segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As aventuras do sapo Kambo - primeira parte

O bico do tucano


Certo dia, Kambô coachava pela floresta, caçando mosquitos, quando encontrou seu amigo tucano chorando, em seu galho de árvore.

- O que foi que houve, amigo tucano? - perguntou Kambô.

- É meu bico, Kambô. Ele é muito grande – falou o tucano aos prantos. - É quase do tamanho do resto do meu corpo. Os papagaios gozam de mim e as araras falam de mim pelas costas.

- Você não devia se incomodar com a opinião deles – argumentou Kambô - “eles tem é inveja desse lindo seu bico amarelo”.

- Mas, não é uma questão de vaidade, Kambô. É difícil voar com um bico grande desses. Eu vivo cansado. E tenho que dormir de lado para não cair.

- Em compensação você pode guardar bastante comida bem protegida – lembrou Kambô, acrescentando: “o espírito da grande floresta diz que temos que aprender a tirar proveito das nossas dificuldades”.

- É, e o que vou eu fazer com esse bico?

- Calma, Tucano, se a Mãe Natureza te deu um bico grande, alguma utilidade ele deve ter – disse Kambô. E acrescentou: “Tudo que existe tem uma causa.” O tucano ouviu Kambô, mas não deu muita atenção. “Que função poderia ter aquele bico enorme senão faze-lo passar por tanta vergonha e sofrimento” – pensou.

Acontece que naquela mesma hora andava por ali Jibóia, uma cobra muito gulosa, que gostava especialmente de sapos e rãs. O que Jibóia não sabia é que a Rainha da Floresta tinha dado um poder especial a Kambô, a capacidade de transformar veneno em remédio. E quando viu o sapo conversando com tucano, pensou logo: “vou armar meu bote aproveitando que ele está distraído”. Então Jibóia foi se arrastando silenciosamente pela mata e atacou o sapo de repente, engolindo-o de uma única vez. Porém, logo depois Jibóia fez uma careta e cuspiu Kambô, gritando: “Água, água. Estou queimando por dentro. Água, eu preciso de água.” E sumiu correndo pela floresta a procura de um igarapé. É que, em situações de perigo, o sapo Kambô sua e seu suor é um veneno mágico que cura as pessoas boas e pode matar os que não tem bom coração. Kambô, no entanto, ficou desacordado e o amigo tucano foi socorrê-lo.

- Amigo Kambô, amigo Kambô! – gritava o tucano, mas o sapo não respondia. Então, a ave pegou o amigo com grande bico e levou-o voando até o rio. Quando chegou à água, Kambô recobrou os sentidos e voltou ao normal.

- Obrigado amigo tucano – disse Kambô – e vamos agradecer também à Rainha da Floresta por ter dado um bico grande o suficiente para salvar a vida dos seus amigos.

- Obrigado também Kambô por ser meu amigo e ter me mostrado a importância do meu bico – disse o tucano, muito contente, não só por ter salvado seu companheiro querido, mas também por ter descoberto o valor de sua diferença.

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