quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Jurema Rainha

Dentre os estudos da antropologia brasileira, a Jurema ocupa um lugar singular. [1]

O próprio termo comporta denotações múltiplas, que são associadas em um simbolismo complexo (MOTA & BARROS, 1990:171). Além do sentido botânico[2], a palavra Jurema designa ainda outros significados:

1. Preparado líquido à base de elementos do vegetal, de uso medicinal ou místico, externo e interno, como a bebida sagrada, "vinho da Jurema”;

2. Cerimônia mágico-religiosa, liderada por pajés, xamãs, curandeiros, rezadeiras, pais de santo, mestras ou mestres juremeiros que preparam e bebem este "vinho" e/ou dão a beber a iniciados ou a clientes;

3. Jurema sendo igualmente uma entidade espiritual, uma "cabocla", ou divindade evocada tanto por indígenas, como remanescentes, herdeiros diretos das cerimônias do Catimbó, de cultos afro-brasileiros e da Umbanda.

Para o professor José Maria Tavares de Andrade[3], esse “complexo semiótico” chamado Jurema, representa até hoje, na polissemia deste termo, um ponto de vista e uma resistência étnica dos nordestinos autóctones, “um fio condutor de um traço cultural, distintivo do componente indígena da cultura popular, regional e nacional”.

Vejamos a citação completa:

Numa primeira fase da colonização, a resistência dos povos indígenas no Nordeste, não permitiu que a Jurema, enquanto árvore sagrada, fosse conhecida, em seus usos e significados, não sendo assim documentada pelos colonizadores e estrangeiros. Numa segunda fase histórica a Jurema representa um elemento ritual ligado à própria resistência armada dos povos indígenas ou à guerra empreendida contra inimigos inclusive em suas alianças. Ainda nesta fase na qual a Jurema começa a ser documentada, seu significado ainda não é entendido mas seu uso já é motivo de repressão, prisão e morte de índios, (...).
Na medida em que avança o rolo compressor da colonização, processo de genocídio ou tentativa de dominação, não só política e econômica como também cultural, aparece uma nova forma de resistência: a Jurema assume um lugar central na religiosidade popular, não só indígena regional - Catimbó. Diante do componente negro a Jurema garante seu reconhecimento, como entidade (espírito, divindade, cabocla) autóctone, "dona da terra". A Jurema é absorvida pelos cultos afro-brasileiros, tendo surgido inclusive os "Candomblés de Caboclos". Nas últimas décadas é no contexto da Umbanda, religião nascente e em pleno processo de sistematização e de expansão nacional, que a Jurema é integrada na cosmologia sagrada, no panteão da religião nacional. Constatamos em vários estados nordestinos as "Linhas da Jurema", dentre as linhagens e filiações religiosas da Umbanda.
Nesses últimos anos, e paralelo ao movimento religioso propriamente brasileiro, a Jurema continua como "núcleo duro", segredo, bandeira ou símbolo, para os remanescentes indígenas, em pleno "movimento étnico", num contexto de defesa de seus direitos humanos, de suas áreas de reservas e de sua autonomia e reconhecimento no pluralismo da sociedade e das culturas brasileiras. (ANDRADE, 1992:2)

Não é difícil entender porque a Jurema seria sagrada para os índios nordestinos antes da chegada dos brancos. Segundo Andrade, “enraizamento lingüístico do termo Yu'rema na língua tupi é um forte indício de que o uso primordial, inclusive cerimonial do vinho da Jurema, além de ser herança da cultura indígena, regional, certamente já existia antes da presença dos colonizadores”.

Além de seu caráter alucinógeno e do seu comprovado uso nas guerras e ritos de passagem, a Jurema, enquanto planta, desempenha um papel central no ecossistema semi-árido das caatingas nordestinas: durante os longos períodos de estiagem, quando a paisagem do sertão fica cinza e vermelho, apenas ela e o cacto do mandacaru resistem verdes e com reservas de água. Na verdade, no auge da estiagem, a casca da Jurema seca enquanto seu interior permanece viçoso. Quando a chuva volta, a casca seca cai e a árvore reaparece jovem. Esse fenômeno dá margem a uma longa mitologia de lendas e cantos envolvendo os ciclos de sazonalidade e morte/renascimento. Mas, ao contrário do mandacaru, do qual o sertanejo pode extrair água durante a estiagem, a água da Jurema é completamente inacessível ao uso humano. No caso da Jurema, a existência de água atrai a presença de pequenos insetos e de vários níveis de pequenos predadores da cadeia alimentar do ecossistema do sertão. As cobras são habituais no juremal, tanto pela existência farta de seu alimento como pela proteção dos galhos espinhosos, impossibilitando o trânsito de animais maiores. Este fato deu margem a uma extensa mitologia popular, cantada em pontos e chamadas tradicionais, em que as cobras protegem espiritualmente à árvore, assim como esta, com seus espinhos, protege os seus répteis guardiões. Assim, centro da resistência da vida orgânica à seca, em torno do qual todo ecossistema ‘não-humano’ (na verdade, não-mamífero) da caatinga gravita, a Jurema reina no sertão nordestino, desde tempos imemoriais, às margens de qualquer socialização: trata-se apenas um local perigoso e cheio de tabus, sob múltiplos aspectos.

Antes da chegada dos colonizadores, apenas os índios do sertão do Rio Grande do Norte, os Kariris e os Jê (ou Tapuios), tomavam Jurema. (SANGIRARDI JR., 1983) Essas tribos, detentoras dos ritos da Jurema, no entanto, se aliaram aos holandeses e foram completamente destruídas pelas forças portuguesas. A Jurema como identidade étnica foi então construída historicamente em segredo durante o período de colonização, chegando até tribos litorâneas distantes que não tinham tradição com a bebida. O uso da Jurema foi tolerado e aceito pelos portugueses católicos quando era canalizado para lógica de guerra contra invasores franceses e holandeses, enquanto seu uso religioso era condenado como feitiçaria. Há vários registros históricos (século XVI e XVII) sobre a eficácia militar dos guerreiros-juremeiros. Esta dupla permissão/condenação favoreceu uma expansão secreta e silenciosa da Jurema, levando o uso da bebida a ser conhecida até o Maranhão. (ANDRADE, 1992:9)

E foi assim, neste contexto contraditório, que a Jurema se firmou como prática étnica indígena e se misturou com os cultos africanos. E não se trata, nesses cultos, de reduzir a planta a um ‘espírito’ de uma cabocla como conhecemos na umbanda: o candomblé africano reconhece a Jurema como orixá, o único genuinamente brasileiro.[4] A Jurema chegou ao império como uma forma religiosa de resistência cultural bastante complexa, mantendo viva seu caráter guerreiro e marginal e conheceu ainda um novo ciclo de religiosidade popular - o dos mestres da jurema no catimbó nordestino, que, até a primeira metade do século XX utilizavam a bebida para desfazer feitiços e encantamentos no CE, PB e RN (CASCUDO, 1978).

Porém, apesar de se constituir como um complexo rico em variações, a maioria dos estudos antropológicos sobre a Jurema descreve apenas o Toré, festa dos índios nordestinos em que a bebida é ritualmente consumida. O relato mais antigo data de 1946, quando Oswaldo Gonçalves de Lima descreve o contínuo uso xamânico do vinho da jurema entre os índios Pankararu do Brejo dos Padres, no sul de Pernambuco.
Por volta de 1980, alguns pesquisadores advogam na extinção dos cultos da Jurema (SCHULTES & HOFMANN, citados por OTT, 2002:673). No entanto, sabe-se que algumas formas cerimoniais associadas ao Toré têm sobrevivido entre os Xucuru da Serra de Ararobá/PE; os Kariri-xocó de Colégio, na divisa entre AL e SE (MOTA, 1987); os Atickum-Umã/PE (GRÜNEWALD, 1995); os Truká (BATISTA, 1995) e numerosos outros grupos espalhados pelo sertão nordestino (PINTO, 1995). Além disso, durante a segunda metade do século XX, a cerimônia indígena do Toré tem sido adotada simbolicamente por grupos umbandistas ao longo do litoral nordestino.

A partir deste quadro, muitas perguntas impossíveis de serem respondidas podem ser formuladas: O que aconteceu com a Jurema? Como ela se transformou de prática xamânica, desta manifestação étnica-popular secreta dos índios e negros em uma simples ‘cabocla da linha de Oxossi’, sem qualquer relação com a planta e seu consumo?

Como uma tradição tão significativa desapareceu assim sem deixar vestígios?

Porém, só entenderemos o verdadeiro significado da Jurema, o motivo principal de sua 'sacralidade', seu misterioso desaparecimento e sua reconstrução mítica atual, se a relacionarmos com toda discussão contemporânea sobre 'entheogênesis'.

Drogas e religiosidade atual

Entheogênesis significa 'origem divina' (Theo = Deus, Gênesis = Origem). A palavra 'entheógenos', no entanto, surgiu em contraposição a denominação de 'alucinógenos' para designar a utilização de substâncias químicas com finalidades místicas, religiosas ou cognitivas. Segundo seus defensores a denominação de 'alucinógeno' para as substâncias químicas de feito psíquico, que provocam mudanças nos estados de percepção e consciência é preconceituosa, pois embute o sentido de entorpecimento e alienação. A enteogênesis seria, então, o uso não alienante das drogas - como prescreveram vários pensadores da Contracultura.

Timothy Leary, entre outros menos famosos, defendia o caráter revolucionário da experiência psicodélica através de drogas. Para Leary, os estados alterados de consciência provocavam mudanças existenciais profundas, transformações na personalidade, tornando as pessoas mais conscientes de si.

Também Carlos Castaneda, antropólogo convertido ao sistema de 'feitiçaria tolteca', iniciou-se nessa tradição através da utilização das 'plantas de poder', principalmente a Datura (a 'Erva do Diabo') e o Peyote (o 'mescalito'). A droga aqui é utilizada para romper com a descrição ordinária da realidade, com a percepção cotidiana de mundo, como uma forma de se sentir presente em outros universos dimensionais.

A droga alucina e cura, equilibra e enlouquece, maravilha e vicia. É um paradoxo, um dispositivo de funções aparentemente contrárias. Entre os autores brasileiros que pensaram a questão das drogas dentro de uma perspectiva foucaultiana dos modos de sujeição, Edson Passetti é talvez quem melhor coloque o papel central deste dispositivo na sociedade contemporânea.

A droga é pensada como produto médico para recolocar um indivíduo dentro da normalidade social. É também alucinógeno capaz - quando usado fora do espaço de confinamento - de fomentar ou gerar no indivíduo distorções em sua personalidade. De ambos os lados, a droga afeta a chamada alma do sujeito, quer recuperando-a quer perdendo-a. Assim, dentro da mais perfeita ordem das coisas, a droga é doença e cura, crime e lei, cujo uso é regulamentado por órgãos governamentais.
(...) A relação droga e alma, essa coisa que pode ser racionalmente capturada, organizada e disposta para que o indivíduo possa viver uma suposta plenitude terrena, que as religiões não fornecem - e justamente por esse princípio contribui para a reprodução da religião -, visa combater o desprezível no interior e no exterior do indivíduo, retificando partes ou o todo. (PASSETTI, 1991:.56-57)

Com o pesquisador Terence McKenna, o caráter cognitivo das drogas e da experiência psicodélica na contracultura vai se tornar uma 'etnofarmacologia', isto é, em um estudo sistemático das tradições de consumo de entheógenos. McKenna - autor de vários livros sobre diferentes substâncias psicoativas e religiosidade contemporânea (1993, 1995 e 1996) – estabelece uma associação estratégica entre três hipóteses de outros autores, que se tornarão os cânones do movimento entheogênico:

1. A hipótese de que foi através da ingestão de substâncias químicas psicoativas que os macacos se tornaram conscientes de si (Levi Strauss), dando início à evolução da espécie humana. Nesta hipótese, sugere-se que toda nossa experiência com o sagrado derivou originalmente do consumo de substâncias químicas.

2. A hipótese de construção de um “paraíso artificial” ou de uma utopia social constituída a partir de consciências quimicamente alteradas (Charles Baudelaire e Aldous Huxley). Desta segunda hipótese deriva a idéia de que o futuro é um retorno à memória arcaica.

3. A hipótese de Gaia (James Lovelock e Lynn Margulis) segundo a qual a biosfera da Terra é na verdade um organismo vivo. De forma que, mais do que dispositivos de poder para o controle social (as drogas), as substâncias psicoativas teriam como função primordial a re-ligação dos homens com a consciência telúrica do planeta.

A partir dessas premissas, é possível um desconcertante arsenal de perguntas:

"Estaríamos ainda evoluindo as leis eternas da natureza? Existiria um reino além do espaço e do tempo que asseguraria os padrões e as condições de criatividade e de organização, e o processo evolutivo emergente - ou o universo se construiria a si mesmo à medida que fosse caminhando? As causas das coisas estariam no passado ou no futuro? Haveria algum Objeto hiperdimensional, que nos atrairia para a frente? Seria a história apenas uma sombra que a escatologia projeta atrás de si? Seríamos nós, os seres humanos, os imaginadores ou os imaginados? Ou seria a história, de certo modo, uma co-criação - uma parceira instável, cronicamente evolvente e pusilânime entre nós mesmos e o Fazedor de Padrões hiperdimensionais? Seriam os vegetais visionários nossos potenciadores e nossos guias; e seria a teo-botânica a chave de tudo isso? Seria o caos meramente caótico, ou abrigaria a dinâmica de toda a criatividade? Que conexão existiria entre a luz física e a luz da consciência? Como transporíamos nossos limites fundamentais a fim de ingressar numa nova fase de aventura humana?" (MCKENNA, 1994.)

Atualmente na internet, tanto encontramos páginas dos grupos religiosos ligados a tradições com a Ayahuasca quanto de psiconautas e estudiosos. É bem verdade que as idéias do movimento entheógeno estão dando margem para toda sorte de exageros. Para alguns, por exemplo, o cogumelo entheogênico seria apenas o corpo físico de uma inteligência cósmica, vindo de outro planeta para colonizar a terra.

Por outro lado, é claro que os grupos tradicionais discordam destes psiconautas e tentam dialogar com as de idéias de McKenna. Alex Polari do Santo Daime, por exemplo, escreveu Seriam os Deuses Alcalóides?[5]

Mas, a verdade é que o próprio crescimento dos grupos tradicionais em progressão geométrica a nível internacional (que usam substâncias químicas através de plantas de poder - Ayahuasca, Peyote, San Pedro) se deve em grande parte ao movimento enteógeno e que este, muitas vezes, acaba influenciando e modificando bastantes aqueles - como veremos em relação a Jurema.

Reimportando identidade étnica

Para compreender esta recriação mítica da Jurema na atualidade, há dois trabalhos contemporâneos fundamentais. Em A Jurema em “Regime de Índio”: o caso Atikum (GRÜNEWALD, 1995) observa-se o contraste de alguns aspectos simbólicos desta reconstituição do uso cerimonial da Jurema em um contexto religioso contemporâneo e entre seu contexto tradicional. O texto trata de como, entre 1943 e 1945, os caboclos da Serra do Uma, descendentes de tribos indígenas desconhecidas, sabendo de que o governo brasileiro tinha como critério para concessão de terras para reservas indígenas a realização do Toré, procuraram a tribo dos Tuxá para aprender o ritual e conseguir o benefício. O que realmente acontece em 1949, quando os caboclos de Umã são elevados a categoria de índios Atikums (nome de um suposto ancestral mítico da tribo). Assim, o Toré e o uso ritual da Jurema são tradições a serem exibidas como certificados étnicos, devidamente reconhecidas pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e depois dele, a FUNAI. Grünewald observa, no entanto, que não se trata de um mero ardil para garantir a posse coletiva da terra, mas que os caboclos de Umã realmente passaram a acreditar em sua nova identidade Atikum. A Jurema deu a esses homens mais do que um pedaço de terra: uma identidade étnica une um grupo separando-o de outros, dando a ele um lugar no tempo e no espaço social.

Outro episódio, narrado de passagem neste texto, cita o trabalho desenvolvido por uma fundação holandesa, "Friends of the Forest – Ethnopharmacological agents; rituals and drug dependency treatment research". A fundação, em conjunto com universidades e autoridades públicas holandesas, aplicava tratamento gratuito para reabilitação de viciados em drogas (heroína, cocaína, álcool, etc) utilizando-se principalmente da Ayahuasca. No entanto, devido ao corte de fornecimento pela entidade que gerencia o Santo Daime, que considerou o uso terapêutico da bebida fora dos seus preceitos religiosos, “os amigos da floresta” passaram então a pesquisar e utilizar os mesmos princípios psicoativos extraídos de outras plantas similares. Nesta “ayahuasca analógica”, a Jurema Preta (Mimosa hostilis) passa a ser utilizada em combinação com sementes de Perganum harmala, um arbusto do oriente médio muito conhecido por suas características sedativas[6].

Mas não é só: os próprios pesquisadores da fundação Friends of the Forest descrevem seu contato com os índios Atikum e como introduziram o uso desta nova fórmula em alguns de seus rituais (BARBOSA, 1998:27-28). Segundo eles, os Atikum não apenas reconheceram a potencialização dos efeitos da Jurema pelo Perganum harmala, como também ficaram com sementes do arbusto para plantar no sertão. O texto insinua que houve uma assimilação cultural de técnicas de preparo científicas, importadas do exterior, pela “cultura Atikum” e que tal fato poderá ressuscitar a tradição da Jurema.[7]

O segundo texto contemporâneo fundamental para compreensão da Jurema é o artigo Pharmahuasca, anahuasca e jurema preta: farmacologia humana de DMT oral mais harmine (OTT, 2002), que investiga a hipótese de sinergia psicoativa entre o DMT e as b-carbonilas, chamado de ‘efeito Ayahuasca’ em diferentes preparos: a pharmahuasca (cápsulas de DMT e Harmine sintéticos), a anahuasca (bebidas preparadas com plantas diferentes da Ayahuasca, mas com os mesmos princípios ativos) e a Jurema preta. A hipótese de ‘efeito Ayahuasca’ (HOLMSTEDT-LINDGREN, 1967 in MOTA, 1990) é de que a psicoatividade oral do DMT depende da inibição da monoanima-oxidase (a enzina catabólica MAO), causada pela ingestão simultânea de b-carbonilas. Na Ayahuasca, o princípio simbólico feminino é constituído pela folha da Psychotria viridis (Chacrona ou Rainha), portadora de DMT; e o princípio masculino, pelo cipó Banisteriopsis caapi (Jagube ou Mariri), que contém harmina e harmalina, inibidores que geram a psicoatividade. Porém, nem a folha nem o cipó são psicoativos tomados separadamente.

No caso específico da jurema preta, que apresenta um nível de concentração de DMT muito superior ao de outras plantas e é principal fonte contemporânea de triptaminas para as farmahuascas e anahuascas, OTT investiga o chamado ‘agente propiciador’ de sua psicoatividade, referente à perda ou a falta de um ingrediente complementar ao vinho da Jurema preta, uma vez que esta não possui b-carbonilas. Descartadas (através de análises químicas) as hipóteses de que o tabaco e o suco de maracujá consumidos durantes os Torés fornecessem as harminas necessárias para psicoatividade, o pesquisador sugere a possibilidade de que “o vinho da Jurema é potencialmente visionário por si mesmo”, desde que consumido em altas dosagens (25 gramas de entrecasca, duas vezes 125 ml de água a cada vez) preparada de maneira tradicional (espremendo a raiz batida em água fria sem aditivos). Seguindo este método, o pesquisador afirma ter alcançado efeitos do tipo DMT, porém durante menos tempo.

OTT sugere ainda a possibilidade de existência de alguma outra enzima catabólica desconhecida (uma vez que não existem MAO na Jurema) ou mesmo de uma variação do próprio DMT, o DMT complexo, que, segundo ele, chegaria ao cérebro sem a necessidade de aditivos ou inibidores.

Particularmente não acredito nem na hipótese de Ott de que a Jurema, dentro de determinadas condições desconhecidas, é autopsicoativa; nem tão pouco creio que o movimento entheógeno reavive a “tradição” de identidade étnica de seus cultos. Prefiro pensar que o mistério do ingrediente complementar, possivelmente perdido com a destruição das tribos do sertão do RN, ainda pode ser descoberto através de pesquisas botânicas. Aliás, este desaparecimento do ingrediente (ou sua ocultação até os nossos dias) explica bem a decadência dos cultos. Não sabemos se realmente os Atikum levarão adiante os ensinos dos holandeses. Também não é possível saber, pelo menos através da pesquisa antropológica, se realmente existe uma tradição secreta da Jurema, que detenha o conhecimento do ingrediente inibidor. O certo é que hoje é mais fácil encontrar trabalhos espirituais com a utilização da Jurema na Europa que nas caatingas do nordeste brasileiro.

Vivemos um processo de reconstrução mítica globalizada, em que uma planta genuinamente brasileira, símbolo de parte de nossa consciência étnica, está sendo reinventada em um contexto global contemporâneo e até mesmo re-importada de volta para as classes médias culturalmente mais sofisticadas da sociedade brasileira.

REFERENCIAS

ANDRADE, J. M – Jurema: da festa à guerra, de ontem e de hoje. João Pessoa, UFPB, 1992.
BARBOSA, W. M. da S. A Jurema Ritual in Northern Brazil. From the Newsletter of the Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) - Volume 8 Number 3 Autumn 1998 - pp. 27-29.
BATISTA, M. R. R. O Uso da Jurema entre os Turká. Trabalho apresentado no 1o ERSUPP. Salvador, 1995.
CASCUDO, L. da C. Meleagro; pesquisa do catimbó e notas da magia branca no Brasil. Natal: Agir/Fundação José Augusto, 1978.
GRÜNEWALD, R. A. A Jurema e o "Regime de Índio" Atikum. Trabalho apresentado no 1o ERSUPP. Salvador, 1995.
MCKENNA, T. - Alucinações Reais. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1993.
______, Alimento dos Deuses Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1995
______, Retorno à cultura arcaica Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1996
______, (com Ralph Abraham e Rupert Sheldrake) [[']]Caos, Criatividade e o retorno do Sagrado - triálogos nas fronteiras do Ocidente[[']] São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1994
MOTA, C. N. Jurema and Ayauasca: Dreams to Live by. In: Ethnobiology: Implications and Aplications. Vol. 2. Belém, Museu Goeldi, 1990.
MOTA, C. N. & BARROS, J. F. P. de. Jurema: Black-Indigenous Drama and Representations. In: Ethnobiology: Implications and Aplications. Vol. 2. Belém, Museu Goeldi, 1990
NASCIMENTO, M. T. S. Caboclos dos Troncos Velhos: Identidade Étnica e Experiência Religiosa através do Uso da Jurema. Trabalho apresentado em versão preliminar no 1ERSUPP. Salvador, 1995.
OTT, J. Pharmahuasca, anahuasca e jurema preta: farmacologia humana de DMT oral mais harmine, in LABATE, B.C. & ARAÚJO, W. S. (org.s); O Uso Ritual da Ayahuasca. Tradução de Claudia Rosa Riolfi e Valdir Heitor Barzotto. São Paulo: Fapesp/Mercado de Letras, 2002.
PASSETTI, E. Das Fumaries ao Narcotráfico. São Paulo, EDUC, 1991.
PINTO, R. S. A Jurema como vegetal psicoativo. Ensaio apresentado em O Uso e Abuso de Drogas. Salvador, Bahia, 5-8 outubro 1995.
REESINK, E. O Segredo do Sagrado: o Toré entre os Índios do Nordeste. Trabalho apresentado no II Encontro da ANPOCS Norte-Nordeste. João Pessoa. 1995.
SANGIRARDI Jr. Jurema. In: Os Índios e as Plantas Alucinógenas. Rio de Janeiro, Editorial Alhambra. 1983.

NOTAS
[1] http://arcadauniao.org/artigo.php?idEdicao=6&idArtigo=33
[2] Etnobotânica da Jurema: Mimosa tenuiflora (Will.) Poiret (= M. hostilis Benth.) e outras espécies de Mimosáceas no Nordeste-Brasil, principalmente a hostilis, chamada Jurema Preta.
[3] Doutor em Antropologia e pesquisador do GERSULP, Strasbourg. Ming Anthony, Muséum National d´Histoire Naturelle, Paris.
[4] A Jurema como nação: http://www.geocities.com/Athens/Atlantis/5418/
[5] http://www.santodaime.org/arquivos/alex1.htm
[6] Também conhecido como Syrian Rue, essa planta é conhecida desde tempos pré-históricos do Mediterrâneo até Ásia central. Está associada à tradição dos tapetes voadores árabes e das bebidas sagradas da Antiguidade (o Soma do Rig Veda e do Haoma do Avesta da Pérsia).
[7] Indiretamente, o texto de Grünewald explica que os pesquisadores da Friend of the Forest conheceram apenas um trabalho periférico de catimbó, distante da “verdadeira tradição” do Toré. Porém, a relação entre os Atikum e os holandeses continuou, como se pode constatar em: http://yatra.yage.net/

Resumo do livro A Profecia Celestina James Redfield


1) MASSA CRÍTICA

A Primeira Visão é a visão do despertar. Contemplamos nossa vida e percebemos que existem mais coisas acontecendo do que imaginávamos. Além das nossas rotinas e desafios do dia-a-dia, podemos detectar a influência do Divino: coincidências significativas que parecem estar nos enviando mensagens e nos conduzindo a uma direção particular. No início apenas vislumbramos essas coincidências enquanto passamos rapidamente por elas, praticamente sem notá-las.

Finalmente, porém, começamos a diminuir a velocidade e examinar mais de perto esses eventos. Receptivos e alertas, somos mais capazes de detectar o evento sincronístico seguinte. As coincidências parecem fluir e refluir, algumas vezes avançando rapidamente numa rápida sucessão, outras nos deixando quietos. Contudo, sabemos que descobrimos o processo da alma que guia nossa vida para frente. As Visões remanescentes mostram como aumentar a freqüência dessa misteriosa sincronicidade e descobrir o destino final em direção ao qual estamos sendo levados.

2) O AGORA MAIS LONGO

A Segunda Visão é a consciência de que nossa percepção das misteriosas coincidências da vida é uma ocorrência histórica significativa. Depois do colapso da visão de mundo medieval, perdemos a segurança oriunda da maneira como a Igreja explicava o universo. Por conseguinte, há quinhentos anos atrás, decidimos coletivamente nos concentrarmos em dominar a natureza, em usar nossa ciência e tecnologia para nos acomodarmos no mundo. Pusemo-nos então a criar uma segurança secular destinada a substituir a certeza espiritual que perdêramos.

Para nos sentirmos mais seguros, sistematicamente afastamos e negamos os aspectos misteriosos de vida no planeta. Fabricamos a ilusão de que vivíamos num universo totalmente explicável e previsível, no qual eventos acidentais não tinham nenhum significado. Para manter a ilusão, tendemos a negar qualquer indício do contrário, a restringir a pesquisa científica dos eventos paranormais, e a adotar uma atitude de absoluto ceticismo. Explorar as dimensões místicas tornou-se quase um tabu. Aos poucos, contudo, um despertar teve início. Nosso despertar não é nada menos do que nos libertarmos da preocupação secular da era moderna, e abrirmos nossa mente para uma visão nova e mais verdadeira do mundo.

3) UMA QUESTÃO DE ENERGIA

A Terceira Visão descreve nossa visão do universo como energia dinâmica. Ao contemplarmos o mundo que nos cerca, não mais podemos pensar que tudo é composto de substância material. A partir das inúmeras descobertas da física moderna e da crescente síntese com a sabedoria do oriente, estamos começando a perceber o universo como um vasto campo de energia, um mundo quântico no qual todos os fenômenos estão interligados e respondem uns aos outros. A partir da sabedoria do pensamento oriental, sabemos que temos acesso a essa energia universal. Podemos projetá-la para fora com nossos pensamentos e intenções, influenciando nossa realidade e a realidade dos outros.

4) A LUTA PELO PODER

A Quarta Visão é a consciência de que os seres humanos com freqüência rompem sua ligação interior com essa energia mística. Em decorrência disso, temos tido a tendência de nos sentirmos fracos e inseguros, e com freqüência procuramos nos reerguer sugando a energia de outros seres humanos. Fazemos isso tentando manipular ou dominar a atenção dos outros. Quando conseguimos conquistar à força a atenção de uma pessoa, somos impulsionados pela energia dela, o que nos torna mais fortes mas enfraquece a outra pessoa. Com freqüência os outros se rebelam contra essa usurpação da sua força, gerando uma luta pelo poder. Todos os conflitos do mundo têm origem nessa luta pela energia humana."

5) A MENSAGEM DOS MÍSTICOS

A Quinta Visão é a experiência da ligação interior com a energia divina. Ao explorar e seguir nossa divindade interior, podemos estabelecer um contato pessoal com um tipo de experiência chamada mística. Em nossa busca deste estado alterado, distinguimos entre a descrição intelectual desta consciência e a consciência em si. Sob este aspecto, aplicamos certas medidas experimentais que indicam que estamos em conexão com esta energia espiritual. Por exemplo, sentimos o corpo leve? Sentimos uma leveza nos pés? Experimentamos uma intensificação da percepção como cores, aromas, sabores, sons e um senso de beleza mais vívidos? Experimentamos um senso de unidade, uma total segurança? E acima de tudo, vivenciamos o estado de consciência que chamamos de amor? Não em relação a alguém ou a alguma coisa, mas como uma constante sensação que sustenta nossa vida. Não queremos mais apenas falar a respeito da consciência mística.

Temos a coragem de pôr em prática essas medidas para realmente buscar esta união com o divino. É esta conexão com a energia total que resolve todos os conflitos. Não mais precisamos da energia dos outros.

6) ESCLARECENDO O PASSADO

Quanto mais permanecemos ligados, mais tomamos consciência dos momentos em que perdemos a ligação, geralmente quando estamos sob tensão. Nestes momentos, podemos perceber nossa maneira particular de roubar energia dos outros. Tão logo nos tornamos conscientes das nossas manipulações, nossa ligação torna-se mais constante e podemos então descobrir nosso caminho de crescimento na vida, bem como nossa missão espiritual, o modo pessoal pelo qual podemos contribuir para o mundo.

7) ENTRANDO NA CORRENTE

A Sétima Visão é a conscientização de que as coincidências têm nos conduzido o tempo todo à realização da nossa missão e à busca da nossa questão vital básica. Dia a dia, contudo, nosso crescimento se dá através do entendimento e do acompanhamento das questões menos importantes que se originam nas nossas metas mais amplas. Tão logo formulamos corretamente às perguntas, as respostas sempre aparecem através de misteriosas oportunidades. Cada sincronicidade, por mais que conduza ao crescimento, sempre nos deixa com uma outra questão fundamental, de modo que nossa vida avança através de um processo de pergunta, resposta, uma nova pergunta, à medida que evoluímos ao longo do nosso caminho espiritual.

As respostas sincronísticas são oriundas de muitas fontes: dos sonhos, devaneios, pensamentos intuitivos, e, com maior freqüência, de outras pessoas que se sentem inspiradas a nos trazer uma mensagem.

8) A ÉTICA INTERPESSOAL

A Oitava Visão é a consciência de que a maior parte das sincronicidades têm lugar através das mensagens que nos são trazidas por outras pessoas e que uma nova ética espiritual em relação aos outros estimula essa sincronicidade. Se não competirmos energeticamente com as outras pessoas, e permanecermos ligados a energia mística interior, podemos elevar a vibração dos outros coma nossa energia, focalizando a beleza em cada rosto, enxergando o gênio superior de cada indivíduo com quem entramos em contato. A energia que transmitimos ao eu superior conduz a outra pessoa a uma consciência mais plena de quem ela é e do que está fazendo, aumentando a possibilidade de que uma mensagem sincronística possa ser comunicada. Elevar as vibrações dos outros é especialmente importantes quando interagirmos com um grupo, uma vez que toda a energia do grupo penetra naqueles que se vejam intuitivamente estimulados a falar.

Também é importante usar esta ética ao cuidarmos das crianças e interagirmos com elas. Para elevar as vibrações das crianças, precisamos nos dirigir a sabedoria do seu eu e tratá-las com integridade. Precisamos tomar cuidado nos relacionamentos românticos para que a ligação eufórica do amor não substitua nossa ligação com a energia mística interior. Esta euforia amorosa sempre degenera numa luta pelo poder pois as duas pessoas fica viciadas uma na outra pela obtenção de energia.

9) A CULTURA EMERGENTE

A Nona Visão é a consciência de como a evolução se dará se vivermos as outras oito visões. À medida que a sincronicidade aumenta, somos elevados a níveis cada vez mais altos de vibração de energia. Alem disso, à medida que formos conduzindo à nossa verdadeira missão, mudaremos de profissão, vocação ou criaremos nosso próprio negócio para podermos trabalhar no campo que mais nos inspirar. Para muitos, este trabalho será automatizar a produção de bens e serviços básicos: alimentos (além de produzirmos a nível individual), abrigo, vestuário, meio de transporte, acesso aos meios de comunicação e recreação. Esta automação será sancionada porque a maioria de nós não mais concentrará na indústria nossa vida de trabalho. Não haverá abuso no acesso desses bens porque todos estaremos sincronisticamente seguindo nosso caminho de crescimento e consumiremos apenas o necessário.

A prática do dízimo, de dar aos outros o que nos proporcionam insight espiritual, suplementará a renda e nos libertará de cenários rígidos de trabalho. Finalmente, a necessidade de uma moeda corrente desaparecerá totalmente quando fontes gratuitas de energia e bens duráveis permitirem que a automação seja total. À medida que a evolução prosseguir, o crescimento sincronístico elevará nossas vibrações ao ponto em que penetraremos dimensão da vida após a morte, fundindo essa dimensão com a nossa e encerrando o ciclo de nascimento / morte.

A Profecia Celestina (parte I de IV)

A primeira visão ocorre quando levamos a sério as coincidências. Elas nos fazem sentir que existe mais alguma coisa espiritual atuando por baixo de tudo que fazemos. A segunda visão institui nossa consciência como uma coisa real. É a interpretação mais correta da história recente. Ela esclarece mais toda esta transformação. "Os alquimistas afirmam que o universo conspira a nosso favor". O primeiro passo é vislumbrar o que acontece conosco, as experiências. Quando ela termina, somos deixados insatisfeitos e inquietos. Esta busca inquieta é o que está por trás do "primeiro eu". Quando dois parceiros de um relacionamento são exigentes demais, quando cada uma espera que o outro viva no seu mundo, inevitavelmente surge uma guerra de egos, UMA BATALHA PELO CONTROLE.

