domingo, 26 de abril de 2020

Jainismo

A religião mais pacifista do mundo

É comum para ocidentais confundir as religiões do norte da Índia. Porém elas são bem diferentes. O Jainismo prega o pacifismo e o Sikhismo (veja a próxima postagem) tem um espírito guerreiro.

O jainismo é uma das religiões mais antigas da Índia, juntamente com o hinduísmo e o budismo, compartilhando com este último a ausência de um Deus como criador ou figura central da religião.

Vista durante algum tempo pelos investigadores ocidentais como uma seita do hinduísmo ou uma heresia do budismo, devido à partilha de elementos comuns com estas religiões, o jainismo é, contudo, um fenômeno original. Ao contrário do budismo, o jainismo nunca teve um espírito missionário, tendo permanecido na Índia, onde os jainas constituem hoje cerca de quatro milhões de crentes. Pequenas comunidades jainas existem também na América do Norte e na Europa, em resultado de movimentos migratórios. A palavra jainismo tem as suas origens no verbo sânscrito jin que significa "conquistador". Os seus adeptos devem combater, através de uma série de estágios, as paixões de modo a alcançar a libertação do mundo.

Sua visão básica é dualista. A matéria e a mônada vital ou jiva são de naturezas distintas, e durante sua vida o ser vivente (seja humano ou animal) tinge sua mônada como resultado de suas ações. Para se purificar, esta religião propõe um extremo ascetismo e o colocar em prática da doutrina da não violência ou ahimsa.

Os jainas reconhecem que pessoas, animais, plantas, formações rochosas, cursos de água e quedas de água têm jiva, ou seja, alma ou princípio vital. Todos estes seres têm igual valor e estão interligados na teia de existência por elos kármicos.

Segundo os historiadores da religião, o jainismo estabeleceu-se na Índia em meados do primeiro milénio a.C.. O seu fundador foi o Mahavira, existindo duas propostas para o período em que viveu: 599 a.C. - 527 a.C (data tradicional apontada pelo jainismo) ou 540 a.C - 470 a.C. (segundo os académicos). Nasceu perto de Patna, naquilo que é hoje o estado do Bihar. Foi um contemporâneo de Buda, tendo pregado na mesma região geográfica, embora não conste que os dois mestres se tenham alguma vez encontrado. Pertencia à casta dos guerreiros (xátrias), casou, viveu no luxo até que por volta dos trinta anos tornou-se um mendigo errante.

Entregou-se a longos processos ascéticos até obter a iluminação, tendo consagrado os restantes trinta ou quarenta anos da sua vida a pregar a sua doutrina. Faleceu em Pavapuri, no Bihar, que é desde então um dos principais locais de peregrinação jaina.

De acordo com os jainas, a sua religião é eterna, tendo sido a doutrina revelada ao longo de várias eras pelos tirthankaras, palavra que significa "fazedores de vau", ou seja, alguém que ensinou o caminho. Os tirthankaras foram almas nascidas como seres humanos que alcançaram a libertação (moksha) do ciclo dos renascimentos através da renúncia e que transmitiram os seus ensinamentos aos homens. Na presente era existiram 24 tirthankaras. O último desses tirthankaras foi o Mahavira, que os jainas não consideram como o fundador do jainismo, mas antes aquele que lhe deu a sua forma atual. O 23.º tirthankara foi Parshva, que os historiadores consideram ter sido provavelmente uma figura histórica que viveu cerca de três séculos antes do Mahavira. Os jainas acreditam que Parshva pregou os quatro grandes princípios do jainismo, a saber: não violência (ahimsa), evitar a mentira, não se apropriar do que não foi dado e não se apegar às posses materiais; o mahavira acrescentou o princípio da castidade.

Os jainas encontram-se divididos em dois grupos principais: os Digambara ("Vestes de céu") e os Svetambara (ou Shvetambara, "Vestes brancas"). Cada um destes grupos encontra-se por sua vez dividido em vários subgrupos. A maioria dos jainas pertencem ao grupo Svetambara.

A origem destes dois grupos situa-se no século I d.C (ou talvez no século III d.C, segundo alguns autores) e deve-se a disputas em torno dos textos que devem constituir as escrituras do jainismo. Os svetambara consideram que as suas escrituras estão mais próximas dos ensinamentos originais do Mahavira, enquanto que os Digambara rejeitam uma parte considerável dessas escrituras. Os digambara consideram igualmente que a renúncia pregada pelo mahavira implica para os monges a nudez total e que as mulheres devem primeiro renascer como homens para poderem atingir a libertação.

