terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Kirtimukha, o exú de Shiva

Shiva, o destruidor de mundos, passeava com sua esposa Parvarti, quando de repente surgiu um monstro e disse:

- Quero que sua esposa seja minha mulher!

Ultrajado com aquele insulto, o deus Shiva criou então um monstro dez vezes maior e mais ameaçador que o primeiro, forçando este a lhe pedir clemência.

Shiva, então, poupou a vida do primeiro monstro, que passou a ser seu devoto discípulo e disse ao segundo monstro:

- "Kirtimukha" ou seja: que o mal consuma a si mesmo!

E o monstro se auto devorou.

Hoje, a máscara do demônio Kirtimukha (imagem em anexo) serve como escudo de proteção nas casas e templos dedicados ao deus Shiva.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As aventuras do sapo Kambo - primeira parte

O bico do tucano


Certo dia, Kambô coachava pela floresta, caçando mosquitos, quando encontrou seu amigo tucano chorando, em seu galho de árvore.

- O que foi que houve, amigo tucano? - perguntou Kambô.

- É meu bico, Kambô. Ele é muito grande – falou o tucano aos prantos. - É quase do tamanho do resto do meu corpo. Os papagaios gozam de mim e as araras falam de mim pelas costas.

- Você não devia se incomodar com a opinião deles – argumentou Kambô - “eles tem é inveja desse lindo seu bico amarelo”.

- Mas, não é uma questão de vaidade, Kambô. É difícil voar com um bico grande desses. Eu vivo cansado. E tenho que dormir de lado para não cair.

- Em compensação você pode guardar bastante comida bem protegida – lembrou Kambô, acrescentando: “o espírito da grande floresta diz que temos que aprender a tirar proveito das nossas dificuldades”.

- É, e o que vou eu fazer com esse bico?

- Calma, Tucano, se a Mãe Natureza te deu um bico grande, alguma utilidade ele deve ter – disse Kambô. E acrescentou: “Tudo que existe tem uma causa.” O tucano ouviu Kambô, mas não deu muita atenção. “Que função poderia ter aquele bico enorme senão faze-lo passar por tanta vergonha e sofrimento” – pensou.

Acontece que naquela mesma hora andava por ali Jibóia, uma cobra muito gulosa, que gostava especialmente de sapos e rãs. O que Jibóia não sabia é que a Rainha da Floresta tinha dado um poder especial a Kambô, a capacidade de transformar veneno em remédio. E quando viu o sapo conversando com tucano, pensou logo: “vou armar meu bote aproveitando que ele está distraído”. Então Jibóia foi se arrastando silenciosamente pela mata e atacou o sapo de repente, engolindo-o de uma única vez. Porém, logo depois Jibóia fez uma careta e cuspiu Kambô, gritando: “Água, água. Estou queimando por dentro. Água, eu preciso de água.” E sumiu correndo pela floresta a procura de um igarapé. É que, em situações de perigo, o sapo Kambô sua e seu suor é um veneno mágico que cura as pessoas boas e pode matar os que não tem bom coração. Kambô, no entanto, ficou desacordado e o amigo tucano foi socorrê-lo.

- Amigo Kambô, amigo Kambô! – gritava o tucano, mas o sapo não respondia. Então, a ave pegou o amigo com grande bico e levou-o voando até o rio. Quando chegou à água, Kambô recobrou os sentidos e voltou ao normal.

- Obrigado amigo tucano – disse Kambô – e vamos agradecer também à Rainha da Floresta por ter dado um bico grande o suficiente para salvar a vida dos seus amigos.

- Obrigado também Kambô por ser meu amigo e ter me mostrado a importância do meu bico – disse o tucano, muito contente, não só por ter salvado seu companheiro querido, mas também por ter descoberto o valor de sua diferença.

As aventuras do sapo Kambo - segunda parte

O rei Mapinguari


Na floresta africana, o leão é o rei dos animais. Porém, aqui no Brasil na floresta amazônica, o rei é o Mapinguari, uma preguiça gigante que muitos pensam que não existe mais e vive escondido na mata profunda.

