No início dos tempos, uma faísca de consciência se incendiou na grande noite do espaço infinito. Esta luz era Tawa, o espírito do Sol. Tawa então criou o Primeiro Mundo: uma enorme caverna povoada unicamente por insetos e governada pela Avó Aranha ou Kokyang Wuhti – a tecelã dos destinos, velha como o tempo e jovem como a eternidade, mãe de tudo na terra com quem se ela se funde e se confunde. Observando como se moviam os insetos, Tawa achou sua criação pouco inteligente, incapaz de Lhe compreender e dar louvor. Então lhes enviou a Avó Aranha que disse aos insetos:
- Tawa, o espírito do Sol que os criou, está descontente com vocês, porque não compreendeis em absoluto o sentido da vida. Assim, me foi ordenado que os encaminhassem ao Segundo Mundo, que está acima do teto da caverna.
Os insetos então começaram a escalar as paredes da caverna em direção ao Segundo Mundo. A subida era tão alta e tão penosa que, antes de chegarem ao Segundo Mundo, muitos dos insetos já haviam se transformado em animais serpentes, lagartos e dragões.
Tawa os contemplou e disse:
- Esses répteis são tão estúpidos quanto os insetos. Também não são capazes de compreender o sentido da vida.
Novamente pediu a Avó Aranha para que os conduzisse para o Terceiro Mundo – em um nível acima na caverna. E no transcurso desta nova viagem, alguns animais se transformaram em homens. No Terceiro Mundo, a Avó Aranha ensinou aos homens a tecerem e as mulheres a fazerem potes. Ela também instruiu convenientemente e na cabeça dos homens e mulheres começou a despontar uma vaga idéia sobre o sentido da vida. Entretanto, bruxos malvados, extinguiram a luz e cegaram os humanos. As crianças choravam, os homens guerreavam e se lastimavam, haviam perdido o sentido da vida.
A Avó Aranha voltou e lhes disse:
- Tawa, o espírito do Sol, está muito triste com vocês, porque perderam a centelha de luz que havia brotado em suas cabeças. Agora, vão ter que subir ao Quarto Mundo. Mas desta vez, deverão encontrar o caminho sozinhos.
Os homens, perplexos, se perguntavam como poderiam subir sozinhos para o Quarto Mundo. Em fim, um ancião tomou a palavra:
- Vamos enviar nosso amigo Sapo como mensageiro para explorar o Quarto Superior e nos contar o que há por lá.
O Sapo pulou até o alto da caverna e encontrou no centro de um grande deserto, uma linda mulher, toda vestida de preto. Reconheceu então aquele personagem: era a Morte.
- Venho da parte dos homens que habitam o mundo debaixo deste – disse o Sapo. - Eles desejam compartilhar contigo este país. Isso é possível?
A Morte refletiu por alguns momentos.
- Se os homens querem vir, que venham! Mas, como comigo tudo é passageiro, eles só durante algum tempo. Depois, só os que se desenvolverem, vão poder voltar ao Terceiro Mundo, os demais serão dados como alimento aos lagartos do plano debaixo e voltarão a ser insetos.
O Sapo voltou ao Terceiro Mundo e contou aos homens o que ouvido.
- A Morte aceita compartilhar com vocês o Quarto Mundo, comunicou, mas depois de um tempo apenas os que se desenvolverem poderão voltar.
Então os homens escalaram a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, que havia no centro do Terceiro Mundo. Nada levavam consigo, estavam nus, alegres como crianças, tão desprovidos como no seu primeiro dia de vida.
- Sejam prudentes e corajosos para voltarem quando chegar o dia! - recomendou a Avó Aranha - E não se esqueçam de que sou sua Mãe e que Tawa, o espírito do Sol, é seu pai!
Entretanto os homens já não mais a escutavam, pois já tinham alcançado às alturas. Ao chegarem ao Quarto Mundo, construíram povoados, plantaram mandioca, milho, melões, fizeram jardins e hortas. E desta vez, para dar sentido às suas vidas, se lembrarem de quem eles eram, de onde vieram e para onde estão indo – os homens inventaram as lendas e estórias sagradas, em homenagem a grande tecelã dos destinos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário