A
festa
Era,
no tempo das histórias contadas, o dia do quinquagésimo aniversário do grande Califa
de Bagdá.
Preparou-se
então uma imensa festa, com a presença de convidados de diferentes reinos e
países distantes. O rei da Pérsia presenteou o Califa com um tesouro de joias e
ouro. Os sultões indianos compareceram juntos com um exército de elefantes e
tigres. O poderoso feiticeiro africano Jáfar deu como presente para o Califa um
cavalo mágico alado negro como a noite. A princesa Jasmim e seu irmão, príncipe
Ahmed, também participavam dos festejos e observaram a demonstração de voo do
cavalo.
Encantado
pelo cavalo negro, o Califa oferece ao bruxo Jáfar a livre escolha de todos os
tesouros de seu palácio. Aproveitando-se da oferta generosa, o feiticeiro revela
sua intenção de usurpar o trono e escolhe a princesa Jasmim para se tornar
herdeiro de Bagdá – causando grande desconforto no Califa.
Ahmed,
herdeiro legítimo do califado, se interpõe, dizendo que sua irmã não estava a
venda e que não acredita no cavalo voador.
O bruxo
então convidado o príncipe a experimentar pessoalmente a montaria, para que que
ele próprio verificasse que não havia nenhum truque e que o cavalo realmente
voava. Quando o príncipe monta, o cavalo voa para longe, subindo pelas nuvens e
desaparece. Em seguida, o mago é preso e anuncia como vingança, que o príncipe Ahmed
não voltará mais ao mundo dos vivos.
No
inferno
O
cavalo leva o príncipe Ahmed aos reinos infernais governadas pela rainha Isthar.
Os demônios se disfarçam de damas da corte e recebem o recém-chegado como um
hospede, mas acabam brigando entre si pelo forasteiro. Ahmed, percebendo a
armadilha, aproveita a ocasião e foge em seu cavalo voador para outra ilha
vizinha.
Sabendo
do acontecido, a própria rainha diaba Isthar decide seduzir e enfeitiçar o
príncipe. Todas as noites, ela se transforma em um pássaro deslumbrante e voa
em companhia de suas aias para banhar-se em um lago encantado na ilha em que
Ahmed se esconde.
Completamente
enfeitiçado, Ahmed decide casar-se com ela. Então, o príncipe apaixonado persegue
e rapta a rainha pássara, levando-a no corcel negro até a China – para
esconde-la dos demônios e de seus súditos infernais.
Na
China
Enquanto
isso, o mago preso em Bagdá descobre, em transe, o paradeiro de seu cavalo
voador e foge do cárcere, transfigurando-se em um morcego para voar até a
China.
Ao
chegar, o mago, transfigurado de canguru, rouba a veste de pássaro da rainha Isthar.
Ahmed, tentando recuperar o vestido, cai em um fosso e fica preso debaixo da
terra.
O
mago então volta, em sua forma humana, e entrega a roupa roubada à Isthar. Mentindo
à rainha, dizendo que a levará a Ahmed; o feiticeiro a engana e a vende como
escrava ao Imperador da China.
Depois
de lutar contra uma enorme serpente, Ahmed consegue sair da fenda entre as
rochas em que estava preso. Ao sair, o jovem príncipe encontra uma garrafa
antiga. Quando a abre, esperando encontrar algum líquido para saciar sua sede,
uma poderosa gênia sai da garrafa e se apresenta ao herói.
-
Sou Húri, a gênia guardiã da montanha de fogo, aprisionada na garrafa pelo
feiticeiro Jáfar, faz muitos séculos. Como retribuição por ter me liberdade te
concedo três desejos.
Como
primeiro desejo, o príncipe pediu para ir até a China e a gênia lhe deu um
tapete voador e uma espada mágica. Quando Ahmed chegou à China para resgatar
seu grande amor, os demônios do inferno, reclamando o retorno de sua rainha, já
haviam destruído quase todo país. O príncipe ainda derrotou dois dragões
voadores, mas quando chegou ao palácio não encontrou mais Isthar, que havia
voltado para seu reino infernal, deixando um grande rastro de destruição pelo
caminho.
A
guerra dos magos
Ahmed
gastou seu segundo desejo voltando ao inferno. Lá chegando, no entanto, o
príncipe encontra o feiticeiro Jafar na entrada, disposto a não o deixar
entrar. Ahmed, utilizando seu último desejo, invoca a gênia Húri que assume a
luta contra o feiticeiro, deixando o príncipe livre para entrar furtivamente no
inferno e convencer Isthar a casar-se com ele. Jáfar se transforma em um elefante,
Húri se torna um rato; o feiticeiro muda para gato, a gênia se metamorfoseia em
um vírus; e assim por diante em um duelo da imaginação. Enquanto isso, Ahmed
entra no inferno e encontra sua rainha, essa, no entanto, reluta em segui-lo.
Finalmente,
a gênia Húri logra aprisionar o feiticeiro Jáfar dentro da garrafa. Isthar, no
entanto, não concorda em abandonar seu reino para se casar com Ahmed em Bagdá. E
desde então, o emir passa seis meses (o outono e o inverno) no inferno com sua
consorte e seis meses (a primavera e o verão) nos reinos de seu pai e de sua
irmã. Sempre voando em seu cavalo negro como a noite escura das luas novas.
E assim, desde então, a divindade feminina derrota os homens maus. Em compensação, os homens bons sucumbem ao feminino ctônico. A maldição dos pares descasados pronunciada por Jáfar segundos antes de ser aprisionado, que perdura até os nossos dias.
E assim, desde então, a divindade feminina derrota os homens maus. Em compensação, os homens bons sucumbem ao feminino ctônico. A maldição dos pares descasados pronunciada por Jáfar segundos antes de ser aprisionado, que perdura até os nossos dias.
[1]
As
Aventuras do Príncipe Achmed é um filme alemão (1926) de
animação de silhuetas de Lotte Reiniger. O filme trabalha diversas tramas pouco
conhecidas dos contos de Mil e Uma Noites – principalmente da
história O Cavalo de Ébano. Há uma versão solo traduzida do árabe por
Richard Burton e publicada em português pela editora Hedra (2014). Pasolini também a conta em seu filme. Nessas versões a história de Aladim e a lampada maravilhosa é posta como um sub-enredo da história do príncipe Ahmed. No final, Aladim casa-se com Jasmim e Ahmed como Pari Banu, a deusa infernal. Na presente versão: a) alteramos alguns enredos misóginos; b) retiramos a história de Aladim da narrativa; e c) encerramos a história segundo a lenda da deusa babilônica de Isthar.
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