O Mapinguari não é o rei porque por ser o mais forte (coisa que ele não é), o mais esperto (também não é o caso) nem mesmo o mais rápido (ele só perde para as tartarugas); mas devido a uma democrática eleição que o escolheu como o mais adequado para o majestoso cargo.

Tudo começou quando o Tamanduá quis ser o rei da floresta e os outros animais não concordaram: “ele nem da mata é”. Os macacos andavam se transformando em humanos e também não podiam assumir a chefia do reino animal. Então, a coruja propôs uma eleição. Todos podiam votar e ser votados, os dois que tivessem mais votos, concorreriam em uma segundo eleição. E quem vencer na segunda vez, será o rei da floresta e todos teriam que aceitar.

Houve, então, um grande alvoroço com vários bichos fazendo campanha, dando presentes e prometendo coisas absurdas. Mapinguari, no entanto, passa o tempo todo dormindo em sua árvore e ninguém sabia em quem ele ia votar. A sua amiga Anta foi visitá-lo e perguntou:

- E aí Mapin, vai votar em quem? – perguntou a Anta curiosa.

- Em ninguém, todos estão mal intencionados, comadre Anta. Eles só querem o poder para tirar vantagem – respondeu o Mapinguari – Eu só votaria em alguém que fosse honesto e não quisesse o poder para se aproveitar como esses oportunistas interesseiros, eu só votaria em alguém que se sacrificasse pelos outros.

- Votar em quem não quer ser eleito?

- Claro, se todo mundo votar em um que não queira, ele vai se sentir forçado a ser candidato no segundo turno, comadre Anta – argumentou a preguiça.

- O senhor está me saindo em belo do estrategista – provocou a Anta.

- Além do que o sol já é nosso rei e a floresta, nossa rainha – continuou Mapinguari, completando já com sono e vontade que Anta fosse embora para poder voltar a dormir - Nós não precisamos de governo, se eu fosse eleito não faria nada e daria tudo certo.

A anta ficou surpresa com a sabedoria da resposta de seu amigo e contou a todos que se Mapinguari fosse eleito, ele “não faria nada e daria tudo certo”. A estória ganhou a mata como se fosse o fogo de incêndio na palha seca e no dia da votação o resultado apresentava o Tamanduá e o Mapinguari praticamente empatados nos primeiros lugares.

Na segunda etapa da eleição, o Tamanduá fez uma campanha de marketing político completa, se esforçando por apresentar uma plataforma política de propostas formada por reivindicações de diferentes segmentos do reino animal (levantadas através de pesquisas de opinião), oferecia apoio e proteção aos bichos mais fracos e reclamava contra os candidatos anarquistas, que “são sempre contra tudo e nunca fazem nada”.

Enquanto isso, o Mapinguari não fazia nada mesmo, “para não agradar nem desagradar ninguém” – segundo contou sua comadre anta, “deixando quieto tudo que já está”. Com o transcorrer da campanha, com os correligionários do Tamanduá começaram a brigar entre si pelas vantagens e o excesso de exposição do candidato fez com que a postura de não-interferência da preguiça se fortalecesse mais e mais.

E foi assim que 90% dos bichos encantados da Floresta elegeram o rei Mapinguari I, soberano dos animais mágicos por um período indeterminado de tempo.

A preguiça, após assumir o trono (que foi levado para sua árvore), nomeou o Tamanduá embaixador da floresta das terras distantes dos pastos, a comadre Anta para primeiro-ministro e a Dona Onça como ministra da guerra (só para o caso de haver algum problema inesperado), decretando ainda que naquele dia em diante nada mais fosse decidido sem houvesse discussões dos animais em plenárias democráticas.

E depois foi dormir por alguns meses.

