O JULGAMENTO DE PÁRIS[1]
Marcelo Bolshaw Gomes
Zeus, rei dos deuses gregos, deu um
banquete em comemoração ao casamento de Peleu e Tétis (pais de Aquiles). Eris, a
deusa da discórdia, não foi convidada, mas mesmo assim compareceu. Ela chegou à
festa com uma maçã de ouro do Jardim das Hespérides, sobre a qual estava
escrito "um presente para a mais importante das deusas".
Três deusas presentes ao banquete reivindicaram
a maçã: Hera, Atena e Afrodite. Elas pediram a Zeus para decidir a disputa. Atena, nascida da cabeça de Zeus, é a deusa da sabedoria e do Poder.
Deusa das estratégias em tempo de guerra e da cultura em tempo de paz. Hera,
esposa de Zeus, deusa do casamento e da maternidade, cuja a potência maior está
na coragem afetiva, nos sentimentos verdadeiros. E Afrodite, deusa da beleza e
das artes.
Tratava-se de uma disputa entre a
justiça, a verdade e a beleza. Quem seria a mais importante? Inicialmente, Zeus
tentou decretar diplomaticamente um empate. Mas, nenhuma das participantes
aceitou. Então ele decidiu eleger Paris, um mortal, príncipe de Troia, julgaria
o caso, em seu lugar. Assim, Hermes, o deus mensageiro do Olimpo, foi
encarregado de levar as deusas, individualmente, à presença de Páris – para que
ele as conhecesse. E cada uma das deusas ofereceu ao príncipe um presente como
suborno caso fosse a eleita.
Hera
lhe ofereceu a Coroa do Mundo e todo o poder por ela emanado. Além disso, concederia
ainda o dom da felicidade e da vida longa, ao lado da esposa, da família e dos
amigos.
Atena
lhe prometeu o poder sobre os homens, sabedoria e justiça equiparadas a de
Zeus. Além disso, ele seria sempre vitorioso em qualquer disputa que travasse.
Por
último, veio Afrodite e lhe prometeu Helena, a mais bela entre as mulheres
mortais, esposa de rei Menelau de Esparta.
Páris escolheu
Afrodite[2]. Atena e Hera, ressentidas com a escolha, juraram vingança o que,
posteriormente, culminou na destruição de Tróia.
[1]
Tal como acontece com muitos contos mitológicos, os detalhes variam de acordo
com a fonte. A breve alusão ao Julgamento na Ilíada (24,25-30) mostrando que o
episódio que iria iniciar a ação posterior já era familiar pelo público; uma
versão mais completa foi contada na Cypria, uma obra perdida do ciclo épico,
dos quais apenas fragmentos (e um resumo confiável) permanecem. Os escritores
posteriores Ovídio (Heroides 16.71ff, 149-152 e 5.35f), Lucian (Diálogos dos
Deuses 20), a Bibliotheca (Epitome E.3.2) e Higino (Fabulae 92), recontam a
história com um olhar cético ou irônico. O mito apareceu no século VII a.C. em
Cypselus em Olímpia, que foi descrito por Pausânias.
[2]
Analisando a história “O julgamento de Páris”, McLean (1992, p. 91) afirma que
Homero esquartejou “a antiga triplicidade lunar, subdividindo a deusa em Virgem
(Atena), Mãe (Hera) e Amante (Afrodite)”. A ideia subjacente à narrativa é que
cada mulher faz, em um momento, a escolha por um único arquétipo feminino,
relegando os dois outros à sombra do inconsciente. Além da escolha masculina
ser “naturalizada”: os homens preferem mesmo a beleza sexual do que a companhia
das donas de casas ou das mulheres profissionalmente bem sucedidas.
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