se manifesta intencionalmente no mundo cotidiano da realidade física por seu Aumakua no mundo espiritual. Assim, tudo é criado por sonhos desse aspecto espiritual incomum.

Os Kahuna também acreditam que cada um dos três aspectos do self (corpo, mente e espírito), pode aumentar e crescer, mudar e evoluir, em resposta à experiência que ocorre em cada um dos níveis do Ser. Desta forma, cada aspecto é responsável pela co-criação dos outros. Assim como uma pessoa vive sua vida no plano físico, suas experiências são projetadas pelo seu Unihipili interior no nível Aumakua do self. Este aspecto, então, aumenta e muda em resposta, existindo como uma espécie de repositório das experiências de vida de uma pessoa, incluindo as derivadas não só da vida atual mas também, até certo ponto, de vidas passadas. Assim, o Aumakua de uma pessoa contêm uma memória espiritual de todo o conhecimento e experiência acumulados pessoalmente.
Além disso, o Aumakua de cada pessoa está ligado a todos os outros Aumakuas por meio de uma vasta matriz de força ou energia interconectada, chamada Koko’aka. Todos os Aumakuas pessoais de todos os seres humanos em toda à parte formam, portanto, um coletivo conhecimento como Kapoeaumakua, o espírito humano. Este grande ser multifacetado contêm o conhecimento coletivo de toda a humanidade. Esta sabedoria está teoricamente disponível a todos os seres humanos. O truque está em saber como fazer contato direto com seu Aumakua, pois estas informações só podem ser acessadas e recebidas por este aspecto do self.
Os Kahuna revelaram que o contato com o aspecto espiritual pessoal de uma pessoa ocorre por meio do Unihipili, ou Ku, e essas informações do Aumakua normalmente assumem a forma de sonhos, idéias, impulsos, pensamentos e inspirações. O Aumakua é, portanto, a fonte de inspiração e intuição. Desta forma, o espírito pode funcionar de tempos em tempos como professor ou guia pessoal.
Os Kahuna são adeptos de técnicas mentais para criar eventos objetivos na realidade cotidiana. No caso, três fatores estão envolvidos: um aspecto da imaginação, chamado Laulele, o poder místico que os Havaianos chamam de Mana, e as conexões psíquicas por meio do campo Aka.
Laulele é a imaginação usada de forma consciente para estabelecer um padrão ou estratégia mental, combinada com fortes desejos de realizar esse fim. Mana é a energia cuja abundância ou escassez determina a eficácia de todas as práticas psíquicas. Aka é o material básico do qual tudo no universo é formado, até mesmo pensamentos e imagens interiores. Os Kahunas acreditam que o Aka pode ser formado e moldado por pensamentos, que ele pode servir como receptáculo ou condutor de Mana, e que os efeitos se manifestam por meio das conexões de Aka estabelecidas entre o Kahuna e seu objetivo.
A essência vital, Keola’ika’ika. É um aspecto do poder sobrenatural dispersado pelo universo. Quando este poder é altamente concentrado nas coisas vivas, ele as satura com força vital. A essência vital de cada Ser é como uma fagulha de um fogo que pode abrir caminho entre as linhagens com o passar do tempo, assumindo diferentes formas, expressando-se infinitamente até ter experimentado todas as manifestações possíveis, dos vermes mais inferiores até os próprios deuses.

A força vital é um processo, e não algo material, e mesmo assim tudo no universo, material e não-material, é em última análise, um aspecto dela. Existe um padrão na teia da vida, e a força vital pode se procriar interna ou exteriormente para atingir esse desenho. Neste sentido, a força vital tem sua própria direção, sua própria vontade. Cada coisa viva é parte do grande padrão, Ano’holo’oko’a, e cada Ser é, portanto, preenchido com Kumu, com propósito e direção, mesmo que este propósito seja desconhecido para a pessoa ou o verme. A natureza da força vital é diversificada. Cada coisa possui um aspecto corporal comum aqui no mundo dos fenômenos e um aspecto Aumakua no mundo espiritual. À medida que estes aspectos espirituais mudam e crescem em resposta ao que ocorre durante os infinitos ciclos de nascimentos, vidas, mortes e renascimentos no plano físico, o padrão também muda e cresce. Desta forma, os níveis incomuns de realidade são formados em resposta ao que transpira aqui na realidade comum. Por isso as intenções são tão importantes. Seus objetivos fornecem o destino, assim como o referencial para suas experiências. Aqueles que manipulam constantemente os outros eventos para adquirir riqueza material ou poder estão mais concentrados no lado negro de sua natureza. Quando essas pessoas morrem e existem unicamente como Aumakua, seus espíritos não são benévolos, pacíficos, nem repousam em paz. São espíritos famintos, ansiosos e quando tornam a se manifestar no mundo comum, retomam o mesmo tipo de caráter.
Por isso o mal existe no mundo. Ele é simplesmente parte do padrão. Tudo tem dupla natureza, e “não bom” é simplesmente a outra metade de “bom”. Cada um contém dentro de si a capacidade para ambos. Quando chegamos ao mundo, a forma de nossa personalidade revela o que é proeminente em nosso aspecto espiritual. Em nossa passagem pela vida, as escolhas que fazemos afetam tanto a nós próprios quanto ao que existe ao nosso redor. Esses efeitos se refletem de volta ao mundo espiritual, que muda em resposta. Parte de nossa tarefa enquanto crescemos é vencer o lado negro de nossa natureza em favor da luz. Ao fazermos isto, o grande padrão se desloca nessa direção também.
Dessa forma, cada um de nós viaja pelo tempo em muitas vidas, até atingirmos nosso destino dentro do grande padrão. Quando tivermos nos tornados inteiramente formados e inteiramente desperto, nós humanos, nos tornaremos outra coisa. Este é nosso destino, e cada um de nós deve alcançar isto à sua própria maneira. Este é o nosso verdadeiro trabalho, a nossa verdadeira razão de existir.


Fonte: http://www.terramistica.com.br/

Waiho Wale Kahiko


Gisela Barbosa

Desde os tempos primeiros, nas Ilhas do Pacífico, existe uma visão da vida chamada Huna. Esta palavra significa segredo ou conhecimento secreto. Refere-se ao lado profundo das coisas, àquele lado não perceptível aos olhos pouco treinados. O prefixo Ka é guardião, ou mestre praticante. Os xamãs havaianos, como os xamãs de outras partes do mundo, não têm hierarquia entre eles. Aprendizes são estudantes e colegas, não seguidores. E mestres são mestres do conhecimento e da prática, não de pessoas.
Hoje em dia Kahuna é uma palavra usada mais livremente. Deve-se, então, acrescentar uma outra palavra que determina qualidade, como por exemplo, Kahuna Lapa'au, um mestre de ervas, massagens e energias; Kahuna Pule, para mestre de preces e cerimônias; e Kahuna Kupua para o mestre xamã.
Ainda que existam escolas de treinamento, a ênfase no ensino personalizado tem como prerrogativa a questão do poder pessoal. Jamais um xamã vai ser paternalista, pois assim estaria fazendo por você, enquanto a intenção maior é a devolução de seu poder profundo (falaremos mais detalhadamente sobre este assunto no capítulo referente às técnicas e práticas contemporâneas de xamanismo). Poderão ser criadas situações para que obstáculos à sua integridade emirjam e se façam presentes. Só assim poderão ser superados. Portanto, ainda que cercado de cuidados, o xamã não faz por você.
Estes são os aspectos da transmissão de ensinamentos xamânicos: a presença integral da pessoa no empenho de caminhar seu caminho, a manifestação do desejo de adquirir o conhecimento e as qualidades inatas (o tom) capaz de realizar na vida o ensinamento recebido. Ainda que, conforme a história das pedras, transcrita acima, o movimento inicial do instrutor de mencionar, como que casualmente, o poder das pedras possa parecer intervenção diretiva, é preciso ter sempre em mente que o acesso a dimensões do conhecimento secreto, da percepção da realidade no movimento oculto (aquele que, como o vento, sopra e faz as coisas se moverem) é intrínseco no xamanismo. O que ocorreu, no caso, foi apenas a explicitação do que já estava acontecendo em níveis outros de percepção.
Uma das maiores exuberâncias do xamã Kahuna do Havaí é de ser, particularmente, um seguidor do caminho do aventureiro. Serge King distingue-o do caminho do guerreiro da seguinte forma: enquanto este tende a personificar o medo, a doença e a desarmonia e concentra-se em desenvolver o poder, o controle e as habilidades de combate a fim de lidar com eles, o xamã aventureiro tende a despersonificar estas condições, a trata-las como efeitos e não como coisasnota. E concentra-se em desenvolver a harmonia, a cooperação e o amor. O caminho do aventureiro é, por natureza, muito sociável. O caminho do guerreiro é solitário, buscando o poder e a iluminação pessoal.
Ao mesmo tempo, finaliza afirmando que é "muito difícil, senão impossível, diferenciar entre mestres dos dois caminhos. Porque, quanto mais poderoso você for, mais e mais amor terá, já que há menos e menos a temer. E quanto mais amor você tiver, mais e mais poderoso será, já que há muita, muita confiança".
A conveniência de dividir a natureza do ser humano em três aspectos que serão nomeados e descritos a seguir é comum a várias culturas de épocas e lugares diferentes. Ainda assim, não há nada na tradição polinésia que indique que estes três aspectos sejam realmente separados. Não há nada na natureza humana que impeça de fazer, por exemplo, 16 divisões, ou 64, como o I Ching, ou 256, como o Ifá. Três são, simplesmente, úteis, convenientes e, portanto, uma verdade que funciona.
O aspecto do coração, o corpo, o Eu Inferior (Ku) tem como função principal a memória e suas habilidades como aprender e lembrar, desenvolver hábitos e manter a integridade do corpo e a identidade no dia-a-adia. A memória como função do corpo, ou o registro de um modelo vibracional ou modelo de movimento que tem seu locus nas camadas musculares é uma memória experimental, ou vivida. Há ainda a memória genética, que é de fato guardada no nível celular e traz o conhecimento da linhagem ancestral à qual pertence. Para se liberar esta memória, portanto, é preciso movimento. Movimento este que, sob certos estímulos físicos ou mentais, internos ou externos, ocorre e dá origem aos comportamentos emocionais, físicos e mentais. A memória será inibida se o movimento for inibido por tensão ou estresse. A memória genética está estocada nas células e se encontra em todo o corpo, enquanto que a aprendida parece se localizar em pontos específicos do tecido muscular, áreas estas que estavam em atividade ou energizadas no momento do aprendizado. Se a parte do corpo onde a memória está arquivada fica sob tensão suficiente, ela então será inibida ou ficará até inacessível.
O tempo, para Ku, é único. Tudo existe apenas agora, no presente. Se você recordar de uma vivência ruim de sua infância, é bem provável que apresentará reações fisiológicas e emocionais tanto quanto estivesse vivenciando neste momento. É como um arquivo, e quando este arquivo é acessado, os dados se encontram presentes neste momento.
O caminho que seu corpo escolhe, conforme a sabedoria Kahuna, de acessar memórias que implicarão na reação emocional e comportamental às situações que se apresentam tendem, em primeiro lugar, a buscar a memória ancestral e depois, se houver várias escolhas em potencial, sintonizar a memória aprendida numa tendência especificadora. Por exemplo, se houver uma situação estressante que envolva a auto-estima - que geralmente tem como locus o tórax - e a memória genética lhe oferece a opção de uma bronquite, um ataque de ansiedade ou um resfriado, mas se na semana passada Ku aprendeu com outra pessoa ou na televisão tudo sobre os sintomas do resfriado, é provável que faça, então, esta escolha.
Lono é o aspecto do ser humano que é conhecido como mente, é a parte consciente, perceptiva das informações internas e externas. Relaciona-se com pensamentos, idéias, imaginação, intuição, palpites, receptora de inspiração, som, toque, cheiro, movimento, tempo. Sua principal função é tomar decisões, incluindo atenção, intenção, escolha e interpretação. É seletiva, aumentando a habilidade pessoal ou a efetividade. Sua principal motivação é a ordem: regras, categorias e entendimento. Liga-se à lógica, recorrendo ao Eu Básico para acessar sua memória. Quando o medo está presente, a motivação para a ordem transforma-se em motivação para a segurança.
Sua arma principal é a imaginação, pois é a única parte sua sob seu controle direto. O desenvolvimento da imaginação é de suprem importância para o xamã urbano.

Kane é o que é chamado de alma, mas sem o conceito ou a idéia de separação. É a centelha divina. Nunca interfere na experiência pessoal sem o consentimento, o chamado dos outros Eus, pois segue o livre-arbítrio. A não ser que haja a possibilidade de desvio profundo de seu caminho... Kane só interfere diretamente quando algo está para acontecer e poderia lhe impedir de cumprir seu propósito de vida. Sua principal função é a criatividade, e seu principal instrumento é a energia.


Nota: (Estudos sobre xamanismo havaiano e polinésio. Trecho da tese de doutorado de Gisela Barbosa. Texto cedido pela autora.)
fonte: http://www.terramistica.com.br/