Nessa inquietação e busca, o problema é temporário e deixará de existir. Estamos finalmente tomando consciência do que buscamos de fato, aí teremos alcançado a primeira visão. Quando as coincidências ocorrem, nos parecem superar o que se poderia esperar do puro acaso. Parecem destinadas, como se nossas vidas tivessem sido guiadas por uma força inexplicável. A experiência causa uma sensação de mistério e excitação e, em conseqüência nos sentimos mais vivos. A percepção de ocorrências misteriosas vai levar a uma transformação cultural por causa do grande número de indivíduos que terão estas coincidências ao mesmo tempo.

Toda a cultura começará a levá-las a sério. A história não é só evolução tecnológica, é a evolução dos pensamentos. Compreendendo a realidade das pessoas que nos precederam, podendo ver porque vemos o mundo como vemos, e qual é a nossa contribuição para que ele continue. A segunda visão põe nossa consciência atual numa perspectiva histórica mais ampla. Quando a década de 90 terminar, estaremos chegando ao fim não apenas do século 20, mas também de um período de mil anos de história. Estaremos completando todo o segundo milênio.

Seremos capazes de ver todo este período histórico como um todo, e identificaremos uma determinada preocupação que surgiu durante a última metade deste milênio que chamamos de Idade Moderna. Nossa consciência das coincidências significa hoje uma espécie de despertar dessa preocupação. Descobrimos que a vida é passar numa prova espiritual: conquistar ou perder a salvação. A segunda visão faz nossa consciência parecer inevitável. Estamos atingindo um clímax em nosso objetivo cultural. Quando começamos a ficar alerta e ligados na energia, estas visões acontecem. Se conseguimos nos ligar e acumular bastante energia, as coincidências passam a ocorrer conscientemente. Esta visão descreve-se como exploradores seriam enviados ao mundo, usando o método científico para descobrir o sentido da vida humana neste planeta. Mas eles não voltam imediatamente.

As visões restantes representam a volta das respostas afinal. Mas não vêm apenas da ciência institucional. As descobertas da física, da psicologia, misticismo e religião estão se juntando numa síntese baseada na PERCEPÇÃO DAS COINCIDÊNCIAS.

Tudo o que ocorre na natureza é através de uma lei natural, pois todo acontecimento tem uma causa direta, física e compreensível. Precisava-se de uma compreensão do universo que fizesse o mundo parecer seguro e controlável, e a atitude cética nos manteve concentrados em problemas concretos que fizessem a nossa existência parecer mais segura. Einstein mostrou que o que percebemos como matéria sólida é em sua maior parte espaço vazio percorrido por um padrão de energia. Isso inclui a nós mesmos.

O material básico do universo parece uma espécie de energia pura e maleável à intenção e expectativa humanas, de uma maneira que desafia nosso antigo modelo mecanicista do universo, como se nossa expectativa fizesse nossa energia fluir para o mundo e afetar outros sistemas de energia. A terceira visão traz uma compreensão modificada do universo físico. "Lá pelo fim do milênio, os seres humanos descobrirão uma nova energia que formava a base de tudo e de tudo se irradiava, incluindo nós próprios". A percepção desta energia começa com uma ampliada sensibilidade à beleza. Esta percepção é um tipo de barômetro que diz a cada um de nós a que ponto estamos perto de perceber realmente a energia.

Assim que percebemos esta energia, percebemos que estamos no mesmo continuum que a beleza. O nível seguinte de percepção é ver um campo de energia pairando em torno de tudo. Em torno dos corpos há um campo de energia que muda conforme o estado de equilíbrio do corpo. As horas mais propícias para ver esta energia é no pôr e no nascer do sol. A terceira visão explica a natureza da beleza, descrevendo essa percepção através da qual seres humanos iam finalmente aprender a observar campos de energia. Assim que isso ocorresse, nossa compreensão do universo físico se transformaria rapidamente.

A quarta visão dizia que os seres humanos acabariam vendo o universo constituído de uma energia dinâmica, que pode nos sustentar e responder às nossas expectativas. Contudo, também veríamos que fomos desligados da fonte maior desta energia, que nos isolamos dela, e por isso nos sentimos fracos, inseguros e carentes. Diante desse déficit, nós, seres humanos, sempre procuramos intensificar nossa energia pessoal da única maneira que conhecemos: buscando roubá-la psicologicamente de outros, uma competição inconsciente que é a base de todo conflito no mundo.

A violência surge do impulso dos seres humanos para controlar e dominar uns aos outros. Quando um indivíduo se dirige a outra pessoa e se empenha numa discussão, ele se sente mais fraco ou mais forte, dependendo do resultado dessa discussão. Por isso nós seres humanos parecemos sempre adotar uma atitude manipuladora. Procuramos encontrar algum meio de controlar e assim, continuar por cima do combate. Esta busca de manipulação não é somente uma meta que tentamos alcançar, mas uma resposta a um estímulo psicológico que recebemos.

Quando manipulamos alguém recebemos sua energia e nos enchemos dela, e isto é o que nos motiva a agir assim. É possível passar energia conscientemente para os outros. Isso nos faz sentir fortalecidos. A maioria das pessoas não tem força para continuar dando energia. Por isso os relacionamentos acabam virando uma disputa pelo poder. As pessoas ligam suas energias e depois lutam para ver quem vai controlá-las.

A Profecia Celestina - parte II de IV

A energia flui entre as pessoas e os psicólogos buscam um motivo: dominar o outro faz o dominador se sentir poderoso e esperto, mas surge a energia vital dos que estão sendo dominados. Quando alguém domina fisicamente a gente, retira nossa capacidade de pensar, ficamos sem energia e sem clareza mental para combatê-la. É o resultado da sensação de insegurança e da necessidade de roubar energia dos outros para se sentir bem. Assim que os seres humanos compreenderem sua luta, começaremos imediatamente a transcender este conflito.

Começaremos a nos livrar da disputa por simples energia humana, pois poderemos afinal, receber a energia de outra fonte. A consciência que os seres humanos passarão, de conscientizarem-se disso, será a chave para o fim do conflito humano no mundo, pois durante ela, receberemos energia de outra fonte que acabaremos aprendendo a canalizar à vontade. A chave para abandonar esse roubo de energia é trazer inteiramente à consciência e, fazendo isso, poderemos observar nosso modo particular de dominar os outros que aprendemos na infância para chamar a atenção para conseguir que a energia venha para nós (isso é o nosso drama de controle inconsciente), drama único para manipular em busca de energia. Não devemos nos esforçar para amar. Mas deixar que o amor nos penetre. Quando apreciamos a beleza e o aspecto único das coisas, recebemos energia. Quando chegarmos a um nível onde sentimos amor, podemos então mandar a energia de volta. O papel do amor foi mal compreendido durante muito tempo. O amor não é algo que devemos fazer para ser bons ou tornar ou tornar o mundo um lugar melhor, por alguma abstrata responsabilidade moral, ou porque devemos desistir do nosso hedonismo.

Se ligar na energia provoca emoção, depois euforia, depois amor. Encontrar bastante energia para conservar este estado de amor, sem dúvida, faz bem ao mundo, porém, mais diretamente a nós. A quinta visão é a revelação de outra fonte de energia de onde podemos tirar tudo o que necessitamos: O UNIVERSO. Este acúmulo de energia faz com que as coincidências ocorram. O crescimento acontece quando nos enchemos de energia conscientemente e, assim, aumentamos nosso nível vibratório. O distanciamento impossibilita que as coincidências aconteçam. A maneira de controlar pessoas e situações para trazer energia para si, é criar na cabeça um drama no qual você parece misteriosamente cheio de segredos se isolando.

Diz a si mesmo que está sendo cauteloso, mas na verdade está esperando que alguém se atraia para este drama. Quando alguém faz isto, você se sente obrigado a lutar e cavar para discernir seus verdadeiros sentimentos. Quando a pessoa faz isto, dedica toda a energia em você e lhe transmite energia. Quanto mais consegue mantê-la interessada e confusa, mais energia você recebe. Quando age com este distanciamento, você evolui muito pouco, você tenta ocultar o que de fato pensa. O primeiro passo do processo de esclarecimento para cada um de nós é trazer o nosso drama de controle pessoal à plena consciência. Devemos descobrir o que estamos fazendo para manipular em busca de energia. Cada um tem de voltar ao próprio passado, ao centro da vida familiar inicial, e observar como se formou esse hábito. A maior parte dos membros da nossa família tinha um drama próprio, tentando extrair energia de nós quando crianças, por isso é que tivemos de criar uma forma de drama de controle para recuperar nossa energia. É sempre na relação com os membros da família que criamos nossos dramas de controle. Assim que reconhecemos as dinâmicas de energia familiares, podemos nos distanciar das estratégias de controle e ver o que está acontecendo. Temos de reinterpretar a experiência familiar de um ponto de vista evolutivo, espiritual, e descobrir quem é ela própria na realidade. Assim, nossos dramas de controle desaparecem e nossas vidas decolam.

Existem vários tipos de dramas de controle. A ordem deles é a seguinte: Intimidador, Interrogador, Distante e Coitadinho de mim. O interrogador faz perguntas e procura sondar a fim de descobrir algo errado para criticar. Se esta estratégia der certo, a pessoa criticada é atraída para o drama, se vê intimidada pelo interrogador. A deferência psíquica dá ao interrogador a energia que ele precisa. Ele nos tira do nosso caminho e drena nossa energia porque nós nos julgamos pelo que pode estar pensando. Todos manipulam em busca de energia, ou de uma maneira agressiva ou de uma maneira passiva, com simpatia e curiosidade para chamar a atenção. O intimidador faz ameaças forçando o ameaçado a prestar atenção nele e passar-lhe energia. O coitadinho de mim faz-se de vítima e busca energia tentando comover o outro.

A idéia é a de que não estamos fazendo nada para ajudá-la e então nos sentimos culpados por estar perto dela. As pessoas distantes criam interrogadores, os interrogadores tornam as pessoas distantes e os intimidadores criam a técnica coitadinho de mim ou outro intimidador.

Sempre há uma tendência a ver estes dramas nos outros. O primeiro passo para libertar-nos destes dramas é descobrir porque nascemos naquela família, por que moramos naquela rua, o que nossos pais nos ensinaram. Não somos apenas criação física de nossos pais. Somos também criação espiritual.

Nascemos de duas pessoas e a vida delas teve um efeito irrevogável sobre quem somos. Para descobrir quem somos temos de admitir que o nosso verdadeiro eu começou numa posição entre as verdades delas. Por isso, nascemos para defender uma perspectiva mais alta sobre o que elas defendiam. Seu caminho é descobrir uma verdade que seja uma síntese mais desenvolvida do que estas pessoas acreditavam. O passo seguinte é analisar todas as coisas que aconteceram conosco desde o nascimento. A vida é alcançar uma revelação interna, uma consciência superior, caracterizada pela paz de espírito e o desprendimento das coisas do mundo. O pensamento oriental o ocidental podem ser interligados numa verdade superior. Mostram que o Ocidente está certo em sustentar que a vida é progresso, evolução. O Oriente enfatiza que temos de abandonar o controle com o ego, temos de alcançar uma consciência mais plena, uma ligação mais íntima com Deus.

