domingo, 15 de março de 2020
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020
Ahmed
A
festa
Era,
no tempo das histórias contadas, o dia do quinquagésimo aniversário do grande Califa
de Bagdá.
Preparou-se
então uma imensa festa, com a presença de convidados de diferentes reinos e
países distantes. O rei da Pérsia presenteou o Califa com um tesouro de joias e
ouro. Os sultões indianos compareceram juntos com um exército de elefantes e
tigres. O poderoso feiticeiro africano Jáfar deu como presente para o Califa um
cavalo mágico alado negro como a noite. A princesa Jasmim e seu irmão, príncipe
Ahmed, também participavam dos festejos e observaram a demonstração de voo do
cavalo.
Encantado
pelo cavalo negro, o Califa oferece ao bruxo Jáfar a livre escolha de todos os
tesouros de seu palácio. Aproveitando-se da oferta generosa, o feiticeiro revela
sua intenção de usurpar o trono e escolhe a princesa Jasmim para se tornar
herdeiro de Bagdá – causando grande desconforto no Califa.
Ahmed,
herdeiro legítimo do califado, se interpõe, dizendo que sua irmã não estava a
venda e que não acredita no cavalo voador.
O bruxo
então convidado o príncipe a experimentar pessoalmente a montaria, para que que
ele próprio verificasse que não havia nenhum truque e que o cavalo realmente
voava. Quando o príncipe monta, o cavalo voa para longe, subindo pelas nuvens e
desaparece. Em seguida, o mago é preso e anuncia como vingança, que o príncipe Ahmed
não voltará mais ao mundo dos vivos.
No
inferno
O
cavalo leva o príncipe Ahmed aos reinos infernais governadas pela rainha Isthar.
Os demônios se disfarçam de damas da corte e recebem o recém-chegado como um
hospede, mas acabam brigando entre si pelo forasteiro. Ahmed, percebendo a
armadilha, aproveita a ocasião e foge em seu cavalo voador para outra ilha
vizinha.
Sabendo
do acontecido, a própria rainha diaba Isthar decide seduzir e enfeitiçar o
príncipe. Todas as noites, ela se transforma em um pássaro deslumbrante e voa
em companhia de suas aias para banhar-se em um lago encantado na ilha em que
Ahmed se esconde.
Completamente
enfeitiçado, Ahmed decide casar-se com ela. Então, o príncipe apaixonado persegue
e rapta a rainha pássara, levando-a no corcel negro até a China – para
esconde-la dos demônios e de seus súditos infernais.
Na
China
Enquanto
isso, o mago preso em Bagdá descobre, em transe, o paradeiro de seu cavalo
voador e foge do cárcere, transfigurando-se em um morcego para voar até a
China.
Ao
chegar, o mago, transfigurado de canguru, rouba a veste de pássaro da rainha Isthar.
Ahmed, tentando recuperar o vestido, cai em um fosso e fica preso debaixo da
terra.
O
mago então volta, em sua forma humana, e entrega a roupa roubada à Isthar. Mentindo
à rainha, dizendo que a levará a Ahmed; o feiticeiro a engana e a vende como
escrava ao Imperador da China.
Depois
de lutar contra uma enorme serpente, Ahmed consegue sair da fenda entre as
rochas em que estava preso. Ao sair, o jovem príncipe encontra uma garrafa
antiga. Quando a abre, esperando encontrar algum líquido para saciar sua sede,
uma poderosa gênia sai da garrafa e se apresenta ao herói.
-
Sou Húri, a gênia guardiã da montanha de fogo, aprisionada na garrafa pelo
feiticeiro Jáfar, faz muitos séculos. Como retribuição por ter me liberdade te
concedo três desejos.
Como
primeiro desejo, o príncipe pediu para ir até a China e a gênia lhe deu um
tapete voador e uma espada mágica. Quando Ahmed chegou à China para resgatar
seu grande amor, os demônios do inferno, reclamando o retorno de sua rainha, já
haviam destruído quase todo país. O príncipe ainda derrotou dois dragões
voadores, mas quando chegou ao palácio não encontrou mais Isthar, que havia
voltado para seu reino infernal, deixando um grande rastro de destruição pelo
caminho.
