segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As aventuras do sapo Kambo - quarta parte

O Escorpião e o Sapo

Uma das aulas obrigatória para todos os animais da Escola da Floresta era sobre o grande dilúvio há muitos anos atrás. Era a primeira vez que professora Gambá ia contar essa estória para uma turma de jacarés novatos. Insegura, ela começou:

- O grande dilúvio foi um castigo divino dos seres encantados contra os animais e contra o homem, que continuavam em uma guerra dissimulada de todos contra todos, não apenas destruindo uns aos outros, também à Natureza – disse, acrescentando - Uma das estórias mais conhecidas é a do sapo e do escorpião. Vocês querem que eu conte?

- Sim – disseram quase que em coro os filhotes de jacaré.

- Então, vamos lá – disse a professora sentando se confortavelmente em seu cesto, acima do alcance dos seus alunos – Tudo começou quando as águas subiram acima das árvores e o escorpião ia morrer afogado. Um sapo surgiu e disse: “Escorpião, suba aqui nas minhas costas que eu sei nadar e te salvo a vida até que as águas baixem”. O escorpião, então, respondeu: “Cuidado, sapo, pois sou um escorpião e minha natureza é traiçoeira”. Ao que o sapo retrucou: “Mas se você me atacar durante a enchente, também morrerá será que sua natureza está acima de sua racionalidade”.

Para representar o diálogo, a professora Gambá contracenava com o próprio rabo peludo, fazendo ora o papel do sapo, ora o do escorpião.

- Como não tinha opção, o escorpião aquiesceu e subiu nas costas do sapo. “Ou viveremos os dois, ou então morreremos os dois” pensou. Com o passar do tempo, no entanto, foi dando um desejo irresistível no escorpião de ferrar o sapo, mesmo que isto significasse também seu fim – dissera a professora criando um suspense.

- E quando não conseguiu mais segura seu desejo, o escorpião atacou o sapo e os dois morreram – terminou a Gambá rapidamente.

- Não, não foi assim, não – protestou o jacaré assu, interrompendo a história pela professora gambá – Meus tios estavam lá e viram tudo: o escorpião atacou mas o sapo não morreu.

- Morreu sim – disse a professora.

- Não, morreu não – insistiu o jacaré – só se foi o sapo cururu e essa estória for de outra floresta. Porque o nosso sapo Kambô desta floresta aqui derrotou o escorpião durante o dilúvio.

- Como é que? – perguntaram os outros interessados.

- Foi assim – começou o jacaré, com o charme característico dos contadores de estórias – os dois passaram três dias e três noites na chuva. O escorpião nas costas do sapo.

No final do terceiro dia, o escorpião ameaçou: “Compadre sapo, não agüento mais, vou te atacar”.

Então, Kambô argumentou: “Não faça isto compadre escorpião, será que seu instinto é mais forte que sua consciência?” Não era e o escorpião atacou. Mas como Kambô tem um veneno muito mais potente do que o escorpião, quem ficou envenenado foi ele e o sapo ficou ainda mais forte, adquirindo imunidade também daquela substância.

Kambô ainda disse: “Eu transformo o veneno que lançam contra mim em vacina para curar as pessoas”. E completou, enquanto o escorpião morria: “Obrigado, amigo escorpião, por ter me atacado porque agora estou mais forte e posso derrotar inimigos ainda maiores”.

- Kambô é o predador dos predadores – arrematou a professora Gambá, feliz por ter aprendido uma versão melhor da estória do sapo – na próxima aula vamos conhecer a história dos três pintores do retrato do rei Mapinguari I.

E encerrou a aula porque já chegava o final da tarde, hora de todos voltarem às suas casas.

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