1. A Árvore da Vida
Mircea Eliade (1993, 213-265) demonstra
a universalidade do simbolismo vegetal da Árvore
da Vida em diferentes mitologias: como árvore da imortalidade e da
regeneração, como árvore-imagem do cosmo, como altar ao ar livre, e,
finalmente, como Axis Mundi, um
centro do mundo e suporte do universo, em que o tempo se verticaliza permitindo
a passagens para outros mundos, seja infernal ou celestial.
A árvore cabalística, no entanto, é a
mais complexa e abrangente de todas essas representações. A Árvore da Vida é um diagrama da
estrutura do universo da cabala hebraica de tempos imemoriais, que os
ocultistas e bruxos dos séculos XIX e XX transformaram em um eixo arquetípico
vertical, um centro simbólico sobre o qual se organizam os diversos níveis da
manifestação. A árvore, nesta versão, não forma um sistema fechado; ela é um
método de correspondência universal ou uma chave analógica para decifrar outros
sistemas simbólicos.
Segundo
a tradição, a árvore cabalística foi ensinada pelos anjos aos homens para que
eles conseguissem voltar ao paraíso primordial. Para outros, ela foi recebida
por Set, o terceiro filho de Eva; ou também entregue a Abraaão por Melkisedk.
Há também versões de que ela diretamente ditada por Jeová a Moisés, durante os
40 dias no monte Sinai. Do ponto de vista histórico, no entanto, sabemos que o
símbolo da árvore cabalística, como tradição oral do misticismo hebraico, data
da época do segundo cativeiro babilônico, sendo uma espécie de adaptação do
simbolismo astrológico dos caldeus ao monoteísmo judaico. Por muitos séculos,
ela foi transmitida oralmente como um tipo de exegese mística do Torah
até que, por volta de 100 d.C., surgiram o Sepher Yetzirah e o Zohar
– livros tradicionais que tratam
do diagrama da árvore. Desde então, a árvore cabalística teve vários
ciclos distintos dentro da tradição judaica, com características bastante
diferentes (o ciclo mágico da floresta negra, o ciclo filosófico especulativo
da Espanha no século XII, o ciclo monástico de Safed dirigido por Isaac Luria),
mas só se popularizou quando foi apropriada e universalizada pelos ocultistas
nos séculos XIX e XX (principalmente Eliphas Levi e Alesteir Crowley).
Muitos cabalistas da tradição hebraica
criticam a apropriação feita da Árvore da
Vida pelos ocultistas. Mas a verdade é que, se os esotéricos beberam na
tradição hebraica para elaborar sua própria versão universalista do simbolismo
tradicional, o misticismo judaico também se reciclou e influenciou com a
abordagem ocultista e, mais recentemente, com o desenvolvimento da psicologia
analítica. Um exemplo atual desta recíproca é Z’ev Ben Shimom Halevi (1992), um
cabalista genuinamente hebraica fortemente influenciada pelo esoterismo e por
Jung.
No diagrama da árvore, as dez Sephiroth
(plural de Sephirah) são esferas de energia em que a manifestação se
desenvolve. Cada sephirath está
contida na anterior e contem, em si, a possibilidade da próxima.
A
Árvore da Vida
Kether A Coroa, onde o Incognoscível se manifesta
como uma luz estática e apolar, a chama eterna da vida, o centro de todos os
círculos. O ponto.
Chokmah A Sabedoria corresponde à luz que entra em
movimento e se torna uma força cinética. É representado geometricamente pela
reta ou pelo círculo. É a primeira
expansão do universo e está no topo da coluna da misericórdia.
Binah A Inteligência, onde a força encontra
resistência ao seu movimento e gera a forma, representada pelo triângulo ou
prisma. É a primeira contração do
universo e está no topo da coluna da severidade.
Cheseed A Bondade, esfera onde, equilibrando as
restrições impostas pela forma, a manifestação se realiza através da
misericórdia divina. É a segunda expansão do universo. Essa esfera é
simbolizada pelos deuses jupiterianos, como Zeus e Xangô.
Geburah A Severidade, esfera onde a força, seja física
ou moral, se manifesta com energia e impetuosidade. É a segunda contração do
universo. É simbolizado pela Espada e pelos deuses guerreiros, como Ares e
Ogum.
