sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Espreita


As habilidades da espreita e do sonhar são os dois pilares do caminho de evolução dos toltecas do Antigo México. A espreita se relaciona fortemente, além do sonhar, com muitas outras “unidades de significado” deste conhecimento a saber: o tonal, o ponto de aglutinação, o pequeno tirano, a impecabilidade, a importância pessoal, os hábitos e rotinas, a loucura controlada, a energia sexual, a consciência intensificada, a recapitulação, e por aí afora...
A arte da espreita, já que lida com pessoas e comportamento, por um lado é aparentemente exterior, mas por outro lado tem raízes profundas com o lado “oculto” do ser humano, incompreensível à razão habitual, que é o corpo energético. A arte da espreita está ligada ao coração, assim como a mestria da consciência está ligada á mente, e a mestria do intento ao espírito. O seu propósito é deslocar gradual, firme e seguramente o ponto de aglutinação e fixá-lo além do chamado inventário humano. A espreita pode ser aplicada a tudo, mas espreitar a sí mesmo é a sua expressão mais fina e valiosa.
Se fôssemos resumir os pontos importantes das considerações sobre a espreita, diríamos:
- É a habilidade de fixar o ponto de aglutinação numa nova posição
- É uma batalha silenciosa para “conseguir os objetivos” da melhor forma em cada situação.
- É um controle sistemático do comportamento
- É uma forma de relacionar-se com as pessoas, mas sua atuação objetiva “afinar o próprio praticante”.
- É colocar-se em situações limite (perigo, medo, saturação sensorial, agressão)
- A espreita é ligada ao tonal, corpo direito, primeira atenção. O sonho é o oposto (nagual, corpo esquerdo, segunda atenção)
- Ela move devagar e mantém o ponto de aglutinação na nova posição (coesão). O sonho é o oposto
- As mulheres são naturalmente mais afeitas á espreita que os homens
- É regida por 7 princípios (vide abaixo)
- Tem 4 passos de aprendizado: implacabilidade, esperteza, paciência e doçura
- Sua estratégia mais eficaz tem 6 pontos: controle, disciplina, paciência, oportunidade, vontade e o pequeno tirano
- Espreita-se tudo, até as próprias fraquezas, mas o “estado da arte” é espreitar a sí mesmo
- Seus resultados são: rir de si mesmo, não se levar a sério, capacidade infinita de improvisação
- A espreita é o enigma do coração; a consciência é o da mente; o intento é o do espírito
- É um comportamento secreto, furtivo e enganoso para produzir um choque (em si mesmo)
- Para espreitar é preciso ter um propósito, ser impecável, sair da auto-importância, banir hábitos e praticar a loucura controlada (fingir-se imerso na ação, mas sem se identificar, nem ser notado)
- A recapitulação é o ponto forte dos espreitadores. É uma forma especializada de espreitar as rotinas internas.
- A espreita é melhor aprendida em consciência intensificada, sem o inconveniente do inventário
- Liga-se á energia sexual de forma individual. O sonhador usa a energia sexual para sonhar. O espreitador é o oposto

· “A arte da espreita é um conjunto de procedimentos e atitudes que possibilita a um guerreiro conseguir o melhor de qualquer situação concebível. “
A Roda do Tempo, pág. 198

1. “O primeiro princípio da arte da espreita é que os guerreiros escolhem o campo de batalha. Um guerreiro nunca vai para a batalha sem saber o que o cerca.
2. Descartar tudo que não é necessário é o segundo princípio da arte da espreita. Um guerreiro não complica as coisas. Seu objetivo é ser simples.
3. Ele aplica toda a concentração que tem para decidir se entra ou não na batalha, pois qualquer batalha é uma batalha por sua vida. Este é o terceiro princípio da arte da espreita. Um guerreiro deve estar disposto e pronto para travar sua última batalha aqui e agora. Mas não de uma maneira descuidada.