A posse de qualquer bem é vista como relacionada com a violência, e até uma forma de violência física e psíquica. A violência em todas as suas formas tem origem no desejo de possuir, dominar e controlar. Os ascetas jainas recusam possuir seja o que for, mas para os leigos a posse de algumas coisas é necessária para a realização das tarefas diárias. A possessividade transitória (usar um ser para deitá-lo fora) é uma forma de apego e baseia-se em relações de exploração de poder, por parte de um dos lados, em vez de amor e equanimidade incondicional.

Assumir que alguém tem acesso privilegiado à verdade é o mais potente motor de conflito entre os seres humanos. O conceito de não absolutismo (anekantavada) refere-se ao pluralismo de opiniões, e à noção de que os vários pontos de vista sobre a verdade não são a própria verdade. O jainismo encoraja os seus seguidores a considerarem os pontos de vista de outras filosofias, e consideram que quando qualquer uma destas filosofias, incluindo a jaina, se apega demais às suas próprias ideias está a cometer o erro de considerar o seu ponto de vista absoluto. A ideia é representada pela parábola dos homens cegos e do elefante, em que vários cegos tocam em partes do elefante, como as orelhas e as pernas, e descrevem, de forma contraditória, o que pensam ser o animal completo, partindo do pressuposto de que a parte que tocaram representava a verdade completa. O conceito de "syadvada" ou "talvez-ismo" diz que se deve considerar que todas as proposições são apenas parcialmente verdadeiras (e parcialmente falsas). Os pontos de vista parciais da verdade são chamados de "naya". Segundo o princípio chamado de "nayavada", através da abertura a diversos pontos de vista, o jainismo pretende que o praticante integre os diversos pontos de vista parciais, ou "naya", numa teoria abrangente.
A não violência (ahimsa)é o cerne do jainismo e o ponto onde todas as doutrinas se intersectam. A violência é a agressão intencional ou não intencional. Os jainistas tentam evitar a agressão em todas as suas formas, seja através de ações, palavras, ou pensamentos, a todo e qualquer ser vivo, ou aos ecossistemas. O jainismo considera o lacto-vegetarianismo como o mínimo que deve ser feito pelos adeptos, e os estudiosos jainas defendem o veganismo, porque a produção de leite é agressiva para as vacas. Os jainas também não comem tubérculos. Os jainas também têm um cuidado especial para evitar possíveis danos a pequenos insetos, por exemplo ao colocarem um pano sobre as suas bocas para não os aspirarem ou varrendo o chão à sua frente quando andam para evitar pisá-los.

Os jainas consideram que o tempo é infinito e cíclico. Ele é visto como uma grande roda dividida em duas partes idênticas: uma realiza um movimento ascendente (Utsarpini), enquanto que a outra um movimento descendente (Avasarpini). Cada uma destas partes divide-se em seis eras (ara). Durante o período ascendente os seres humanos progridem ao nível do saber, estatura e felicidade, enquanto que o período descendente caracteriza-se pela degradação do mundo, pelo esquecimento da religião e pela perda de qualidade de vida pelos humanos.

Segundo os jainas, vivemos atualmente num período de movimento descendente, numa era de infelicidade (Dukham Kal), que começou há 2500 anos e que durará 21 mil anos.

Segundo o jainismo, o universo divide-se em cinco mundos, sendo cada um deles habitado por determinado tipo de seres. O universo é eterno, não tendo sido criado por nenhum ser superior.

No topo do universo está a morada suprema (siddhashila), que é o local onde habitam as almas que alcançaram a libertação (estas almas são denominadas Siddhas). Abaixo encontram-se trinta céus, habitados por seres celestiais, alguns dos quais caminham para a morada suprema.

O mundo médio (madhyaloka) inclui vários continentes separados por mares. No centro deste mundo encontra-se o continente Jambudvipa, considerado o único continente no qual as almas podem alcançar a libertação. Os seres humanos habitam este continente, bem como um segundo continente ao lado deste e parte do terceiro continente.

O mundo inferior (adholoka) consiste em sete infernos, onde os seres são atormentados por demónios e onde se atormentam uns aos outros. Abaixo do sétimo inferno encontra-se a base do universo (nigoda), habitada por inúmeras formas inferiores de vida.

À semelhança do hinduísmo e do budismo, o jainismo partilha da crença no karma, embora de uma forma diferente. O karma no jainismo não é apenas um processo em que determinadas ações produzem reações, mas também uma substância física que se agrega a uma alma. As partículas de karma existem no universo e associam-se a uma alma devido às ações dessa alma (por exemplo, quando uma alma mente, rouba ou mata esta provoca a o agregação de karma na sua alma). A quantidade e qualidade destas partículas determinam a existência que a alma terá, a sua felicidade ou infelicidade. Só é possível a uma alma alcançar a libertação quando desta se retirarem todas as partículas de karma.

O processo que permite a libertação das partículas de karma de uma alma denomina-se nirjara e inclui práticas como o jejum, o retiro para locais isolados, a mortificação do corpo e a meditação. Os seguidores do jainismo utilizam para isso um ritual mortuário chamado Sallekhana (também conhecido como Santhara, Samadhi-Marana, Samnyasa-Marana),que consiste em praticar a eutanásia através do jejum. Devido à natureza prolongada da sallekhana, é dado tempo ao indivíduo suficiente para refletir sobre sua vida e pedir perdão dos seus pecados aos deuses. O voto de sallekhana é tomado quando se sente que a vida tem servido o seu propósito. O objetivo é limpar karmas antigos e impedir a criação de novos. Existe uma prática hindu similar conhecido como Prayopavesa. De acordo com a revista Press Trust of India, em média, 240 jainistas praticam sallekhana até a morte a cada ano na Índia.

O jainismo considera a vida monástica como o ideal de vida dos seres humanos. Entre os Svemtambara a entrada na vida monástica é autorizada aos dois sexos a partir dos sete anos, mas realiza-se em geral numa idade mais avançada. O noviço deve abandonar todos os seus bens; por altura da sua ordenação (diksa) a sua cabeça é raspada e ele toma os cinco votos, que segue numa versão mais rigorosa do que a dos leigos (mahavrata).

Os monges jainas levam uma vida itinerante, com excepção da época das monções, altura em que se recolhem numa determinada localidade. Dependem para a sua alimentação da caridade fornecida pelos leigos jainas, a quem oferecem em troca assistência espiritual.

Os monges do ramo Svetambara podem ser donos de pequenas coisas, como uma fina veste branca, uma tigela onde recebem os alimentos dos leigos e uma máscara de tecido usada sobre a boca (mukhavastrika), cujo objetivo é evitar a ingestão involuntária de pequenos insectos. Os monges Digambara interpretam o preceito do desapego de uma forma bastante rigorosa e por esta razão não usam roupas; as monjas deste ramo usam uma veste branca. Os monges Digambara não possuem uma tigela e usam a mãos como recipiente dos alimentos. Os monges "Svetambara" costumam se deslocar em pequenos grupos de cinco ou seis monges, enquanto que os Digambara geralmente viajam sozinhos.

Todos os monges devem seguir as três regras que evitam a conduta incorreta (guptis: ter cuidado com os pensamentos, as palavras e as ações).

Entre os Svetambara o número de monjas ultrapassa o de monges. As monjas Digambara aceitam a doutrina que afirma que para se avançar no caminho espiritual é necessário nascer com um corpo masculino.

Os jainas que não são monges devem observar oito regras de comportamento e devem tomar doze votos. As oito regras de comportamento variam, mas em geral incluem a prática absoluta e irrestrita de Ahimsa (não violência) que tem seu ponto forte na alimentação: não comer carne de nenhum tipo, não comer certos vegetais (cebola e alho) os quais se acredita serem de origem inferior e não usar nenhum produto de origem animal. Outras regras incluem não se alimentar à noite, não ingerir bebidas alcoólicas nem substâncias consideradas alteradoras da consciência (cafeína, teobromina) e praticar a caridade a todos os seres vivos. Ler sobre as qualidades transcendentais dos tirthankaras e recitar o Navkar Mantra também fazem parte das principais práticas diárias.

