por
Keith Dowman
Keith
Dowman estudou com S. S. Dudjom Rinpoche, é o tradutor da biografia
de Yeshe Tsogyel (retirada do ciclo de termas
descobertos
por Taksham Nuden Dorje e publicada em inglês com o título "Sky
Dancer"),
e atualmente organiza peregrinações pelos lugares sagrados do
Budismo Vajrayana.
Há
muitos ciclos no fluxo de nossa experiência. Os ciclos macrocósmicos
são os incontáveis renascimentos, o ciclo do nascimento até a
morte, ciclos (ou uma espiral) de sete anos de amadurecimento do
corpo-mente, o ciclo anual das estações, o ciclo lunar com seu
ciclo feminino correspondente, o ciclo diário, etc. Os ciclos
internos microcósmicos são a rotação entre atração, aversão,
desinteresse e de novo atração, da felicidade até a tristeza e de
volta, da aberta extroversão social à introversão anti-social.
Todos estes ciclos de experiência compõe a roda da vida, também
chamada de roda do tempo, já que as mudanças da vida têm origem no
tempo em constante mutação. A roda externa gira devagar, a roda
interna muito rápido. A velocidade giratória da roda interna é
determinada por muitos fatores diferentes. Emoções voláteis
aceleram a roda, consciência plena de cada momento de experiência
emocional a retarda. Ações impulsivas a aceleram, paciência a
retarda. Indulgência acelera, disciplina retarda. Gira depressa na
juventude, quando as mudanças acontecem em rápida sucessão, e
paulatinamente fica mais devagar enquanto envelhecemos e as mudanças
diminuem. Independente da velocidade, a roda da vida compõe nossa
vida interior e nossa experiência, e dentro dela somos controlados
por nossas emoções.
É
simples ilusão acreditar que estamos em controle da roda, que o ego
que pensa a domina, olhando de perto fica evidente que nossos
pensamentos são reflexos de nossos sentimentos. É como se o volante
fosse guiado pelas curvas na estrada, não pelas mãos que o seguram.
O rabo do cachorro é o nosso pensamento, o cachorro é nossa emoção,
e é o cachorro que abana o rabo, não o rabo que abana o cachorro.
Mesmo quando nossos sentimentos são profundamente reprimidos e a
mente racional domina, ainda assim nossos pensamentos são
determinados de forma sutil por nossos sentimentos inconscientes.
A
roda da vida gira veloz e furiosa especialmente na juventude, quando
podemos estar sentados no topo do mundo em um minuto e logo nos
encontramos jogados num espaço alienado solitário de raiva e ódio.
Particularmente na adolescência as oscilações emocionais do
processo são ativadas pelos impulsos sexuais e a carga emocional tem
uma fonte sexual. O sentimento de autoconfiança num mundo colorido
surge mais freqüentemente de uma sensação de satisfação sexual
no qual um corpo-mente juvenil é lisonjeado pelo amor, pela
concessão de simpatia e sensualidade. Quanto
maior a sensação de auto-admiração e auto-congratulação mais
intensa a dor e perda quando nosso objeto de amor está
compartilhando prazer com outra pessoa.
A inveja obceca a mente completamente. Retirado do objeto de amor e
sem nenhuma chance de satisfação, o estado de mente equivocado em
que estamos recebe reações negativas de outros parceiros, e a
frustração aumenta. A angústia dessas algemas torna o mundo
inteiro negro e mesmo amigos parecem inimigos, seus comentários
comuns tornam-se dardos ameaçadores. Ira e violência inconscientes
contra pessoas ou coisas é geralmente uma saída possível dessa
armadilha, e giramos num mundo frio fechado em si mesmo onde somos
presas igualmente de nossos amigos e inimigos. Quando essa catarse
completa-se, a energia desgasta-se, podemos retornar a humanidade
novamente para encontrar a possibilidade do amor e da comunicação.
São estágios no ciclo do amor-apego adolescente e a roda pode girar
completa em um minuto, uma hora ou um dia.