4. Um guerreiro relaxa e se abandona; ele nada teme. Só então os poderes que guiam os seres humanos abrem o caminho para o guerreiro e o ajudam. Só então. Este é o quarto princípio da arte da espreita.
5. Quando diante de dificuldades com as quais não podem lidar, os guerreiros recuam por um momento. Eles deixam a mente vagar. Ocupam seu tempo com alguma outra coisa. Qualquer coisa serve. Este é o quinto princípio da arte da espreita.
6. Os guerreiros comprimem o tempo este é o sexto princípio da arte da espreita. Mesmo um instante conta. Numa batalha por sua vida, um segundo é uma eternidade, uma eternidade que pode decidir o resultado final. Os guerreiros visam ao sucesso, portanto comprimem o tempo. Os guerreiros não desperdiçam um só instante.
7. Para aplicara sétimo princípio da arte da espreita, é preciso aplicar os outros seis; um espreitador nunca se lança para a frente. Ele sempre olha para frente por detrás das cenas.”
A Roda do Tempo, págs. 217 a 221
.
· “Disse que seu benfeitor considerava as três técnicas básicas da espreita - o engradado, a lista de acontecimentos a serem recapitulados, e a respiração do espreitador - como sendo as tarefas talvez mais importantes de um guerreiro. Ele achava que uma recapitulação profunda era o meio mais eficiente para se perder a forma humana. Portanto, seria fácil para os espreitadores, depois de recapitularem suas vidas, fazer uso de todos os não fazeres do seu eu, tais como apagar sua história pessoal, perder a auto-importância, quebrar as rotinas, e assim por diante.
Informou que seu benfeitor deu a todos eles exemplos do que queria dizer, primeiro demonstrando suas premissas, e depois expondo os princípios do guerreiro nas suas ações. No seu caso, como ele era um mestre na arte de espreitar, engendrou o plano da sua doença e sua cura, que não só foi coerente com o método do guerreiro mas também foi uma introdução magistral aos sete princípios da arte de espreitar. Primeiro atraiu Florinda a seu próprio campo de batalha, onde ela ficou à sua mercê; forçou-a a descartar-se do que não fosse essencial; ensinou-lhe a colocar sua vida nos eixos, através de uma decisão; ensinou-lhe a relaxar; fez com que ela desenvolvesse um espírito diferente de otimismo e autoconfiança para que pudesse reorganizar seus recursos; ensinou-lhe a condensar o tempo; e finalmente mostrou-lhe que um espreitador nunca se põe à frente das coisas.
Florinda se impressionava muito com o último princípio. Para ela ele resumia tudo o que ela queria dizer a mim nas suas instruções de última hora.
- Meu benfeitor era o chefe - disse Florinda. - Assim mesmo, olhando para ele ninguém acreditaria. Sempre usava uma de suas guerreiras como fachada, misturando-se livremente entre os doentes, fingindo ser um deles, ou fazendo-se passar por um velho idiota varrendo as folhas secas com uma vassoura improvisada.
Florinda explicou que para aplicar o sétimo princípio da arte de espreitar, tem-se de aplicar os outros seis. Assim, seu benfeitor ficava sempre por trás dos bastidores. Graças a isso ele era capaz de evitar ou aparar conflitos. Se houvesse discórdia, nunca era com ele e sim com a guerreira que estivesse servindo de fachada.
- Espero que você tenha percebido a essa altura - continuou ela - que só um mestre em espreita pode ser um mestre em loucura controlada. A loucura controlado não significa o estudo das pessoas. Significa, como meu benfeitor explicou, que os guerreiros aplicam os sete princípios básicos da arte de espreitar a tudo o que fazem, desde os atos mais simples até situações sérias de vida e de morte. A aplicação desses princípios redunda em três resultados. O primeiro é que os espreitadores aprendem a nunca se levarem a sério; aprendem a rir de si próprios. Se não se importam de parecer bobos, podem enganar a qualquer um. O segundo é que aprendem a ter uma paciência sem fim. Nunca estão com pressa, nunca se desesperam. E o terceiro é que aprendem a desenvolver uma capacidade infinita de improvisação.”