Quanto aos doze votos, eles podem ser divididos em três classes:

Anuvratas - são os cinco votos principais: abster-se de atos violentos, não mentir, não roubar, não cobiçar o parceiro de outra pessoa e limitar as possessões pessoais;

Gunavratas - são três votos que reforçam os cinco votos principais: restringir as atividades pessoais a uma área concreta (digvrata), restringir práticas que proporcionam prazer (bhogopabhogavrata), evitar atos que causam sofrimento (anarthadandavrata);

Siksavratas - são quatro votos de disciplina espiritual: meditar, limitar determinadas atividades a certos momentos, adotar a vida de um monge por um dia, fazer donativos aos monges ou aos pobres.

Uma das principais formas de culto dos jainas leigos é prestar homenagem às estátuas dos tirthankaras. Os jainas lavam as estátuas e dedicam-lhes oferendas, como mel, flores, arroz, etc. Alguns grupos jainas, como os Sthanakavasis e os Terapanthis, são contra o culto de imagens.

O crente não adora a estátua em si, mas antes as qualidades associadas a ela, de modo a receber inspiração para seguir o mesmo caminho. As estátuas podem ser adoradas nos templos ou então em pequenos santuários existentes nas casas. São representadas em posição de meditação, sentadas ou em pé.

Não é possível estabelecer qualquer forma de contacto com os tirthankaras através desta forma de culto, uma vez que estes, tendo alcançado a libertação, ficam fora do contacto humano. Contudo, durante a Idade Média cada tirthankara foi associado a uma deusa protectora, em relação às quais se desenvolveram formas particulares de devoção. As deusas mais importantes são Ambika (associada ao 22º tirthankara, Arishtanemi), Padmavati (associada a Parshva), Lakshmi e Sarasvati.

As orações jainas fazem referência aos grandes actos dos tirthankaras e aos ensinamentos do Mahavira, sendo ditas num antigo dialecto do Bihar, o Ardha Magadhi. A principal oração é o Namaskara Sutra, através do qual o jaina presta homenagem às qualidades dos cinco grandes seres do jainismo.

O ato de fazer doações para a construção de templos é também considerado uma forma de culto, assim como a prática de peregrinações.

O jainismo dá mais ênfase à suástica que o hinduísmo. Representa o sétimo jina (santo), o Tirthankara Suparsva. É considerada uma das 24 marcas auspiciosas, emblema do sétimo arhat dos tempos atuais. Todos os templos jainistas, assim como os livros santos jainistas, contêm a suástica. As cerimônias jainistas começam e terminam com o desenho da suástica feito várias vezes em volta do altar.

Resumido da wikipedia

Sikhismo


- A religião dos Santos Guerreiros

“Há somente um Deus, cujo nome e verdadeiro criador, isento de temor e inimizade, imortal, não-nascido, autoexistente, grande e generoso. O verdadeiro que estava no começo e estará no fim".

Os Sikhs são um grupo étnico ariano do Norte da Índia, célebre pelo seu espírito guerreiro e sem regime de castas. Foi fundado no século XV pelo guru Nanak e é baseado em seus ensinamentos e nos de nove gurus sikh que se seguiram a ele. Considera-se como o décimo primeiro Guru o livro sagrado Sri Guru Granth Sahib, “O Livro do Senhor”, texto religioso central do siquismo. Toda linguagem usada no Sikhismo vem do Punjabi. O sistema de escrita é o gurumukh, uma língua sagrada anterior ao sânscrito.

O guru Nanak nasceu em uma família hindu em uma época na qual os hindus e os muçulmanos se encontravam em uma situação extrema de conflito. Sentiu-se compelido a formar a religião sikh afirmando: "Não há hindu, não há muçulmano, então qual caminho seguirei? Seguirei o caminho de Deus". O guru Nanak e aqueles que se seguiram a ele rejeitaram o sistema de castas hindu e se empenharam muito para erradicá-lo de seus modos de pensar. Como o sistema de castas foi em uma época identificável pelo sobrenome, todos os homens sikhs usando o sobrenome Singh, que significa leão, e as mulheres o sobrenome Kaur, que significa princesa.

Nove homens iluminados se seguiram ao guru Nanak e juntos ficaram conhecidos como os dez gurus. A palavra guru significa aquele que erradica a escuridão, professor, pessoa honrada, religiosa ou santa. O Sikhismo acrescenta uma definição muito específica à palavra guru - a descida de orientação divina para a humanidade por meio de dez homens iluminados. A termos Sikhi significa discípulo, aprendiz. O estabelecimento da religião sikh começou com o guru Nanak em 1469; o espírito divino foi passado através de cada guru.