Então
a roda da vida pode ser articulada como a roda do desejo sexual e
apego. Força vital, luxúria pela vida e sexo com um apetite voraz
por prazer são seus mecanismos, e toda a gama de emoções é posta
em movimento. Enquanto envelhecemos nossos padrões de hábitos
sexuais estabelecem-se, nossas preferências sexuais ficam mais
explícitas, e torna-se evidente qual emoção, qual disposição de
mente na roda do apego sexual nos domina. Podemos ficar presos num
mesmo estado por dias, meses ou mesmo anos, e de acordo com nossas
personalidades sexuais aproximamo-nos dos arquétipos que nos definem
sexual e socialmente. Somos a vítima ou virgem eterna, o
sensualista, o competidor, o viciado em sexo, o demônio ou
terrorista sexual, o predador — ou o iogue do amor búdico. Estes
rótulos denotam tipos psicossexuais, tipos de personalidade sexual.
Cada personalidade é dominada por uma emoção daninha particular,
que colocadas na vida sexual geram um complexo psicossexual tirânico.
Estas emoções são especificamente ansiedade, orgulho, luxúria,
inveja, raiva e medo.
A Eterna Virgem
A
ansiedade está na raiz da psique de todos nós e o medo é o veneno
da mente. Todas nossas respostas sexuais surgem da ansiedade. Esta é
estabelecida de nosso sentido de separação, de nossa solidão, que
surge no nascimento com o fim de nossa unidade com a mãe no útero
e a entrada num mundo alienígena. Enquanto crescemos e nossa
consciência amadurece, ficamos mais e mais conscientes de nossa
separação e isolamento do exterior. Há um rompimento entre o "Eu"
e o outro, "Nós" e "o inimigo", e, olhando para
o mundo de dentro de uma bolha, a ansiedade surge com todas as
percepções. Quando algo ameaçador é percebido fora, quando "o
outro", "o desconhecido", ameaça invadir nosso
espaço, então a ansiedade gira rápido e a adrenalina jorra em
nosso corpo-mente. Quando o desconhecido é um homem ou mulher
excitado ameaçando a invasão de nossos corpos, o medo cria um muro
de proteção que nos "protege" de seus avanços.
A
virgem, incerta de sua identidade sexual, é muito consciente desse
mecanismo, mas ele aflige — e protege — todos nós. Quando
encontramo-nos num estado de ansiedade, inseguros de nossa identidade
pessoal, social e sexual, a ansiedade surge na mente. Se temos egos
imaturos, como na juventude, então precisamos escalar uma montanha
de mente de forma a ganhar um sentido de quem somos. Não podemos nos
engajar sexualmente ao menos que haja confiança suficiente para
banir essa ansiedade básica. E a perda do ego só é possível
depois que o ego formou-se e possui um forte sentido individual e, da
mesma forma, o orgasmo não é atingível até que um limiar de
tensão seja alcançado onde o relaxamento permita alívio e
ejaculação. Se nossos egos estão formados, como quando somos
adultos, mas um sentido de inferioridade ou baixa auto-estima nos
contamina, novamente somos presas da ansiedade que inibe o ato
sexual.
Abuso
sexual na infância, experiências dolorosas ou traumáticas na
adolescência, repetida rejeição, relacionamentos infelizes,
qualquer um destes pode induzir a ansiedade que reforça uma resposta
habitual negativa aos avanços sexuais. O desejo não é forte o
bastante para romper através da resistência e a rejeição torna-se
uma resposta automática. O desejo é reprimido e um celibato
indesejável, ou pelo menos equivocado, é forçado. Porém podem
surgir circunstâncias externas em que as barreiras se rompem —
através do álcool, pelo sentimento de segurança completa com um
determinado parceiro que gera aumento incomum na autoconfiança — e
a paralisia enfim relaxa. A perda da virgindade pode então ocorrer,
mas neste caso impotência, ejaculação prematura e incapacidade
para alcançar o orgasmo podem acontecer. Tire todas as condições
externas e estamos de volta à velha síndrome da virgindade perpétua
e da mentalidade "chá de cadeira". Se nossa excitação
heterossexual é freqüentemente frustrada pela ansiedade, se o medo
do sexo oposto é um obstáculo insuperável à realização, então
o fluxo do desejo pode desviar-se para a opção menos ameaçadora do
apego ao mesmo sexo, e forma-se um hábito homossexual. Falta de
experiência pode levar a atrasar nosso desenvolvimento sexual e
podemos ficar presos numa prática pré-adolescente aparentemente
inofensiva que leva ao sexo com crianças. Podemos também tomar
refúgio no auto-amor e narcisismo que torna a masturbação o escape
comum.