A
guerra dos magos
Ahmed
gastou seu segundo desejo voltando ao inferno. Lá chegando, no entanto, o
príncipe encontra o feiticeiro Jafar na entrada, disposto a não o deixar
entrar. Ahmed, utilizando seu último desejo, invoca a gênia Húri que assume a
luta contra o feiticeiro, deixando o príncipe livre para entrar furtivamente no
inferno e convencer Isthar a casar-se com ele. Jáfar se transforma em um elefante,
Húri se torna um rato; o feiticeiro muda para gato, a gênia se metamorfoseia em
um vírus; e assim por diante em um duelo da imaginação. Enquanto isso, Ahmed
entra no inferno e encontra sua rainha, essa, no entanto, reluta em segui-lo.
Finalmente,
a gênia Húri logra aprisionar o feiticeiro Jáfar dentro da garrafa. Isthar, no
entanto, não concorda em abandonar seu reino para se casar com Ahmed em Bagdá. E
desde então, o emir passa seis meses (o outono e o inverno) no inferno com sua
consorte e seis meses (a primavera e o verão) nos reinos de seu pai e de sua
irmã. Sempre voando em seu cavalo negro como a noite escura das luas novas.
E assim, desde então, a divindade feminina derrota os homens maus. Em compensação, os homens bons sucumbem ao feminino ctônico. A maldição dos pares descasados pronunciada por Jáfar segundos antes de ser aprisionado, que perdura até os nossos dias.
E assim, desde então, a divindade feminina derrota os homens maus. Em compensação, os homens bons sucumbem ao feminino ctônico. A maldição dos pares descasados pronunciada por Jáfar segundos antes de ser aprisionado, que perdura até os nossos dias.
[1]
As
Aventuras do Príncipe Achmed é um filme alemão (1926) de
animação de silhuetas de Lotte Reiniger. O filme trabalha diversas tramas pouco
conhecidas dos contos de Mil e Uma Noites – principalmente da
história O Cavalo de Ébano. Há uma versão solo traduzida do árabe por
Richard Burton e publicada em português pela editora Hedra (2014). Pasolini também a conta em seu filme. Nessas versões a história de Aladim e a lampada maravilhosa é posta como um sub-enredo da história do príncipe Ahmed. No final, Aladim casa-se com Jasmim e Ahmed como Pari Banu, a deusa infernal. Na presente versão: a) alteramos alguns enredos misóginos; b) retiramos a história de Aladim da narrativa; e c) encerramos a história segundo a lenda da deusa babilônica de Isthar.
sábado, 11 de janeiro de 2020
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
As 12 Noites Santas
Através da Luz Espiritual que brilha das estrelas do Zodíaco, as bênçãos divinas se derramam sobre aqueles que oram e vigiam. Os sonhos nestas noites se tornam mensageiros do Espírito!
Quando se acendeu no céu a estrela há muito tempo esperada, os Reis Magos iniciaram a jornada até a Criança que seria o novo Sol do Mundo. Após doze noites, consideradas sagradas a partir de então, eles puderam alcançá-la e ofertar o incenso, a mirra e o ouro, em nome de toda a Humanidade, acompanhados dos votos de que o Espírito Divino pudesse viver no pensar, sentir e querer humanos.
Dos pés à cabeça podemos vivenciar a transformação, de pessoas terrenas e materialistas, em pessoas espiritualizadas, que olham o mundo com uma visão espiritual. Vislumbramos a escada de expansão da consciência, que ajuda a dar nascimento, no último degrau, ao Ser Divino em cada um de nós.
A cada Natal temos a chance de um novo nascimento. E a cada ano, a oportunidade de uma nova vida. Não podemos nos esquecer disso, pois precisamos urgentemente de forças espirituais, não apenas para cada um de nós individualmente, mas para toda a Humanidade.