As aventuras do sapo Kambo - terceira parte

A revolta das formigas


Entretanto, nem tudo era paz e tranqüilidade na Floresta Encantada. A violência covarde dos predadores finais da cadeia alimentar, as injustiças territoriais impostas pela força e, sobretudo, as diferenças raciais entre as espécies criavam conflitos constantes e acabavam com o descanso do rei Mapinguari I. A Anta, primeira-ministra do governo da mata, corria para um lado, corria para o outro; enquanto o rei permanecia sempre acima dos conflitos e das partes envolvidas. E assim os dois juntos iam administrando os conflitos cotidianos da floresta – até o dia da greve geral das formigas.

- Companheiras, é chegada à hora de dar um basta nessa luta de classes, nessa exploração de nosso trabalho pelas cigarras, que passam o verão cantando e, no inverno, querem parte de nosso alimento – discursava uma formiga operária, acrescentando – basta de desigualdade, basta de injusta, basta de mentira!

As cigarras, por sua vez, se defendiam como artistas-celebridades, cantando músicas sobre como a inveja do belo cria o despeito da crítica. Tinha até um rap que cigarras entoavam enquanto as formigas trabalhavam que dizia que cantar a verdade era seu trabalho. Algumas cigarras chegaram até a defender a sindicalização da categoria para proteger sua atividade artística. Mas, a verdadeira causa da revolta não foi a luta de classe com as cigarras. As formigas sabiam que assim como a comida alimenta o corpo, a arte alimenta para o espírito – e que elas precisavam das cigarras para ser felizes.

A verdadeira causa da revolta das formigas foi a invenção da rodinha.

Tudo começou quando se percebeu que as formigas amazônicas são menos produtivas que as formigas de outros países, uma vez que o custo/tempo/esforço do transporte alimentar parecia ser muito maior aqui que no exterior. Após mandar um espião para realizar uma pesquisa sigilosa no estrangeiro, chegou-se a conclusão de que a grande diferença era tecnológica: ao invés de carregar um único pedaço de comida na cabeça, as formigas estrangeiras estavam usando um carrinho de uma roda, capaz de carregar três pedaços de comida de uma vez só. Para usar o carrinho, as formigas brasileiras teriam que pagar um royaltie às estrangeiras em comida, o que criaria uma dívida externa. Em contrapartida, além de diminuir o tempo de transporte, a invenção prometia diminuir também o custo com mão-de-obra, uma vez que se poderia demitir duas formigas e manter apenas uma fazendo o trabalho das três.

Nunca havia tido desemprego entre as formigas. E pior: o fato de duas formigas ficarem sem trabalho diminuía a remuneração dada àquela que trabalhava - que se via obrigada a se esforçar mais (e ganhar menos) para não ser substituída.

- A greve tem que ser geral porque se apenas demitidas trabalharem, morrerão de fome - dizia uma das formigas revoltadas.

- E as outras vão morrer depois de tanto trabalhar – completava outra.

- Abaixo a tecnologia! Abaixo a mudança! Abaixo a roda! – protestavam e em seguida gritavam palavras de ordem ensandecidas: “Formigas, unidas, jamais serão vencidas; formigas, unidas, jamais serão vencidas”.

A situação era realmente muito difícil, pois se as formigas parassem haveria conseqüências ambientais para toda floresta. Consultado, o rei Mapinguari I declarou do alto de sua árvore não entender porque as formigas queriam tanto trabalhar e porque todo mundo temia que elas parassem de trabalhar. “A sabedoria vem da ociosidade” – filosofou lá do seu galho, sugerindo que as duas formigas restantes poderiam cantar como as cigarras. E voltou a dormir, buscando uma solução para o conflito em seus sonhos profundos.

Quando a comadre Anta já estava perto de dar um treco, de tanta preocupação com problema, apareceu Kambô.

- Vamos abrir uma escola: a Escola da Floresta – sugeriu o sapo – nela, não apenas as formigas, mas todos os animais que estiverem livres da obrigação do trabalho poderão se aperfeiçoar e aprenderem novas coisas.

- E poderemos ter nossos próprios inventos sem ter que pagar por isso – acrescentou a Anta.