Cada um de nós tem de observar os pontos importantes em nossa vida e reinterpretá-los à luz de nossa questão evolucionária. O sentido da vida está ligado ao problema de transcender o nosso condicionamento passado e levar nossas vidas à frente. O que devemos fazer é nos ligar em energia suficiente para abandonar o intenso drama de controle, e seguir adiante no que revela ser um processo espiritual, que buscamos a vida inteira. Quando encontrarmos a visão de nossa vida, teremos encontrado uma clara consciência de nosso caminho espiritual. Temos de passar o tempo que for tentando parar nosso drama de controle, aí poderemos encontrar o significado superior de motivo de termos nascido com nossos pais. Todos temos um propósito espiritual, uma missão. Esclarecer o passado é um processo preciso para tomarmos consciência de nossas maneiras individuais de controle aprendidas na infância. E assim que pudermos transcender esse hábito, descobriremos nossos eus superiores, nossas entidades evolucionárias.

A Profecia Celestina - parte III de IV

Os seres humanos nascem em suas situações históricas e descobrem alguma coisa para acreditar. Eles formam uma união com outro ser humano que também descobriu um propósito. Os filhos nascidos desta união reconciliam então estas duas posições, buscando uma síntese mais elevada, orientado pelas coincidências. Quando nos enchemos de energia, ocorre uma coincidência que nos faz progredir em nossas vidas. Nossos filhos adquirem nosso nível de vibração e o elevam ainda mais alto. Esta é a maneira como nós humanos continuamos a evolução. E, para acelerar este processo de evolução devemos agir conscientemente. Assim que isto acontece, que tomamos consciência das questões ativas no momento, temos algum tipo de intuição sobre o que fazer. O problema na vida não está em receber respostas, está em identificar as questões presentes. Assim que formularmos as perguntas certas, as respostas virão. A sétima visão trata do processo de se desenvolver coincidentemente, estar alerta para qualquer coincidência, para toda resposta que o universo nos dá. Fala como os objetos saltam para nós e como certos pensamentos surgem como um guia. Fala também de sonhos e compra estes com a história de nossa vida. Os sonhos vem nos dizer alguma coisa sobre nossa vida que nos faz falta. Esta visão diz que, não só os sonhos nos orientam, como nossos pensamentos e devaneios. Nos mostram uma cena, um fato, e isto significa que eles podem acontecer. Se estivermos atentos, estaremos prontos para esta virada em nossa vida. Temos pensamentos que nos dizem algo. Para reconhecê-los, temos de nos colocar numa posição de observador. Quando nos vem um pensamento devemos nos perguntar o por quê deste pensamento vir agora. Qual a relação dele com as questões de nossa vida. A adoção desta posição de observador ajuda a nos livrar da necessidade de controlar tudo. Nos põe na corrente evolutiva. As imagens de medo devem ser detidas assim que aparecem. Então outra imagem, de bom resultado, deve ser imposta pela vontade do pensamento. Em breve as negativas não acontecerão mais. Nossas intuições serão sobre coisas positivas.

Quando as negativas chegarem devem ser tratadas com seriedade e não serem seguidas. Nosso corpo vibra num determinado nível. Se deixamos nossa energia baixar demais, o corpo sofre. Esta é a relação entre estresse e doença. É pelo amor que mantemos nossa vibração alta, ela nos mantém saudáveis. Para captar a sétima visão devemos atrair todas as visões num único modo de ser. Devemos ver o mundo como um lugar misterioso do qual, temos tudo o que precisamos, se nos esclarecermos e encontrar o caminho.

Devemos ficar atentos para qualquer pensamento ou sonho, a intuição para podermos evoluir. Devemos acumular energia e nos concentrarmos em nossas situações, nas perguntas que temos, e então receberemos alguma forma de orientação intuitiva, uma idéia de onde ir e o que fazer, e então as coincidências ocorrem para permitir que sigamos nossa direção. Toda vez que estas coincidências nos levam a alguma coisa nova, crescemos, nos tornamos mais plenos, existindo uma vibração interior. Todas as respostas que nos chegam misteriosamente, na verdade, vêm de outras pessoas. A sétima visão acontece quando vemos nossas perguntas enquanto elas surgem. Ela intensifica a experiência do dia-a-dia. Todo o acontecimento tem uma mensagem que diz respeito às nossas perguntas. O desafio é encontrar o lado bom de cada acontecimento. A oitava visão fala de como devemos tratar as outras pessoas para que as mensagens sejam partilhadas. Ela adverte contra a interrupção do nosso crescimento. Isso ocorre quando nos viciamos em outra pessoa.

Ela explica como podemos ajudar os outros enquanto eles nos trazem as respostas que buscamos. Descreve uma nova ética para governar a maneira de os humanos tratarem uns aos outros. Para que não aconteça um vício, ela ensina como devemos projetar energia uns nos outros. É um uso da energia de um modo diferente. À princípio com as crianças, que, para aprender a evoluir precisam da nossa energia numa base constante. Por isso é preciso dar muita atenção a elas. A idéia de vício explica a luta pelo poder na maioria dos relacionamentos. É o que fazem a felicidade e a euforia do amor acabarem, se transformando em conflito. Quando se apaixonam, dois indivíduos estão dando energia um ao outro inconscientemente, e se sentem flutuantes e eufóricos.

Infelizmente, como eles esperam que os sentimentos venham do outro, se desligam da energia universal e começam cada vez mais a contar com a energia da outra pessoa, só que agora parece não haver energia bastante. Então deixam de dar energia um ao outro e recaem em seus dramas, numa tentativa de controlar e puxar a energia do outro para si. Então o relacionamento se degenera na luta pelo poder habitual. Se nos ligarmos a uma fonte de energia humana, bloquearemos o fornecimento espiritual. Segundo a oitava visão, quando começamos a evoluir pela primeira vez, passamos automaticamente a receber nossa energia sexual oposta.

Vem naturalmente da energia universal. Mas temos de ter cuidado, pois se alguém nos fornece esta energia, podemos nos desligar da fonte universal e regredir. Neste momento somos metade, semelhante a letra C e a outra pessoa também. Assim, completando o círculo nos sentimos eufóricos e ao mesmo tempo dependentes. Ai os problemas começam a surgir. Primeiro temos de fechar o círculo por nós mesmos.

Temos de estabilizar nosso canal com o universo para encontrarmos um relacionamento mais elevado. É preciso projetar conscientemente energia nos outros. A maneira como abordamos outras pessoas, determina a rapidez com que evoluímos e a rapidez com que nossas perguntas sobre a vida são respondidas. Encontros casuais não existem. Quando alguém cruza nosso caminho, tem uma mensagem para nós. Temos de compreender o que elas nos trazem. Assim que os seres humanos captarem esta realidade, nossa interação será mais rápida e se tornará mais objetiva e deliberada. Para obter energia devemos apreciar um objeto até que ele penetre em nós para sentirmos amor. Então poderemos mandar energia de volta. O primeiro passo é manter nosso fluxo de energia alto para depois podermos iniciar o fluxo de energia que vem para nós mesmos e da outra pessoa.

Quanto mais apreciarmos sua beleza, mais energia penetra nela e flui para nós. Isto é diferente da co-dependência. Ela se inicia assim, mas logo se torna controladora porque o vício nos isola da fonte e a energia se esgota. A verdadeira projeção de energia não tem ligações nem interações pessoais. O manuscrito diz que se não aceitamos o drama de controle do outro, ele se anula. Uma pessoa não pode representar um drama de controle conosco a não ser que o aceitamos. Para ser encenado, todo drama precisa de um drama igual. O que um intimidador precisa para conseguir energia é de um coitadinho de mim ou de outro intimidador. Todos os dramas são estratégias secretas para conseguir energia. Quando trazemos à consciência, as manipulações secretas não sobrevivem. A verdade maior sobre o que é dito numa conversa sempre prevalece, depois disso, a pessoa tende a ser mais verdadeira e honesta. Devemos mandar muita energia a ela, afim de que ela consiga senti-la. Ai será mais fácil para que ela abandone sua forma de manipular para obtê-la. O universo é energia. Energia que responde as nossas expectativas. As pessoas também fazem parte desse universo de energia, portanto, quando temos uma pergunta, as pessoas são quem nos trazem as respostas.

Todo mundo que cruza nosso caminho tem uma mensagem para nós e estão aqui por algum motivo. O manuscrito diz que vamos aprender que de repente o contato espontâneo do olhar é um sinal para que duas pessoas conversem. O senso de reconhecimento pode ser visto quando vemos alguém que nos parece conhecido, mesmo que nunca o tenhamos visto antes. Somos membros do mesmo grupo mental que certas pessoas, os quais, reconhecemos intuitivamente.

Quando a gente observa uma pessoa num nível mais profundo, pode ver o eu mais honesto por trás de qualquer fachada que ele tente exibir. Ai podemos perceber o que ela está pensando com uma expressão mais sutil no rosto. E, se ficarmos atento com quem conversamos, conseguiremos as respostas que desejamos.

A Profecia Celestina (parte IV de IV)

Descobrir a oitava visão é aprender a interagir conscientemente em grupo. Quando os membros deste conversam, só um terá a idéia mais forte num determinado momento. Se estivermos atentos, os outro do grupo sentirão quem vai falar e aí concentram sua energia nesta pessoa, ajudando-a a externar seu pensamento com clareza. Se nos concentrarmos, saberemos a nossa vez de falar. A chave para isto é projetar energia quando o outro está falando. Para aproveitar as mensagens, cada um deve ter a sua vez de falar.

Não devemos nos conter e nem tentar monopolizar o grupo. Quando intensificamos a energia e a vibração de cada membro, o campo de energia individual se funde com o do outro e cria um reservatório de energia. A nona visão explica como a cultura humana vai mudar no próximo milênio, em conseqüência da evolução consciente. Descreve um modo de vida diferente.

Nós humanos reduziremos voluntariamente nossa população, para que todos possam viver em lugares mais poderosos e belos na terra. Em meadas do próximo milênio, iremos viver em meio a árvores de milênios e jardins zelados. Os meios de alimentação estarão à disposição de todos. Orientados por intuições, todos saberão o que fazer e quando fazer. Ninguém consumirá em excesso, pois teremos abandonado a idéia de posse e domínio para ter segurança. Nosso senso de propósito se satisfará com a emoção de nossa própria evolução. A nona visão descreve um mundo onde todos estão mais alertas e atentos no próximo encontro significativo a surgir. O encontro com outras pessoas alterará o nível de vibração de cada um. A cultura global transformará a humanidade de um modo muito previsível. Primeiro, a humanidade experimentará um período de introspecção intensa. Compreenderemos como o mundo é na verdade belo e espiritual. Veremos árvores, rios, montanhas, como templos de grande força a serem preservados com admiração. Com as intuições, as pessoas descobrirão caminhos errados que tomaram, como a profissão que escolheram. Procuraremos reduzir as horas de trabalho para dispor de mais um tempo livre para buscar nossa própria verdade.

O manuscrito diz que à medida que descobrimos mais coisas sobre a dinâmica da energia do universo, veremos o que acontece quando damos algo a alguém. Quando damos, recebemos em troca, pela forma como a forma que a energia interage no universo. Nossas doações devem ir para as pessoas que nos deram verdade espiritual. O pagamento aos outros pelas suas visões, iniciará a transformação.

As florestas antigas serão mais a regra do que a exceção e todos os seres humanos viverão em proximidade com esta força. Quanto mais rápido a energia flui dentro de nós, mais misteriosamente o universo responde, trazendo pessoas as nossas vidas para responder as nossas perguntas. Toda vez que seguimos nossa intuição e um encontro misterioso nos faz progredir, aumenta nossa vibração pessoal. O manuscrito descreve o progresso de gerações sucessivas como uma evolução da compreensão, uma evolução rumo à espiritualidade e vibração superiores.

Cada geração incorpora mais energia e acumula mais verdade, passando depois adiante este estado às pessoas da geração seguinte, o que estende mais além. Num determinado ponto da história, um indivíduo iria compreender o modoexato de ligar-se com a fonte de energia e orientações divinas. Esse indivíduo iria determinar um caminho que toda raça humana estava destinada a seguir. A nona visão revela nosso destino final. Torna tudo cristalinamente claro. Nós, seres humanos, somos o ponto culminante de toda a evolução. Ela fala do começo da matéria numa forma fraca e aumentando sua complexidade, sempre evoluindo para um estado de vibração superior.

Quando surgiram os seres humanos primitivos, iniciamos essa evolução inconsciente, conquistando outros e ganhando energia, e avançando um pouco, depois sendo nós mesmos conquistados por outros e perdendo nossa energia. Esse conflito físico continuou até inventarmos a democracia. Agora estamos trazendo todo esse processo à consciência. Nosso destino é continuar a aumentar nosso nível de energia. E à medida que aumenta este nível, aumenta também o nível de vibração nos átomo do nosso corpo.

Ficamos mais leves,mais puramente espirituais. À medida que nós, seres humanos, aumentarmos nossa vibração, grupos inteiros de pessoas vão se tornar de repente, invisíveis para aqueles que ainda vibram num nível menor. Quando isso acontecer, cruzaremos a barreira entre a vida e o outro mundo do qual viemos e para o qual vamos depois da morte.

Essa travessia consciente é o caminho mostrado por Cristo. Ele se abriu para a energia até ficar tão leve que pôde andar sobre a água. Transcendeu a morte aqui mesmo na terra e foi o primeiro a fazer a travessia, a expandir o mundo físico e espiritual. Nos ligamos à mesma fonte, poderemos seguir o mesmo caminho, passo a passo. Em algum momento, todos vibrarão o bastante para entrar no céu, em mesma forma. A maioria das pessoas a conseguir atingir este nível será durante o terceiro milênio e em grupos constituídos por pessoas com quem estão intimamente ligados. Os maias já fizeram esta travessia juntos. O medo reduz enormemente a nossa vibração. A nona visão diz que embora alguns indivíduos possam passar para o outro lado esporadicamente, não haverá um arrebatamento geral enquanto não tenhamos eliminado o medo e conservado uma vibração suficiente em todas as situações. O papel desta visão é ajudar a adquirir confiança. Ela é a revelação do saber para onde estamos indo. Todas as outras criam uma imagem do mundo como beleza e energia incríveis, e de nós mesmos estreitando nossa ligação com ela e com a visão desta beleza. Quanto mais beleza vemos, mais evoluímos. Quanto mais evoluímos, mais alto vibramos. A nona visão revela que nossa percepção e vibração aumentadas nos abrirão um céu que já está diante de nós e apenas não podemos vê-lo. Sempre que duvidamos de nosso próprio caminho, ou perdemos a visão do processo, temos de nos lembrar para onde estamos evoluindo, o que significa todo o processo de viver. Alcançar o céu e a terra é a razão de estarmos aqui. E agora sabemos como se pode fazer isto... Como será feito. Ligar-se à energia é algo que os seres humanos têm de ficar alertas, discutir e esperar, do contrário, toda a raça humana pode voltar a fingir que o sentido da vida é exercer poder sobre os outros e explorar o planeta. Se voltarmos a fazer isso, não sobreviveremos. Cada um de nós deve fazer o que puder para transmitir esta mensagem.

http://podefalar.com.br/resumo-do-livro-a-profecia-celestina

Jogos de competição pela energia (James Redfield)


O UNIVERSO QUE NOS RESPONDE

Nas últimas décadas, os pesquisadores da psicologia começaram a estudar seriamente o efeito das nossas intenções no universo físico. Algumas das primeiras descobertas ocorreram na área de biofeedback. Através de centenas de estudos, mostrou-se que podemos influenciar muitas das funções do nosso corpo que, anteriormente, julgava-se serem totalmente controladas pelo sistema nervoso autônomo, inclusive o ritmo cardíaco, a pressão arterial, o sistema imunológico e as ondas cerebrais. Quase todos os processos que podemos monitorar mostraram alguma sensibilidade à nossa vontade.

Pesquisas recentes, no entanto, têm mostrado que nossa ligação e influência vão bem mais longe: as nossas intenções podem afetar também o corpo de outras pessoas, sua mente e a forma dos acontecimentos no mundo. A nova física mostrou que estamos ligados de um modo que transcende os limites de tempo e espaço. O teorema de Bell parece aplicar-se, tanto quanto à operação das partículas elementares, também aos nossos pensamentos.

Ninguém contribuiu mais para a popularização dessa nova compreensão do que o dr. Larry Dossey, que escreveu uma série de três livros enfocando os poderes da intenção e da oração. Estudando pesquisas antigas e atuais de fontes que vão desde F. W. H. Myers até Lawrence LeShan, desde J. B. Rhine até o Laboratório de Pesquisa de Engenharia de Anomalias de Princeton, Dossey apresentou um instigante de evidências de que podemos atravessar o espaço, e às vezes o tempo, para afetar o mundo.

Numa pesquisa em particular citada em seu livro Recovering the Soul, Dossey descreve um grupo de pesquisados reunidos para testar sua capacidade de receber informações através de grandes distâncias. Outros pesquisados, a centenas de quilômetros, não apenas conseguiram acertar muito mais vezes do que seria de se esperar o nome de uma carta tirada por alguém a centenas de quilômetros, como também era freqüente receberem essa informação antes mesmo que a carta fosse escolhida.

Em outras experiências para testar essa capacidade, os pesquisados conseguiram distinguir um grupo de algarismos produzido por um gerador de números ao acaso, antes mesmo que os números fossem sorteados. As implicações dessas e de outras experiências similares são de extrema importância, pois fornecem evidências de certas habilidades que muitos de nós experimentam repetidamente. Não apenas estamos ligados uns aos outros telepaticamente, como também temos a capacidade da premonição: aparentemente conseguimos apreender imagens ou sugestões de acontecimentos iminentes, especialmente se eles afetam a nossa vida e o nosso crescimento.

No entanto, a nossa capacidade tem alcance ainda maior: com a nossa mente podemos não apenas receber informações sobre o mundo, como também afetar o mundo. Dossey cita uma pesquisa, hoje bastante conhecida, que foi levada a cabo pelo dr. Randolph Byrd no Hospital Geral de San Francisco. Nessa experiência, uma equipe de voluntários rezou por um grupo de pacientes cardíacos, ao passo que um grupo de controle não recebeu orações em sua intenção. Dossey relata que o grupo que recebeu orações teve cinco vezes menos possibilidade de precisar de antibióticos e três vezes menos possibilidade de desenvolver fluido nos pulmões.

Além disso, nenhum dos pacientes desse grupo precisou de respiração artificial, ao passo que 12 membros do grupo de controle precisaram. Outras experiências citadas por Dossey mostraram que o poder da oração e da intenção funciona igualmente bem com as plantas (aumentando o número de sementes que germinam); com as bactérias (aumentando a taxa de crescimento); e com objetos inanimados (afetando os padrões casuais de bolas de isopor ao caírem).

Uma série de experiências mostrou uma coisa especialmente interessante: embora a nossa capacidade de afetar o mundo funcione em ambos os casos, a intenção não-instrutiva (isto é, sustentar a idéia de que o melhor deveria acontecer, sem introduzir a nossa opinião) funciona melhor do que a intenção instrutiva (sustentar a idéia de que deveria ocorrer um determinado desfecho). Isto parece indicar que existe um princípio embutido na nossa ligação com o resto do universo, que mantém o nosso ego cerceado.

As experiências citadas por Dossey sugerem também que devemos ter algum conhecimento pessoal do indivíduo por quem rezamos, e que parece funcionar melhor a intenção que flui de uma sensação de ligação com o divino, ou com o Eu superior da outra pessoa. Além disso, as experiências parecem confirmar que nossas intenções têm efeito cumulativo - em outras palavras: os pacientes por quem as orações foram feitas por mais tempo beneficiaram-se mais do que aqueles por quem as orações duraram menos tempo.

Dossey cita experiências que indicam algo muito importante: as nossas teorias costumam agir no mundo exatamente como as nossas intenções ou orações conscientes. A famosa experiência de Oak School mostrou esse fato: disseram a alguns professores que certo grupo de alunos, identificados por meio de testes, progrediria mais durante o ano letivo. Na realidade, os professores receberam uma lista de alunos escolhidos inteiramente ao acaso.

No final do ano, esses estudantes mostraram realmente uma melhora significativa não apenas no seu desempenho (o que poderia ser explicado por alguma atenção extra dada pelos professores), mas em testes de QI destinados a avaliar apenas a capacidade inata. Em outras palavras, as teorias do professor a respeito dos seus alunos modificaram o potencial de aprendizado deles.

Infelizmente esse efeito parece agir também numa direção negativa. Em seu livro recente Be Careful What You Pray For, You Just Might Get it, Dossey descreve pesquisas que mostram que as nossas teorias inconscientes podem fazer mal a outras pessoas. Um exemplo importante é quando rezamos para que alguém mude de idéia ou interrompa o que está fazendo, antes de investigarmos cuidadosamente se a nossa opinião está correta; esses pensamentos são liberados e criam dúvidas na outra pessoa. A mesma coisa acontece quando temos pensamentos negativos a respeito da aparência ou dos atos de outra pessoa; muitas vezes são opiniões que jamais expressaríamos diretamente, mas, como somos todos ligados, os pensamentos vão como punhais influenciar o conceito que a pessoa tem de si mesma, e talvez até mesmo a sua conduta.

Isso significa, é claro, que podemos também influenciar negativamente a realidade da nossa própria situação com pensamentos inconscientes. Quando pensamos negativamente sobre a nossa capacidade pessoal, a nossa aparência ou as nossas perspectivas de futuro, esses pensamentos influenciam de maneira bastante real o modo como nos sentimos e aquilo que acontece conosco.

VIVENDO A NOVA REALIDADE

Podemos, portanto, enxergar o quadro mais amplo oferecido pela nova ciência. Agora, quando nos postamos em nosso jardim ou passeamos pelo parque admirando a paisagem num belo dia de sol, devemos ver um mundo novo. Não podemos mais pensar que o universo que habitamos está se expandindo em todas as direções até o infinito; sabemos que o universo é fisicamente infinito, mas curvado de uma forma que o torna limitado e finito. Vivemos dentro de uma bolha de espaço/tempo e, como os físicos que pesquisam o hiperespaço, intuímos outras dimensões. E quando olhamos em volta, para as formas dentro deste universo, já não podemos ver matéria sólida, mas substância energética. Tudo nada mais é do que um campo de energia, de luz, todas as coisas interagindo e influenciando-se mutuamente - inclusive nós mesmos.

Na verdade, a maioria dessas descrições da nova realidade já foi confirmada pela nossa própria experiência. Todos nós temos, por exemplo, momentos em que podemos constatar que outras pessoas captaram nossos pensamentos, ou ocasiões em que sabemos o que outra pessoa sente ou está prestes a dizer. De modo semelhante, vivemos situações em que sabemos que alguma coisa está prestes a acontecer ou poderia potencialmente acontecer, e essas premonições muitas vezes são acompanhadas por pressentimentos que nos dizem aonde deveríamos ir ou aquilo que deveríamos fazer, para estarmos no lugar certo, na hora exata. O mais significativo é que sabemos que a nossa atitude e a nossa intenção a respeito das outras pessoas são extremamente importantes. Como veremos mais tarde, quando pensamos positivamente, nos elevamos e elevamos os outros, e acontecimentos incríveis começam a ter lugar.

O nosso desafio é colocar tudo isso em prática cotidianamente, integrado à nossa vida diária. Vivemos num universo inteligente, de energia dinâmica, que nos responde, no qual as expectativas e teorias das outras pessoas irradiam-se delas para nos influenciar.

O próximo passo, portanto, em nossa viagem em direção a uma vida com uma nova consciência espiritual é ver o mundo humano de energia, expectativa e drama como ele realmente é, e aprender a lidar com esse mundo de maneira mais eficaz.

SUPERANDO A DISPUTA DE PODER

A grande conquista dos psicólogos da interação foi identificar e explicar a tendência dos seres humanos a competir entre si e a dominar uns aos outros por causa de uma profunda angústia existencial. Veio do Oriente, no entanto, um esclarecimento maior sobre o processo psicológico subjacente a esse fenômeno.

Como tanto a ciência quanto o misticismo demonstram, o ser humano é, em essência, um campo de energia. No entanto, a sabedoria oriental afirma que o nosso nível normal de energia é baixo e fraco, e assim permanecerá até nos abrirmos às energias absolutas disponíveis no universo. Quando isso ocorre, o ch'i - que talvez devêssemos chamar de nosso nível de energia quântica - eleva-se o suficiente para sanar nossa angústia existencial.
Mas até então vivemos procurando extrair das outras pessoas energia adicional. Vamos começar esse estudo examinando aquilo que realmente acontece quando dois seres humanos interagem. Existe um velho provérbio místico que diz que aonde vai a atenção, para lá flui a energia. Assim, quando duas pessoas voltam a atenção uma para a outra, elas literalmente fundem seus campos energéticos, juntando as energias. Aí surge logo a questão: quem é que vai controlar essa energia acumulada? Se um dos dois consegue dominar, fazendo o outro aceitar seu ponto de vista - enxergar o mundo à sua maneira, através dos seus olhos -, então esse indivíduo capturou para si a energia de ambos. Ele sente uma imediata onda de poder, segurança, autovalorização e até mesmo euforia.

Mas esses sentimentos positivos são conseguidos às custas da outra pessoa, que, dominada, sente-se fora do centro, ansiosa e desprovida de energia - todos nós já nos sentimos assim alguma vez. Quando somos forçados a ceder a alguém que nos manipulou até nos confundir, nos tirar do equilíbrio, nos expor, de repente nos sentimos exaustos. E a tendência natural é tentar tomar de volta a energia do nosso dominador, usando em geral de qualquer meio necessário.

Esse processo de dominação psicológica pode ser observado em toda parte, e é a fonte oculta de todos os conflitos irracionais no mundo humano, em nível de indivíduos e famílias até todas as culturas e nações. Assim, olhando realisticamente para a sociedade, veremos um mundo que compete pela energia, com pessoas manipulando umas às outras de maneiras muito engenhosas (e em geral bastante inconscientes). À luz da nova compreensão do universo, podemos ver também que a maioria das manipulações usadas - a maioria dos jogos que as pessoas jogam - resulta das teorias básicas de cada um. Em outras palavras: são elas que formam o campo de intenção do indivíduo.

Quando entramos em interação com outro ser humano, precisamos ter isso tudo em mente. Cada pessoa é um campo de energia consistindo num conjunto de teorias e crenças, que se irradiam e influenciam o mundo. Isso inclui as crenças sobre aquilo que um indivíduo pensa dos outros, e como sair vitorioso na conversa. Todo mundo tem um conjunto único de teorias e estilo de interação, que chamo de "dramas de controle". Acredito que esses "dramas" seguem um continuum que vai de muito passivo a muito agressivo.

O COITADO DE MIM

O mais passivo dos dramas de controle é a estratégia da vítima, ou o que chamo de Coitado de Mim. Nesse drama, a pessoa, em vez de competir diretamente pela energia, procura ganhar atenção e deferência manipulando o sentimento de solidariedade.

Sempre podemos perceber quando entramos no campo de energia de um Coitado de Mim, porque somos imediatamente atraídos para um tipo de diálogo que nos tira do nosso centro de equilíbrio. Começamos a nos sentir culpados sem motivo algum, como se estivéssemos sendo colocados nesse papel pela outra pessoa. Ela tanto pode dizer: "Bem, ontem esperei o seu telefonema e você não telefonou", como "Tanta coisa horrível me aconteceu e você tinha desaparecido". Pode até mesmo acrescentar: "Todas as outras coisas ruins que vão me acontecer e você provavelmente não estará por perto também." Essas frases podem ser adaptadas para uma ampla gama de assuntos, dependendo do tipo de relacionamento que temos com a pessoa. Se for um colega de trabalho, o conteúdo pode se referir à sobrecarga de trabalho que ele está suportando porque você não está ajudando; se se tratar de um mero conhecido, ele pode simplesmente começar a falar sobre ávida ruim que leva. Existem dezenas de variações, mas o tom e a estratégia básica são os mesmos - sempre um apelo à solidariedade e a afirmação de que de alguma forma você é responsável. A estratégia óbvia no drama do Coitado de Mim é nos desequilibrar e ganhar a nossa energia, criando em nós um sentimento de culpa ou dúvida. Ao assumirmos essa culpa, passamos a enxergar o mundo da outra pessoa através dos olhos dela, e de imediato ela sente a onda da nossa energia acrescentada à sua, e assim passa a se sentir mais segura.

Lembre-se que esse drama é quase totalmente inconsciente. Ele nasce de uma visão pessoal do mundo e de uma estratégia para controlar os outros adotadas no início da infância. Para o Coitado de Mim, o mundo é um lugar onde não se pode contar com as pessoas para satisfazer suas necessidades de nutrição e bem-estar, e um lugar assustador demais para arriscar-se a perseguir essas necessidades direta ou positivamente.

No mundo do Coitado de Mim, a única maneira de agir razoável é pedir simpatia através da culpa e de rejeições denunciadas. Infelizmente, por causa do efeito que essas crenças e intenções inconscientes têm sobre o mundo, muitas vezes o mesmo tipo de pessoas que o Coitado de Mim teme são exatamente aquelas que ele permite que entrem em sua vida. E os acontecimentos muitas vezes são traumatizantes. A resposta do universo é produzir exatamente o tipo de mundo que a pessoa espera, e desse modo o drama é um círculo vicioso e sempre acaba se justificando. Embora não se dê conta disso, o Coitado de Mim está preso numa armadilha sem saída.

LIDANDO COMO COITADO DE MIM

Ao lidar com o Coitado de Mim, é importante nos lembrarmos de que o propósito do drama é adquirir energia. Temos que começar com a disposição de conscientemente doar energia ao Coitado de Mim enquanto conversamos com ele; esta é a maneira mais rápida de interromper o drama. Em seguida, devemos avaliar se a culpa é justificada ou não. Certamente haverá em nossa vida muitas ocasiões em que devemos nos preocupar por termos decepcionado alguém, ou nos solidarizar com uma pessoa em situação difícil.

Mas essa necessidade deve ser determinada por nós, não por outrem; só nós podemos decidir quando e até que ponto temos a responsabilidade de ajudar alguém. Uma vez que tenhamos doado energia para o Coitado de Mim e determinado que estamos presenciando um drama em ação, o próximo passo é dar nome aos bois - isto é, fazer do próprio drama de controle o objeto da conversa. Ninguém consegue sustentar um drama inconsciente se ele for alçado à consciência e colocado em discussão. Isso pode ser feito com uma afirmação como: "Sabe, neste momento estou com a impressão de que você acha que eu deveria me sentir culpado."

Aqui devemos estar preparados para proceder com coragem, porque apesar de estarmos apenas procurando lidar honestamente com a situação, a outra pessoa pode interpretar isso como rejeição. Nesse caso, a reação típica é: "É, eu sabia que você não gostava de mim." Em outros casos, a pessoa pode se sentir ofendida e zangada.

Na minha opinião, é muito importante apelar para a pessoa para que escute e dê prosseguimento ao diálogo. Mas isso só poderá dar certo se durante toda a conversa estivermos constantemente doando à pessoa a energia de que ela precisa. Acima de tudo, temos que perseverar, se desejamos melhorar a qualidade do relacionamento. Na melhor das hipóteses, a pessoa vai nos escutar quando expusermos o seu drama, e vai conseguir abrir-se para um grau maior de autoconsciência.

O DISTANTE

Um drama de controle um pouco menos passivo é o do Distante. Quando começamos uma conversa e de repente percebemos que não estamos conseguindo obter uma resposta direta, constatamos que penetramos no campo energético de alguém que está usando esta estratégia. A pessoa com quem estamos conversando se mostra distante, desligada, misteriosa em suas respostas. Se lhe perguntamos sobre o seu passado, por exemplo, a resposta é um resumo vago, tal como: "Andei viajando por aí", sem mais especificações.

Durante essa conversa, sentimos que temos que fazer uma pergunta suplementar, mesmo que se trate de um assunto bem simples. Teremos que dizer, talvez: "Viajando por onde?", e recebemos a resposta: "Por muitos lugares." Aí podemos discernir claramente a estratégia do Distante: criar constantemente em torno de si uma aura de vaguidão e mistério, forçando-nos a gastar muita energia garimpando informações que normalmente deveriam ser fornecidas de maneira casual. Quando fazemos isso, estamos intensamente concentrados no mundo da pessoa, olhando através dos olhos dela, esperando compreendê-la melhor, e assim estamos lhe dando a carga de energia que ela busca.

Temos que nos lembrar, no entanto, de que nem todo mundo que se mostra vago ou se recusa a nos dar informações sobre si mesmo está utilizando o drama do Distante; a pessoa pode simplesmente desejar permanecer anônima por um motivo qualquer. Toda pessoa tem o direito à privacidade e a revelar aos outros apenas aquilo que desejar.

Entretanto, utilizar essa estratégia de distanciamento para adquirir energia é algo muito diferente. Para o Distante, trata-se de um método de manipulação que procura nos atrair, no entanto nos mantém à distância. Se concluirmos que a pessoa simplesmente não deseja conversar conosco, por exemplo - e assim passamos a prestar atenção em outra coisa - muitas vezes o Distante voltará a interagir conosco, dizendo alguma coisa destinada a nos atrair de volta à interação, para que a energia possa continuar fluindo em sua direção. Como no caso do Coitado de Mim, essa estratégia vem de situações passadas.

Em geral o Distante não conseguia comunicar-se livremente quando criança, pelo fato de isso ser ameaçador ou perigoso. Nesse ambiente, o Distante aprendeu a ser constantemente vago ao se comunicar com os outros e, ao mesmo tempo, encontra um modo de ser ouvido, para adquirir energia dos outros. Como no caso do Coitado de Mim, a estratégia do Distante é baseada num conjunto de teorias inconscientes a respeito do mundo. O Distante acredita que o mundo está cheio de pessoas a quem não se podem confiar informações pessoais; ele julga que a informação será usada contra ele mais tarde, ou servirá de base para críticas. E, como sempre, essas teorias irradiam-se do Distante e vão influenciar os tipos de acontecimentos que advirão, cumprindo a sua intenção inconsciente.

