segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As aventuras do sapo Kambo - segunda parte

O rei Mapinguari


Na floresta africana, o leão é o rei dos animais. Porém, aqui no Brasil na floresta amazônica, o rei é o Mapinguari, uma preguiça gigante que muitos pensam que não existe mais e vive escondido na mata profunda.

O Mapinguari não é o rei porque por ser o mais forte (coisa que ele não é), o mais esperto (também não é o caso) nem mesmo o mais rápido (ele só perde para as tartarugas); mas devido a uma democrática eleição que o escolheu como o mais adequado para o majestoso cargo.

Tudo começou quando o Tamanduá quis ser o rei da floresta e os outros animais não concordaram: “ele nem da mata é”. Os macacos andavam se transformando em humanos e também não podiam assumir a chefia do reino animal. Então, a coruja propôs uma eleição. Todos podiam votar e ser votados, os dois que tivessem mais votos, concorreriam em uma segundo eleição. E quem vencer na segunda vez, será o rei da floresta e todos teriam que aceitar.

Houve, então, um grande alvoroço com vários bichos fazendo campanha, dando presentes e prometendo coisas absurdas. Mapinguari, no entanto, passa o tempo todo dormindo em sua árvore e ninguém sabia em quem ele ia votar. A sua amiga Anta foi visitá-lo e perguntou:

- E aí Mapin, vai votar em quem? – perguntou a Anta curiosa.

- Em ninguém, todos estão mal intencionados, comadre Anta. Eles só querem o poder para tirar vantagem – respondeu o Mapinguari – Eu só votaria em alguém que fosse honesto e não quisesse o poder para se aproveitar como esses oportunistas interesseiros, eu só votaria em alguém que se sacrificasse pelos outros.

- Votar em quem não quer ser eleito?

- Claro, se todo mundo votar em um que não queira, ele vai se sentir forçado a ser candidato no segundo turno, comadre Anta – argumentou a preguiça.

- O senhor está me saindo em belo do estrategista – provocou a Anta.

- Além do que o sol já é nosso rei e a floresta, nossa rainha – continuou Mapinguari, completando já com sono e vontade que Anta fosse embora para poder voltar a dormir - Nós não precisamos de governo, se eu fosse eleito não faria nada e daria tudo certo.

A anta ficou surpresa com a sabedoria da resposta de seu amigo e contou a todos que se Mapinguari fosse eleito, ele “não faria nada e daria tudo certo”. A estória ganhou a mata como se fosse o fogo de incêndio na palha seca e no dia da votação o resultado apresentava o Tamanduá e o Mapinguari praticamente empatados nos primeiros lugares.

Na segunda etapa da eleição, o Tamanduá fez uma campanha de marketing político completa, se esforçando por apresentar uma plataforma política de propostas formada por reivindicações de diferentes segmentos do reino animal (levantadas através de pesquisas de opinião), oferecia apoio e proteção aos bichos mais fracos e reclamava contra os candidatos anarquistas, que “são sempre contra tudo e nunca fazem nada”.

Enquanto isso, o Mapinguari não fazia nada mesmo, “para não agradar nem desagradar ninguém” – segundo contou sua comadre anta, “deixando quieto tudo que já está”. Com o transcorrer da campanha, com os correligionários do Tamanduá começaram a brigar entre si pelas vantagens e o excesso de exposição do candidato fez com que a postura de não-interferência da preguiça se fortalecesse mais e mais.

E foi assim que 90% dos bichos encantados da Floresta elegeram o rei Mapinguari I, soberano dos animais mágicos por um período indeterminado de tempo.

A preguiça, após assumir o trono (que foi levado para sua árvore), nomeou o Tamanduá embaixador da floresta das terras distantes dos pastos, a comadre Anta para primeiro-ministro e a Dona Onça como ministra da guerra (só para o caso de haver algum problema inesperado), decretando ainda que naquele dia em diante nada mais fosse decidido sem houvesse discussões dos animais em plenárias democráticas.

E depois foi dormir por alguns meses.

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