O Sikh Dharma foi estabelecido ao longo de 239 anos, de 1469 a 1708, por dez Gurus cujo principal objetivo de vida era promover o bem-estar ético e espiritual do ser humano. Eles ensinaram a diferentes povos, não só na Índia, a viver com dignidade, liberdade e honra, promovendo a igualdade entre os seres humanos sem discriminação.

Ao serem elevados à dignidade de Guru, cada um reforçava a mensagem de seu antecessor e acrescentava algum valor aos ensinamentos. O resultado disso é o legado que chamamos de Sikh Dharma.

O Sikhismo foi durante séculos perseguido como minoria religiosa. Por conta desta perseguição, os Sikhs foram historicamente treinados para autodefesa, e um dos símbolos da religião é justamente a adaga.

Depois da morte do décimo guru, Gobind Singh, em 1708, as escrituras sagradas sikh foram chamadas de Guru Granth Sahib. O Granth foi compilado pelo quinto guru sikh, guru Arjan Dev ji. Ele empreendeu a enorme tarefa de coletar, compilar e examinar os hinos e composições do guru Nanak e seus predecessores. Decidiu incluir não apenas os hinos dos gurus, mas também os de outros homens virtuosos, tanto muçulmanos quanto hindus. Os siques consideram o Guru Granth Sahib um guia espiritual não apenas para eles próprios, mas sim para toda a Humanidade; ele assim exerce um papel central. Seu papel na vida devocional dos siques está baseada em dois princípios fundamentais: que o texto é o Guru vivo e que todas as respostas concernentes à religião e à moralidade podem ser encontradas nele.

O triângulo da fé:

A religião possui três pilares que orientam a prática da doutrina, são eles: repetir o nome de deus, alcançar o sustento com o próprio esforço e a praticar a caridade. Os fiéis também acreditam na existência do karma. O sikhismo prega que os homens estão separados de deus por serem egocêntricos, por isso ficam presos no ciclo contínuo de nascimentos e mortes. Somente a recordação devotada do nome nam simaram e a repetição do nome nam japam permitem a libertação do egocentrismo e a união com Deus.

Ao contrário da maioria das outras religiões, os vestem os cinco artigos de sua fé. Esses são conhecidos como os cinco “K”.

-Kesh, cabelo sem cortar, mantido muito limpo e considerado uma dádiva de Deus.

-Kangha, um pequeno pente de lã para manter o cabelo preso e agir como um lembrete para manter vidas bem organizadas.

-Kirpan, uma espada curta, com aproximadamente 15 cm de comprimento. Significa honra, dignidade, bravura e o dever sikh de defender o fraco e oprimido e se apegar à verdade. O kirpan nunca deve ser desembainhado com raiva, mas uma vez desembainhado não deve ser re-embainhado sem derramar sangue.

-O kara é um bracelete de aço usado no punho direito (a menos que quem o usa seja canhoto). O círculo do bracelete é um símbolo de Deus e unidade e o aço simboliza força e a luta pelo que é certo.

-Kachs são calções curtos amarrados com um cordão para permitir a facilidade de movimentos na batalha. Também simbolizam pureza e modéstia e são um lembrete da necessidade de permanecer fiel às suas esposas.

O símbolo mais largamente reconhecido do Sikhismo é o turbante usado pelos homens. Simboliza disciplina, integridade, humildade e espiritualidade e é uma parte obrigatória da fé sikh e não um costume social. O longo cabelo sem cortar é coberto por aproximadamente 4,5 m de tecido. Homens e mulheres cobrem suas cabeças em público como sinal de respeito pelos gurus e por Deus.

O templo dos sikhs é conhecido como Gurdwara (a porta do guru) e geralmente também é um centro comunitário que consiste de duas salas, uma para oração e a outra na qual o Guru Granth Sahib é mantido quando não está em uso na sala de oração. Os sikhs não têm um dia particular de devoção, mas existem serviços religiosos diariamente, oferecidos em geral várias vezes ao dia nos centros maiores. Uma Nishan Sahib (bandeira) amarela e azul flutua do lado de fora do gurdwara para indicar um local de hospitalidade. Ninguém pode entrar com tabaco, álcool ou drogas intoxicantes. Os adoradores deixam seus sapatos do lado de fora e respeitosamente cobrem suas cabeças ao entrar.