A
ansiedade vem juntamente com cada resposta sexual, mas a
irrepreensível, inegável, emoção da luxúria, alimentada pelo
orgulho e inveja, geralmente a dissolve e supera. Se fatores de
inibição evitam este processo, a excitação heterossexual
desvia-se. Mas há outra forma de desvio — a síndrome de vítima.
Virgens eternas de ambos os sexos podem cair nesta armadilha, mas
como a natureza fez a mulher com uma psique mais frágil e a fazem
mais propensa a passividade e a submissão, sua vulnerabilidade maior
torna-a mais suscetível. A vítima não precisa mais do que
obedecer, permitindo que suas tendências de rejeitora sejam
ofuscadas, sem tomar responsabilidade por suas ações. Se ela tem
uma história de abuso na infância, estupro ou tratamento indelicado
de corpo ou de mente em algum ponto de sua existência —qualquer
experiência sexual que destrua a auto-estima — então a síndrome
já está parcialmente formada. Ela pode cair vítima de qualquer dos
tipos psicossexuais: ao sensualista que a utilizará como um
brinquedo ou como um estimulante erótico, ao competidor que exige
total obediência e a mantém sob seu completo domínio, ao viciado
em sexo que nela despeja sua frustração, ao demônio sádico que
pode levá-la as mais baixas de suas espúrias inclinações, e ao
predador que a possui e abandona de acordo com sua vontade. A vítima
pode fazer um casamento desigual, onde ela é usada e abusada ou pode
ser forçada à opção mais torpe — prostituição.
Os Sensualistas ou Deuses do Amor
Amor
é um meio eficaz de dissolver a ansiedade e romper a paralisia dos
efeitos do medo. É um antídoto eficaz contra o veneno mental do
medo. Ser amado é sentir-se seguro sexualmente e induz a confiança
na qual mutualidade sexual pode surgir. Perdemos todas as inibições.
Estar amando é um estado aberto onde o dar e receber físico são
uma alegria. Neste estado podemos preencher as necessidades sexuais
tanto nossas quanto de nosso parceiro e entregarmo-nos a nossos
caprichos sexuais. Pode não ser na primeira noite, no leito de
núpcias, que as coisas se ajeitem, mas na lua-de-mel de um
casamento ou de um caso amoroso, há tempo e meios para
experimentações e explorações que levem a uma compreensão e
resposta física às necessidades e preferências mútuas. As
preferências eróticas são reveladas, zonas erógenas exploradas,
posições sexuais testadas, e os parâmetros mais satisfatórios de
tempo e espaço são determinados — tudo isto como um fim em si
mesmo, não como um meio de estabelecer um padrão físico de
comportamento. Com o conhecimento crescente dos corpos-mente de cada
um, nossas identidades sexuais são focalizadas, e isto aumenta a
auto-confiaça, incrementa a auto-estima e cria um ambiente para o
desenvolvimento dos elementos básicos do amor erótico que já foram
estabelecidos.
Talvez,
neste ponto, se somos confiantes o suficiente em nós mesmos, então
o elemento emocional no relacionamento torna-se menos significativo.
Somos apanhados pela simples intensidade sensorial do toque e da
sensação nas preliminares e união física que se prolongam por
horas em múltiplas sessões diárias de brincadeiras sensuais. Sexo
e amor são a razão para existir e tornam-se prioridade. Apreciamos
e elogiamos a beleza um do outro. Nossos corpos respondem de maneiras
anteriormente inimagináveis. Nos completamos através da comunicação
entre nossos corpos e da troca de fluidos sexuais. O orgasmo nos dá
um gostinho de prazer divino, e a satisfação mútua insinua a
totalidade divina do ser. Fantasias são realizadas — o que quer
que façamos é nossa fantasia realizada instantaneamente. A adoração
mútua amplifica a sensação de ser um deus e uma deusa num paraíso
sensual. Porque não podemos prevenir um fluxo de felicidade para
fora de nossa bolha de união — e todos amam um amante — nosso
estado paradisíaco de ser reforça-se socialmente.
Até
quando isto durará? Quando começará a apodrecer? Quanto demora
para virar rotina? Quanto demora até que o amor seja contaminado por
incompatibilidades de personalidade? Quanto demorará até que a
rotina e diminuição da interação diária criem dúvidas
mesquinhas, medos e sementes de desconfiança? Pode ser uma hora ou
uma vida inteira, mas eventualmente aquele brilho inicial de prazer
inocente declina. Geralmente é um sentido de "eu" que
anuncia esta perda. Tornamo-nos empanturrados de ego, pensando que é
um "Eu" que cria a situação. A vaidade introduz-se.
