terça-feira, 30 de março de 2021

domingo, 21 de março de 2021

Jurupari

Ceuci era uma índia virgem que engravidou misteriosamente. Como não sabia o nome do pai de seu filho, foi forçada a tê-lo muito longe da aldeia, em terras estranhas. A índia deu ao menino o nome de Jurupari, mandado pelo sol para reformar os costumes da terra e também encontrar nela uma mulher perfeita com quem o sol pudesse casar. Já ao sair do ventre de sua mãe, falou-lhe: "Não tenha receio mãe: eu venho de Tupã, que é meu pai, com a missão de reformar os costumes dos homens. Venho trazer a lei e o segredo, que ainda não existe nas tabas: por isso foi adequado o nome que me deste, Jurupari, o Boca fechada!". 

Quando o Jurupari chegou a terra, as mulheres é que mandavam. De imediato, retirou-lhes o poder, transferindo-os para os homens, sob o argumento que o poder feminino contrariava as leis do Sol, a divindade máxima que era masculina. Jurupari também estabeleceu uma nova e rigorosa distribuição de trabalho: os homens deveriam ir à guerra, à caça e pesca e às derrubadas da mata. As mulheres deveriam dedica-se à cerâmica, tecelagem, transporte de carga, trato dos filhos e agricultura. Além disso, Jurupari obrigou as jovens da tribo a manterem a virgindade até a primeira menstruação; condenou o homossexualismo; o incesto e o adultério que eram punidos com a morte. E para que os homens aprendessem a viver sem mulheres, Jurupari instituiu grandes festas que só eles podiam tomar parte. 

Inconformada com as leis e saudosa do filho, Ceuci resolveu, certa noite, dar uma espiada no cerimonial dos homens. 

Furtivamente, então, entrou na "Casa dos Homens", mas logo foi descoberta e morta pelos guerreiros do próprio filho. 

Jurupari foi chamado às pressas para ver a mãe, mas não pode fazer mais nada, porque não podia abrir precedentes em suas leis. 

“Minha mãe morreu porque desobedeceu à lei de Tupã. A lei que eu vivo a ensinar. Não posso ressuscitá-la, mas posso recomendá-la a meu pai que vai recebê-la de braços abertos lá no céu”. E Ceuci subiu aos céus, em um arco-íris, transformou-se na estrela mais resplandecente da constelação das Sete Estrelas. 

Jurupari veio a mando do Sol para reformar os costumes dos homens e também encontrar a mulher perfeita com quem o Sol pudesse casar. Não a encontrou e jamais encontrará. 

Talvez porque nenhuma mulher aceitará plenamente suas leis, talvez por ter renegado a própria mãe em nome delas, o herói solar é prisioneiro de sua missão. Ou maldição, pois Jurupari só regressará ao céu no dia em que tiver encontrado seu amor novamente

quinta-feira, 11 de março de 2021

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 A LEI UNIVERSAL

A ética da reciprocidade, também chamada de regra de ouro ou regra áurea, é um princípio moral que pode ser expressa como uma injunção positiva ou negativa:

Cada um deve tratar os outros como gostaria que ele próprio fosse tratado (forma positiva ou diretiva).

Cada um não deve tratar os outros da forma que não gostaria que ele próprio fosse tratado. (forma negativa ou proibitiva, ou ainda regra de prata)

Em ambas as formas, serve como uma diretiva para tratar os outros como a si próprio. A Regra de Ouro difere da máxima da reciprocidade expressa como do ut des - "Dou para que tu dês" − sendo, por isso, um compromisso moral unilateral com vista ao bem-estar dos outros, sem expectativas de nada em troca.

No entanto, muitos autores cristãos vinculam a forma negativa da regra de ouro como uma consequência da visão contractualista de uma sociedade hobbesiana,  na qual cada pessoa se considera primeira e majoritariamente como um indivíduo que transborda direitos/desejos, mas que não tem nenhuma responsabilidade fundamental para com ninguém. Segundo este ponto de vista, em sua forma invertida, há um esvaziamento moral em seu sentido, uma vez que a finalidade da regra de ouro passa ser apenas a proteção  direitos/desejos individuais e simultaneamente reduzir o conflito com os outros indivíduos. A regra, portanto, em sua versão invertida, abandona o seu compromisso moral com o bem-estar dos outros focando apenas na busca do bem próprio.

O conceito ocorre, sob alguma forma, em quase todas as religiões e tradições éticas. Também pode ser explicada sob a perspectiva da psicologia, da filosofia, da sociologia e da economia. Psicologicamente, envolve o desenvolvimento de empatia com os demais. Filosoficamente, envolve uma pessoa perceber seu próximo também como um "eu". Sociologicamente, "ama o próximo como a ti mesmo" é aplicável entre indivíduos, entre grupos e também entre indivíduos e grupos. Em economia, Richard Swift, em referência a ideias de David Graeber, sugere que "sem algum tipo de reciprocidade, a sociedade não poderia mais existir".

Exemplos de referência à Regra Áurea nas religiões mais antigas

No zoroastrismo (cerca de 660 - 583 a.C.)

Um caráter só é bom quando não faz a outros aquilo que não é bom para ele mesmo. − Dadistan-i-Dinik 94:5

No budismo (cerca de 563 - 483 a.C.)

Não atormentes o próximo com aquilo que te aflige. − Udana-Varga 5:18

No confucionismo (cerca de 551 - 479 a.C.)

Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam. − Analectos de Confúcio, 12.2 e 15.24

No hinduísmo (cerca de 300 a.C.)

Esta é a suma do dever: não faças aos demais aquilo que, se a ti for feito, te causará dor. − Mahabharata (5:15:17)

No judaísmo (cerca de 200 d.C.)

O que é odioso para ti, não o faças ao próximo. Esta é a lei toda, o resto é comentário. − Talmude, Shabbat 31ª

No islamismo (cerca de 570 - 632 d.C.)

Nenhum de nós é crente até que deseje para seu irmão aquilo que deseja para si mesmo. − Suna

No cristianismo (cerca de 30 d.C.)

Portanto, tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles. − Jesus, no Sermão da Montanha, Mateus 7:12