Na meditação das noites santas, podemos colocar na alma as sementes da Esperança em relação aos doze meses do ano que entra. Meditando dos pés em direção à cabeça, podemos almejar a consolidação das forças do nosso ser e a transformação dessas forças em qualidades verdadeiramente humanas e sagradas.
As 12 badaladas da meia-noite do Natal anunciam a vigília, que pode ser um preparo espiritual, como se as Noites Santas fôssem uma prévia dos 12 meses do ano que se inicia.
As inspirações recebidas das hierarquias espirituais nestas doze noites, através da meditação, injetam forças no desenvolvimento espiritual ao longo de todo o ano.
O Evangelho de Mateus nos remete aos mistérios espirituais da Antiguidade, etapa do desenvolvimento da humanidade na época do assentamento na região do Mediterrâneo, quando aqueles que eram iniciados desenvolviam a visão clarividente. Os corpos siderais eram vistos por eles como a manifestação de seres espirituais em atividade constante e transmutação contínua. A esse antigo estado de consciência clarividente está associado o surgimento da Astrologia, sabedoria baseada na analogia do movimento e posição dos astros com o destino humano. Ao fazermos a vigília das Noites Santas podemos retomar a jornada dos Reis Magos através da ligação com esta sabedoria, recebendo irradiações das 12 constelações do Zodíaco.
As hierarquias espirituais podem ser contempladas como esculturas, no portão sul da Catedral de Chartres, a mais importante catedral gótica da Idade Média. Neste portão, chamado de Portão da Transubstanciação, as hierarquias formam uma escada ascendente que representa o ensino espiritual.
O aluno vai de degrau em degrau se conectando a esses seres espirituais, que representam diferentes estados de Consciência. Neste aprendizado, o pensar e o sentir, integrados, se tornam órgãos de compreensão e de participação no mundo espiritual.
Os nomes das hierarquias se originaram de um manuscrito de Dionísio, o Aeropagita, que fundou a primeira escola esotérica cristã da Antiguidade. Dionísio, um iniciado nos antigos centros de mistérios gregos, renomeou os seres divinos, que eram chamados na Antiguidade como seres de Vênus, seres de Mercúrio e outros, a partir de uma revelação do Cristo feita a ele por Paulo de Damasco, em Atenas.
O Manuscrito escreve os nove níveis de seres divinos associados em grupos de três hierarquias que participaram da evolução da Terra e do ser humano.
A primeira hieraquia inclui os Serafins, Querubins e Tronos que iniciaram a evolução.
Eles atuam a partir do divino, da esfera macrocósmica, que é denominada a esfera do Pai, de Deus, de Alá, do amor divino, do grande mistério, da doação cósmica. Eles são seres de um estado evolutivo anterior ao nosso, tão avançados em sua evolução que foram capazes de fazer fluir de si a sua própria substância, dando nascimento ao atual estado do nosso sistema solar.
A segunda hierarquia é formada pelos Kyriotetes, Dynamis e os Exusiai, ou Elohins. Eles também são chamados de Dominios, Virtudes e Potestades, por Dionisio. Enquanto no processo de configuração do nosso Cosmos a primeira hierarquia atuou de fora, a segunda hierarquia, de dentro do processo, acolheu os planos divinos transformando-os em sabedoria, dando-lhes movimento e forma.
E por último a terceira hierarquia – os Arqueus, ou Principados, os Arcanjos e Anjos, próximos do ser humano, porque desenvolveram a sua essência nesta etapa evolutiva em que nós, Anthropos, nos encontramos, e na qual estamos destinados a nos tornar cocriadores da Evolução.
Rudolf Steiner chama a atenção para o fato de que o homem autoconsciente deveria reaprender a vivenciar as hierarquias na sua vida interna como realidades.
Ele diz que esses seres espirituais vêm ao nosso encontro quando nos preparamos para conhecê-los, e falarão à nossa alma primeiramente como pensamentos e sentimentos, e só então os perceberemos como realidades!
Sergei Prokofieff descreveu o ensino espiritual de Chartres na tradição da vigília das 12 noites santas.