O Presente da Águia, pág. 230

· “Em seu esquema de ensino, o qual foi desenvolvido por feiticeiros de tempos antigos, havia duas categorias de instrução. Uma era chamada "ensinamentos para o lado direito", desenvolvida no estado normal de consciência. A outra era chamada "ensinamentos para o lado esquerdo" , posta em prática apenas em estados de consciência intensificada.
Essas duas categorias permitiam que os professores ensinassem a seus aprendizes em três áreas de habilidades: a mes­tria da consciência, a arte da espreita e a mestria do intento.
Essas três áreas de habilidade, são os três enigmas que os feiticeiros encontram em sua busca ao conhecimento.
A mestria da consciência é o enigma da mente, a perplexi­dade que os feiticeiros experimentam quando reconhecem o es­pantoso mistério e propósito da consciência e da percepção.
A arte da espreita é o enigma do coração o desconcerto que os feiticeiros sentem ao se tornarem conscientes de duas coi­sas: primeiro, que o mundo parece para nós inalteravelmente objetivo e factual, por causa das peculiaridades de nossa cons­ciência e percepção segundo, que se diferentes peculiaridades de percepção entram em jogo, as próprias coisas do mundo que parecem tão inalteravelmente objetivas e factuais mudam.
A mestria do intento é o enigma do espírito, ou o paradoxo do abstrato - os pensamentos e ações dos feiticeiros projeta­dos além de nossa condição humana.
A instrução de Don Juan quanto à arte da espreita e à mes­tria do intento dependia de sua instrução sobre a mestria da consciência, que era a pedra fundamental de seus ensinamen­tos, que consistem das seguintes premissas básicas:
1. O universo é uma aglomeração infinita de campos de energia, semelhantes a filamentos de luz
2. Esses campos de energia, chamados de "emanações da Águia" , radiam de uma fonte de proporções inconcebíveis, me­taforicamente denominada Águia
3. Os seres humanos também são compostos de um nú­mero incalculável dos mesmos campos de energia filamento­sos. Essas emanações da Águia formam uma aglomeração encapsulada que se manifesta como uma bola de luz do tama­nho do corpo da pessoa com os braços estendidos lateralmente, como um ovo luminoso gigante
4. Apenas um grupo muito pequeno de campos de ener­gia no interior dessa bola luminosa são acesos por um ponto de intenso brilho localizado na superfície da bola
5. A percepção ocorre quando os campos de energia desse pequeno grupo imediatamente ao redor do ponto de brilho es­tendem sua luz para iluminar campos de energia idênticos no exterior da bola. Uma vez que os únicos campos de energia per­ceptíveis são aqueles iluminados pelo ponto brilhante, esse ponto é chamado "o ponto onde a percepção é aglutinada" , ou simplesmente "o ponto de aglutinação"
6. O ponto de aglutinação pode ser movido de sua posi­ção usual sobre a superfície da bola luminosa para outra posi­ção na superfície ou no interior. Uma vez que o brilho do ponto de aglutinação pode iluminar qualquer campo de energia com o qual entrar em contato, quando se move para uma nova po­sição ilumina de imediato novos campos de energia, tornando-os perceptíveis. Esta percepção é conhecida como ver
7. Quando o ponto de aglutinação se desloca, torna pos­sível a percepção de um mundo inteiramente diferente – tão objetivo e factual como aquele que normalmente percebemos. Os feiticeiros entram nesse outro mundo para obter energia, po­der, soluções para problemas gerais e particulares, ou para en­carar o inimaginável
8. Intento penetrante que nos faz perceber. Não nos tor­namos conscientes porque percebemos antes, percebemos como resultado da pressão e intrusão do intento
9. O objetivo dos feiticeiros é atingir um estado de cons­ciência total de modo a experimentar todas as possibilidades de percepção disponíveis ao homem. Esse estado de consciên­cia implica mesmo uma maneira alternativa de morrer.”