Tiphareh A Beleza, esfera que harmoniza a contradição
ética entre a severidade e a clemência. Ela é geralmente representada pelos
deuses solares e redentores, que se sacrificam em benefício ao Todo.
Netzach A Eternidade, esfera que representa os
sentimentos e os instintos, o fogo sexual e o planeta Vênus. É a última
expansão do universo.
Hod A Reverberação, esfera que representa o
pensamento consciente e a mente concreta e o planeta mercúrio, e é a última
contração do universo.
Yesod O
Fundamento, esfera que representa a Lua e a essência da vida orgânica, o duploetéreo.
Malkuth O Reino, esfera que representa a essência
inorgânica da materialidade, a imagem sensorial da realidade, o planeta Terra,
o corpo físico concebido dentro do mundo material.
Temos, portanto, uma série de dez
círculos concêntricos, uns dentro dos outros, mantendo uma relação de
polaridade em função à esfera anterior que o engloba e também em função à
esfera que o contem em seguida. E esse conjunto de círculos pode ser disposto
de vários modos.
As disposições ‘por três colunas’
verticais (a severidade ou contração, o equilíbrio e a graça ou expansão) ‘por
três tríades’ horizontais (um triangulo voltado para cima e dois para baixo)
são as mais comuns e dão ao iniciante uma visão do funcionamento geral da
árvore como símbolo integrado de outros símbolos.
Nessa disposição, os mundos
cabalísticos aparecem como níveis: o primeiro triângulo, o voltado para cima,
está no mundo das emanações arquetípicas; a segunda tríade, o primeiro
triângulo invertido, representa o reflexo do primeiro mundo da criação,
governado por Arcanjos; e a terceira tríade corresponde ao um segundo reflexo
da eternidade no mundo das formas, em que habitam os anjos e outras criaturas.
Nessa disposição, o mundo material corresponde à décima esfera (Malkuth), o reino.
Também é bastante comum a disposição das esferas uma tríade
superior e sete esferas inferiores: enquanto as três primeiras Sephiroth (Kether, Chokmah e Binah) formam um conjunto denominado ‘rosto
maior’, formado pelas três causas primárias; as outras Sephiroth, por sua vez, formam o ‘rosto menor’ e as sete causas
secundárias – o Menorah, o castiçal
de sete velas.
Imaginemos que desejamos fazer um bolo.
Este motivo, quando vem à mente, equivale à primeira tríade, onde Kether representa o desejo, Chokmah, à ideia, e Binah, a sua imagem formal. Porém, o bolo só sairá da imaginação
para a realidade se cruzar o abismo, chegando ao sétimo nível de
materialização: Cheseed corresponderá
à escolha dos ingredientes; Geburah,
ao esforço necessário à preparação da massa; Tiphareh, ao equilíbrio entre a quantidade dos ingredientes e sua
correta preparação; Netzach, ao toque
artístico necessário e à intuição; Hod,
às instruções técnicas da receita; Yesod,
ao cozimento no forno; e, finalmente, Malkuth,
à forma final do bolo, à sua materialidade.
Além dos processos descendentes e
materializantes que baixam da luz para concretude, a que se chama 'criativos';
existem os processos 'evolutivos', que partem da matéria em busca de uma
realidade mais sutil. Os ocultistas chamam o sentido ascendente da árvore de ‘O
Caminho da Serpente da Sabedoria’ e o sentido descendente de ‘O Caminho da
Espada Flamejante’.
A árvore cabalística representa este
duplo circuito dos processos criativos e evolutivos. As sephiroth ou esferas de manifestação funcionam como ‘transistores’
deste circuito, unidades que recebem e emitem energia transformando suas
características. Os cabalistas analisam todos os fenômenos à luz destes
critérios, reduzindo-os sempre aos mesmos elementos, as dez esferas da
manifestação.
Pode-se ascender pela Árvore de dois
modos: o caminho do místico, em que o aspirante se eleva verticalmente chegando
ao Deus imanifesto, ao nada; e o caminho do feiticeiro, em que o neófito
ascende, em um zig-zag lento e tortuoso, através dos diferentes aspectos da
manifestação, as forças da natureza. O místico se funde com o nada que há por
trás de todas as coisas; o feiticeiro combina todas as coisas manifestas
segundo sua energia para realizar as operações necessárias ao seu
desenvolvimento e de sua comunidade.