- A tecnologia e progresso material não são ruins para floresta, mas é preciso saber utilizá-los com sabedoria – explicou Kambô – e isso só se aprende com uma boa escola, comadre Anta.

E assim “para preservar as tradições e desenvolver a criatividade”, o rei Mapinguari I inaugurou a Escola da Floresta, “instituição animal para o aprendizado do novo, do futuro e do antigo, sem finalidade lucrativa outra senão a de promover o desenvolvimento dos bichos, da mata e de toda terra” – como gostava de dizer.

As aventuras do sapo Kambo - quarta parte

O Escorpião e o Sapo

Uma das aulas obrigatória para todos os animais da Escola da Floresta era sobre o grande dilúvio há muitos anos atrás. Era a primeira vez que professora Gambá ia contar essa estória para uma turma de jacarés novatos. Insegura, ela começou:

- O grande dilúvio foi um castigo divino dos seres encantados contra os animais e contra o homem, que continuavam em uma guerra dissimulada de todos contra todos, não apenas destruindo uns aos outros, também à Natureza – disse, acrescentando - Uma das estórias mais conhecidas é a do sapo e do escorpião. Vocês querem que eu conte?

- Sim – disseram quase que em coro os filhotes de jacaré.

- Então, vamos lá – disse a professora sentando se confortavelmente em seu cesto, acima do alcance dos seus alunos – Tudo começou quando as águas subiram acima das árvores e o escorpião ia morrer afogado. Um sapo surgiu e disse: “Escorpião, suba aqui nas minhas costas que eu sei nadar e te salvo a vida até que as águas baixem”. O escorpião, então, respondeu: “Cuidado, sapo, pois sou um escorpião e minha natureza é traiçoeira”. Ao que o sapo retrucou: “Mas se você me atacar durante a enchente, também morrerá será que sua natureza está acima de sua racionalidade”.

Para representar o diálogo, a professora Gambá contracenava com o próprio rabo peludo, fazendo ora o papel do sapo, ora o do escorpião.

- Como não tinha opção, o escorpião aquiesceu e subiu nas costas do sapo. “Ou viveremos os dois, ou então morreremos os dois” pensou. Com o passar do tempo, no entanto, foi dando um desejo irresistível no escorpião de ferrar o sapo, mesmo que isto significasse também seu fim – dissera a professora criando um suspense.

- E quando não conseguiu mais segura seu desejo, o escorpião atacou o sapo e os dois morreram – terminou a Gambá rapidamente.

- Não, não foi assim, não – protestou o jacaré assu, interrompendo a história pela professora gambá – Meus tios estavam lá e viram tudo: o escorpião atacou mas o sapo não morreu.

- Morreu sim – disse a professora.

- Não, morreu não – insistiu o jacaré – só se foi o sapo cururu e essa estória for de outra floresta. Porque o nosso sapo Kambô desta floresta aqui derrotou o escorpião durante o dilúvio.

- Como é que? – perguntaram os outros interessados.

- Foi assim – começou o jacaré, com o charme característico dos contadores de estórias – os dois passaram três dias e três noites na chuva. O escorpião nas costas do sapo.

No final do terceiro dia, o escorpião ameaçou: “Compadre sapo, não agüento mais, vou te atacar”.

Então, Kambô argumentou: “Não faça isto compadre escorpião, será que seu instinto é mais forte que sua consciência?” Não era e o escorpião atacou. Mas como Kambô tem um veneno muito mais potente do que o escorpião, quem ficou envenenado foi ele e o sapo ficou ainda mais forte, adquirindo imunidade também daquela substância.

Kambô ainda disse: “Eu transformo o veneno que lançam contra mim em vacina para curar as pessoas”. E completou, enquanto o escorpião morria: “Obrigado, amigo escorpião, por ter me atacado porque agora estou mais forte e posso derrotar inimigos ainda maiores”.