Perdemos a vergonha ao fazer amor, todo sentido de humildade a frente
do grande enigma do amor é perdido, e ostentamos nosso sexo para
nosso parceiro e para o mundo em geral. Já não há frescor e pureza
na exploração sensual e o desabrochar do amor se dissolve. Levados
por um hábito condicionado e pela ânsia de reconquistar as alturas
da fase de lua-de-mel, continuamos com a mesma paixão desinibida,
mas nossos sentidos estão cansados. Aos outros nossa persona é feia
e perdemos credibilidade e apoio social.
Ainda
com um orgulho e autoconfiança inabaláveis, recebendo continuamente
prazer, permanecemos neste reino de prazer divino, e juntamo-nos aos
muitos sensualistas de carreira. Não mais precisamos de nosso
primeiro e pequeno amante e a variedade da experiência sexual
torna-se o tempero do prazer. Então ficamos presos em um paraíso
sensual com uma sucessão de amantes — ou cônjuges — que
concedem-nos mais da mesma satisfação e também, até certo ponto,
satisfação emocional. Tornamo-nos aristocratas sexuais, prima
donnas e
estrelas, experimentados e fáceis num ambiente sibarítico, alguém
com sorte no amor. Este é o mundo do playboy, da cortesã e da
gueisha. Tomamos isto como garantido e ficamos desdenhosos de um
parceiro que ainda tenha um mínimo de vergonha e conseqüente
inibição. A massa dos neuróticos sexuais é tratada com desprezo e
ao sibarita entediado a vontade de fazer jogos de poder com deuses
menores e meros mortais suscetíveis à inveja ou levados a
competição é um prazer. Nenhuma pena ou compaixão modifica essas
atitudes ou ameniza as regras dos jogos, e nossos parceiros sofrem.
Usamos e abusamos do sexo oposto como brinquedos, como prostitutas ou
gigolôs. Uma sem-vergonhice que pode parecer aos outro como obscena
ou lasciva distingue nossa atividade sexual. Ficamos com múltiplos
parceiros ou programamos orgias para maior estímulo erótico.
Qualquer orifício é tão bom quanto qualquer outro para penetração
e gratificação. A bissexualidade é um recurso para o apetite
entediado, e o sexo anal ou oral se tornam finalidades e não meros
aspectos de preliminares. Os charmes de virgens, jovens, e parceiros
exóticos podem ser particularmente tentadores ou atraentes. Os
dogmas do Maquês de Sade podem tornar-se nosso credo como uma fuga
do declínio inevitável do corpo envelhecido e da desilusão mental.
Os Competidores
A fase lua-de-mel dura somente o enquanto o tecido do relacionamento permanece inteiro. Quando aparecem rupturas na mutualidade da vivência sexual, quando desigualdades percebidas surgem, fracassos no dar e receber recíprocos, desentendimentos de motivo e intenção, o amor está envenenado e a desconfiança dá espaço para ciúmes reais ou imaginários. O ciúme desenvolve-se de nossa desconfiança. Aqui não há necessidade de um terceiro. Se duvidamos da motivação de nosso parceiro então nosso ciúme primeiro surge simplesmente como uma constante vigilância acompanhada de uma atitude de defesa. Se os fracassos em nosso amor persistem então a atenção ansiosa torna-se possessividade, que pode ser criada pelo amor, mas é contraproducente e aumenta a tensão no espaço entre nós e nosso parceiro. Neste espaço a competitividade se desenvolve. Se somos objeto de ciúmes, percebemos uma vantagem emocional perante nosso parceiro possessivo e defensivo e a exploramos. Se somos aquele marcado pelos ciúmes, então o domínio de nosso parceiro aumenta a desconfiança, nossos ciúmes exacerbam-se e precisamos da sensação de controle para contra-atacar a insegurança presente. O palco agora está pronto para uma guerra dos sexos por controle e dominação. Alguma forma de amor degenerado ainda está presente, ela nos gruda ao relacionamento, e esse apego —talvez seja apenas a memória de uma fase mais generosa de relacionamento — exclui a possibilidade de apenas ir-se embora.