Ele delineia a escada de expansão da consciência, que ajuda a dar nascimento, no último degrau, ao Ser Divino em cada um de nós.
Prokofieff faz uma analogia entre este caminho de transformação e o processo de desenvolvimento descrito por Rudolf Steiner como o caminho de Jesus a Cristo.
Jesus nasce como a criança arquetípica, destinada a se desenvolver como um Ser Humano, de tal forma que possa acolher em si o Eu do Cosmo, no Batismo do Jordão. Este acontecimento místico derramará sua influência por sobre toda a história da Humanidade, como um grande arquétipo de desenvolvimento espiritual.
Acompanhe o Soundcloud na belíssima voz de Mirna Grzich todas as noites
domingo, 21 de abril de 2019
EPÍGRAFE
Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.
E fez de mim o que quis.
Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugia e como um furacão,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugia e como um furacão,
Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor! Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu:
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor! Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu:
Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.
- Esta pouca cinza fria.
quinta-feira, 28 de março de 2019
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
Mito do Andrógino
(Banquete
de Platão[1])
No início, a raça dos
homens não era como hoje. Era diferente. Não havia dois sexos, mas três: homem,
mulher e a união dos dois. E esses seres tinham um nome que expressava bem essa
sua natureza e hoje perdeu seu significado: Andrógino. Além disso, essa
criatura primordial era redonda: suas costas e seus lados formavam um círculo e
ela possuía quatro mãos, quatro pés e uma cabeça com duas faces exatamente
iguais, cada uma olhando numa direção, pousada num pescoço redondo. A criatura
podia andar ereta, como os seres humanos fazem, para frente e para trás. Mas
podia também rolar e rolar sobre seus quatro braços e quatro pernas, cobrindo
grandes distâncias, veloz como um raio de luz. Eram redondos porque redondos
eram seus pais: o homem era filho do Sol. A mulher, da Terra. E o par, um
filhote da Lua.
Sua força era extraordinária
e seu poder, imenso. E isso tornou-os ambiciosos. E quiseram desafiar os
deuses. Foram eles que ousaram escalar o Olimpo, a montanha onde vivem os
imortais. O que deviam fazer os deuses reunidos no conselho celeste? Aniquilar
as criaturas? Mas como ficar sem os sacrifícios, as homenagens, a adoração? Por
outro lado, tal insolência era perfeitamente intolerável. Então...
O Grande Zeus rugiu:
Deixem que vivam. Tenho um plano para deixá-los mais humildes e diminuir seu
orgulho. Vou cortá-los ao meio e fazê-los andar sobre duas pernas. Isso com
certeza irá diminuir sua força, além de ter a vantagem de aumentar seu número,
o que é bom para nós. E mal tinha falado, começou a partir as criaturas em
dois, como uma maçã. E, à medida em que os cortava, Apolo ia virando suas
cabeças, para que pudessem contemplar eternamente sua parte amputada. Uma lição
de humildade. Apolo também curou suas feridas, deu forma ao seu tronco e moldou
sua barriga, juntando a pele que sobrava no centro, para que eles lembrassem do
que haviam sido um dia.
E foi aí que as
criaturas começaram a morrer. Morriam de fome e de desespero. Abraçavam-se e
deixavam-se ficar assim. E quando uma das partes morria, a outra ficava à
deriva, procurando, procurando...
Zeus ficou com pena
das criaturas. E teve outra idéia. Virou as partes reprodutoras dos seres para
a sua nova frente. Antes, eles copulavam com a terra. De agora em diante, se
reproduziriam um homem numa mulher. Num abraço. Assim a raça não morreria e
eles descansariam. Poderiam até mesmo continuar tocando o negócio da vida. Com
o tempo eles esqueceriam o ocorrido e apenas perceberiam seu desejo. Um desejo
jamais inteiramente saciado no ato de amar, porque mesmo derretendo-se no outro
pelo espaço de um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse explicar,
que seu anseio jamais seria completamente satisfeito. E a saudade da união
perfeita renasceria, nem bem os últimos gemidos do amor se extinguissem.
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