- Kambô é o predador dos predadores – arrematou a professora Gambá, feliz por ter aprendido uma versão melhor da estória do sapo – na próxima aula vamos conhecer a história dos três pintores do retrato do rei Mapinguari I.

E encerrou a aula porque já chegava o final da tarde, hora de todos voltarem às suas casas.

As aventuras do sapo Kambo - quinta parte

O retrato do rei


Quando chegou a idade avançada, quis o rei Mapinguari I deixar sua imagem para as próximas gerações de bichos mágicos e reais. E convocou a Capivara, a melhor pintora do reino da Floresta Encantada, para pintá-lo e deixar sua majestosa imagem para o futuro. Acontece que Mapinguari, como era muito preguiçoso, estava muito barrigudo e ao ver seu perfil fielmente reproduzido no retrato, com o buchão pendurado na árvore, o bicho vaidoso bradou: “Vou expulsar a Capivara da Floresta Encantada”!

O Lobo-guará, o segundo melhor do pintor da floresta, foi então convocado para pintar o rei Mapinguari. E, sabendo do que havia ocorrido antes, pintou o soberano com porte atlético, jovem, cercado por várias preguiças fêmeas apaixonadas. Mapinguari era vaidoso, mas não era burro: “Vamos expulsar este lobo bajulador” – gritou revoltado.

Kambô, o terceiro pintor, foi então convocado e enfrentou o dilema: "se pintar a verdade o rei vai me expulsar e se pintar a mentira, também". Acontece que o rei gostava de dormir de lado, em uma posição que a enorme pança não aparecia. E o sapo, esperto, sabendo desse detalhe, resolveu pinta-lo no deitado de lado no trono de modo que a barriga não aparecesse. E assim, os que conheciam o rei se divertiam com a malandragem de Kambô e os que não conheciam, não percebiam nada.

- É preciso saber dizer a verdade sem ofender – explicou o sapo, que se tornou o principal conselheiro do rei Mapinguari I, sendo chamado toda vez a comadre Anta precisava de ajuda ou que algum assunto difícil de resolver precisa-se ser solucionado.

As aventuras do sapo Kambo - sexta parte

O sonho do sapo e do príncipe

O lento cair da noite na floresta é um espetáculo difícil de descrever: as cigarras, os sapos e os pássaros da noite cantam como que chamando as sombras e a escuridão. Depois, abre-se um grande silêncio noturno, majestoso, integral, pesado. E com esse silêncio sombrio das matas, surgem também as estrelas no céu e a Lua iluminando a noite, com sua luz com de prata. Em uma noite de lua cheia, o sapo Kambô sonhou que era um príncipe de reino distante, chamado Salomão. E, no sonho de Kambô, o príncipe Salomão sonhava que era um sapo que vivia na floresta. Era um sonho dentro de outro sonho que era real.

- Será que sou um príncipe que sonha que é um sapo ou será que sou um sapo que sonha ser um príncipe? – perguntou Kambô ao seu grande conselheiro espiritual, o monge louva-deus.

No sonho (ou no sonho no sonho), o príncipe Salomão vivia infeliz, pois se sentia prisioneiro de uma vida sem graça, árida, por vezes até violenta, em que os todos agiam apenas para satisfazer seus interesses. Kambô sentia saudades da Floresta, embora nunca tivesse saído dela.

O monge louva-deus ouviu, escutou, pensou e disse a Kambô:

- Apenas um beijo de amor pode responder a esta questão – disse o louva-deus, coçando as patas – você terá que fazer uma viagem às terras distantes, onde vivem os homens decaídos, e procurar por alguém que te dê um beijo apaixonado. Só então descobriremos a sua verdadeira natureza, se você é um príncipe humano que sonha que é um sapo ou se é um sapo que sonha que é um príncipe.

Kambô não gostou daquela estória de beijo, mas compreendeu que devia ir conhecer o príncipe do sonho e decidiu partir da floresta rumo ao sertão onde moravam os homens. Despediu-se então do louva-deus e seguiu o caminho dos rios que desciam das florestas altas até as terras secas dos desertos.