Ainda
lembrando a sensação de poder e saciedade divina da fase de
lua-de-mel, ainda auto-satisfeitos e convencidos pela memória destes
momentos de divindade, ficamos amargos por sua perda. Sentido-se
ameaçados no espaço da separação, procuramos nosso ego como
refúgio, elevando-nos e colocando o parceiro e adversário para
baixo com desprezo e desdenho. Confrontação física e verbal marcam
nosso relacionamento. Tecemos redes de intriga alistando aliados para
a guerra. A mulher— com maior suscetibilidade aos ciúmes — e o
inferno não conhece fúria igual a de uma mulher traída —
corroendo seu coração nesta era de feminismo, pode alistar um
exército de mulheres a seu lado e o relacionamento torna-se uma
guerra dos sexos na qual o caminho da opção pelo lesbianismo pode
tornar-se uma desagradável arma estratégica. Outros objetos de amor
ou parceiros sexuais podem ser trazidos para o relacionamento como
armas táticas. O macho, porém, retirado de sua equanimidade,
crescentemente toma refúgio numa atávica mente masculina para
combater as trapaças da mulher, o que por sua vez leva a ainda
maiores excessos da parte dela.
Toda
essa castração ciumenta pode impedir a prática sexual. Mas logo
ontem estávamos satisfazendo um ao outro todas as noites com
resposta mútua intuitiva e sensível, e a partir do hábito e do
desejo energizados pelo combate, a batalha pode tomar formas físicas
e emocionais na cama. Aqui a paixão do ciúmes transporta-se para o
desejo, e a amargura mútua torna-se estímulo e satisfação
recíprocos. A ânsia para controlar focaliza a atenção em técnicas
de sedução, excitação e fuga, que refinam e sofisticam as
preliminares e a união. Tais técnicas podem refinar-se em jogos
sadomasoquistas nos quais ambos parceiros conseguem gratificação em
posições de submissão e dominação. Mas tais momentos de
reaproximação e gratificação mútua tornam-se menos freqüentes a
medida que a espiral de combate alarga-se e cada mais aumenta a
distância entre os parceiros, o que causa uma desconfiança idêntica
a uma paranóia, e então chega o momento da separação ou do
divórcio.
O
hábito da competição nos seguirá após o relacionamento de origem
até a arena da procura por outro parceiro. Aqui a energia de nossa
ambição de dar-se bem e vencer, não só numa competição sexual,
mas em todos os aspectos da vida, será vista como uma qualidade
desejável por um parceiro igualmente ambicioso. Mas se nossa sorte
acabar e se somos rejeitados por nosso escolhido, trocados por um
amigo talvez, e então nossa outra melhor escolha nos abandona por um
par na corrida dos ratos, a velha propensão para o ciúme é
inflamada num espaço sem amor, solitário, onde podemos facilmente
virar presas de um ciúmes obsessivo. A inveja daqueles que ainda
nadam em seus ambientes sibaríticos de gratificação mútua é
sentida como arames-farpados em nossa carne. Aqui somos os amargos
cínicos que de caso pensado incendiam os balões de outras pessoas,
frustramos seus planos, afundamos seus negócios, promovemos a
motivação negativa e tentamos desviá-los a cada momento num jogo
constante de um homem só. A política sexual e o próprio sexo são
aqui um jogo sem amor, jogado com uma desconsideração sem
misericórdia pelos sentimentos envolvidos na competição.
Acumulando habilidades verbais e políticas nesta dança de ciúmes e
inveja tornamo-nos o político da cama, o manipulador sexual, o
jogador obcecado pela derrota do competidor e pelo troféu, ou nosso
parceiro. Mas durante os procedimentos uma paranóia assustadora nos
compele a olhar repetidas vezes sobre nossos ombros vigiando atrás,
e nos entupimos de suspeitas. Estamos alienados constantemente, e com
esta sensação de exclusão da sociedade e do sexo oposto, nossa
frustração e ansiedade aumentam paulatinamente.
