sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Identidade no Candomblé

A iniciação ritual no Candomblé é um processo de construção de uma identidade psicológica permanente entre o participante do culto e a entidade cultuada. Ao contrário do desenvolvimento mediúnico da concepção espírita - em que o médium renuncia temporariamente a sua própria subjetividade em favor da subjetividade de um desencarnado - o transe de incorporação no Candomblé tem por objetivo principal o auto-reconhecimento recíproco entre o ‘santo’ e seu ‘filho’, o reatamento simbólico e permanente do mundo dos homens (Ayé) com o mundo dos deuses (Orum).

Este processo de identificação simbólica entre os participantes e os Orixás não existe apenas no momento privilegiado do transe ritual; a identidade entre o iniciado e seu santo corresponde a incorporação psicológica permanente das características do orixá na personalidade de seus filhos. Esta identidade instaura-se não só através da iniciação e se desenvolve lenta e gradualmente nos transes, mas também é reforçado periodicamente nas obrigações sucessivas e renovada nas festa públicas dos santos, quando toda a comunidade presente se torna testemunha e fiadora desta aliança e dela se beneficia.

Os rituais do Candomblé consistem basicamente de um conjunto de temas arquetípicos - a representação\incorporação de forças naturais personificadas em comportamentos e estórias - que se sucedem durante a cerimônia. Cada entidade se manifesta através de um transe característico, produzido por imagens, sons, cheiros, gostos, danças, ritmos, cores, trajes e adereços específicos. Invocados através de danças extáticas e de três tambores cerimoniais (rum, rumpi e lé), os deuses africanos incorporam em seus ‘filhos’, fazendo-os re-dramatizar os grandes feitos míticos e lendas: a luta dos irmãos Ogum e Xangô pelo amor de Oxum, a viagem de Oxalufã ao encontro de seu filho Xangô, as aventuras amorosas de Yansã ... As entidades são, ao mesmo tempo, fundamentos psíquicos de comportamentos humanos e forças místicas da Natureza; e são representadas nos rituais como identidades sagradas que se manifestam dentro de uma estrutura mítico-litúrgica de interpretação do mundo.

NAÇÃO 
LÍNGUA
ENTIDADES
‘TOQUES’
NAGÔ (KETO) Iorubá Os Orixás  Ajicá, Aguerê, Opanijé, Darô, Alujá e Ibi
JEJE-fON EweOs Voduns  Arramunha, Bravum e Sató
ANGOLA e CONGO Banto e Português Os Inkices Barravento, Cabula e Congo

Não se trata, portanto, de uma encenação teatral ou de uma catarse histérica: neste psicodrama mítico há uma ‘economia energética’, onde forças espirituais são manipuladas e manipulam os corpos dos participantes, em um espetáculo coreográfico que associa imagens-tema a ritmos determinados. Essas associações audiovisuais são produto e instrumento de um processo de construção de uma identidade simbólica, que vai de acordo com a tradição cultural de cada Nação do Candomblé e com a força-entidade invocada.




KETO-NAGÔ (ORIXÁ) JEJE-FON (VOODUM) ANGOLA-CONGO (INQUICE)
Olorum ou Olodumaré Mavu Lissa Zambi ou Zania pombo
OxaláOlissaLembá ou Lembarenganga
OgumGú Sumbo Mucumbe
Oxossi -Mutalambô ou Tauamim
Omulú Sapatá Burumgunço ou Cuquete
XangôSobó Cambaranguaje ou Zaze
Yansã Oiá Bamburucema ou Matamba
Oxum Aziri Tobossi Quicimbe ou Caiala
Yemanjá AbéBandalunda
OxumaréBessém e Dã Angorô
Ossaim Aguê Catende (Caipora)
Exú/IrokoLokoTempo
Nanã-Burukê Nanambiocô Querê-querê

O que se pode perceber em uma rápida comparação das três nações é que nos Voduns e nos Inquices estão não apenas as mesmas forças místicas que formam os Orixás nagôs, mas também outras forças e outros conceitos. No caso dos Jeje, existentes no Haiti, em Cuba e no estado brasileiro do Maranhão, os Voduns cultuados são em número maior que os orixás mais conhecidos habitualmente no culto Iorubá. Os Voduns podem ser divididos em homens e mulher; e, dentro destes, em moços e velhos, somando um total de quarenta entidades. Já no caso dos ritos bantos, há, devido a outra concepção acerca da ancestralidade, entidades provenientes da mitologia indígena e também a presença de diversos tipos de espíritos de mortos (caboclos, preto velhos, crianças, índias). 

Na África, as ‘nações’ eram identidades étnicas de diferentes grupos geográficos. Porém, o termo ‘nação’ no contexto do candomblé brasileiro significa um grupo cultural com tradições próprias intrínsecas de culto. Há, portanto, uma diferença acentuada entre a identidade étnica das ‘nações africanas’ e a identidade cultural das ‘nações do candomblé’ no Brasil. De uma forma geral, podemos dizer que o modelo ‘Jeje-Nagô’ é predominante no Candomblé brasileiro. Ele é o mais tradicional, o menos permeável a mudanças e influências culturais, o mais próximo do modelo africano original ainda hoje existente na Nigéria. Em oposição a esta tendência tradicionalista do modelo Jeje-Nagô, o grupo cultural dos Bantos (nações de Angola e Congo) foi o que mais se sincretizou. Os Bantos, mesmo depois de um primeiro momento de autonomia religiosa e embora conservassem o nome original de certas entidades de origem congolesas, viram seus rituais progressivamente desagregarem, para dar lugar ao sincretismo afro-ameríndio (Catimbó, Candomblé de Caboclo, a pajelança e o culto a entidades indígenas) e ao afro-espírita (Jurema, Umbanda) ou se adaptaram as regras ditadas pelos candomblés nagôs, não se distinguindo destes senão por seus cantos mesclarem o banto com o português em louvores a ‘Zambi’. 

Assim, se o Candomblé é uma manifestação da identidade cultural dos negros no Brasil, pode-se notar facilmente a existência de uma linha de desenvolvimento angolana em oposição a uma linha nagô. A primeira, incorporando a ancestralidade indígena e mestiça, é responsável por novas formas de identidade social dentro da realidade brasileira; e a segunda, ao contrário, procurando cada vez mais se africanizar, cultuando exclusivamente os orixás e mantendo as cerimônias com os espíritos dos mortos (ou antepassados) restritas aos ritos secretos da Sociedade dos Eguns Ilê Agbouça, na ilha de Itaparica (BA). 

Além dessas variações culturais das referências simbólicas segundo as nações - que, no Brasil, se diversificam em milhares de seitas e cultos multisincretizados sob a hegemonia Jeje-Nagô - há, ainda, uma variação simbólica referente a cada entidade dentro de um mesmo ritual, onde os referentes são organizados de modo a caracterizar a identidade de cada orixá. Cada ‘Santo’ tem sua cor, suas músicas, sua dança e, ao mesmo tempo, corresponde a um tipo de comportamento humano específico e a uma faixa vibratória da Natureza. Cada entidade é um feixe de referentes simbólicos. No Xireé, a ordem seqüencial de apresentação durante o ritual é quando melhor se observa como os Orixás formam as freqüências de rede do Candomblé enquanto linguagem simbólica: no início as vibrações mais densas e ctnônicas; no final, as mais desmaterializadas e distantes. Trata-se, como dissemos, de reunificar o Ayé (Mundo do preto e vermelho) ao Orum (universo luminoso do branco), passando por todo espectro de vibrações/entidade intermediárias.

O modelo Jeje-Nagô ou baiano apresenta, geralmente, dezesseis orixás principais: Exu, Ogum, Oxossi, Ossaim, Xangô, Iansã, Oxum, Obá, Nanã Burukê, Omulú, Oxumaré, Iroko, Ibeji, Logunedé, Yemanjá e Oxalá. Vejamos agora como se organizam os referentes simbólicos (alimentares e audiovisuais) dessas
dezesseis entidades no sistema divinatório do Ifá.  

Mesmo sendo um processo onde a identidade é produzida predominantemente por freqüências rítmicas e cromáticas, o Candomblé não é apenas um conjunto de referências audiovisuais, mas também, de referências degustativas, olfativas e táteis (as comidas, incensos e ervas). Na verdade, essas referências cinestésicas literalmente ‘alimentam’ as freqüências audiovisuais, através de oferendas e sacrifícios, as linguagens simbólicas necessitam ser nutridas de energia psíquica, o Axé.

Vejamos suas principais referências simbólicas.


ORIXÁ
SUA COR
SAUDAÇÃO
DOMÍNIO
ELEMENTO
Oxalá  Branco Axé Babá!A Criação O CÉU
Yemanjá  Branco e Prata Odoiá! A Maternidade O MAR
Iroko  Branco e Cinza Iroko i só! O Tempo GAMALEIRA (árvore)
Oxumaré Vermelho e AmareloArô Boboi! A Alternância dos Opostos  O ARCO-ÍRIS E A COBRA
Omulú Branco e Preto  Atotô! Sofrimento e dor  A DOENÇA
Nanã Burukê RoxoSalubá! A Morte LAMA, LODO PÂNTANOS
Ibeji Várias Cores Vivas  Bejê Orô! Os Jogos CRIANÇAS
Logunedé Amarelo e Azul Claro  Logum ou Oriki!A Caça e a Pesca  RIOS E FLORESTA
Obá  Amarelo e Vermelho  Obá Xireê! A Culinária CACHOEIRAS
Oxum  Amarelo  Ora ieiê!  Beleza ÁGUA DOCE
Iansã Marrom Avermelho Epahei! Os mortos  A TEMPESTADE
Xangô Vermelho e Branco  Kauô-Kabisselê! Raio e Trovão (Justiça)  PEDRAS E MONTES
Ossaim Azul e Vermelho  Ue-eô! Cura e Liturgia  FOLHAS
Oxossi  Verde e Azul ClaroOkê Arô! Animais da Floresta  MATAS
Ogum Azul Escuro Ogunhê! Caminhos e Guerra  FERRO
Exú Preto e Vermelho  Laroiê! Portas e Encruzilhadas  FOGO

Ao processo ritualístico pelo qual se liga um corpo material à energia de um determinado orixá, chama-se ‘assentamento’. Por redução, o termo é utilizado para designar objetos (pedras, amuletos, instrumentos ritualísticos) que representam cada orixá, depois de um ritual onde a energia mística da entidade seja concentrada nos seus corpos. O fetiche mais comum é o ‘otá’ (pedra). Ele fica mergulhado em líquidos e substâncias, guardadas em pequenos frascos (as quartinhas) vedadas com panos coloridos com símbolos bordados, dependendo do orixá. Os líquidos mais comuns são o mel, o azeite-de-dendê e a água macerada com ervas do santo. São utilizadas águas de diferentes procedências: água do mar, dos rios, da chuva, etc., Os líquidos ou ‘Abós’ são preparados ritualmente com algumas gotas de sangue animal e com cantos secretos que apenas os Babalorixás conhecem. Há casos, no entanto, como na água de Xangô, que é preparada a apartir de uma ‘pedra de raio’ (meteorito), em que o otá é que imanta o líquido da quartinha. 

Todos assentamentos são periodicamente alimentados por sacrifícios e oferendas características de cada entidade, de forma a re-energizá-lo do seu Axé específico. Tal energia é armazenada nos pontos centrais do terreiro e utilizada  para dinamizar novos objetos ritualísticos ou para a manifestação das entidades em seus filhos. Assim, por extensão, o termo ‘assentamento’ também se refere à pedra fundamental do terreiro (onde por ocasião da inauguração são enterrados diversos objetos referentes ao santo da casa) e ao processo de iniciação ritual de um filho no santo (ou Iaô), para designar o momento em que a força mística do orixá é fixada na cabeça de um participante do culto. Temos, portanto três tipos de assentamentos distintos e três esferas de realimentação energética.

 Todos candomblés tradicionais têm assentamentos da casa, aqueles pertencentes ao orixá a que o terreiro é dedicado. Estes assentamentos são enterrados por ocasião da cerimônia de inauguração do local, na pedra fundamental da casa ou sob o ‘Ixé’, um mastro central onde se asteia a bandeira com os símbolos gráficos do orixá padroeiro. Na entrada de todos terreiros, costuma existir uma Gameleira-Branca, árvore consagrada a Iroko (o Tempo), que é plantada segundo rituais prescritos e também deve ser considerada um assentamento da casa. Este orixá responde pelas mudanças climáticas e meteorológicas, é uma espécie de guardião do terreiro. Caso exista no local a presença de outras forças naturais (cachoeiras, rios, pedreiras, etc.) também podem haver assentamentos específicos para os orixás correspondentes.

De uma forma geral, estes assentamentos são alimentados Ossé anual - que é uma grande festa de limpeza do altar e de todo terreiro, quando são servidos alimentos ritualísticos especiais para todos os orixás - e nas festas públicas de cada um dos santos, conforme o calendário litúrgico tradicional.
DATA SANTO DO DIACELEBRAÇÃO
20 de janeiroSão Sebatião Festa de Omulú (BA) e Oxossi (RJ)
02 de fevereiro N. Sra. das Candeias  Festa de Yemanjá (BA)
23 de abrilSão Jorge Festa de Ogum (RJ) e Oxossi (BA)
13 de junhoSanto AntônioFesta de Ogum (BA)
24 de junhoSão João BatistaFesta de Xangô
29 de junhoS. Pedro e S. Paulo  Festa de Oxalá
26 de julhoN. Sra. de Sant’ana  Festa de Nanã Burukê
24 de agostoSão BartolomeuFesta de Oxumaré
27 de setembroCosme e Damião Festa dos Ibeji
30 de setembroSão JerônimoFesta de Xangô
02 de novembroFinados Festa de Todos os Santos
04 de dezembroSanta BárbaraFesta de Yansã
08 de dezembroVirgem da ConceiçãoFesta de Oxum



Apesar do caráter semi-matriarcal das culturas africanas, o calendário litúrgico original do candomblé era marcado pelo advento das quatro estações climáticas, com o solstício de inverno (junho) dedicado aos principais orixás masculinos (Ogum, Xangô, Oxalá) e o solstício de verão (dezembro) consagrado aos orixás femininos (Iansã, Oxum, Yemanjá). Nunca houve um único calendário para o culto dos orixás. no Brasil, a fiscalização que os feitores das fazendas onde trabalhavam os escravos africanos exerciam e a repressão em geral aos cultos do candomblé fizeram com que os negros se adaptassem, da maneira que puderam, suas festas às cerimônias católicas.  

 Existem ainda no âmbito do terreiro: a tronqueira, o assentamento do Exú protetor da casa, e o Ilê-Saim, a casa dos mortos (eguns) que ainda estão identificados à vida material. Esses assentamentos, que ficam sempre fora da área do terreiro consagrada aos orixás, não são alimentados anualmente, mas sim conforme o ciclo lunar de 28 dias e o ciclo diário das marés. No candomblé, o Exú é a entidade que apresenta a freqüência mais densa do espectro (vermelho e preto), a única capaz de estabelecer uma ligação entre os homens e os orixás. Por isso, ele é requisitado para iniciar todas operações rituais do culto. Cada orixá tem seus próprios exús, que funcionam como servos ou mensageiros, possibilitando o contato com as entidades. Portanto, antes de qualquer oferenda para os santos, também é sempre feito um sacrifício aos exús correspondentes. O objetivo deste sacrifícios é manter atuantes os axés dos assentamentos, as forças místicas dos orixás. O sangue, juntamente com o álcool e a sexualidade, são veículos materiais que emitem as vibrações indispensáveis aos exús e aos desencarnados em geral atuarem no plano material e também, no
sentido inverso, aos homens penetrarem em outros estados de percepção e consciência.


 O assentamento de um orixá em  um ser humano é realizada através de um processo cerimonial chamado de ‘iniciação’. Estes processos são alimentados por obrigações, oferendas individuais de cada iniciado aos seus orixás tutelares ou a uma entidade com a qual esteja momentaneamente desarmonizado. Além das cerimônias anuais do calendário litúrgico, existe um dia da semana consagrado a cada orixá, que pode ser usado para a entrega de obrigações individuais, feitas de comidas ofertadas e da realização de sacrifícios animais.

 As restrições alimentares também condicionam simbolicamente esta identidade permanente entre os homens e os deuses: as proibições consistem em não consumir as substâncias que vibram na mesma freqüência do santo a que se está identificado. Apenas no processo de iniciação estas substâncias são ritualmente ingeridas. Após este período, as comidas características de cada orixá são interditadas a seus filhos. Caso o indivíduo não obedeça a estas restrições alimentares a que se encontra submetido e realize uma ‘auto-antropofagia simbólica’, ele sofrerá as quizilas (sensação de nojo, mal-estar). Pelo mesmo motivo, a manutenção da identidade psíquica entre o Orixá e o iniciado, eram considerados incestuosos os casamentos entre os filhos de um mesmo santo. Na África, visto que os candomblés eram verdadeiras identidades étnicas e haverem laços reais de parentesco entre os grupos que cultuavam uma mesma entidade, esta proibição tinha um sentido genético, além de cultural e intersubjetivo.

 Mas não se deve pensar que os homens são prisioneiros de um comportamento estereotipado, meros instrumentos passivos dos deuses: “o santo também é possuído por seus filhos”, que têm um papel ativo, tecendo relações complexas entre os orixás e a comunidade, multiplicando as relações entre as próprias entidades. O discurso dos iniciados traduz esta reciprocidade claramente. Do mesmo modo que se fala do ‘seu’ santo, costuma-se comentar também que ‘se é o próprio santo’: “o Xangô de fulano é rebelde”; e inversamente: “Beltrano é um dos Ogum da casa”. Ou seja: ao mesmo tempo que os deuses são designados como propriedades dos seus filhos, os iniciados também são propriedades dos orixás com que estão identificados. Ocorre, assim, um jogo constante de trocas entre o indivíduo concreto e o princípio abstrato que ele manifesta. Há, portanto, uma reciprocidade simbólica muito dinâmica entre a entidade e a pessoa.

E é esta reciprocidade que se desenvolve simultaneamente em três níveis - o ciclo anual de ‘firmeza’ da casa, o ciclo mensal de realimentação energética dos fetiches e dos abôs, e o ciclo semanal das obrigações individuais decorrentes da iniciação. E este último ciclo, no entanto, acabou simplificando todo sistema múltiplo e selvagem do Ifá em um sistema de sete vibrações principais. 

Hoje as comidas e plantas não são mais classificadas segundo seus lugares no espaço/tempo mítico, mas sim em relação as faixas vibratórias de um corpo universalizado. A passagem do sistema múltiplo, selvagem e territorial dos Orixás no Candomblé para as sete linhas da Umbanda segue um caminho de enquadramento e síntese das freqüências no modelo de correspondência do Ocidente, como no caso dos sete dias da semana, em detrimento das datas locais e da  territorialidade. 
DIA DA SEMANA 
ORIXÁ 
SACRIFÍCIO
OFERENDAS
Segunda-Feira
Exú

Omulú

 Nanã
Frangos pretos, galinhas d’angola e bodes pretos

Bode, porco e galo

Cabra e galinha
Farofa de Dendê, mel e cachaça

Aberém (bolo de milho ou arroz, Doburú (pipoca sem sal) e Latipa (folhas de mostarda cozidas)

Anderê (vatapá de feijão fradinho) e também as comidas de Omulú, Iroko e Oxumaré
Terça-Feira
Ogum

Oxumaré

Iroko
Galo

Bode, galo ou galinha

Galo ou carneiro
Inhame assado, acarajé e feijoada com cerveja

Feijão com milho, Gururu, camarão com azeite e cebola

 Ajabó (quiabos picados com mel e milho branco com feijão
Quarta-Feira
Xangô

Iansã
Galo ou carneiro

Cabra e galinha
Amalá (caruru de quiabos), acarajé comprido e farofa de mandioca com feijão e arroz

Acarajé e Amalá com 14 quiabos
Quinta-Feira
Oxossi

Ossaim

Logunedé 
Bode, porco e galo

Bode e galo

Odá (bode castrado)
Feijão preto torrado, axoxó e inhame

Fumo, mel e farofa

Omolocum (pasta de feijão, camarão, ovos, cebola com dendê. Pratos de Oxum e Oxossi
Sexta-Feira
Oxalá
Cabra, pombos, galinhas
brancas 
Açaça de arroz com mel, ebó de
milho branco
Sábado
Yemanjá

Oxum
Patas, cabras e galinhas brancas

Cabra, galinhas e patas 
Ebó de milho branco, arroz, mel e angú

Omolocum, xinxins de galinhas, Adum e Ipeté.
Domingo
Ibeji 
Frangos de leite 
Carurú, vapatá, doces e balas


Assim toda estrutura litúrgica do culto aos orixás no candomblé pode ser resumida como o processo de, ritualisticamente, acumular, e em seguida transmitir, axé para os Iaôs em três níveis: o ciclo anual de ‘firmeza’ da casa, o ciclo mensal de realimentação energética dos fetiches e dos ebôs, e o ciclo diário das obrigações individuais decorrentes da iniciação.
No centro de todas essas relações que compõem a ‘economia energética’ do candomblé está Ifá, o Orixá do Destino. O jogo oracular mais comum é constituído por l6 búzios (pequenas conchas). O pai-no-santo agita os búzios nas mãos e lança-os dentro de um círculo, formado por colares de diversos orixás. O búzio pode cair ‘aberto’ ou ‘fechado’, ou seja, com sua face onde há uma fenda ou com o lado liso. Cada uma dessas ‘caídas’ é uma manifestação de um orixá e tem um significado próprio, já que, conforme a ordenação resultante, pode-se determinar qual deles está respondendo.
 Todos os aspectos da vida são suscetíveis de codificação por cada um dos orixás que se manifestam no jogo. Os deuses se tornam assim o princípio de classificação dos acontecimentos: cada um governa um acontecimento-tipo. Além da ordenação dos búzios (abertos e fechados), que determina a entidade que preside cada resposta, a configuração - ou o modo particular como os búzios se distribuíram no espaço geometricamente - também é fundamental para a leitura, pois corresponde à ‘organização energética’ do inconsciente do indivíduo frente a uma força matriz. O conjunto dos dois fatores, ordenação e configuração, chama-se odú ou sina. O Sistema de Ifá embora bastante contestada por pesquisadores posteriores, a relação recolhida e apresentada por Roger Bastide e Pierre Verger, hoje é utilizada e até citada por alguns cartomantes como sendo a tradicional. 

ENTIDADE BÚZIOS ENTIDADE BÚZIOS
Exú 01 abertos e 15 fechadosObá 15 abertos e 01 fechados
Ibeji 02 abertos e 14 fechadosOxumaré 14 abertos e 02 fechados
Ogum 03 abertos e 13 fechados Omulú 13 abertos e 03 fechados
Xangô 04 abertos e 12 fechadosOssaim 12 abertos e 04 fechados
Yemanjá  05 abertos e 11 fechados   Logunedé 11 abertos e 05 fechados
Yansã 06 abertos e 10 fechados Oxum 10 abertos e 06 fechados
Oxossi 07 abertos e 09 fechados Nanã 09 abertos e 07 fechados
Oxalá 08 abertos e 08 fechadosLance nulo 16 abertos ou fechados



Dessa forma, a ordenação aberto-fechado determina que orixá está falando e a configuração espacial dos búzios indica o que ele está dizendo. Através de sucessivas jogadas, chega-se , então, a uma espécie de inventário do que está acontecendo à pessoa, não apenas em relação aos seus orixás tutelares, ‘os donos de sua cabeça’, mas também como outras entidades estão influindo positiva ou negativamente em sua vida, quais são as suas tendências recorrentes e as possibilidades diante do destino. Geralmente são propostos trabalhos e obrigações para o re-equilíbrio energético.

 As respostas são decifradas através de lendas e das estórias dos deuses - que são transmitidas de geração em geração através da tradição oral. Por isso, ‘jogar búzios’ requer não somente bastante intuição para interpretar as diferentes configurações formadas pelas forças-matrizes, mas também um conhecimento oral do conjunto da tradição mítica dos orixás e do seu universo simbólico. O sacerdote de Ifá era, originariamente, chamado de Babalaô.  Eles eram os historiadores orais da cultura africana. Sua iniciação era muito mais complexas que as outras, pois não envolvia a identificação com um único arquétipo e o desenvolvimento de suas características na personalidade do iniciando, mas sim o aprendizado de séculos de conhecimento armazenado pelo culto. Hoje os zeladores de santo em geral manejam o oráculo.

Aliás, duas perspectivas contemporâneas hoje se desenvolvem: o resgate do patrimônio simbólico do candomblé e a reinvenção das tradições pela Umbanda. O resgate do simbolismo tradicional do candomblé, ganhou grande impulso nos anos 90, com trabalhos de pesquisa e reconstituição tanto de histórias e lendas míticas, mas principalmente do próprio sistema do Ifá. E é como vimos: no Xireé, a ordem seqüencial de apresentação durante o ritual, é quando melhor se observa como os Orixás formam as freqüências de rede do Candomblé enquanto linguagem simbólica: cada entidade é um feixe de referentes simbólicos, cada orixá tem sua cor, suas músicas, sua dança e, ao mesmo tempo, corresponde a um tipo de comportamento humano específico e a uma faixa vibratória da Natureza. 

A Umbanda, por sua vez, adota a escala musical séptupla e o espectro cromático da luz no arco-íris: as sete linha da umbanda, onde cabem, em diferentes patamares, todos os orixás, mensageiros, energias. Há uma virtualização das identidades simbólicas-genéticas em identidades simbólicas- culturais. É o sistema de classificação das referências alimentares e audiovisuais dos orixás (o Ifá) transformado em sistema de classificação de referências psicológicas da personalidade. O Axé foi personalizado e os orixás tornaram-se progressivamente 'máscaras', tipos de pessoas e/ou aspectos psicológicos da personalidade, não apenas dos vivos mas também dos mortos.

Mas há diferentes níveis de aplicação desses critérios. Em alguns centros que tanto trabalham com Umbanda quanto com Candomblé ('Nação'), costuma-se dizer que "Orixá não incorpora, irradia". Porém, ao se tratar do Orixá Ibeji e das 'crianças' da Umbanda a diferença é apenas conceitual. Aliás, muitas o 'estado de erê' é mais um estágio do transe do que uma freqüência específica. O mesmo também pode ser dito sobre os pretos-velhos e os orixás mais idosos Nanã, Oxaguiã, Omulú. Essas experiências de transe nos remetem mais aos arquétipos juguianos da 'criança interior' e do 'velho sábio' (elementos de dramatização dos diferentes momentos da vida) do que propriamente de diferentes combinações dos aspectos psicológicos da personalidade. Há também várias interpretações e analogias possíveis entre a linguagem astrológica e do Ifá, como a que compara o orixá de cabeça com o signo solar e adjunto como ascendente, ou aspecto secundário da personalidade. Outros preferem ler os orixás como planetas e os aspectos como relacionamentos míticos entre eles. 



OS ORIXÁS E OS SETE PLANETAS
OXALÁ
SOL
ESPIRITUALIDADE
YEMANJÁ
LUA
SENSIBILIDADE
OMULÚ
SATURNO
SEVERIDADE/LIMITES
XANGÔ
JÚPITER
GENEROSIDADE
OGUM
MARTE
AGRESSIVIDADE
OXUM
VÊNUS
SEXUALIDADE
EXU
MERCÚRIO
COMUNICAÇÃO/TRANSPORTE

A Travessia das Feiticeiras


Há mais de duas décadas Carlos Castaneda vem conquistando milhões de leitores no mundo inteiro descrevendo os ensinamentos do brujo Dom Juan sobre a realidade paralela. Agora, Taisha Abelar, guerreira do grupo de Yaqui, revela como se iniciou na secreta arte de rastejar dos feiticeiros.

Ela descreve os exercícios físicos e mentais para alcançar os estados alterados da consciência, sem utilizar plantas psicoativas. Uma narrativa fascinante e poética que desnuda a essência da alma feminina através dos planos sutis da percepção mística. Um verdadeiro manual de feitiçaria e antropologia para mulheres que desejam trabalhar profundamente a espirituali- dade para despertar intimamente estados mais elevados de auto-conhecimento cósmico.

Prefácio de Carlos Castaneda

Taisha Abelar é uma das três mulheres intencionalmente treinadas por alguns feiticeiros do México, sob a orientação de Dom Juan Matus.

Tenho escrito exaustivamente a respeito de meu próprio treinamento com Dom Juan, mas nunca escrevi nada sobre este grupo específico, do qual Taisha Abelar participa. Havia um acordo tácito, entre todos os que estavam sob a orientação de Dom Juan, de que nada deveria ser dito a respeito deles.