LIDANDO COM O DISTANTE

Para lidar de maneira eficaz com alguém que esteja usando o drama do Distante, temos que nos lembrar de começar por enviar energia; enviando uma energia de amor em vez de nos tornarmos defensivos, aliviamos a pressão que faz com que a manipulação continue. Sem essa pressão, podemos começar de novo, dando nome aos bois e fazendo do drama o assunto da conversa, para trazê-lo à consciência da outra pessoa.

Como no caso anterior, podemos esperar uma entre duas reações. A primeira: o Distante pode fugir à conversa e cortar toda a comunicação. Naturalmente, isso é sempre um risco que deve ser corrido, porque dizer qualquer outra coisa seria continuar a fazer o jogo. Nesse caso, só podemos desejar que a nossa maneira direta de agir inicie um novo padrão que levará à autoconsciência. A outra reação do Distante pode ser continuar a conversa, mas negar estar usando o drama de controle do Distante. Nesse caso, como sempre, ternos que ponderar a verdade do que a pessoa está dizendo. No entanto, se tivermos certeza da nossa percepção, temos que nos manter firmes e continuar a dialogar com a pessoa. Esperamos que da conversa se estabeleça um novo padrão.

O INTERROGADOR

Um drama de controle mais agressivo, que hoje permeia toda a sociedade moderna, é o do Interrogador. Nessa estratégia de manipulação, a pessoa usa a crítica para adquirir energia dos outros.

Na presença de um Interrogador sempre temos a impressão distinta de que estamos sendo fiscalizados. Ao mesmo tempo, temos a sensação de que nos coube desempenhar o papel de uma pessoa inapta ou incapaz de cuidar da própria vida. Temos essa sensação porque o indivíduo com quem estamos interagindo nos puxou para uma realidade onde ele sente que a maioria das pessoas está cometendo erros enormes na vida, e que cabe a ele corrigir essa situação. O Interrogador pode dizer, por exemplo: "Sabe, você não se veste de maneira adequada para o seu tipo de trabalho", ou "Já percebi que você não limpa muito bem a sua casa". Com a mesma facilidade, a crítica poderia visar o nosso desempenho profissional, o modo como falamos ou uma ampla gama de características pessoais. Não faz diferença - qualquer coisa funcionará, contanto que a crítica nos desequilibre e nos deixe inseguros.

A estratégia inconsciente do Interrogador é apontar alguma coisa sobre nós que nos desequilibre, na esperança de nos convencer da verdade dessa crítica para que adotemos a sua visão do mundo. Quando isso ocorre, começamos a enxergar a situação pelos olhos do Interrogador, e assim lhe passamos energia. A intenção do Interrogador é ser o juiz da vida das outras pessoas, de modo que, logo que o diálogo tem início, os outros imediatamente aceitem sua visão do mundo, fornecendo-lhe um fluxo regular de energia.

Assim como os outros dramas, este surge de teorias projetadas. O Interrogador acredita que o mundo só será seguro ou organizado se ele estiver vigiando o comportamento e a atitude de todas as pessoas, e fazendo correções. Nesse mundo ele é o herói, o único que presta atenção e se encarrega de providenciar para que as coisas sejam feitas com cuidado e perfeição. Geralmente o Interrogador vem de uma família onde as figuras do pai e da mãe eram distantes ou não cuidavam das necessidades dele; na insegurança desse vazio energético, o Interrogador captava atenção e energia da única maneira possível: apontando erros e criticando o comportamento da família. Quando a criança cresce, carrega consigo essas teorias a respeito de como é o mundo e como são as pessoas, e essas teorias por sua vez criam esse tipo de realidade na vida do Interrogador.

LIDANDO COM O INTERROGADOR

Lidar com o Interrogador é uma questão de manter-se suficientemente centrado para lhe fazer ver como estamos nos sentindo em sua presença. Também aqui o segredo é não assumir uma postura defensiva, e enviar energia de amor, enquanto explicamos que ele nos faz sentir vigiados e criticados.

Também o Interrogador poderá ter várias reações diferentes. Primeiro, pode negar ter o hábito de criticar, mesmo diante de exemplos. Mais uma vez, precisamos considerar a possibilidade de estarmos equivocados, ouvindo críticas onde elas não existiram. Se, por outro lado, temos certeza dessa percepção, então podemos apenas expressar a nossa posição, esperando que possa surgir um diálogo verdadeiro. Outra reação que o Interrogador poderá ter é virar a mesa e nos acusar de excessivamente críticos; se isso acontecer, precisamos avaliar se essa acusação é verdadeira.

No entanto, se temos certeza de que isso não é verdade, devemos voltar a conversar sobre a sensação que experimentamos na sua presença. Uma terceira reação que o Interrogador poderá ter é questionar se as críticas são válidas e precisam ser feitas, e nos acusar de estarmos evitando olhar para os nossos próprios defeitos. Mais uma vez, temos que ponderar a verdade dessa afirmação, mas, se tivermos a certeza da nossa posição, poderemos citar vários exemplos de que as críticas do Interrogador foram desnecessárias ou feitas de maneira errada. Todos nós enfrentamos situações em que sentimos que os outros estão fazendo alguma coisa que não parece ser em seu benefício. Podemos sentir que devíamos intervir e apontar o erro; o essencial é o modo como intervimos. Acho que devemos procurar fazer afirmações neutras, tais como: "Se os meus pneus estivessem carecas assim, eu compraria novos", ou: "Quando estive nessa situação, larguei o emprego antes de arranjar outro e me arrependi".

Há maneiras de intervir que não arrancam a pessoa de seu ponto de vista, nem minam a sua confiança como faz o Interrogador, e essa diferença lhe deve ser explicada. Também aqui, pode ser que a pessoa rompa o relacionamento em vez de escutar o que estamos dizendo, mas este é um risco que temos que correr para sermos fiéis à nossa experiência.

O INTIMIDADOR

O drama de controle mais agressivo é a estratégia do Intimidador. Podemos perceber que entramos no campo energético de tal pessoa porque não apenas nos sentimos exaustos ou constrangidos; sentimo-nos ameaçados, talvez até mesmo em perigo. O mundo se torna sinistro, ameaçador, descontrolado. A pessoa que utiliza essa estratégia dirá e fará coisas que sugerem que, a qualquer momento, ela poderá explodir de raiva ou tornar-se violenta. Ela pode narrar casos em que feriu outras pessoas, ou demonstrar a extensão da sua raiva quebrando móveis ou arremessando coisas.

A estratégia da pessoa intimidadora é ganhar a nossa atenção e assim a nossa energia, criando um ambiente em que nos sentimos tão ameaçados, que lhe damos toda a nossa atenção: quando alguém nos dá a impressão de que pode perder o controle ou fazer algo perigoso, nós fazemos questão de observá-la atentamente.

Se estamos conversando com uma pessoa assim, geralmente evitamos discutir o ponto de vista dela. Naturalmente, quando olhamos nos olhos dela, tentando discernir (para a nossa própria segurança) o que ela poderá fazer, ela recebe a carga de energia de que necessita tão desesperadamente.

Esta estratégia de intimidação geralmente tem origem num passado de severa carência energética, mais comumente envolvendo relacionamentos com outros Intimidadores que são dominadores e abusados, e onde nenhuma outra estratégia para recuperar a energia iria funcionar. Não adiantaria prender as pessoas na armadilha do Coitado de Mim - ninguém se importa. Certamente tampouco vão perceber se a pessoa estiver bancando o Distante. E qualquer tentativa de ser um Interrogador é recebida com raiva e hostilidade. A única solução é suportar a falta de energia até ser suficientemente grande para que a pessoa seja, por sua vez, um Intimidador.

O mundo que o Intimidador enxerga é um mundo de violência e hostilidade; um mundo no qual cada pessoa está perdida num supremo isolamento, onde todos rejeitam e ninguém se importa - e é exatamente isso que essas teorias trazem para a vida do Intimidador.

LIDANDO COM O INTIMIDADOR

O confronto com o Intimidador é um caso à parte. Por causa do perigo, na maioria dos casos, é melhor simplesmente manter distância. Se existe um longo relacionamento com o Intimidador, em geral o melhor a fazer é colocar a situação nas mãos de um profissional. O plano de ação terapêutico, naturalmente, é bem parecido com os dos outros dramas. O sucesso com esse tipo de pessoa exige que lhe seja dada a sensação de segurança; é preciso transmitir-lhe energia de apoio e fazer com que tome consciência da realidade do seu drama. Infelizmente há muitos Intimidadores por aí que não recebem ajuda e vivem em estados alternados de medo e raiva. Muitas dessas pessoas terminam às voltas com a Justiça, e certamente é sensato mantê-las fora da sociedade. Mas um sistema que as mantém presas sem qualquer intervenção terapêutica e depois torna a libertá-las não compreende nem alcança a raiz do problema.

SUPERANDO O NOSSO DRAMA DE CONTROLE

Todos nós escutamos, ao longo da vida, queixas dos outros a respeito dos nossos padrões de comportamento. A tendência humana é ignorar ou racionalizar essas queixas para poder prosseguir com o estilo de vida escolhido. Mesmo hoje, que o conhecimento dos hábitos e roteiros autodestrutivos está se tornando uma parte maior da consciência humana, achamos muito difícil enxergar o nosso comportamento pessoal de maneira objetiva.

No caso de dramas de controle graves em que a pessoa tenha procurado ajuda profissional, as reações de crise podem desfazer anos de progresso e crescimento na terapia quando os velhos padrões, que se julgavam superados, reaparecem. Aliás, uma das mais recentes revelações entre os terapeutas profissionais é que o verdadeiro progresso exige mais do que a catarse que ocorre durante a exploração pessoal dos traumas da primeira infância.

Agora sabemos que para acabar com essas tentativas inconscientes de adquirir energia e segurança precisamos nos concentrar na base existencial – mais profunda - do problema, e enxergar além da visão intelectual para ganhar acesso a uma nova fonte de segurança, que poderá funcionar independentemente das circunstâncias externas.

Estou me referindo aqui a um tipo diferente de catarse - aquele que ao longo da História os místicos apontam, e do qual cada vez mais ouvimos falar. Sabendo o que sabemos sobre as disputas de energia na sociedade humana, o nosso desafio é nos examinarmos atentamente, para que possamos identificar o nosso conjunto particular de teorias e as intenções que constituem o nosso drama, e encontrar outra experiência que nos permita a abertura para a nossa energia interior.

A EXPERIÊNCIA MÍSTICA

A idéia da experiência mística começou sua viagem para o inconsciente coletivo da cultura ocidental no final da década de 50, principalmente como resultado da popularização das tradições orientais - hindus, budistas e taoístas - levada a cabo por escritores e pensadores como Carl Jung, Alan Watts e D. T. Suzuki. Essa disseminação continuou nas décadas seguintes com uma infinidade de obras, inclusive as de Paramahansa Yogananda, J. Krishnamurti e Ram Dass, todos eles afirmando a existência de um encontro interior místico que pode ser vivido individualmente.

Durante essas mesmas décadas, um grande público passou a interessar-se pela rica tradição espiritual esotérica que possuímos também no Ocidente. Os pensamentos de São Francisco de Assis, Meister Eckhart, Emanuel Swedenborg e Edmund Bucke mereceram atenção, porque esses pensadores, como os místicos orientais, afirmavam a existência da transformação interior. Acredito que tenhamos finalmente chegado a um ponto em que a idéia de uma experiência pessoal transcendental - chamada também de iluminação, nirvana, sartori, transcendência e consciência cósmica - alcançou um significativo nível de aceitação, tornando-se parte integral da nossa nova consciência espiritual. Como cultura, começamos a aceitar os encontros místicos como algo real e ao alcance de todos os seres humanos.