Viciados em Sexo
O
viciado em sexo pensa no assunto como se fosse o elixir da vida. Ele
é obcecado por seu desejo ao ponto da exclusão de todo o resto. Mas
ele não consegue se dar bem. Ele precisa, mas não consegue. A
intensidade dessa ânsia insaciável impede a gratificação. Se
através da intervenção divina ele consegue, não encontra
satisfação alguma. Ele divaga invisivelmente numa busca constante
de alívio num deserto sexual sem romance, erotismo ou estímulo
sensual. A intensidade grosseira de sua necessidade o torna
repugnante aos parceiros potenciais. Se ele encontra uma mulher que
tem pena dele o suficiente, ou que não tem discernimento, e que
concederá para ele, sua luxúria indiscriminada, sua obsessão
auto-direcionada e focalizada, a deixarão frígida. Se ela consegue
ignorar sua urgência patética, as preliminares são um ritual
pálido auto-consciente e seu desejo nervoso o deixa impotente. Se
seu mecanismo sexual automático permite uma ereção, ele não
consegue penetrá-la. Se eventualmente consegue, seu orgasmo é
prematuro ou mesmo com esforço árduo e prolongado ele não consegue
ter um. Se ele ejacula não há satisfação no ato, nenhuma
gratificação e nenhuma diminuição do desejo. Sua parceira fica
angustiada e insatisfeita e ele volta a divagar solitário novamente
num deserto com um desgosto miserável. Apesar de virtualmente
invisível aos outros, ele pode observar seus romances, suas
brincadeiras eróticas, suas gratificações mútuas, o que aumenta
ainda mais sua luxúria inquietável. Seu recurso a masturbação é
ameaçado pelos mesmos mecanismos, e também pela ineficácia de suas
fantasias sexuais, e ela deixa-o somente com um desejo ainda maior.
A
viciada sexual é afligida de forma semelhante, divagando pelos
terrenos baldios sexuais em busca de gratificação. Sua ânsia inibe
a demonstração de sinais sutis e linguagem corporal que poderiam
atrair os parceiros apropriados. Sua obsessão única a torna feia e
repugnante. Mas já que seu papel na dança sexual é mais passiva e
os homens estão menos interessados em seu estado mental do que em
seus genitais ela ainda consegue atrair parceiros potenciais. Suas
respostas verbais grosseiras, de mau-gosto, auto-piedosas ou
lascivas, eliminam a excitação de muitos dos que ela atrai, mas
ainda assim ela tem oportunidades de engajar-se sexualmente. Mas ela
é completamente insaciável e nenhuma quantidade ou intensidade a
gratificarão. Para ela um orgasmo ou catarse satisfatórios são
impossíveis, apesar de todas as mínimas potencialidades de prazer a
levarem em busca de satisfação. A urgência de sua necessidade
física é acompanhada de comandos autoritários. Inflamada e
insatisfeita com um ato sexual, com ou sem um parceiro, ela
imediatamente busca outro. Sexo é a única coisa que substancia sua
sensação de existência. Ela é a ninfomaníaca.
A
causa dessa ânsia sexual frustrada não parece surgir do medo —
embora o medo possa estar em sua raiz — mas sim como uma separação
dos outros. Nos sentimos cortados, ilhados, isolados além dos
relacionamentos. Quando nossa energia sexual é estimulada e
intensificada por uma ligação emocional e sexual e então nos vemos
privados da fonte de nossa gratificação por uma rejeição no amor
ou fracasso sexual, ou apenas por um tempo dado em um relacionamento,
somos deixados com uma sensação amplificada de eu e uma consciência
hipertrofiada das diferenças que separam-nos de nosso amante
anterior. A infidelidade é a forma mais eficiente de aumentar o
espaço entre nós e um parceiro com quem estamos comprometidos. Ao
procurar restabelecer um relacionamento, através do prender e
agarrar, nós apenas empurramos o objeto de amor para mais longe e
criamos um ciclo vicioso de apego — quanto mais ansiamos e
buscamos, maior a distância entre nós e maior a necessidade pela
união. O viciado em sexo equivoca-se entre uma necessidade
espiritual e emocional e uma satisfação sexual, e já que alguma
comunicação humana precisa anteceder a prática sexual, a união é
sempre inatingível.