O místico ascende à divindade através
do pilar central da Árvore da Vida, o caminho do renunciante; enquanto o
feiticeiro deve oscilar através dos pilares laterais, os eixos da bondade e da
severidade, alternando uma rigorosa disciplina espiritual ao exercício da generosidade
e da gratidão. Quando se diz que o místico 'sobe a árvore' pelo pilar central,
significa que o neófito controla os instintos do corpo (Malkult), domina os desejos da alma (Yesod) e chega ao coração de self (Tiphareh), ele precisa ainda cruzar o grande abismo para se
integrar à luz (Kether) e sumir no Ain Soph (o 'sem fim'). Em
contrapartida, o feiticeiro, subindo a árvore lentamente pelos lados, oscilando
entre os pilares do karma e da graça, dominando as sete forças da natureza;
para em um segundo estágio, ser capaz de interagir com a tríade superior: a
forma, a força e a luz.
Na árvore, o conhecimento é o casamento da sabedoria com a
inteligência: Daath, a sephirah invisível, que fica no centro superior
da Árvore. A esfera de Daath fica no pilar central do equilíbrio, abaixo
da coroa de Kether (a luz) e a cima da esfera solar de Tiphareh (a
beleza, o self). A esquerda, no alto do pilar da severidade, está Binah
(a inteligência); e a direita, no alto do pilar da generosidade, está Chokmah
(a sabedoria). Daath representa o
fruto proibido.
Na tradição ocultista, tanto os
místicos como os feiticeiros, antes de cruzar o portal de luz de saída do
universo manifesto para o nada devem se iniciar na esfera do Conhecimento. Caso
o neófito se deixe atrair pela inteligência do lado esquerdo, perderá a
sabedoria e se tornará cruel e cínico.
Por outro lado, caso ele se deixe levar
pela esfera da sabedoria, perdendo a sagacidade e a esperteza, poderá
enlouquecer.
Na cabala, Deus é o nada absoluto
existente por trás da manifestação. A Luz (Kether)
é relativa, a manifestação primordial, mas não é transcendente e sim imanente,
está ‘dentro’ das esferas seguintes, cada vez mais exteriores.
A imagem de uma cebola com várias
cascas é representa essa concepção de universos embutidos em camadas
sobrepostas, em que a luz imanente é a semente; e a casca mais externa, o mundo
material.
Há também o importante símbolo da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal,
reflexo invertido da Árvore da Vida.
Na estória de Adão e Eva, a árvore proibida era essa árvore secundária e não a
Árvore da Vida, ambas ficavam no centro dos jardins do Éden. Sendo que a Árvore da Vida está no mundo das
emanações arquetípicas; e a Árvore do
Conhecimento do Bem e do Mal está invertida, de cabeça para baixo, com suas
raízes brotando dos céus e que seus galhos mergulhando nas dimensões mais
densas: nos mundos espiritual, astral e material.
2. A
Escada de Jacó
Eliphas Levi, pseudônimo do padre
Alfonsé Louis Constant, foi o primeiro ocultista a interessar pela Cabala
hebraica em l856 e associou-a ao baralho de Tarô. Para o ocultista, os arcanos
maiores do Tarô correspondem às 22 letras do alfabeto hebraico e aos caminhos
subjetivos que interligam as esferas. Além disso, Levi associou também os
quatro naipes do baralho aos quatro mundos cabalísticos, relacionando as suas
16 cartas de figura ao Tetragrama Sagrado (o ‘IHVH’) e as suas 40 cartas numeradas às 10 esferas da Árvore da Vida. Haveria, portanto,
quatro árvores de dez esferas cada. O número quarenta representa a totalidade
da existência e da experiência humana. Os períodos medidos por este número são
frequentes na tradição judaico-cristã: os 40 dias do dilúvio de Noé, os 40 anos
durante os quais os israelitas erraram pelo deserto, os 40 dias que Moisés
passou no Sinai, os 40 dias do jejum de Cristo, entre outros. Todas essas
experiências têm o mesmo significado: a reintegração mística com Deus às
viagens empreendidas por Enoch através dos palácios celestiais que antecedem o
trono do Altíssimo onde Criador e Criatura se encontrarão frente a frente.
Shimon Halevi estabelece uma relação diferente da expressa
pelo número quarenta, mais complexa e desigual, entre os quatro mundos
cabalísticos e as árvores da Vida e do Conhecimento entrelaçadas.
A primeira árvore também é chamada de
Adão Kadmo, e suas emanações arquetípicas correspondem a partes do seu corpo.
Assim, a sexta esfera da Árvore da Vida
(o Self cósmico) corresponde ao plexo solar do Adão Kadmo e à primeira esfera
da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal
(as portas dos Jardins do Eden).
A décima esfera do mundo arquetípico
(os pés do corpo espiritual do Adão Kadmo) corresponde à sexta esfera do
segundo mundo (Self universal da humanidade) e à primeira esfera do mundo
astral (ponto que corresponde ao mito da torre de Babel).
O mesmo esquema se repete em relação ao
quarto mundo: a primeira esfera do mundo material (a glândula pineal) coincide
com a sexta do mundo astral (o Self cultural coletivo) e com a décima do
terceiro mundo (o corpo emocional). Além disso, a última esfera do mundo astral
(o corpo sonhador) coincide com a sexta do mundo material (o Self individual).
E esse conjunto simbólico, a passagem do terceiro mundo para realidade
material, é que está associado, na cabala, à terceira queda da humanidade, ao
evento do dilúvio e ao desequilíbrio elemental desencadeado pelo uso do fogo
como tecnologia de guerra.
3. O Tetragrama IHVH
A lenda conta que quatro grandes rabis (Akiva, Ben Zoma, Ben Azai e
Aher) se dedicaram a estudos esotéricos e “entraram no paraíso”. A estória
afirma que “Aher viu e morreu; Bem Azai viu e perdeu a razão; Ben Zoma viu e
corrompeu-se. Apenas rabi Akiva entrou e saiu em paz”.
Há várias interpretações diferentes do
significado e do papel do sagrado nome de Deus (IHVH) dentro da cabala hebraica. O nome Jeová deriva do anagrama,
cuja pronúncia correta teria sido proibida no passado, uma vez que seria capaz
de invocar a presença do Altíssimo. Uma das interpretações possíveis sugere que
o Tetragrama (formado pelas letras hebraicas Iod, He, Vau e novamente He)
resume um método de subida pela árvore, que é basicamente formada por tríades
de esferas concêntricas.
Segundo o Zohar há quatro níveis de
decifração hermenêutica no estudo das Sagradas Escrituras: PESCHAT ou sentido
literal; REMEZ ou sentido alegórico; DERASCHÁ ou sentido tradicional; e SOD ou
sentido místico. Porém, este método de extração do sentido através de quatro
leituras sucessivas é bem mais antigo. Ele já era utilizado por Filon de
Alexandria, por volta do ano zero, na tradução do velho testamento para o
grego. O Hermeneuta (GOMES, 1996) atualiza e redefine este método de
interpretação através de quatro leituras para o ambiente das ciências humanas
atuais: a leitura literal (objetiva), a alegórica (simbólica), a tradicional
(contextual) e mística (ou teatral).
·
No primeiro nível, tratamos a linguagem
como objeto: como uma ‘realidade concreta’, como algo tátil, material, que
produz uma sensação, que tem um peso e uma quantidade, como algo que tem um
cheiro. É a linguagem em suas dimensões física e biológica. Neste primeiro
momento, deve-se esquecer do conteúdo e medir as formas destes discursos de um
ponto de vista quantitativo. Também neste nível observa-se o que o discurso
quer dizer literalmente, o que ele significa do ponto de vista de quem o
proferiu, ou seja, como ele foi ‘codificado’. Neste nível de decifração,
estuda-se o aspecto material e o aspecto de significação intencional consciente
de uma linguagem determinada: O QUE e COMO os discursos se realizam.
·
No segundo nível, a linguagem é vista
subjetivamente como a expressão de uma consciência humana. Assim, o segundo
procedimento de nossa pesquisa é discutir o conteúdo dos discursos. O QUEM e O
PORQUÊ da comunicação, os interlocutores e a ‘causalidade’ da linguagem.
Situar-se em um universo de perpétua transformação exige do ser humano uma
constante adaptação ao meio ambiente e a transmissão desta experiência entre
grupos e gerações. E nesse nível de leitura, os discursos não são meras
representações do real, mas também são mensagens involuntárias.
·
No terceiro nível, trata-se de observar
os rituais que perpetuam a linguagem. É o discurso reduzido aos seus verbos, às
suas paixões, à ação histórica e suas ressonâncias intersubjetivas. Ocultas
pelas realidades física e subjetiva dos discursos surgem as estruturas
inconscientes de repetição da linguagem. A relação entre a forma imposta pela
transmissão e os múltiplos conteúdos percebidos do discurso, entre o aspecto
físico e o psicológico da linguagem, é sempre histórica e faz parte de uma
tradição determinada socialmente. Assim, o terceiro procedimento de nossa
pesquisa consiste em determinar o ONDE e o QUANDO dos discursos, em localizar e
entender o discurso dentro do quadro histórico em que ele está inserido.
·
No quarto nível de leitura, a linguagem
vive no espírito dos seus discursos, na experiência existencial que eles
transmitem, nas suas diferentes respirações frente à morte. O sentido aqui é
trágico, não reativo, para além da representação: um sentido que apesar de
partilhar o drama não encena seu sofrimento. Neste nível, a intensidade e a
duração interrogam sobre o ritmo, a respiração e sobre a consciência que o
discurso tem de si. Acima de todas as formas, além de todas as ideias e
paixões, os discursos têm um significado existencial, um sentido revivido pela
experiência humana cravada nas profundezas inconscientes, onde se, descobre o
aspecto universal da linguagem entre as aparentes diferenças culturais. Zeus,
Júpiter e Xangô são diferentes representações históricas do arquétipo da
justiça, que tem suas raízes em um dispositivo psicológico que equilibra
transgressão e culpa.
Pode-se dizer, seguindo a lenda dos
quatro rabis e o método das quatro leituras, que a palavra mata, o símbolo
enlouquece, o exemplo perverte e apenas o arquétipo realmente explica a
linguagem, pois ao comparar o real ao ideal, revela como a realidade extrapola
seus modelos. Mais que um conjunto de leituras e procedimentos técnicos sobre
decifração de códigos, o método das quatro leituras tem por objetivo a
compreensão de si e dos outros, que pode ser aplicado à Árvore da Vida, à Escada de
Jacó e não apenas às Escrituras.
A imagem de Jesus Cristo (o arquétipo
do solar, Tiphareh), por exemplo,
pode ser vista como um fato histórico, como um símbolo de sacrifício e renúncia
ou como um elemento ideológico de uma religião, mas só fará sentido se for
vivido como uma experiência do Self. Se o sacrifício pessoal for vivido e
compreendido como uma experiência do Self, a pessoa poderá então se defrontar
com a própria violência represada pelas limitações e restrições do mundo.
Chegará assim à esfera do arquétipo do guerreiro (Geburah), centro da agressividade e resistência. Ser guerreiro
significa disciplinar a própria força e é uma necessidade da vida, vivida como
uma aventura heroica e profissão real; que só faz sentido ao ser reinventado no
cotidiano. Ao viver e superar os desafios da esfera solar e da esfera de marte,
o sacrifício e a disciplina, o aprendiz poderá se defrontar com a esfera da
autoridade. O arquétipo do pai e o complexo de Édipo (representados pela esfera
de Cheseed) são simultaneamente uma
imposição, uma válvula de escape e um modelo estruturante para quem se coloca
na posição de filho. Porém, apenas assumindo a posição de pai de outros é que
vivemos o arquétipo e o transformamos. No caso, sendo um pai que reinventa o
recalque, a sublimação e o exemplo a que foi submetido.
A meditação da árvore consiste
justamente em respirar quatro vezes consecutivas em cada esfera, começando por Kether no alto da cabeça, descendo até Malkuth nos pés e retornando no sentido
ascendente até o ponto de partida. A prática desta meditação trará em si novos
elementos embutidos (palavras-mantra, imagens de cada esfera) para serem
incorporados por cada praticante. A cabala, em profundidade, só é recebida
através de revelação.
Essa meditação é atribuída a Issac Luria, de Safed, mas tem características universais, apresentando semelhanças no escaneamento do corpo pela respiração com a técnica da meditação budista Vipassana e dos pontos de concentração de energia com a ioga tântrica dos ‘Chakras’. O mais importante é a concentração durante as descidas/subidas na árvore interior com a respiração e o entendimento dos conceitos das esferas.
Muito obrigada!!! Este texto me elucidou em vários pontos!!!
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