segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A estória de Bal Shem Tov


O amado Bal Shem Tov estava à morte e mandou chamar seus discípulos.

- Sempre fui o intermediário de vocês e agora, quando eu me for, vocês terão de fazer isso sozinhos. Vocês conhecem o lugar da floresta onde eu invoco a Deus? Fiquem parados naquele lugar e ajam do mesmo modo. Vocês sabem tudo isso, e Deus virá.

Depois que o Bal Shem Tov morreu, a primeira geração obedeceu exatamente às suas instruções, e Deus sempre veio. Na segunda geração, porém, as pessoas já se haviam esquecido de como se acendia a fogueira do jeito que o Bal Shem Tov lhes ensinara. Mesmo assim, elas ficavam paradas no local especial da floresta, diziam a oração, e Deus vinha.

Na terceira geração, as pessoas já não se lembravam de como acender a fogueira, nem do local na floresta. Mas diziam a oração assim mesmo, e Deus ainda vinha.

Na quarta geração, ninguém se lembrava de como se acendia a fogueira, ninguém sabia mais em que local exatamente da floresta deveriam ficar e, finalmente, não conseguiam se recordar nem da própria oração. Mas uma pessoa ainda se lembrava da história sobre tudo aquilo e a relatou em voz alta. E Deus ainda veio.

ESTES, Clarissa Pinkola. O dom da história – uma fábula sobre o que é suficiente. Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998. Pág.s 08-09

o amor suficiente


Há uma antiga estória que conta um casal muito pobre iria comemorar o Natal. O rapaz, trabalhador, incansável desejava levar algo para ceia e um presente para sua amada, mas não tinha o suficiente. A moça, por sua vez, também queria dar um presente para seu dedicado esposo, embora não tivesse como. Seu único bem era um relógio de bolso, herança de seu avô, que carregava sempre nas calças. O jovem, então, decidiu vender o relógio para comprar um panetone, cidra e um belo pente artesanal para sua esposa pentear seu longo cabelo preto. Ela, do outro lado, para comprar uma corrente para relógio do marido vendeu sua cabeleira a um peruqueiro.
Naquela noite de natal, quando descobriu que cada um havia dado o que tinha de mais valioso para si em troca de algo que não mais seria útil para o outro, o casal descobriu que o amor verdadeiro, a dádiva, era o mais importante dos presentes. E que aquilo era suficiente.

Resumo da estória contada por ESTES, Clarissa Pinkola. O dom da história – uma fábula sobre o que é suficiente. Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998. Pág.s 19-27