Mas
antes que a luxúria obsessiva nos domine completamente, e antes que
a satisfação seja calculadamente ameaçada por uma busca
unidirecional de orgasmo e alívio sexual, podemos apenas recorrer
aos extremos do estímulo sexual para nos excitar. A conexão entre
sexo e violência pode ser explorada em sadomasoquismo, e no extremo
da impotência e frustração, inflingir ou sofrer dor física é um
meio de excitação. A realização de fantasias sexuais, como
amarras ou regressão infantil, pode ser utilizada pelo viciado em
sexo para excitar os sentidos entediados ou a sexualidade inibida de
forma a sugar um pouquinho de alívio sexual e gratificação. Nosso
parceiro pode ser um viciado de outro sexo que está suscetível a
nossas necessidades e que de fato dará boas-vindas a atenção que
damos, mas ele também pode ser uma vítima vulnerável sobre a qual
podemos despejar a força completa da luxúria frustrada.
O Terrorista Sexual
A ânsia frustrada é aliviada pelo relaxamento a um nível de consciência humana onde a comunicação com os outros seres é restaurada e a mutualidade num relacionamento sexual torna-se possível novamente. Mas e se o relaxamento nos escapa e o ciclo vicioso de separação e desejo continua a focalizar a consciência de nosso eu como uma entidade isolada, secionada? Já que ninguém e nada nos dá nenhuma sensação de liberdade e somos incapazes de discernir até mesmo uma diminuta partícula de simpatia, uma aversão pelo mundo inteiro surge. A raiva pela injustiça de nossa situação miserável comparada com a felicidade dos outros deixa-nos ainda mais amargos e mordazes. Solitários e alienados do mundo e da humanidade ficamos apavorados, e um grão de medo entra a cada momento de percepção envenenando-nos contra qualquer estímulo positivo. Começamos a odiar, não somente o que é odioso, mas o que quer que surja em nossos sentidos. A paranóia estabelece-se.
Se
ainda estamos em um relacionamento quando o medo e a raiva nos
possuem então nosso parceiro vai ter de agüentar a maior parte de
nossa dor. Confundimos as atitudes de nosso parceiro solidário com
o relho de um inimigo e reagimos cruelmente. Queremos punir nosso
amante por criar este estado. "O outro" é o culpado.
Expressamos nossa alienação, nossa raiva e medo, em abuso verbal,
perseguição mental, o/a excomungando sexualmente, nos recusando e
negando comunicação. Projetando nosso próprio estado mental sobre
nosso parceiro reagimos como se ele/ela tivesse conscientemente nos
infectado com AIDS, percebendo ele/ela como um demônio, nos
torturando, procurando nos infligir o máximo de dor. Esta é a
reação reflexo de um paranóico incapaz de distinguir entre o
inferno ilusório que ele/ela mesmo/a fez e a realidade externa. Se
possuímos uma noção da miserável impropriedade de nossas ações,
odiamos as amarras em que estamos, causando ainda mais uma volta de
comportamento violento.
Neste
estado de aversão e medo crônicos não há possibilidade de contato
sexual mútuo. É um estado de paralisia sexual. Mas esta dormência
da resposta sexual pode ser facilmente quebrada. Quando medo e ódio
entram em espiral além da tolerância da consciência nossa raiva
torna-se violência física — aqui estão o homem que bate na
mulher, o amante esbofeteador que perde as estribeiras —a violência
torna-se um estímulo sexual e o estupro é a forma que toma.
Perdendo o controle, o terrorista sexual é o sádico, o estuprador,
o assassino sexual e o produtor de filmes snuff
(N.
do T. — filmes onde violência, estupros e mortes reais
acontecem.).
Os
Predadores
O
inferno do medo e da raiva paranóicos também passa. A roda gira, e
emergindo daquele buraco escuro no chão, rastejamos da aversão
excessiva para dentro do mundo negro do predador. Nossa raiva já
queimou a si própria, e nossos impulsos e ânsias destrutivas estão
saciados. Em seu lugar há uma energia instintiva pela sobrevivência
e uma astúcia grosseira. Nossa ânsia sexual é desinibida e
descontrolada. Não temos auto-estima e não temos nenhuma
responsabilidade moral ou discriminação, então homem ou mulher,
sexo anal ou oral, são igualmente aceitáveis nesta esfera
bissexual. O homem pode utilizar sua força bruta para conseguir o
que quer. Um traço implícito de violência física é suficiente
para efetuar uma intimidação física inicial. Este tipo de sexo é
luxúria bruta, fisicamente grosseira. Neste mundo crepuscular a
virgem eterna é particularmente vulnerável.