O Guru Granth geralmente está em exposição dentro do gurdwara e os adoradores se curvam no chão perante ele e fazem oferendas de alimento e dinheiro. A maioria dos homens e mulheres geralmente se sentam separadamente, mas é um requisito cultural e não religioso. Uma característica importante do serviço é a distribuição e compartilhamento de Kara parshad, uma mistura de semolina, açúcar e ghee. Essa mistura é abençoada quase no final do serviço ao ser mexida com o Kirpan, a pequena espada. Nos grandes gurdwaras, onde os serviços são oferecidos ao longo do dia, o Kara pashard é distribuído enquanto os adoradores entram ou saem do templo.

Compilação de várias fontes por Felipe Matus (com colaboração de Nina Thama)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Ahmed


As Aventuras do Príncipe Ahmed[1]

A festa
Era, no tempo das histórias contadas, o dia do quinquagésimo aniversário do grande Califa de Bagdá.
Preparou-se então uma imensa festa, com a presença de convidados de diferentes reinos e países distantes. O rei da Pérsia presenteou o Califa com um tesouro de joias e ouro. Os sultões indianos compareceram juntos com um exército de elefantes e tigres. O poderoso feiticeiro africano Jáfar deu como presente para o Califa um cavalo mágico alado negro como a noite. A princesa Jasmim e seu irmão, príncipe Ahmed, também participavam dos festejos e observaram a demonstração de voo do cavalo.
Encantado pelo cavalo negro, o Califa oferece ao bruxo Jáfar a livre escolha de todos os tesouros de seu palácio. Aproveitando-se da oferta generosa, o feiticeiro revela sua intenção de usurpar o trono e escolhe a princesa Jasmim para se tornar herdeiro de Bagdá – causando grande desconforto no Califa.
Ahmed, herdeiro legítimo do califado, se interpõe, dizendo que sua irmã não estava a venda e que não acredita no cavalo voador.
O bruxo então convidado o príncipe a experimentar pessoalmente a montaria, para que que ele próprio verificasse que não havia nenhum truque e que o cavalo realmente voava. Quando o príncipe monta, o cavalo voa para longe, subindo pelas nuvens e desaparece. Em seguida, o mago é preso e anuncia como vingança, que o príncipe Ahmed não voltará mais ao mundo dos vivos.
No inferno
O cavalo leva o príncipe Ahmed aos reinos infernais governadas pela rainha Isthar. Os demônios se disfarçam de damas da corte e recebem o recém-chegado como um hospede, mas acabam brigando entre si pelo forasteiro. Ahmed, percebendo a armadilha, aproveita a ocasião e foge em seu cavalo voador para outra ilha vizinha.
Sabendo do acontecido, a própria rainha diaba Isthar decide seduzir e enfeitiçar o príncipe. Todas as noites, ela se transforma em um pássaro deslumbrante e voa em companhia de suas aias para banhar-se em um lago encantado na ilha em que Ahmed se esconde.
Completamente enfeitiçado, Ahmed decide casar-se com ela. Então, o príncipe apaixonado persegue e rapta a rainha pássara, levando-a no corcel negro até a China – para esconde-la dos demônios e de seus súditos infernais.
Na China
Enquanto isso, o mago preso em Bagdá descobre, em transe, o paradeiro de seu cavalo voador e foge do cárcere, transfigurando-se em um morcego para voar até a China.  
Ao chegar, o mago, transfigurado de canguru, rouba a veste de pássaro da rainha Isthar. Ahmed, tentando recuperar o vestido, cai em um fosso e fica preso debaixo da terra.
O mago então volta, em sua forma humana, e entrega a roupa roubada à Isthar. Mentindo à rainha, dizendo que a levará a Ahmed; o feiticeiro a engana e a vende como escrava ao Imperador da China.
Depois de lutar contra uma enorme serpente, Ahmed consegue sair da fenda entre as rochas em que estava preso. Ao sair, o jovem príncipe encontra uma garrafa antiga. Quando a abre, esperando encontrar algum líquido para saciar sua sede, uma poderosa gênia sai da garrafa e se apresenta ao herói.
- Sou Húri, a gênia guardiã da montanha de fogo, aprisionada na garrafa pelo feiticeiro Jáfar, faz muitos séculos. Como retribuição por ter me liberdade te concedo três desejos.
Como primeiro desejo, o príncipe pediu para ir até a China e a gênia lhe deu um tapete voador e uma espada mágica. Quando Ahmed chegou à China para resgatar seu grande amor, os demônios do inferno, reclamando o retorno de sua rainha, já haviam destruído quase todo país. O príncipe ainda derrotou dois dragões voadores, mas quando chegou ao palácio não encontrou mais Isthar, que havia voltado para seu reino infernal, deixando um grande rastro de destruição pelo caminho.
A guerra dos magos
Ahmed gastou seu segundo desejo voltando ao inferno. Lá chegando, no entanto, o príncipe encontra o feiticeiro Jafar na entrada, disposto a não o deixar entrar. Ahmed, utilizando seu último desejo, invoca a gênia Húri que assume a luta contra o feiticeiro, deixando o príncipe livre para entrar furtivamente no inferno e convencer Isthar a casar-se com ele. Jáfar se transforma em um elefante, Húri se torna um rato; o feiticeiro muda para gato, a gênia se metamorfoseia em um vírus; e assim por diante em um duelo da imaginação. Enquanto isso, Ahmed entra no inferno e encontra sua rainha, essa, no entanto, reluta em segui-lo.
Finalmente, a gênia Húri logra aprisionar o feiticeiro Jáfar dentro da garrafa. Isthar, no entanto, não concorda em abandonar seu reino para se casar com Ahmed em Bagdá. E desde então, o emir passa seis meses (o outono e o inverno) no inferno com sua consorte e seis meses (a primavera e o verão) nos reinos de seu pai e de sua irmã. Sempre voando em seu cavalo negro como a noite escura das luas novas. 