Durante mais de vinte anos mantivemos esse acordo. E conquanto trabalhássemos e vivêssemos em íntima proximidade, jamais comentamos nossas experiências pessoais. Na verdade, nunca houve oportunidade sequer de partilharmos nossas opiniões sobre aquilo que Dom Juan ou os feiticeiros de seu grupo faziam com cada um de nós especificamente. Esta condição não se relacionava apenas com a presença de Dom Juan.

Depois que ele e seu grupo deixaram o mundo, continuamos a respeitá-la, pois não desejáva- mos utilizar nossa energia para rever quaisquer acordos anteriores.

Todos nosso tempo e energia disponíveis eram dedicados a corroborar para nós mesmos aquilo que Dom Juan tivera tanto trabalho para nos ensinar.

Dom Juan nos havia ensinado a feitiçaria como uma tarefa pragmática, por meio da qual qualquer um de nós pode perceber a energia diretamente. Afirmava ele que, para percebermos a energia dessa maneira, precisamos nos libertar da nossa capacidade de percepção normal. Libertar-se e perceber a energia diretamente constituíam uma tarefa que exigia tudo de nós.

O feiticeiro acredita que os parâmetros de nossa percepção normal nos foram impostos como parte de nossa socialização, não tão arbitrariamente, mas ainda assim formulados de maneira autoritária. Um dos aspectos desses parâmetros obrigatórios é um sistema de interpretação que transforma dados sensoriais em unidades significativas e converte a ordem social em uma estrutura de interpretação.

Nosso funcionamento normal dentro da ordem social exige uma aceitação cega e constante de todos os seus preceitos, e nenhum deles possibilita a percepção direta da energia. Dom Juan, por exemplo, afirmava ser possível perceber os seres humanos como campos de energia, semelhantes a enormes ovos luminosos, alvos e oblongos.

Se quisermos realizar a façanha de ampliar nossa percepção, precisaremos de energia interna. Assim, o problema de tornar a energia interna disponível para a realização dessa tarefa torna-se a questão básica para os estudiosos da feitiçaria.

Circunstâncias adequadas à nossa época e lugar possibilitaram que Taisha Abelar escrevesse hoje a respeito de seu treinamento, similar ao meu, embora ao mesmo tempo totalmente diferente. Ela demorou um longo tempo escrevendo porque, em primeiro lugar, tinha de lançar mão dos meios da feitiçaria para escrever. O próprio Dom Juan atribuiu-me a tarefa de escrever sobre seus conhecimentos de feitiçaria. E ele mesmo estabeleceu o tom dessa tarefa ao dizer; "Não escreva como um escritor, mas como um feiticeiro." Com isto elequeria dizer que eu tinha de escrever num estado de consciência expandida, chamado pelos feiticeiros de estado onírico (ou sonhar). Taisha Abelar precisou de muitos anos para aperfeiçoar seu estado onírico para então transformá-lo no modo feiticeiro de escrever.

No mundo de Dom Juan, os feiticeiros, dependendo de seu temperamento básico, dividiam-se em duas facções complementares: sonhadores e rastejadores (espreitadores). Os sonhadores são os feiticeiros que possuem a capacidade inata de entrar em estados de consciência expandida controlando seus sonhos. Esta aptidão é transformada, com o treiname nto, em uma arte: a arte do sonho. Os rastejadores, por outro lado, são os feiticeiros que possuem a capacidade inata de lidar com os fatos e adentrar em estados de consciência expandida manipulando e controlando seu próprio comportamento. Com o treinamento da feitiçaria, esta aptidão natural se transforma na arte de rastejar.

Embora todos no grupo de feiticeiros de Dom Juan possuíssem o conhecimento completo de ambas as artes, eles eram distribuídos em uma das facções. E Taisha Abelar foi colocada no grupo dos rastejadores e treinada por eles. Seu livro traz a marca de seu formidável treina- mento como rastejadora.

Apresentação

Dediquei minha vida à prática de rigorosa disciplina, a qual, na falta de um nome mais adequado, chamamos de feitiçaria. Também sou antropóloga e recebi meu Ph.D. neste campo de estudo. Menciono minhas duas áreas de especialidade nesta ordem porque meu envolvimento com a feitiçaria veio em primeiro lugar. De modo geral, uma pessoa se torna antropóloga e depois então realiza um trabalho de campo sobre determinado aspecto da cultura — por exemplo, estuda as práticas da feitiçaria. No meu caso, aconteceu o contrário: já estudava feitiçaria quando fui estudar antropologia.

Em fins da década de 1960, eu morava em Tucson, no Arizona, e conheci uma mexicana chamada Clara Grau, que me convidou a hospedar-me em sua casa no estado de Sonora, no México. Lá, ela fez o possível para introduzir-me em seu mundo, pois Clara Grau era feiticeira e fazia parte de um grupo coeso de dezesseis feiticeiros. Alguns deles eram índios yaqui; outros eram mexicanos das mais variadas origens, formações e idades, e de ambos os sexos. A maioria era de mulheres. Todos perseguiam com sinceridade o mesmo objetivo: romper as tendências e preconceitos perceptivos que nos aprisionam nos limites da vida cotidiana normal e nos impedem de entrar em outros mundos perceptíveis.

Para os feiticeiros, ultrapassar tais tendências perceptivas possibilita atravessar uma barreira e saltar para o inimaginável. Eles chamam este salto de "a travessia dos feiticeiros". Às vezes referem-se a ele como “o vôo abstrato”, pois este salto implica voar do lado concreto e físico para o lado da percepção expandida e das formas abstraías impessoais.

Esses feiticeiros se interessaram em ajudar-me a realizar esse vôo abstrato, para que eu pudesse participar de seus esforços básicos.

Para mim, o treinamento acadêmico tornou-se parte essencial de minha preparação para A Travessia das Feiticeiras. O líder do grupo de feiticeiros ao qual me associei, o nagual, como ele é chamado, é uma pessoa profundamente interessada pelo conhecimento acadêmico formal. Assim, todos aqueles que se encontravam sob sua responsabilidade tinham de desenvolver a capacidade para o abstrato, o tipo de pensamento lúcido que só é obtido em uma universidade moderna.

Como mulher, eu tinha a obrigação ainda maior de cumprir esta condição.

As mulheres, de maneira geral, são condicionadas desde a infância a depender de membros do sexo masculino de nossa sociedade para conceitualizar e iniciar as mudanças. Os feiticeiros, a cujo treinamento me submeti, tinham opiniões bastante definidas a este respeito. Consideravam indispensável que as mulheres desenvolvessem seu intelecto e ampliassem sua capacidade de análise e abstração, a fim de obterem uma melhor compreensão do mundo à sua volta.

Da mesma maneira, treinar o intelecto constitui um subterfúgio de boa fé dos feiticeiros. Mantendo deliberadamente a mente ocupada com a análise e o raciocínio, os feiticeiros ficam livres para explorar, sem obstáculos, outras áreas da percepção. Em outras palavras, enquanto o lado racional está ocupado com a formalidade das atividades acadêmicas, o lado energético ou não-racional, chamado pelos feiticeiros de “o duplo”, é mantido ocupado com o cumprimento das tarefas da feitiçaria. Dessa maneira, a mente analítica e desconfiada tem menos probabilidade de interferir ou mesmo perceber o que está acontecendo num nível não-racional.

O complemento de meu desenvolvimento acadêmico foi a ampliação de minha capacidade de percepção e consciência: juntas, essas duas características desenvolvem nosso ser total. Trabalhando juntas, como uma unidade, afastaram-me da vida “certinha.”, para a qual eu havia nascido e fora socializada como mulher, e lançaram-me numa nova área, de maiores possibilidades perceptuais do que o universo normal me reservava.

Isto não significa que apenas meu compromisso com o mundo da feitiçaria foi o bastante para assegurar meu sucesso. A atração da vida cotidiana é tão forte e constante que, não obstante seus treinamentos mais assíduos, todos os profissionais encontram-se repetidas vezes mergulhados no mais abjeto terror, imbecilidade e condescendência, como se nada houvessem aprendido. Meus professores alertaram-me de que eu não era exceção. E que apenas a batalha implacável e contínua pode neutralizar a própria insistência, natural masinsensibilizante, em não mudar.

Após atenta análise de minhas metas finais, eu, juntamente com meus colegas, cheguei à conclusão de que preciso descrever meu treinamento, a fim de enfatizar para os buscadores do desconhecido a importância do desenvolvimento da capacidade de perceber mais do que nos possibilita nossa percepção normal.

Esta percepção ampliada deve ser uma nova forma de percepção, moderada e pragmática. De forma alguma pode ser tão-somente uma continuação da maneira de perceber o mundo na vida cotidiana.

Os fatos por mim narrados aqui descrevem os estágios iniciais do treinamento de feitiçaria para um rastejante. Esta fase inclui a purificação da maneira habitual de pensar, agir e sentir, por meio de uma atividade tradicional da feitiçaria, a qual todos os neófitos devem realizar, chamada de “recapitulação”. Para complementar a recapitulação, ensinaram-me uma série de práticas, chamadas de “passagens da feitiçaria”, que inclui movimentos e respiração. Para que tais práticas ganhassem coerência, ministraram-me os fundamentos e explicações filosóficas associadas.

A finalidade de tudo que me ensinaram era a redistribuição de minha energia normal e sua ampliação, para que ela pudesse ser utilizada nas realizações perceptivas extraordinárias exigidas pelo treinamento da feitiçaria. A idéia subjacente ao treinamento é a seguinte: quando o padrão compulsivo de velhos hábitos, pensamentos, expectativas e sentimentos é eliminado por meio da recapitulação, a pessoa torna-se, indiscutivelmente, capaz de acumular energia suficiente para viver segundo os novos fundamentos lógicos proporcionados pela tradição da feitiçaria — e comprovar esses fundamentos, através da percepção direta de uma realidade diferente.

Taisha Abelar, Travessia das Feiticeiras, download AQUI!

Os quatro compromissos


O que você está vendo e ouvindo neste momento não passa de um sonho. Você está sonhando neste momento. Está sonhando com o cérebro acordado.

Sonhar é a principal função da mente, e os sonhos da mente duram vinte e quatro horas por dia. Sonhamos quando o cérebro está acordado e também sonhamos quando o cérebro está adormecido.

A diferença é que quando o cérebro está acordado, existe uma moldura material que nos faz perceber as coisas de forma linear. Quando vamos dormir, não temos essa moldura, e o sonho possui a tendência de mudar constantemente. Os seres humanos não estão sonhando o tempo todo. Antes que nascêssemos, os que anteriormente a nós criaram um grande sonho externo que denominamos sonho da sociedade ou sonho do planeta.

O sonho do planeta é um sonho coletivo de bilhões de sonhos pessoais menores, que, juntos, formam o sonho da família, o sonho da comunidade, o sonho de uma cidade, o sonho de um país, e, finalmente, o sonho de toda a humanidade. O sonho do planeta inclui todas as regras da sociedade, suas crenças, suas leis, suas religiões, suas diferentes culturas e formas de ser seus governantes, escolas, eventos sociais e feriados. Nascemos com a capacidade de aprender como sonhar, e os seres humanos que viveram antes de nós nos ensinaram sonhar da forma que a sociedade sonha. O sonho exterior adormecido. A diferença é que quando o cérebro está acordado, existe uma moldura material que nos faz perceber as coisas de forma linear. Quando vamos dormir, não temos essa moldura, e o sonho possui a tendência de mudar constantemente. O sonho exterior possui tantas regras que, quando um novo ser humano nasce, captamos a atenção da criança e apresentamos as regras à mente dela. O sonho exterior usa papai e mamãe, as escolas e a religião para nos ensinar a sonhar.

A atenção é a capacidade que possuímos de discriminar e nos focalizar apenas no que desejamos perceber. Podemos perceber milhões de coisas ao mesmo tempo, mas, usando nossa atenção, podemos segurar qualquer delas no primeiro plano de nossa mente. Os adultos ao redor de nós capturam nossa atenção e colocaram informações em nossas mentes mediante a repetição. Essa é a forma pela qual aprendemos tudo o que sabemos.

Utilizando nossa atenção, aprendemos uma realidade inteira, um sonho inteiro. Aprendemos como nos comportar em sociedade, em que acreditar e em que não acreditar, o que é bom e o que é mau, o que é bonito e o que é feio, o que é certo e o que é errado. Tudo já estava lá - todo esse conhecimento, todas as regras e conceitos sobre como comportar-se no mundo.

Quando você estava na escola, sentava-se numa cadeira pequena e colocava sua atenção no que o professor estava ensinando. Quando você ia à igreja, colocava sua atenção naquilo que o padre ou o pastor dizia. É a mesma dinâmica com pais e mães, irmãos e irmãs: todos tentam capturar sua atenção. Aprendemos também a capturar as atenções de outros seres humanos e desenvolvemos certa necessidade de atenção que pode se tomar extremamente competitiva. As crianças competem para ter a atenção dos pais dos professores, dos amigos. "Olhe para mim! Veja o que estou fazendo! Ei, estou aqui." A necessidade de atenção se toma muito forte e continua pela vida adulta. O sonho exterior captura nossa atenção e nos ensina em que acreditar, começando com a linguagem que utilizamos. A linguagem é o código para o entendimento e a comunicação entre os seres humanos. Cada letra, cada palavra em cada linguagem é um acordo. Chamamos a isso de página de um livro; a palavra página é um acordo que entendemos. Uma vez que se compreenda o código, nossa atenção é capturada e a energia é transferida de uma pessoa para outra.

Não foi sua escolha falar português. Você não escolheu sua religião e valores morais - eles já existiam antes de você nascer. Nunca tivemos a oportunidade de escolher em que acreditar ou não acreditar. Nunca escolhemos nem ao menos o menor desses acordos. Não escolhemos ao menos nosso próprio nome.
Quando crianças, não tivemos oportunidade de escolher nossas crenças, mas concordamos com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta por intermédio de outros seres humanos. A única maneira de armazenar informações é por acordo. O sonho exterior pode captar nossa atenção, mas se não concordarmos, não armazenamos essa informação. Assim que concordamos, acreditamos, e isso é chamado de fé. Ter fé é acreditar incondicionalmente.

Foi assim que aprendemos quando crianças. Crianças acreditam em tudo o que os adultos dizem. Concordamos com eles, e nossa fé é tão forte que o sistema de fé controla todo o nosso sonho de vida. Não escolhemos essas crenças, e poderíamos nos ter rebelado contra elas, mas não tivemos força suficiente para realizar essa rebelião. O resultado é ceder às crenças com nosso consentimento.

Chamo esse processo de a domesticação de seres humanos.

E por intermédio dessa domesticação aprendemos como viver e como sonhar. Na domesticação de seres humanos, a informação do sonho exterior é conduzida para o sonho interior, criando nosso sistema de crenças. Primeiro a criança aprende o nome das pessoas e das coisas: mamãe, papai, leite, garrafa. Dia a dia, em casa, na escola, na igreja e na televisão, nos dizem como viver, que tipo de comportamento é aceitável. O sonho exterior nos ensina a ser um ser humano. Temos um conceito completo sobre o que é uma "mulher" e o que é um "homem". Também aprendemos a julgar: julgamos a nós mesmos, julgamos as outras pessoas, julgamos os vizinhos.

As crianças são domesticadas da mesma forma que domesticamos um cão, um gato ou qualquer outro animal. Para ensinar um cachorro precisamos punir e dar recompensas a ele. Treinamos nossos filhos, aos quais amamos tanto, da mesma forma que treinamos qualquer animal doméstico: com um sistema de castigos e recompensas. Dizem-nos: "Você é um bom menino" ou "Você é uma boa menina" quando fazemos o que mamãe e papai querem que a gente faça. Quando isso não acontece, somos "meninos maus" ou "meninas más".

Nas oportunidades em que fomos contra as regras, nos puniram; quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. Fomos castigados muitas vezes por dia e recompensados muitas vezes por dia. Logo ficamos com receio de sofrer o castigo e também com receio de não ganharmos a recompensa. A recompensa é a atenção que conseguimos de nossos pais, ou de outras pessoas como irmãos, professores e amigos. Logo desenvolvemos necessidade de captar a atenção de outras pessoas para conseguir a recompensa.

A recompensa provoca uma sensação boa, e continuamos fazendo o que os outros querem que a gente faça para obter a recompensa. Com medo de ser punidos e medo de não ganhar recompensa, começamos a fingir ser o que não somos apenas para agradar aos outros, só para ser suficientemente bons para outras pessoas. Tentamos agradar a mamãe e papai, tentamos agradar aos professores na escola, tentamos agradar à Igreja, e com isso começamos a representar. Fingimos ser o que não somos porque temos medo de ser rejeitados. O medo de sermos rejeitados torna-se o medo de não sermos suficientemente bons. Mais tarde, acabamos por nos tornar alguém que não somos. Tornamo-nos cópias das crenças de mamãe, das crenças de papai, das crenças da sociedade e das crenças religiosas.

Todas as nossas tendências normais são perdidas no processo da domesticação. E quando somos grandes o suficiente para que nossa mente compreenda, aprendemos a palavra não. Os adultos dizem "Não faça isso, não faça aquilo". Nós nos rebelamos e dizemos "Não!". Rebelamo-nos porque estamos defendendo nossa liberdade Queremos ser nós mesmos, mas somos pouco, e os adultos são grandes e fortes. Depois de um certo tempo, ficamos com medo porque sabemos que todas as vezes em que fizermos algo errado, seremos castigados.

A domesticação é tão forte que num ponto determinado de nossa vida não precisamos mais que ninguém nos domestique'. Não precisamos da mamãe ou do papai, da escola ou da Igreja para nos domesticar. Somos tão bem treinados que passamos a ser nosso próprio treinador. Somos um animal autodomesticado. Agora podemos domesticar a nós mesmos de acordo com a mesma crença no sistema que nos forneceram, usando as mesmas técnicas de punição e recompensa. Punimos a nós mesmos quando não seguimos as regras de acordo com nosso sistema de crenças; recompensamos a nós mesmos quando somos "bonzinhos" ou "boazinhas" o sistema de crenças é como o Livro da Lei que regula nossa mente. Sem questionar, o que estiver escrito no Livro da Lei é nossa verdade. Baseamos todos os nossos julgamentos segundo o Livro da Lei, mesmo que esses julgamentos e opiniões venham contra nossa própria natureza. Mesmo leis morais como os Dez Mandamentos são programadas em nossas mentes no processo de domesticação. Um a um, todos esses compromissos passam a constar no Livro da Lei, e esses compromissos regem nosso sonho.

Existe algo em nossa mente que julga a tudo e a todos, incluindo o tempo, o cão, o gato ... tudo. O Juiz interno usa o que está escrito no Livro da Lei para julgar o que fazemos e o que não fazemos, o que pensamos e o que deixamos de pensar, mais tudo o que sentimos e deixamos de sentir. Tudo vive sob a tirania desse Juiz. Todas as vezes que fazemos alguma coisa que vai contra o Livro da Lei, o Juiz diz que somos culpados, que precisamos ser punidos e que deveríamos nos envergonhar. Isso acontece muitas vezes por dia, dia após dia, ao longo de todos os anos em que vivermos.

Existe outra parte de nós que recebe os julgamentos, e essa parte chama-se: a Vítima. A Vítima carrega a culpa, a responsabilidade e a vergonha. É a parte de nós que diz: "Coitado de mim, não sou bom o suficiente, não sou inteligente o suficiente, não sou atraente, não sou digno de amor, pobre de mim". O grande Juiz concorda e diz: "Sim, você não é bom o suficiente". E tudo isso é baseado num sistema de crenças que não chegamos a escolher. Essas crenças são tão fortes que mesmo anos mais tarde, depois que fomos expostos a novos conceitos e tentamos tomar nossas próprias decisões, descobrimos que essas crenças ainda controlam nossas vidas.

O que quer que vá contra o Livro da Lei irá fazer você experimentar uma sensação estranha no plexo solar, que é chamada medo. Quebrar as regras do Livro da Lei abre seus ferimentos emocionais, e sua reação cria veneno emocional. Porque tudo que está no Livro da lei tem de ser verdade, qualquer coisa que desafie aquilo em que você acredita irá produzir uma sensação de insegurança. Mesmo que o Livro da Lei esteja errado, ele faz com que você se sinta seguro.

É por isso que precisamos de um bocado de coragem para desafiar nossas próprias crenças. Ainda que saibamos não haver escolhido nenhuma dessas crenças, também é verdade que terminamos por concordar com todas elas. A concordância é tão forte que mesmo que a gente entenda o conceito de que não são nossas verdades, sentimos a culpa e a vergonha que ocorrem se formos contra essas regras.

Assim como o governo possui o Livro de leis que regula o sonho da sociedade, o nosso sistema de crenças possui o Livro da lei. que regulamenta nosso sonho pessoal. Todas essas leis existem em nossa mente, acreditamos nelas, e o Juiz dentro de nós baseia tudo nessas regras. O Juiz decreta e a Vítima sofre a culpa e o castigo. Mas quem disse que existe justiça nesse sonho? A verdadeira justiça é pagar uma vez apenas por cada erro. A injustiça verdadeira é pagar mais de uma vez por cada erro.

Quantas vezes pagamos por um erro? A. resposta é: milhares de vezes. O ser humano é o único animal na Terra que paga milhares de vezes pelo mesmo erro. O resto dos animais paga apenas uma vez pelo erro cometido. Não nós. Temos uma memória poderosa. Cometemos um erro, julgamos a nós mesmos, descobrimos que somos culpados e castigamos a nós mesmos. Se a justiça existe, então foi o suficiente; não precisamos nos castigar outra vez. Mas cada vez que lembramos, julgamos a nós mesmos outra vez, nos declaramos culpados outra vez e punimos a nós mesmos outra vez, e outra, e outra ainda. Se tivermos uma esposa ou marido, ela ou ele também ajudarão a lembrar de nosso erro, de forma que nos julgamos, condenamos e castigamos ainda outras vezes. É justo isso?

Quantas vezes fazemos nosso cônjuge, nossos filhos e nossos pais pagar pelo mesmo erro? A cada vez que lembramos um erro, culpamos a eles novamente e enviamos todo o veneno emocional produzido pela injustiça, depois fazemos com que eles paguem outra vez pelo mesmo erro. Isso é justiça? O Juiz na mente está errado porque o sistema de crenças, o Livro da Lei, está errado. Todo o sonho é baseado em leis falsas. Noventa e cinco por cento das crenças que temos armazenadas em nossas mentes não passam de mentiras, e sofremos porque acreditamos nessas mentiras.

No sonho do planeta, é normal que os seres humanos sofram, vivam com medo e criem dramas emocionais. O sonho exterior não é agradável; é um sonho violento, um sonho de medo, um sonho de guerra, um sonho de injustiça. O sonho pessoal dos seres humanos pode variar, mas de forma global, geralmente é um pesadelo. Se observarmos a sociedade humana, encontramos um lugar muito difícil de viver porque é regido pelo medo. Através do mudo, vemos os seres humanos a sofrer, sentir raiva,vingar-se, viciar-se e provocar violência nas ruas, gerando uma tre­menda quantidade de injustiça. Pode existir em níveis diferentes em vários países ao redor do mundo, mas o medo controla nosso sonho exterior.

Se compararmos o sonho da sociedade humana como a descrição do inferno fornecidas por quase todas as religiões do mundo,descobrimos que são a mesma coisa. As religiões dizem que o inferno é um local de punição, de medo, dor e sofrimento, um lugar onde o fogo queima a gente. O fogo é gerado por emoções que vem do medo. Sempre que sentimos raiva, ciúmes,inveja ou ódio,experimentamos um tipo de fogo queimando em nosso interior. Estamos vivendo um sonho do inferno.

Se você considera o inferno um estado de espírito, então ele se encontra ao nosso redor. Os outros podem nos prevenir de que se não fizermos o que eles dizem que devemos fazer, iremos para o inferno. Más notícias! Já estamos no inferno, incluindo as pessoas que nos dizem isso. Nenhum ser humano pode condenar o outro ao inferno porque já estamos nele. É verdade que outros podem nos colocar num inferno ainda mais profundo. Mas apenas se nós permitimos que isso aconteça.

Cada ser humano possui seu sonho pessoal,e assim como o sonho da sociedade,geralmente é regido pelo medo.

Aprendemos a sonhar o inferno em nossa própria vida, em nosso sonho pessoal. Os mesmos medos se manifestam de formas diferentes para cada pessoa, claro, mas experimentamos a raiva, o ciúme, o ódio, a inveja e outras emoções negativas. Nosso sonho pessoal também pode se tomar um pesadelo constante, onde sofremos e vivemos em estado de medo. Porém, não temos necessidade de sonhar um pesadelo. É possível fabricar um sonho agradável.

Toda a humanidade busca a verdade, a justiça e a beleza.

Estamos numa busca eterna pela verdade porque apenas acreditamos nas mentiras que possuímos armazenadas na mente. Estamos procurando justiça porque no sistema de crenças que adotamos não existe justiça. Procuramos pela beleza porque, não importa quão bela é uma pessoa, não acreditamos que essa pessoa tenha beleza. Continuamos procurando sem parar, quando tudo já está em nosso interior. Não existe verdade a encontrar. Sempre que voltamos nossas cabeças, o que vemos é a verdade, mas com os compromissos e crenças que temos na mente, não temos olhos para enxergar essa verdade.

Não enxergamos a verdade porque somos cegos. O que nos cega são as crenças falsas que temos em nossas mentes. Temos a necessidade de estar certos e de tornar os outros errados. Confiamos no que acreditamos, e nossas crenças nos predispõem ao sofrimento. É como se vivêssemos no meio de um nevoeiro que não permite enxergar um palmo além do nariz. Vivemos num nevoeiro que nem ao menos é real. Esse nevoeiro é um sonho seu sonho pessoal da vida - aquilo em que você acredita todos os conceitos que possui sobre quem você é, todos os compromissos que assumiu com os outros com você mesmo e até com Deus.

Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote.Sua mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo e ninguém entende o outro. Essa é a condição da mente humana - um grande mitote. Com esse grande mitote você não consegue enxergar o que realmente é. Na Índia, eles chamam o mitote de Maya o que significa “ilusão”. É a noção pessoal do “eu sou”. Tudo em que você acredita sobre si mesmo, sobre o mundo, todos os conceitos e programas que você tem na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver quem realmente somos; não conseguimos perceber que não somos livres.

Por isso , os seres humanos resistem à vida. Estar vivo é o maior medo que os homens possuem. A morte não é o medo que temos; nosso maior medo é assumir o risco de estar vivo - o risco de estar vivo e expressar o que somos na realidade. Simplesmente sermos nós mesmos é o maior medo dos seres humanos. Aprendemos a viver nossa vida tentando satisfazer as exigências de outras pessoas. Aprendemos a viver pelos pontos de vista de outra pessoa, por causa do medo de não sermos aceitos e de não sermos bons o suficiente para outras pessoas.

Durante o processo da domesticação, formamos uma imagem do que é a perfeição para tentarmos ser bons o suficiente. Criamos uma imagem de como devemos ser para sermos aceitos por todos. Especialmente tentamos agradar aos que nos amam, como mamãe e papai, irmãos e irmãs maiores, os sacerdotes e os professores. Tentando ser bons para eles, criamos uma imagem de perfeição, mas não nos encaixamos nessa imagem.Criamos essa imagem, mas essa imagem não é real.Nunca iremos ser perfeitos sob esse ponto de vista.

Nunca!

Não sendo perfeitos, rejeitamos a nós mesmos. E o nível de auto-rejeição depende de quão efetivos foram os adultos ao quebrar nossa integridade. Depois da domesticação, não se trata mais de sermos bons O suficiente para outras pessoas. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos o que desejamos ser, ou melhor, o que acreditamos que desejamos ser. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos perfeitos.

Sabemos que não somos quem deveríamos ser e, portanto, nos sentimos falsos, frustrados e desonestos. Tentamos nos esconder de nós mesmos, e fingimos ser quem não somos. O resultado é que nos sentimos autênticos e usamos máscaras sociais para evitar que os outros percebam isso. Temos medo de que alguém mais repare que não somos quem pretendemos ser. Julgamos igualmente os outros de acordo com nossa imagem de perfeição, e, normalmente, eles não correspondem às nossas expectativas.
Desonramos a nós mesmos só para agradar a outras pessoas. Chegamos a fazer mal ao nosso corpo físico apenas para ser aceitos pelos outros. Você vê adolescentes tomando drogas apenas para evitar serem rejeitados por outros adolescentes. Eles não sabem que o problema é não aceitar a si mesmos. Rejeitam a si mesmos porque não são o que fingem ser. Desejam ser de uma certa forma, mas não são, e por isso carregam a vergonha e a culpa. Os seres humanos punem a si mesmos interminavelmente por não serem quem acreditam quem acreditam que devem ser. Tornam-se autodestrutivos,e usam também outras pessoas para fazerem mal a si mesmos.

Mas ninguém nos pode fazer mal com tanta eficiência quanto nós mesmos, e o Juiz , a Vitima e o sonho social são responsáveis por isso. É verdade, encontramos pessoas que dizem que o marido ou a esposa, mãe ou pai as fazem sofrer, mas você sabe que nos prejudicamos muito mais do que isso. A forma como julgamos a nós mesmos é o pior juiz que jamais existiu. Se cometermos um erro na frente de outras pessoas, tentamos negar o erro e encobrir tudo. Assim que ficamos sozinhos, entretanto, o Juiz se torna forte, e a sensação de culpa assume proporções enormes; sentimos-nos estúpidos, ou maus, ou indignos.

Durante toda a sua vida ninguém fez você sofrer mais do que você mesmo. E o limite desse auto-sofrimento é exatamente o limite que você ira tolerar nos outros.Se alguém faz você sofrer um pouco mais do que você mesmo, provavelmente você se afastará dessa pessoa.Se alguém faz você sofrer menos do que você costuma fazer,você com certeza ira permanecer no relacionamento e tolera-lo infindavelmente.

Se você se impõe sofrimentos grandes demais, pode até tolerar alguém que bate em você, humilha-o e o trata como sujeira. Por quê? Porque em seu sistema de crenças você diz: "Eu mereço. Essa pessoa está me fazendo um favor por estar comigo. Não sou digno de amor e respeito. Não sou bom o suficiente".

Temos necessidade de ser aceitos e de se amados por outros, mas não podemos aceitar e amar a nós mesmos. Quanto mais gostarmos de nós mesmos, menos iremos experimentar o auto-sofrimento. O auto-sofrimento vem da auto-rejeição, e a auto-rejeição vem de ter uma imagem sobre o que significa ser perfeito e não atingir nunca esse ideal. Nossa imagem de perfeição é o motivo pelo qual rejeitamos s nós mesmos;é por isso que não aceitamos a nós mesmos da maneira que somos e não aceitamos os outros da forma que são.

Download do livro Os Quatro Compromissos AQUI!

As três bruxas


Trechos de uma entrevista comFlorinda Donner-Grau, Taisha Abelar e Carol Tiggspor Concha LabartaTraduzido do Espanhol. Publicada inicialmente na Mas Alla, em 1 de Abril de 1997, Espanha

Todas respostas foram dadas por Carol Tiggs, Taisha Abelar e Florinda Donner-Grau.

Pergunta: Assim como Carlos Castaneda, vocês foram alunas de dom Juan Matus e seus colegas xamãs. Entretanto, permaneceram no anonimato por vários anos, e só recentemente decidiram falar sobre seu aprendizado com don Juan. Por que o longo silêncio e a mudança de atitude?

Resposta: Antes de mais nada gostaríamos de esclarecer que cada uma de nós encontrou o homem que Carlos Castaneda chama de nagual don Juan Matus sob um nome diferente: Melchior, Yaoquizque, John Michael, Abelar e Mariano Aureliano. Para evitar confusão, sempre o chamamos de velho nagual; não velho em relação a idade, mas sim no sentido de respeitabilidade e acima de tudo para diferencia-lo do novo nagual, Carlos Castaneda.
Discutir nosso aprendizado com o velho nagual não era de forma alguma parte da tarefa a qual planejou para nós. Por isso ficamos em completo anonimato.
A volta de Carol Tiggs em 1985 marcou uma mudança total em nossas metas e aspirações. Ela estava tradicionalmente encarregada de nos guiar através de algo que, para o homem moderno, poderia ser traduzido como espaço e tempo, mas que, para os xamãs do antigo México, significava consciência. Eles concebiam uma jornada através de algo que denominavam o mar escuro da consciência.
Tradicionalmente, o papel de Carol era guiar-nos na consecução dessa travessia. Quando ela retornou, transformou automaticamente a meta de nossa jornada particular em algo de alcance mais amplo. Eis por que decidimos sair do nosso anonimato e ensinar os passes mágicos dos xamãs do antigo México.

P: Os ensinamentos que vocês receberam de don Juan foram similares àqueles narrados por Castaneda? Se não foram, quais foram as diferenças? Como vocês descreveriam don Juan e suas companheiras e companheiros ?

R: Os ensinamentos que recebemos não foram em absoluto similares aos recebidos por Castaneda pela simples razão de que somos mulheres. Nós temos órgãos que os homens não tem: os ovários e o útero, órgãos de tremenda importância. As instruções que o velho nagual nos passou consistiu de ação pura. Quanto à descrição dos integrantes masculinos e femininos do grupo de don Juan, tudo que podemos dizer neste momento de nossa vidas é que eles foram seres excepcionais. Falar deles como seres do mundo cotidiano seria insano para nós neste momento.
O mínimo que podemos dizer deles, eram dezesseis incluindo o velho nagual, é que se encontravam num estado de extraordinária vitalidade e juventude. Todos eram velhos, mas simultaneamente não o eram. Quando, sem ser movidas pela curiosidade ou pelo espanto, perguntamos ao velho nagual a razão do seu exuberante vigor, ele nos respondeu que o que os rejuvenescia a cada passa do caminho era sua ligação com o Infinito.

P: Enquanto várias tendências modernas sociológicas e psicológicas proclamam o fim do distanciamento entre o masculino e o feminino, lemos em seus livros que há notáveis diferenças entre homens e mulheres no modo pelo qual cada um dos sexos obtém acesso ao conhecimento. Poderiam explicar isso? De que forma vocês e suas experiências como companheiras femininas diferentes daqueles de Carlos Castaneda?

R: A diferença entre feiticeiros homens e mulheres na linhagem do velho nagual é a coisa mais simples do mundo. . Como todas as mulheres do mundo temos um útero. Temos órgãos diferentes dos existentes nos homens: o útero e os ovários, os quais, segundo os feiticeiros, nos facilitam a entrada em áreas exóticas da consciência. Os feiticeiros dizem que há uma força colossal no universo; uma força constante, perene, que oscila mas não muda à qual chamam de consciência ou o mar escuro da consciência e asseguram que todos os seres vivos estão ligados a ela. Eles chamam esse ponto de ligação de ponto de aglutinação, e sustentam que, devido a presença do útero em seu corpo, as mulheres tem facilidade em deslocar o ponto de aglutinação para uma nova posição.
Os feiticeiros acreditam que o ponto de aglutinação de qualquer ser humano está situado no mesmo lugar, 90cm atrás das omoplatas. Quando vêem os seres humanos como energia, os feiticeiros percebem este ponto como um conglomerado de campos de energia na forma de um ovo luminoso.
Feiticeiros dizem que desde que os órgãos sexuais masculinos são externos ao corpo, homens não tem a mesma facilidade. Portanto, seria absurdo para os feiticeiros tentar apagar ou encobrir essas diferenças energéticas. Quanto ao comportamento dos feiticeiros masculinos e femininos na ordem social, ocorre quase o mesmo. A diferença energética leva os praticantes de cada sexo a comportar-se de modos diversos. No caso dos feiticeiros, essas diferenças são complementares. A grande facilidade das feiticeiras em deslocar o ponto de aglutinação serve como base para as ações dos feiticeiros, as quais são caracterizadas por uma maior resistência e um propósito mais firme.

P: Lemos também nos seus livros que Florinda Donner-Grau e Taisha Abelar representam cada uma categorias diferentes no mundo xamânico. Uma é uma sonhadora e a outra, uma espreitadora São termos atraentes e exóticos mas muitas pessoas os usam de forma indiscriminada e interpretam a seu modo. Qual é o significado real de tal classificação? Quando se trata de ação, quais as implicações para Florinda Donner-Grau ser sonhadora e para Taisha ser uma espreitadora?

R: Como na questão anterior, mais uma vez, a diferença é simples porque é ditada por cada uma de nossas energias. Florinda Donner-Grau é uma sonhadora porque desloca o ponto de aglutinação com enorme facilidade. Segundo os feiticeiros, quando se desloca o ponto de aglutinação, que é nosso ponto de ligação com o mar escuro da consciência, um novo aglomerado de campos energéticos é reunido , um conglomerado similar ao habitual, mas diferente o bastante para garantir a percepção de um outro mundo que não é o cotidiano.
O dom de Taisha Abelar como espreitadora é sua facilidade de fixar o ponto de aglutinação na nova posição para onde ele foi deslocado. Sem esta facilidade a percepção de outro mundo é muito fugaz, algo comparável ao efeito produzido por certas drogas alucinógenas: uma profusão de imagens sem pé nem cabeça. Os feiticeiros pensam que as drogas alucinógenas deslocam o ponto de aglutinação apenas de modo muito caótico e breve.

P: Em seus livros recentes, Sonhos Lúcidos e A Travessia das Feiticeiras , vocês falam sobre experiências pessoais que são difíceis de aceitar. Acessar outros mundos , viajar pelo desconhecido, contatar seres inorgânicos são experiências que desafiam a razão. Fica-se tentado a descrer por completo de tais relatos, ou de considerá-las seres que estão além do bem e do mal, invulneráveis à doença, a idade ou à morte. Qual é a realidade cotidiana de uma feiticeira? E como a vida no tempo cronológico se adequa à vida no tempo mágico?

R: Essa questão é muito abstrata e extravagante, Srta. Labarta.P or favor perdoe a nossa franqueza. Não somos seres intelectuais e não somos de nenhuma forma capazes de participar em exercícios nos quais o intelecto utiliza palavras que na realidade não tem significado. Nenhuma de nós, em hipótese alguma, esta além do bem e do mal, da doença ou da idade.
O que aconteceu conosco foi que fomos convencidas pelo velho nagual de que há duas categorias de seres humanos. A grande maioria de nós são seres que os feiticeiros denominam (pejorativamente, poderíamos acrescentar) "os imortais". A outra categoria é a dos seres que vão morrer.
O velho nagual nos contou que , como seres imortais, nunca tomamos a morte como ponto de referência, e assim nos damos ao inconcebível luxo de viver nossas vidas envolvidas em palavras, descrições, acordos e desacordos.
A outra categoria é a dos feiticeiros, que nunca podem, sob qualquer circunstância, dar-se ao luxo de fazer asserções intelectuais. Se somos algo, somos seres sem nenhuma importância. E se temos algo, é nossa convicção de que somos seres que estão caminhando para a morte e que um dia teremos que encarar o Infinito. Nossa preparação é a coisa mais simples do mundo: nos preparamos 24 horas por dia para encarar esse encontro com o Infinito.
O velho nagual conseguiu apagar em nós nossa confusa idéia de imortalidade e nossa indiferença a vida, e nos convenceu de que, como seres que estamos caminhando para a morte, podemos ampliar nossas opções de vida. Para os feiticeiros, os humanos são seres mágicos, capazes de atos e realizações estupendas uma vez que se livrem das ideologias que os tornam seres comuns.
O que narramos são na verdade descrições fenomenológicas de feitos de percepção acessíveis a todos nós, especialmente mulheres, feitos ignorados em virtude do nosso hábito de auto-reflexão. Os feiticeiros afirmam que a única coisa que existe para nós seres humanos é Eu, Eu, e somente EU. Sob tais condições o único possível é o que se refere a MIM.. E por definição qualquer coisa que me diga respeito, o ‘Eu ‘pessoal , só pode conduzir à raiva e ao ressentimento.

P: A presença física de um mestre talvez não seja indispensável mas, em qualquer caso, é de grande ajuda. Vocês receberam instruções diretas de don Juan e de seus colegas para guia-las na feitiçaria. Vocês pensam realmente que esse mundo é acessível a maioria das pessoas, mesmo quando elas não têm um mestre particular?

R: De certo modo, a insistência em ter um mestre é uma aberração. A idéia do velho nagual era a de que ele nos estava ajudando a romper a dominação do Eu. Com suas piadas e seu aterrorizante senso de humor ele conseguiu nos fazer rir de nos mesmas. Neste sentido acreditamos piamente que a mudança é possível para todos, uma mudança similar à nossa, por exemplo, através da prática de Tensegridade, sem a necessidade de um mestre particular e pessoal.
O velho nagual não estava interessado em transmitir seu conhecimento. Ele nunca foi um mestre ou guru, e não poderia ter se importado menos em ser um. Estava interessado em perpetuar sua linhagem. Se ele nos guiou pessoalmente, foi para inculcar em nós todas as premissas da feitiçaria que nos permitiria continuar sua linhagem. Ele esperava que, algum dia, chegaria a nossa vez de fazer o mesmo.
Circunstâncias fora de nosso alcance, ou do dele, conspiraram contra a continuidade de sua linhagem. Em vista do fato de que não podemos arcar com a função tradicional de dar continuidade a uma linhagem de feitiçaria, desejamos tornar esse conhecimento acessível. Uma vez que os praticantes de Tensegridade não são convocados a perpetuar qualquer linhagem do gênero, os praticantes tem a possibilidade de realizar o que realizamos, mas numa trilha diferente.

P: A possibilidade de uma forma alternativa de morte é um dos pontos mais polêmicos dos ensinamentos de don Juan Matus. De acordo com o que vocês falaram, ele e seu grupo atingiram essa forma alternativa de morte. Qual é sua interpretação do desaparecimento deles, quando se transformaram em consciência?

R: Isto pode parecer uma pergunta simples, mas é muito difícil responder. Somos praticantes dos ensinamentos do velho nagual. Nos parece que, através de sua pergunta, você esta pedindo uma justificativa psicológica, uma explicação equivalente à explicação da ciência moderna.
Infelizmente não podemos dar uma explicação fora do que somos. O velho nagual e suas companheiras tiveram uma morte alternativa, que é possível para qualquer um, desde que se tenha a disciplina necessária.
Tudo que podemos dizer é que o velho nagual e seu grupo levaram suas vidas profissionalmente, o que significa que eram responsáveis por todos os seus atos, ate mesmo os mais pequenos, por que eram extremamente conscientes de tudo que faziam. Sob tais condições, morrer uma morte alternativa não é uma possibilidade tão distante.

P: Vocês estão prontas para encarar o salto final? O que esperam desse universo, o qual vocês entendem como impessoal, frio e predatório?

R: O que esperamos é uma luta infindável e a possibilidade de testemunhar o infinito, seja por um segundo ou por cinco bilhões de anos.

P: Alguns leitores de Castaneda criticaram-no pela ausência de uma maior presença espiritual em seus livros, por nunca ter usado palavras como "amor". O mundo de um guerreiro realmente é assim frio? Vocês sentem emoções humanas? Ou dão um significado diferente a elas?

R: Sim, nós lhe damos um significado diferente, e não usamos palavras como "amor" ou "espiritualidade" porque o velho nagual nos convenceu de que são conceitos vazios. Não o amor ou a espiritualidade por si próprios, mas o uso dessas palavras. Eis sua linha de argumentação.: se realmente nos consideramos seres imortais que podemos dar-nos ao luxo de viver entre contradições enormes e um egoísmo infindável, se tudo que conta para nós é a satisfação imediata, como poderíamos fazer do amor ou da espiritualidade algo autêntico? O velho nagual nos disse que a cada vez que somos confrontados com tais contradições nós a resolvemos dizendo que , como seres humanos, somos fracos.
Segundo ele, como regra geral, nós, humanos, nunca fomos ensinados a amar. Fomos ensinados apenas a sentir emoções gratificantes, pertinentes apenas ao Eu pessoal. O infinito é sublime e sem piedade, ele disse , e não há lugar para conceitos falaciosos, não importa quão agradáveis eles nos possam parecer.

P: Parece que a chave para expandirmos nossas capacidades de percepção reside na quantidade de energia que temos à nossa disposição, e que a condição energética do homem moderno é muito pobre. Qual seria a premissa essencial para armazenar energia? Isso é possível para alguém que tem que cuidar de uma família, trabalhar todo o dia e participar plenamente de uma vida social? E sobre o celibato como meio de economizar energia, um dos pontos mais controversos da seus livros?

R: O velho nagual nos disse que o celibato é recomendado para a maioria de nós. Não por razões morais, mas porque não temos energia suficiente. Ele nos fez ver como a maioria de nós foi concebido no meio de um relação marital monótona. Como um feiticeiro pragmático, ele afirmava que a concepção é algo de suprema importância. Ele dizia que se a mãe não foi capaz de ter um orgasmo durante o momento da concepção, o resultado era o que chamava de "transa chata". Não há energia nessas condições. O velho nagual recomendava o celibato para os que foram concebidos sob tais circunstâncias.
Uma outra coisa que ele recomendava como meio de estocar energia era a dissolução dos padrões de comportamento que levam ao caos, tais como a incessante preocupação com o namoro romântico, a defesa do self na vida cotidiana, as rotinas em excesso e sobretudo a tremenda insistência nas preocupações do self.
Se essas sugestões são implementadas, qualquer um de nós pode ter a energia necessária para usar o tempo , o espaço e a convivência social de maneira mais inteligente.

P: Os passes mágicos da Tensegridade , aos quais vocês atribuem grande importância, são sua contribuição mais recente para os interessados no mundo de don Juan. O que a Tensegridade pode trazer aos seus praticantes? Ela pode ser relacionada a outras modalidade físicas ou tem suas características próprias?

R: O que a Tensegridade traz àqueles que a praticam é energia. A diferença entre Tensegridade e os outros sistemas de exercícios físicos é que o intento da Tensegridade é algo ditado pelos xamãs do antigo México. O intento é a liberação do ser que esta caminhando para a morte.

Auto-importância

A importância pessoal é um dos temas de maior importância no caminho de evolução proposto pelos antigos toltecas Eles se auto-identificaram como "feiticeiros do México antigo", mas como sabemos, são buscadores sofisticadíssimos dos segredos da percepção humana com o objetivo prático de se libertar de suas amarras e permitir ao praticante trilhar o "caminho da liberdade total".
A prática de "abandonar o senso de auto-importância”, ao lado de outras abaixo, é uma condição sem a qual não se pode progredir no caminho do guerreiro.
A prática de Tensegridade redistribui e portanto fornece energia ao praticante, mas para que?
Se não aplicarmos essa energia obtida na prática dos Passes Mágicos, incansavelmente, nessas outras tarefas destinadas a nos modificar, corremos o risco de nos transformarmos em seres fortes, porém mais auto-importantes ainda, pelo simples fato de sermos fortes.
Não se entra em nenhum céu, nirvana, satori, ou em qualquer estado superior de consciência conservando o jeito interior que nós adquirimos a partir do consenso social. Todas as tradições indistintamente falam em mudar, acordar, transformar-se, renascer...
A nossa sugestão como guerreiros que somos é tomarmos essas práticas e começarmos a desenvolver exercícios concretos, diários, e então impecavelmente nos espreitarmos nessa luta diária conosco mesmos. É disso que trata a obra de Castaneda dentro da linhagem dos toltecas do antigo México.:
Vamos nos perguntar:
- Tomei consciência de que eu preciso mudar? Estou praticando todo o dia? Estou fazendo a partir da minha vontade, do meu umbigo? Estou fugindo? Disfarçando? Justificando? Estou me avaliando regularmente no meu “Diário de Navegação”? Estou me colocando pacientemente no “agora”, que é o único lugar do guerreiro?
Essas práticas podem e devem ser acompanhadas pacientemente pelo guerreiro. Como técnica de espreita, pode-se tentar formular exercícios simples para cada prática listada abaixo.

Elas mobilizam nossos três principais centros:

1- abandonar o senso de auto-importância
2- a recapitulação
3 - reorganizar a sua vida
4 - apagar a história pessoal
5 - quebrar as rotinas e hábitos
6 - assumir a responsabilidade pelos seus atos
7 - usar a morte como conselheira
8 - o não-fazer
9 - a respiração
10 – relaxamento

· Apesar de sua tremenda pomposidade, ele me fascinou desde o princípio. Sua importância pessoal era tão óbvia que, passados os primeiros cinco minutos de aula, deixava de ser problema, pois eram sempre mostras retumbantes de conhecimento, baseadas nas asserções mais descaradas de si mesmo. Seu domínio sobre a audiência era estupendo. Todos os estudantes com quem falei sentiam uma enorme admiração por esse homem extraordinário. Sinceramente, pensei que tudo ia muito bem, e que a mudança para outra universidade e para outra cidade ia ser fácil e inócua, porém totalmente positiva. Gostei muito do novo ambiente.
O Lado Ativo do Infinito- pág. 106

· Dom Juan explicou que depois que o guerreiro conquista os sonhos e viu e cria um sósia, também deve ter conseguido apagar a história pessoal, a auto-importância e as rotinas. Disse que todas as técnicas que ele me ensinou e que eu considerava conversa fiada eram, em essência, meios de possibilitar ter um sósia no mundo comum, tornando o ser e o mundo fluidos, e colocando-os fora dos limites das previsões.
Porta para o Infinito- pág. 47

· Você se leva a sério demais - disse ele, devagar. – É muito importante, na sua concepção. Isso tem de mudar! Considera-­se tão importante que acha que tem razão para se aborrecer com qualquer coisa. É tão importante que pode ir embora, se as coisas não lhe agradam. Imagino que você pense que isso demonstra força de caráter. Isso é besteira! Você é fraco e convencido!
Tentei protestar, mas ele não deu atenção. Mostrou-me que em minha vida eu nunca chegara a terminar nada por causa daquela idéia despropositada de importância que eu dava a mim mesmo.
Eu estava assombrado diante da certeza com que ele dizia as coisas. Era verdade, é claro, e isso me deixava não só zangado, mas também ameaçado.
- A importância própria é outra coisa que tem de ser abandonada, assim como a história pessoal - explicou, num tom teatral.
Eu certamente não queria discutir com ele. Era óbvio que eu levava uma desvantagem tremenda; ele não ia voltar para casa até estar disposto a isso, e eu não sabia o caminho. Tinha de ficar com ele.
Viagem a Ixtlan – pág, 36

· Agora, estamos tratando de perder a importância própria. Enquanto você achar que é a coisa mais importante do mundo, não pode apreciar realmente o universo em volta de si e como um cavalo com antolhos, só o que vê é você separado de tudo o mais. - Examinou-me por um momento. - Vou falar com minha amiguinha aqui - disse ele, apontando para uma plantinha.
Ajoelhou-se em frente dela e começou a acariciá-la e a falar­-lhe. A princípio não entendia o que ele estava dizendo, mas depois ele trocou de língua e começou a falar com a planta em espanhol. Falou umas banalidades, e depois levantou-se.
- Não importa o que você diz para a planta - falou. – Pode também inventar as palavras; o que é importante é o sentimento de gostar dela, de tratá-la como igual.
Explicou que um homem que colhe plantas tem de desculpar-se todas as vezes que as apanha e deve garantir-lhes que um dia seu próprio corpo servirá de alimento para elas.
- Assim, no final, as plantas e nós ajustamos as contas ­disse ele. - Nem nós nem elas são mais ou menos importantes.
- Vamos, fale com a plantinha - insistiu. - Diga-lhe que não se sente mais importante.
Cheguei a me ajoelhar diante da planta, mas não consegui forçar-me a falar com ela. Senti-me ridículo e ri. Mas não estava zangado.
Viagem a Ixtlan – pág. 37

· Explicou que a fim de ajudar a apagar a história pessoal eram ensinadas mais três técnicas. Eram elas: perder a importância própria, assumir a responsabilidade e usar a morte como conselheira. A idéia era que, sem o efeito benéfico dessas três técnicas, apagar a história pessoal envolveria o aprendiz em ser furtivo, evasivo e desnecessariamente vacilante quanto a si e seus atos.
Porta para o Infinito – pág. 213

· Fomos para o chaparral do deserto seguindo uma direção sul. Falou repetidamente enquanto andávamos que eu tinha de estar ciente da inutilidade de minha importância própria e de minha história pessoal.
- Seus amigos - disse ele, virando-se para mim de repente.
- Aqueles que o conhecem há muito tempo, você tem de abandoná-las rapidamente.
Achei que ele estava maluco e que sua insistência era idiota, mas não disse nada. Olhou bem para mim e começou a rir.
Viagem a Ixtlan – pág. 40

· Eu nunca vira Nestor tão jovial. Nas poucas ocasiões em que estivera com ele, no passado, ele me dera a impressão de ser um homem de meia-idade. Mas vendo-o ali sentado com seus dentes tortos, fiquei assombrado com sua aparência jovem. Parecia um rapazinho de seus 20 e poucos anos. Mais uma vez, Pablito leu meus pensamentos com perfeição.
- Ele está perdendo sua auto-importância. - disse ele. - É por isso que parece mais moço.
Porta para o Infinito- pág. 194

· Esperamos em frente da loja cerca de meia hora. Dom Juan parecia estar ficando impaciente e me pediu para entrar e dizer a eles que se apressassem. Eu entrei. Não era um lugar grande e não havia porta no fundo, entretanto eles não estavam à vista. Perguntei aos empregados mas eles não souberem dizer nada.
Fui até Dom Juan e exigi saber o que tinha acontecido. Ele disse que ou eles tinham desaparecido no ar ou tinham se esgueirado para fora enquanto ele estava estalando minhas costas.
Disse com raiva que a maioria das pessoas era trapaceira. Ele riu até as lágrimas rolarem do seu rosto. Disse que eu era o trouxa ideal. Minha auto-importância fazia de mim um assunto divertido. Ele ria tanto da minha irritação que teve de se encostar numa parede.
Presente da Águia - pág. 167

· Falou que seu benfeitor tinha concedido tempo e cuidado especiais para ele e seus guerreiros em relação a tudo que pertencia ao aperfeiçoamento da arte de espreitar. Usava técnicas complexas para criar um contexto apropriado para uma contrapartida entre os ditames do regulamento e o comportamento dos guerreiros no seu mundo diário, quando eles interagiam com as pessoas. Acreditava ser essa a forma de convencê-los de que, na ausência da auto-importância, o único modo de um guerreiro lidar com o meio social era em termos de loucura controlada.
Ao longo do desenvolvimento de suas técnicas, o benfeitor de Dom Juan lançava as ações das pessoas e as ações dos guerreiros contra as exigências do regulamento, e então se retirava e deixava o drama natural se desenrolar por si próprio. A loucura das pessoas tomava a frente por algum tempo e arrastava os guerreiros consigo, como parece ser o curso natural das coisas, e só se recompunha no final, com os desígnios mais abrangentes do regulamento.
Presente da Águia - pág. 171

· "A arrogância de Celestino foi sua grande falha e o início da minha instrução e libertação. Sua auto-importância, como a minha. nos forçava a acreditar que estávamos praticamente acima de todos. A curandeira nos trouxe à realidade do que éramos - nada.
"O primeiro preceito do regulamento é que tudo que nos rodeia é de um mistério insondável.
"O segundo preceito é que devemos tentar desvendar esses mistérios, mas sem esperar jamais conseguir isso.
"O terceiro, é que um guerreiro, ciente dos mistérios insondáveis que o cercam e ciente do seu dever de tentar desvendá-los, ocupa seu lugar certo entre os mistérios e vê a si mesmo como um deles. Conseqüentemente, para um guerreiro o mistério de ser não tem fim, seja ser uma pedra, uma formiga ou ele próprio. Essa é a humildade de um guerreiro. Uma pessoa é igual a tudo.
Presente da Águia - pág. 222

· Ela declarou que essas eram as preliminares essenciais da espreita que todos os membros do seu grupo tinham passado como introdução a exercícios mais apurados da arte. Sem fazer os exercícios preliminares para recuperar os filamentos deixados no mundo, e particularmente para desprezar os que os outros deixaram neles, não há possibilidade de manipular a loucura controlada, pois esses filamentos estranhos são a base da capacidade ilimitada de auto-importância de uma pessoa. Para exercitar a loucura controlada, já que ela não visa a enganar ou punir as pessoas ou se sentir superior a elas, tem-se de ser capaz de rir de si próprio. Florinda disse que um dos resultados de uma recapitulação detalhada é a graça de se ver face a face com a repetição monótona da auto-estima de alguém, que está no cerne de toda a interação humana.
Presente da Águia - pág. 229

· Disse que seu benfeitor considerava as três técnicas básicas da espreita - o engradado, a lista de acontecimentos a serem recapitulados, e a respiração do espreitador - como sendo as tarefas talvez mais importantes de um guerreiro. Ele achava que uma recapitulação profunda era o meio mais eficiente para se perder a forma humana. Portanto, seria fácil para os espreitadores, depois de recapitularem suas vidas, fazer uso de todos os não fazeres do seu eu, tais como apagar sua história pessoal, perder a auto-importância, quebrar as rotinas, e assim por diante.
Informou que seu benfeitor deu a todos eles exemplos do que queria dizer, primeiro demonstrando suas premissas, e depois expondo os princípios do guerreiro nas suas ações. No seu caso, como ele era um mestre na arte de espreitar, engendrou o plano da sua doença e sua cura, que não só foi coerente com o método do guerreiro mas também foi uma introdução magistral aos sete princípios da arte de espreitar. Primeiro atraiu Florinda a seu próprio campo de batalha, onde ela ficou à sua mercê; forçou-a a descartar-se do que não fosse essencial; ensinou-lhe a colocar sua vida nos eixos, através de uma decisão; ensinou-lhe a relaxar; fez com que ela desenvolvesse um espírito diferente de otimismo e autoconfiança para que pudesse reorganizar seus recursos; ensinou-lhe a condensar o tempo; e finalmente mostrou-lhe que um espreitador nunca se põe à frente das coisas.
Presente da Águia - pág. 230

· "Nunca encontrei um motivo para suas brincadeiras. Para mim o nagual Elias era como uma lufada de ar fresco. Explicava tudo para mim com paciência. De modo semelhante ao qual uso para explicar as coisas para você, mas talvez com um certo algo mais. Não o chamaria de compaixão, mas antes, empatia. Os guerreiros são incapazes de sentir compaixão porque não mais sentem pena de si mesmos. Sem a força propulsora da autopiedade, a compaixão não tem significado."
- Está dizendo que um guerreiro é todo por si mesmo? - De certo modo, sim. Para um guerreiro tudo começa e termina consigo mesmo. Entretanto o seu contato com o abstrato faz com que supere seu sentimento de auto-importância. Então o eu torna-se abstrato e impessoal.
O Poder do Silêncio - pág. 49·

- Você pode acreditar no que quiser - Dom Juan respondeu impávido. - O fato é que sem o Nagual não há jogo. Sei disso, e é o que digo. O mesmo fizeram todos os naguais que vieram antes de mim. Mas eles não o dizem do ponto de vista da auto-importância, nem eu. Dizer que não existe caminho sem o Nagual refere-se totalmente ao fato de que o homem é um Nagual porque pode refletir o abstrato, o espírito, melhor do que os outros. Mas isso é tudo. Nosso elo é com o próprio espírito, e apenas incidentalmente com o homem que nos traz sua mensagem.
Eu aprendi a confiar implicitamente em Dom Juan como o Nagual, e isso, como ele afirmara, trouxe-me uma imensa sensação de alívio, e uma capacidade maior de aceitar o que ele lutava para me ensinar.
A Arte do Sonhar - pág. 25

· Dom Juan meramente zombava de mim, chamando-me de egomaníaco disfarçado, que professava estar lutando contra a auto-importância e mesmo assim mantinha um diário meticuloso e superpessoal chamado de "Meus Sonhos".
Sempre que tinha oportunidade Dom Juan afirmava que a energia necessária para liberar a atenção sonhadora de sua prisão socializante vinha de redistribuir nossa energia existente. Nada poderia ser mais verdadeiro. O surgimento da atenção sonhadora é um corolário direto da remodelação de nossas vidas. Já que, como disse Dom Juan, não temos como buscar uma fonte externa para reforçar nossa energia, devemos redistribuir nossa energia existente através de qualquer meio disponível.
Dom Juan insistia em que o caminho dos feiticeiros era o melhor jeito de lubrificar, por assim dizer, as engrenagens da redistribuição da energia, e que de todos os itens do caminho dos feiticeiros o mais eficaz é "perder a auto-importância" . Ele estava totalmente convencido de que isso é indispensável para tudo que os feiticeiros fazem, e por isso fazia um esforço enorme em guiar todos os seus alunos a cumprir essa exigência. Era de opinião que a auto-importância não é apenas o inimigo supremo dos feiticeiros, mas a nêmesis da humanidade.
O argumento de Dom Juan era que a maior parte de nossa energia vai para o sustento de nossa importância. Isso fica mais óbvio em nossa infinita preocupação com a apresentação do Eu; com o fato de sermos ou não admirados ou amados ou reconhecidos. Ele dizia que, se formos capazes de perder parte dessa importância, duas coisas extraordinárias nos aconteceriam. Uma, libertaríamos nossa energia da tentativa de manter a idéia ilusória de grandeza; e duas, daríamos a nós mesmos energia suficiente para entrar na segunda atenção e vislumbrar a grandeza real do universo.
A Arte do Sonhar - pág. 53

· É aí que os feiticeiros modernos pegam a outra estrada. Eles preferem o que está fora do domínio humano. E o que está fora do domínio humano são todos os mundos, não apenas a esfera dos pássaros, dos animais ou dos homens, ainda que seja de um homem desconhecido. Estou falando de mundos como esse em que vivemos; mundos totais com incontáveis esferas.
- Onde ficam esses mundos, Dom Juan? Em posicionamentos diferentes do ponto de aglutinação?
- Certo. Em posicionamentos diferentes do ponto de aglutinação, mas posicionamentos aos quais os feiticeiros chegam com um movimento do ponto de aglutinação, não com um deslocamento. Entrar nesses mundos é o tipo de sonhar que apenas os feiticeiros de hoje em dia fazem. Os feiticeiros antigos ficaram longe dele, porque é necessário um grande desprendimento e nenhuma auto-importância. Um preço que eles não podiam se dar ao luxo de pagar.
A Arte do Sonhar - pág. 97

· Comentário sobre Viagem a Ixtlan
Na época em que eu estava escrevendo Viagem a Ixtlan, um clima muito misterioso me envolvia totalmente. Dom Juan Matus estava empregando algumas medidas extremamente pragmáticas à minha conduta diária. Ele havia delineado alguns passos para a ação e desejava que eu os seguisse rigorosamente. Havia me dado três tarefas que tinham somente a mais vaga referência ao mundo da minha vida cotidiana, ou a qualquer outro mundo. Ele queria que eu me esforçasse, no meu mundo cotidiano, em apagar a minha história pessoal através de qualquer meio concebível. Em seguida, ele queria que eu interrompesse minha rotina, e, finalmente, queria que eu abandonasse meu senso de auto-importância.
- Como é que vou fazer tudo isso, Dom Juan? - perguntei-lhe.
- Não tenho idéia - ele respondeu. - Nenhum de nós tem idéia de como fazê-lo, pragmática e efetivamente. Mesmo assim, se começamos o trabalho, acabamos realizando-o, sem jamais saber o que veio em nosso auxílio.
A dificuldade que você encontra é a mesma que eu próprio encontrei - ele continuou. - Garanto a você que nossa dificuldade nasce da ausência total, em nossas vidas, da idéia de que o mundo nos instiga a mudar. Ao mesmo tempo que meu mestre me deu essa tarefa, tudo de que eu precisava para realizá-la era da idéia de que isso podia ser feito. Uma vez tendo essa idéia, eu a realizei sem saber como. Recomendo que você faça o mesmo.
A Roda do Tempo - pág. 115

· Dom Juan estava certo. Tudo de que eu precisava, ou melhor, tudo de que uma parte misteriosa e oculta de mim precisava era da idéia. O "eu" que eu havia conhecido por toda minha vida precisava infinitamente de mais do que de uma idéia. Precisava de instrução, de estímulo, de direção. Fiquei tão intrigado por meu sucesso que as tarefas de apagar minhas rotinas, perder minha auto-importância e abandonar minha história pessoal tornaram-se um puro prazer.
A Roda do Tempo - pág. 116

· Para ajudar seu aprendiz a apagar a história pessoal, o guerreiro como mestre ensina três técnicas: perder a auto-importância, assumir a responsabilidade pelos próprios atos e usar a morte como conselheira. Sem o benefício dessas três técnicas, apagar a história pessoal o levaria a ser furtivo, evasivo e desnecessariamente dúbio sobre si mesmo e suas próprias ações.
A Roda do Tempo - pág. 159

· A auto-importância é o maior inimigo do homem. O que o enfraquece é sentir-se ofendido pelos atos e omissões de seus semelhantes. A auto-importância exige que se passe a maior parte da vida ofendido por alguma coisa
A Roda do Tempo - pág. 240

· O impulso do caminho do guerreiro é para derrubar a auto-importância. E tudo o que os guerreiros fazem é no sentido de alcançar essa meta.
A Roda do Tempo - pág. 290

· Os xamãs arrancaram a máscara da auto-importância e descobriram que ela é a auto-piedade disfarçada em outra coisa.
A Roda do Tempo - pág. 291

· "Os feiticeiros de antigamente, que nos deram o formato inteiro da feitiçaria, acreditavam que há tristeza no universo, como uma força, uma condição, uma luz, como intento, e que essa força perene age especialmente nos feiticeiros porque eles não possuem mais qualquer escudo protetor. Não podem se esconder atrás dos seus amigos ou dos seus estudos. Não podem se esconder atrás do amor, do ódio, da felicidade ou da miséria. Não podem se esconder atrás de nada.
"A condição dos feiticeiros - Dom Juan continuou - é que a tristeza para eles é abstrata. Não vem de cobiçar algo ou pela falta de algo, ou de auto-importância. Não vem do eu. Vem do infinito. A tristeza que você sente por não ter agradecido a seu amigo já tende para essa direção.
O Lado Ativo do Infinito- pág. 129

· - O que foi errado - disse Dom Juan - foi que vocês três eram egomaníacos perdidos. A auto-importância quase destruiu vocês. Se não tivessem auto-importância, teriam somente sentimentos.
"Só para me alegrar faça o seguinte exercício, simples e direto, que significa muito para mim: remova da memória que tem dessas duas garotas todas as afirmações que você faz para você mesmo do tipo: Ela me disse isso ou aquilo, ela gritou, e a outra gritou para MIM!', e permaneça no nível dos seus sentimentos. Se você não tivesse tanta auto-importância, o que teria ficado, como o resíduo irredutível?"
- Meu amor incondicional por elas - disse eu quase me engasgando.- E hoje é menor do que era antes? - Dom Juan perguntou.
- Não, não é, Dom Juan - disse sinceramente e senti a mesma ponta de angústia que permanecera em mim durante anos.
- Desta vez, abrace-as a partir do seu silêncio - disse ele.
- Não seja um idiota mesquinho. Abrace-as totalmente, pela última vez. Mas com o intento de ser a última vez na Terra. Intente isso a partir da sua escuridão. Se você vale quanto pesa quando der o seu presente para elas, vai resumir sua vida inteira duas vezes. Atos dessa natureza tornam os guerreiros leves, quase vaporosos.
O Lado Ativo do Infinito- pág. 167

· Dom Juan era, na minha opinião, um ser que vivia sua vida profissionalmente, em cada aspecto da palavra, o que significa que cada um de seus atos contava, não importando quão insignificante fosse. Eu estava cercado por pessoas que acreditavam que eram seres imortais, que se contradiziam a cada passo do caminho; eram seres cujas ações nunca poderiam ser justificadas. Era um jogo injusto; as cartas eram jogadas contra as pessoas que eu encontrava. Estava acostumado com o comportamento inalterável de Dom Juan, com a sua total falta de auto-importância, e o incomensurável alcance de seu intelecto; muito poucas pessoas que eu conhecia estavam mesmo conscientes de que existia um outro padrão de comportamento que fomentasse essas qualidades. A maioria delas só conhecia o padrão de comportamento da auto-reflexão, que torna o homem fraco e deformado.
O Lado Ativo do Infinito- pág. 247

· Neste ponto da conversa, Carlos fez um intervalo para responder algumas perguntas e aproveitou para nos contar diversas histórias exemplares sobre como a auto-importância deforma os seres humanos, transformando-os em couraças rígidas diante das quais um guerreiro não sabe se ri ou chora.
"Depois de estudar durante alguns anos com Don Juan, eu me senti tão perplexo com suas práticas que fui embora durante algum tempo. Não podia aceitar o que ele e meu benfeitor me faziam. Parecia desumano, desnecessário e ansiava por um tratamento mais doce. Eu aproveitei para visitar diversos guias espirituais do mundo inteiro a fim de achar nas doutrinas deles algum ensino que justificasse minha deserção.
"Em certa ocasião conheci um guru californiano que se achava grande coisa. Ele me admitiu como seu discípulo e me deu a tarefa de pedir esmolas em uma praça pública. Considerando que era uma experiência nova para mim e que provavelmente tiraria uma lição importante de tudo isso, eu me encorajei e cumpri com o proposto. Quando voltei para vê-lo, disse a ele: 'agora faça isso você! '. Ele ficou furioso comigo e me expulsou da turma.”
Encontros com o Nagual – pág. 32

· Em outra ocasião, Carlos nos falou que o demônio da auto-importância não afeta somente aqueles que se acreditam mestres, mas que é um problema geral. Um dos seus estandartes mais firmes é a aparência pessoal.
"Esse era um ponto pelo qual eu sempre me senti incomodado. Don Juan costumava atiçar meu ressentimento zombando de minha estatura. Ele me dizia: 'Quanto mais baixinho, mais egomaníaco! Você é pequeno e ruim como um percevejo; não pode fazer outra coisa senão ser famoso, porque do contrário você não existe!' Afirmava que o mero fato de me ver lhe dava vontade de vomitar, pelo que estava infinitamente agradecido comigo: 'cada vez que você vem eu me renovo!'
"Eu me ofendia com seus comentários, porque tinha a certeza de que exagerava meus defeitos. Mas um dia eu entrei em uma loja de LosAngeles e pude entender que ele tinha toda a razão. Ouvi um indivíduo que dizia ao meu lado: 'Shorty!' (pequeno). Eu me senti tão irritado que, sem pensar duas vezes, virei e lhe dei um forte soco na cara. Depois eu soube que o homem não tinha dito isso para mim, mas porque tinha recebido um troco menor.
Encontros com o Nagual – pág 33

· Carlos continuou explicando que a auto-importância se alimenta da mesma classe de energia que nos permite "ensonhar". Portanto, perdê-la é a condição básica do nagualismo, porque libera para nosso uso um excedente de energia; também, porque sem essa precaução, o caminho do guerreiro poderia nos converter em umas aberrações.
"Isso é o que aconteceu a muitos aprendizes. Eles começaram bem, acumulando sua energia e desenvolvendo suas potencialidades. Mas eles não perceberam que, à medida em que conseguiam poder, eles também nutriam em seu interior um parasita. Se nós vamos ceder às pressões do ego, é preferível que o façamos como homens comuns e normais, porque um bruxo que se considera importante é a coisa mais triste que há.
Encontros com o Nagual - pág35

· Mas naquela tarde ela estava muito agitada. Alguns dos aprendizes tentaram acalmá-la e isso a enfureceu ainda mais. Eu não podia fazer nada. A situação havia sobrepujado meu poder. Depois de um esforço brutal e nada impecável, acometeu-a uma embolia cerebral e caiu morta. O que a matou foi sua egomania".
Como moral desta história estranha, Carlos acrescentou que um guerreiro nunca se deixa levar até a loucura, porque morrer de um ataque de ego é o modo mais estúpido para se morrer.
"A importância pessoal é homicida, trunca o livre fluxo da energia e isso é fatal. Ela é a responsável pelo nosso fim como indivíduos e chegará o dia em que nos elimine como espécie. Quando um guerreiro aprende a deixar sua auto-importância de lado, seu espírito se abre, jubiloso, como um animal selvagem que é liberado de sua jaula e posto em liberdade.
"A importância pessoal se pode combater de diversos modos, mas primeiro é necessário saber que está aí. Se você tem um defeito e o reconhece, já é meio caminho andado!
Encontros com o Nagual - pág37

· "Uma vez que vocês tenham dissecado seus sentimentos, devem aprender como canalizar seus esforços mais além da faixa do interesse humano, até o lugar da não piedade. Para os videntes, esse lugar é uma área de nossa luminosidade tão funcional como é a área da racional idade. Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista desapegado, da mesma maneira que nós aprendemos, quando crianças, a avaliá-lo a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da atenção, está muito mais próximo da realidade energética das coisas.
"Sem essa precaução, a convulsão emocional resultante do exercício de espreitar a nossa auto-importância pode ser tão dolorosa que o aprendiz pode ficar louco ou ser levado ao suicídio. Quando ele aprender a contemplar o mundo a partir da não compaixão, intuindo que por trás de toda a situação que implique um desgaste energético há um universo impessoal, o aprendiz deixa de ser um nó de sentimentos e se torna um ser fluido.
Encontros com o Nagual - pág39

· Como preâmbulo, afirmou que o papel relevante que nos concedemos a nós mesmos em cada uma das coisas que fazemos, dizemos ou pensamos, consiste numa espécie de "dissonância cognitiva" que nubla nossos sentidos e nos impede de ver as coisas clara e objetivamente.
"Somos como pássaros atrofiados. Nascemos com todo o necessário para voar, porém, estamos permanentemente obrigados a dar voltas em torno de nosso ego. A corrente que nos aprisiona é a importância pessoal.”
"O caminho para converter um ser humano normal num guerreiro é muito árduo. Sempre intervém nossa sensação de estar no centro de tudo, de sermos necessários e termos a última palavra. Nós nos sentimos importantes. E quando a pessoa é importante, qualquer intento de mudança se converte em um processo lento, complicado e doloroso.”
Encontros com o Nagual - pág32

· "Quando uma criança se torna um ser social, ela adquire uma falsa convicção de sua própria importância. E aquilo que no princípio era um sentimento saudável de autopreservação, acaba se transformando em uma exigência ególatra por atenção.”
"De todos os presentes que recebemos, a importância pessoal é o mais cruel. Converte uma criatura mágica e cheia de vida em um pobre diabo arrogante e sem graça".
Encontros com o Nagual - pág32

· "Ao observar as manhas da importância pessoal e o modo homogêneo com que contamina todo o mundo, os videntes dividiram aos seres humanos em três categorias, para as quais don Juan pôs os nomes mais ridículos que pôde achar: os mijos, os peidos e os vômitos. Todos nós nos ajustamos em um deles.
Encontros com o Nagual - pág34

· "Considerem que a importância pessoal é traiçoeira; pode se disfarçar debaixo de uma fachada de humildade quase impecável porque não tem pressa. Depois de uma vida inteira de práticas, basta um mínimo descuido, um pequeno deslize e ali está ela, novamente, como um vírus que foi incubado em silêncio ou como essas rãs que esperam durante anos debaixo da areia do deserto e com as primeiras gotas de chuva despertam de sua letargia e se reproduzem.
"Tendo em conta sua natureza, é o dever de um benfeitor esporear a importância do aprendiz até que esta exploda. Não pode ter piedade. O guerreiro deve aprender a ser humilde pelo caminho mais árduo ou não terá a menor oportunidade frente aos dardos do desconhecido.
Encontros com o Nagual - pág36

· "Assim, antes de mais nada, dêem-se conta disso. Peguem uma cartolina e escrevam nela: 'A importância pessoal mata', e pendurem-na no lugar mais visível da casa. Leia essa frase diariamente, tente se lembrar dela no seu trabalho, medite sobre ela. Talvez chegue o momento em que seu significado penetre em seu interior e você decida fazer algo. O dar-se conta é por si mesmo uma grande ajuda porque a luta contra o eu gera seu próprio impulso.
Encontros com o Nagual - pág37

· "Ordinariamente, a importância pessoal se alimenta de nossos sentimentos, que podem ir do desejo de estar bem e ser aceito pelos outros, até a arrogância e o sarcasmo. Mas sua área de ação favorita é a compaixão por si mesmo e pelos demais. De forma que para espreitá-la, temos, acima de tudo, que decompor nossos sentimentos em suas mínimas partículas, descobrindo as fontes das quais se nutrem.
Os sentimentos raramente se apresentam em uma forma pura. Eles se disfarçam. Para os caçar como coelhos, nós temos que proceder sutilmente, com estratégias, porque eles são rápidos e não se pode entrar em acordo com eles.
Podemos começar com as coisas mais evidentes, como por exemplo: por que me levo tão a sério? Quão apegado estou? A que dedico meu tempo? Estas são coisas que nós podemos começar a mudar. cumulando energia suficiente para liberar um pouquinho de atenção. E isso, por sua vez, permitirá que entremos mais no exercício.”
Encontros com o Nagual - pág38

· "Percebam que a importância pessoal é um veneno implacável. Nós não temos tempo e o antídoto é a urgência. É agora ou nunca!
"Uma vez que vocês tenham dissecado seus sentimentos, devem aprender como canalizar seus esforços mais além da faixa do interesse humano, até o lugar da não piedade. Para os videntes, esse lugar é uma área de nossa luminosidade tão funcional como é a área da racional idade. Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista desapegado, da mesma maneira que nós aprendemos, quando crianças, a avaliá-lo a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da atenção, está muito mais próximo da realidade energética das coisas.
Encontros com o Nagual - pág38

· "Um modo de definir a importância pessoal, é entendendo-a como a projeção de nossas fraquezas através da interação social. É como os gritos e atitudes prepotentes que adotam alguns animais pequenos para dissimular o fato de que na realidade eles não têm defesas. Somos importantes porque nós temos medo, e quanto mais medo, mais ego.
"Porém, e afortunadamente para os guerreiros, a importância pessoal tem um ponto fraco: ela depende do reconhecimento para subsistir. Como a pipa, ela precisa de uma corrente de ar para ascender e ficar no alto; caso contrário, cai feito pedra e se quebra. Se nós não damos importância à importância, esta se acaba.
Encontros com o Nagual - pág39

· Todas as nossas ações contam, porque elas desencadeiam avalanches no infinito. Por isso nenhuma vale mais que outra, nenhuma é mais importante que outra.
"Essa visão corta de uma vez só a tendência que nós temos de ser indulgentes com a gente mesmo. Ao ser testemunha do vínculo universal, o guerreiro cai presa de sentimentos desencontrados. Por um lado, júbilo indescritível e uma reverência suprema e impessoal por tudo que existe. Por outro, um sentido de fim inevitável e tristeza profunda que nada tem que a ver com a auto-compaixão; uma tristeza que vem do seio do infinito, uma rajada de solidão que nunca desaparece.
"Esse sentimento depurado dá para o guerreiro a sobriedade, a fineza, o silêncio de que ele precisa para intentar aí onde todas as razões humanas fracassam. Em tais condições, a importância pessoal fenece por si mesma".
Encontros com o Nagual - pág41

· "Para intentar o acesso ao mundo dos bruxos é necessário estar preparado. Um encontro acidental com o poder não levará a nada, exceto a um susto brutal para o pesquisador que, a partir dali, jurará que a bruxaria é obra do demônio, ou então que tudo é pura falsidade.
"Mas uma preparação mal dirigida, que fomente a importância pessoal em vez de aumentar o assombro e o desejo de aprender, se transforma em um estorvo quase total para o aprendiz. Aqueles que chegam ao nagual saturados de convicções em quase tudo não têm nenhuma oportunidade de continuar em frente.
"Então, a exigência para entrar no caminho do conhecimento é a mais profunda honestidade. É necessário desocupar o porto para que o navio chegue, reconhecendo que, no fundo, nós não sabemos nada. Uma vez que se alcança esse grau de preparação é assunto de sorte. O espírito determina quem será escolhido e quem não.
Encontros com o Nagual - pág114

· Pouco a pouco as histórias de Carlos foram fazendo efeito sobre mim. Certo dia, parei para deliberar seriamente sobre a quantidade de esforço que investia em sustentar minha importância pessoal. Não na forma grosseira em que esta normalmente se manifesta como auto-suficiência ou reclamações por atenção, mas em sua forma sutil, relacionada com as idéias fundamentais que eu tinha sobre o mundo.
Essas sessões de reflexão não me levaram a nenhuma certeza. Pelo contrário, comecei a notar como a estrutura ideológica inteira na qual eu vivia, e que sempre tinha dado por certa, estava cambaleando. Quando contei isso para Carlos, ele o tomou como uma coisa natural.
"Você está aprendendo a espreitar a si mesmo - falou. É o que você deveria ter feito desde que passou a utilizar a razão".
Encontros com o Nagual - pág139

· "A espreita pode ser definida como a habilidade de fixar o ponto de aglutinação em novas posições.
"O guerreiro que espreita é um caçador. Mas, ao contrário do caçador ordinário que tem a visão fixa em seus interesses materiais, o guerreiro persegue uma presa maior: sua importância pessoal. Isso o prepara para enfrentar o desafio de lidar com seus semelhantes - algo que o ensonho não pode resolver por si só. Os bruxos que não aprendem a espreitar se transformam em pessoas mal humoradas".
Porque?"
"Porque eles não têm a paciência para tolerar as bobagens das pessoas.
Encontros com o Nagual - pág143

· "O homem comum não sabe que espreita porque seu caráter foi subjugado pela socialização. Está convencido de que sua existência é importante; dessa forma, suas ações estão a serviço de sua importância pessoal, não do aumento de sua consciência"-
Acrescentou que uma das características da importância é que ela nos delata.
"As pessoas 'importantes' não fluem, dão-se ares de sua graça, presumem os seus atributos ainda que lhes faltem a graça e a velocidade necessária para se esconderem. Eles têm sua luminosidade demasiado rígida e só conseguirão flexibilizá-la quando já não tenham nada a que defender.
Encontros com o Nagual - pág146

· Em um tom muito formal, explicou que os guerreiros não se movem por importância pessoal, e portanto, suas decisões não são deles.
"Don Juan dizia que alguns homens de conhecimento, depois de uma vida de luta impecável, decidem permanecer, enquanto outros se dissolvem como sopros no infinito.
"O que faz com que alguns guerreiros lutem para reter seu eu é algo alheio a seus interesses pessoais. Pertencer a uma linhagem de poder implica laços de uma natureza tal que nossa personalidade fica anulada, é só um minúsculo detalhe em uma estrutura de energia a qual os novos videntes chamam 'a regra' ( O Regulamento).
Encontros com o Nagual - pág175

· Acrescentou que a tradição de sabedoria do México foi arquitetada por homens de poder em um ato supremo de altruísmo. Foi um intento para resgatar nossa liberdade essencial, mas funcionou durante um curto tempo. Na medida em que foi se entrelaçando com rituais e crenças supérfluas, suas criações terminaram se convertendo em agentes da fixação do ponto de aglutinação daquela sociedade.
"Essas obras são enormes concentrações de intento, mas o conhecimento que guardam não são puros, eles estão misturados com a importância pessoal de seus criadores e só vale a pena focalizá-los através da espreita. Particularmente as pirâmides são poderosos captadores de atenção. Elas podem nos levar rapidamente a estados de silêncio mental, mas também podem se voltar contra nós. Há um ponto em que é preferível abster-se delas que se aventurar sem defesas nos domínios dos antigos videntes.
Encontros com o Nagual - pág186

· Havia certos tópicos nos ensinamentos de Carlos que eram de um inegável valor prático; por exemplo, o conselho constante para que controlássemos a importância pessoal, adquiríssemos uma visão clara do privilégio de viver neste instante e adotássemos os princípios estratégicos do caminho do guerreiro.
Encontros com o Nagual - pág191

· "A importância pessoal e seus desagradáveis parentes, o secreto e a exclusividade, se alimentam da fixação do ponto de aglutinação. Por isso, o grande interesse dos antigos era gerar tradições rígidas, para desse modo conseguir a máxima estabilidade no seio de suas sociedades. Na realidade, seu interesse pelo espírito estava muito misturado com suas ambições de poder temporal.
Encontros com o Nagual - pág210

· "Os antigos não puderam separar de suas práticas uma grande dose de importância pessoal. Como eles desfrutavam do poder sobre seus semelhantes, eles nunca puderam focalizar com claridade a proposta da liberdade total. Embora fossem videntes insuperáveis, foi impossível a eles prever que seu entusiasmo para descobrir o mundo ia terminar metendo-os em compromissos dos quais já não poderiam escapar.
Encontros com o Nagual - pág219

· A razão só serve para inventariar as coisas, não para compreendê-las. Também, deixa um desagradável subproduto que os videntes vêem como uma membrana escura que cerca nossa luminosidade: a importância pessoal.
Encontros com o Nagual - pág219

· "O grupo é um ser autoconsciente que nos supera amplamente. Participar de seu intento é algo tão excepcional, que assim que um aprendiz vislumbra sua totalidade, a posição de ego simplesmente se derrete. Isso não implica que ele automaticamente fica impecável; ainda vai ter que se esforçar durante anos para temperar seu caráter e extirpar a importância pessoal, assim como a obsessão pelo poder.
Encontros com o Nagual - pág248