O
macho predador possui qualquer fêmea que consegue dominar. Sua
parceira é a vítima mais acessível. Se ele não tem uma parceira,
então uma mulher com uma ausência parecida de auto-estima num
estado similar de excitação é acessível, já que neste estado
instintivo somos muito sensíveis aos ferormônios e somos
naturalmente atraídos a parceiros de mentalidade similar — o
predador não é necessariamente um estuprador. Prostitutas e
prostitutos, e trabalhadores sexuais em geral atendem ao predador que
têm alguma sensibilidade para relações. Qualquer parceira será
usada sem remorso ou restrição alguma, num nível instintivo de
sexo grosseiro, com o orgasmo e a ejaculação como única
finalidades. O homem preso neste estado aprende a usar sua força
física, identifica a vítima como um leão a sua presa, rejeita
qualquer preliminar, e conclui o ato sexual em muito pouco tempo,
provavelmente com ejaculação prematura.
A
predadora fêmea neste estado é a desvairada mulher pornográfica,
grosseiramente expondo seu sexo e focalizada unicamente na satisfação
de ser inseminada. Mas ela pode ser tão ardilosa quanto o homem em
sua caça, uma víbora que alimenta-se de homens inocentes e burros.
A força física não é sua arma, embora o tamanho e a energia
possam igualmente servir para intimidar sua vítima masculina. Mas é
mais provável que seja com sua fria e penetrante mente que o seduza,
como uma aranha atraindo a mosca para a teia. Uma vez que seu desejo
for saciado ele é abandonado, jogado na pilha de seus rejeitados.
Como uma vampira ela suga os fluidos sexuais que lhe dão vitalidade
e então o descarta, e como a vítima de um vampiro, ele é
condicionado a seguir o mesmo método no futuro.
A Oportunidade do Iogue
Da
mesma forma que alguns animais podem ser domesticados e seu instinto
"sobrevivência do mais forte", "mate ou seja morto"
subjugado por uma promessa de segurança e estabilidade, o predador
sexual pode ser socializado pela promessa de um maior prazer a ser
alcançado através da sensibilidade e conseqüente mutualidade de um
relacionamento. Seguimos um processo parecido quando temos estado
perdidos numa neblina de inércia e preguiça, onde nossas respostas
sexuais são lentas e diretas, nosso prazer abreviado, e onde os
relacionamentos são difíceis de cultivar. Através da intervenção
de um novo parceiro potencial uma janela abre-se para os prazeres de
uma sexualidade refinada, erótica, com uma sensibilidade moral e um
aspecto emocional satisfatório, e esta cenoura balançando a nossa
frente é suficiente para revitalizar nossa sexualidade e nos
conduzir para uma nova dimensão de satisfação.
Nesta
dimensão absolutamente humana há segurança emocional, e podemos
relaxar e explorar as promissoras possibilidades de um relacionamento
sexual. Podemos treinar fisicamente, com ioga ou algum tipo de
exercício, e experimentar diferentes posições sexuais, estilos,
respirações, aumentando ou diminuindo o tempo da atividade sexual e
assim por diante. Dentro e fora do quarto estamos mais conscientes
das nuanças do relacionamento entre os sexos e os benefícios que
uma resposta sensível e altruísta pode conceder, e nossa
consciência desta dimensão da sexualidade é alargada e
amplificada. Neste processo de sensibilização e socialização
alguma culpa e vergonha por nosso passado de grosserias, egoísmos e
crueldades pode ser útil ao nos motivar para um estado onde a
mutualidade desabroche. Algumas pessoas ficarão presas neste
processo de treinamento sexual, onde a atividade sexual é um ritual
físico agradável sem qualquer chance de espontaneidade. Mas se este
poço é evitado, nossa sexualidade desenvolvida e amadurecida
através do autodesenvolvimento, chegamos em um lugar onde um
parceiro potencial acena de um paraíso de sensualidade, prazer
elevado e alegre satisfação. A maioria de nós seguirá esta opção
e mover-se-á para um outro ciclo na roda da paixão sexual. Mas
alguns dirão, "De novo não!", "Nunca mais!" e
tomarão o caminho do Amor Vajra.
(Traduzido do inglês por Padma Dorje. Comentários e correções para pdorje@hotmail.com. Visite http://bodisatva.org)
(Traduzido do inglês por Padma Dorje. Comentários e correções para pdorje@hotmail.com. Visite http://bodisatva.org)
Tambem acho isso tudo e mais um pouco.... bom pensar a respeito.
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