E assim, desde então, a divindade feminina derrota os homens maus. Em compensação, os homens bons sucumbem ao feminino ctônico. A maldição dos pares descasados pronunciada por Jáfar segundos antes de ser aprisionado, que perdura até os nossos dias. 



[1] As Aventuras do Príncipe Achmed é um filme alemão (1926) de animação de silhuetas de Lotte Reiniger. O filme trabalha diversas tramas pouco conhecidas dos contos de Mil e Uma Noites – principalmente da história O Cavalo de Ébano. Há uma versão solo traduzida do árabe por Richard Burton e publicada em português pela editora Hedra (2014). Pasolini também a conta em seu filme. Nessas versões a história de Aladim e a lampada maravilhosa é posta como um sub-enredo da história do príncipe Ahmed. No final, Aladim casa-se com Jasmim e Ahmed como Pari Banu, a deusa infernal. Na presente versão: a) alteramos alguns enredos misóginos; b) retiramos a história de Aladim da narrativa; e c) encerramos a história segundo a lenda da deusa babilônica de Isthar.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

As 12 Noites Santas


Segundo uma antiga tradição cristã, as 12 Noites Santas são o período que vai da noite de Natal até o dia de Reis.
Através da Luz Espiritual que brilha das estrelas do Zodíaco, as bênçãos divinas se derramam sobre aqueles que oram e vigiam. Os sonhos nestas noites se tornam mensageiros do Espírito!
Quando se acendeu no céu a estrela há muito tempo esperada, os Reis Magos iniciaram a jornada até a Criança que seria o novo Sol do Mundo. Após doze noites, consideradas sagradas a partir de então, eles puderam alcançá-la e ofertar o incenso, a mirra e o ouro, em nome de toda a Humanidade, acompanhados dos votos de que o Espírito Divino pudesse viver no pensar, sentir e querer humanos.
Dos pés à cabeça podemos vivenciar a transformação, de pessoas terrenas e materialistas, em pessoas espiritualizadas, que olham o mundo com uma visão espiritual. Vislumbramos a escada de expansão da consciência, que ajuda a dar nascimento, no último degrau, ao Ser Divino em cada um de nós.
A cada Natal temos a chance de um novo nascimento. E a cada ano, a oportunidade de uma nova vida. Não podemos nos esquecer disso, pois precisamos urgentemente de forças espirituais, não apenas para cada um de nós individualmente, mas para toda a Humanidade.
Na meditação das noites santas, podemos colocar na alma as sementes da Esperança em relação aos doze meses do ano que entra. Meditando dos pés em direção à cabeça, podemos almejar a consolidação das forças do nosso ser e a transformação dessas forças em qualidades verdadeiramente humanas e sagradas.
As 12 badaladas da meia-noite do Natal anunciam a vigília, que pode ser um preparo espiritual, como se as Noites Santas fôssem uma prévia dos 12 meses do ano que se inicia.
As inspirações recebidas das hierarquias espirituais nestas doze noites, através da meditação, injetam forças no desenvolvimento espiritual ao longo de todo o ano.
O Evangelho de Mateus nos remete aos mistérios espirituais da Antiguidade, etapa do desenvolvimento da humanidade na época do assentamento na região do Mediterrâneo, quando aqueles que eram iniciados desenvolviam a visão clarividente. Os corpos siderais eram vistos por eles como a manifestação de seres espirituais em atividade constante e transmutação contínua. A esse antigo estado de consciência clarividente está associado o surgimento da Astrologia, sabedoria baseada na analogia do movimento e posição dos astros com o destino humano. Ao fazermos a vigília das Noites Santas podemos retomar a jornada dos Reis Magos através da ligação com esta sabedoria, recebendo irradiações das 12 constelações do Zodíaco.
As hierarquias espirituais podem ser contempladas como esculturas, no portão sul da Catedral de Chartres, a mais importante catedral gótica da Idade Média. Neste portão, chamado de Portão da Transubstanciação, as hierarquias formam uma escada ascendente que representa o ensino espiritual.
O aluno vai de degrau em degrau se conectando a esses seres espirituais, que representam diferentes estados de Consciência. Neste aprendizado, o pensar e o sentir, integrados, se tornam órgãos de compreensão e de participação no mundo espiritual.
Os nomes das hierarquias se originaram de um manuscrito de Dionísio, o Aeropagita, que fundou a primeira escola esotérica cristã da Antiguidade. Dionísio, um iniciado nos antigos centros de mistérios gregos, renomeou os seres divinos, que eram chamados na Antiguidade como seres de Vênus, seres de Mercúrio e outros, a partir de uma revelação do Cristo feita a ele por Paulo de Damasco, em Atenas.
O Manuscrito escreve os nove níveis de seres divinos associados em grupos de três hierarquias que participaram da evolução da Terra e do ser humano.
A primeira hieraquia inclui os Serafins, Querubins e Tronos que iniciaram a evolução.
Eles atuam a partir do divino, da esfera macrocósmica, que é denominada a esfera do Pai, de Deus, de Alá, do amor divino, do grande mistério, da doação cósmica. Eles são seres de um estado evolutivo anterior ao nosso, tão avançados em sua evolução que foram capazes de fazer fluir de si a sua própria substância, dando nascimento ao atual estado do nosso sistema solar.
A segunda hierarquia é formada pelos Kyriotetes, Dynamis e os Exusiai, ou Elohins. Eles também são chamados de Dominios, Virtudes e Potestades, por Dionisio. Enquanto no processo de configuração do nosso Cosmos a primeira hierarquia atuou de fora, a segunda hierarquia, de dentro do processo, acolheu os planos divinos transformando-os em sabedoria, dando-lhes movimento e forma.
E por último a terceira hierarquia – os Arqueus, ou Principados, os Arcanjos e Anjos, próximos do ser humano, porque desenvolveram a sua essência nesta etapa evolutiva em que nós, Anthropos, nos encontramos, e na qual estamos destinados a nos tornar cocriadores da Evolução.
Rudolf Steiner chama a atenção para o fato de que o homem autoconsciente deveria reaprender a vivenciar as hierarquias na sua vida interna como realidades.
Ele diz que esses seres espirituais vêm ao nosso encontro quando nos preparamos para conhecê-los, e falarão à nossa alma primeiramente como pensamentos e sentimentos, e só então os perceberemos como realidades!
Sergei Prokofieff descreveu o ensino espiritual de Chartres na tradição da vigília das 12 noites santas.
Ele delineia a escada de expansão da consciência, que ajuda a dar nascimento, no último degrau, ao Ser Divino em cada um de nós.
Prokofieff faz uma analogia entre este caminho de transformação e o processo de desenvolvimento descrito por Rudolf Steiner como o caminho de Jesus a Cristo.
Jesus nasce como a criança arquetípica, destinada a se desenvolver como um Ser Humano, de tal forma que possa acolher em si o Eu do Cosmo, no Batismo do Jordão. Este acontecimento místico derramará sua influência por sobre toda a história da Humanidade, como um grande arquétipo de desenvolvimento espiritual.

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