O Poder do silêncio, pág. 16

· “- O primeiríssimo princípio da espreita é que um guer­reiro espreita a si mesmo. Espreita a si mesmo implacavelmente, com esperteza, paciência e docilmente.
Eu queria rir mas ele não me deu tempo. De modo muito sucinto definiu a espreita como a arte de usar o comportamento de maneiras novas para propósitos específicos. Disse que o com­portamento humano normal no mundo da vida cotidiana era rotina. Qualquer comportamento que escapava à rotina cau­sava um efeito incomum em nosso ser total. Esse efeito inco­mum era o que os feiticeiros buscavam, porque era cumulativo.
Explicou que os feiticeiros videntes dos tempos antigos, através de sua visão, primeiro haviam notado que o compor­tamento incomum produzia um tremor no ponto de aglutina­ção. Breve descobriram que se o comportamento incomum era praticado sistematicamente e dirigido com sabedoria, forçava no final o movimento do ponto de aglutinação.
- O desafio real para aqueles feiticeiros videntes - con­tinuou Don Juan - era encontrar um sistema de comporta­mento que não fosse mesquinho nem caprichoso, mas que combinasse a moralidade e o senso de beleza que diferencia os videntes feiticeiros das bruxas comuns.
Parou de falar, e todos olharam para mim como que bus­cando sinais de fadiga em meus olhos ou rosto.
- Qualquer um que tenha sucesso em mover seu ponto de aglutinação para uma nova posição é um feiticeiro - continuou Don Juan. - E a partir dessa nova posição, pode fazer todos os tipos de coisas boas e más aos seus semelhantes. Ser um feiticeiro, portanto, pode ser o mesmo que ser um sapateiro, ou um padeiro. A causa dos feiticeiros videntes é ir além dessa posição. E para fazê-lo necessitam de moralidade e beleza.
Disse que, para os feiticeiros, a espreita era o alicerce sobre o qual tudo o mais que faziam era construído.”
O Poder do Silêncio, pág. 92

· “- A espreita é uma das duas maiores realizações dos novos videntes. Eles decidiram que deveria ser ensinada ao nagual dos dias modernos quando seu ponto de aglutinação já se tivesse deslocado bem profundamente para o lado esquerdo. O motivo desta decisão é que um nagual precisa aprender os princípios da espreita sem o incômodo do inventário humano. Afinal, o nagual é o líder de um grupo, e para liderá-lo deve agir rapidamente, sem ter que pensar primeiro.
"Outros guerreiros podem aprender a espreitar em sua consciência normal, embora seja aconselhável que o façam em consciência intensificada... não tanto por causa do valor da consciência intensificada, mas porque isto imbui a espreita de um mistério que ela na verdade não possui; espreitar é meramente um comportamento diante das pessoas."
Disse ainda que eu podia agora compreender que mudar o ponto de aglutinação era a razão pela qual os novos videntes atribuíam um valor tão alto à interação com os pequenos tiranos. Os pequenos tiranos forçavam os videntes a usar os princípios da espreita e, ao fazê-lo, ajudavam-nos a deslocar seus pontos de aglutinação. .
Perguntei-lhe se os antigos videntes sabiam alguma coisa sobre os princípios da espreita.
- A espreita foi desenvolvida exclusivamente pelos novos videntes - falou, sorrindo. - São os únicos videntes que tiveram de lidar com pessoas. Os antigos estavam tão enredados em seu sentido de poder que só foram perceber que as pessoas existiam quando elas começaram a bater-lhes nas cabeças. Mas você já sabe de tudo isso. .
Dom Juan disse em seguida que o domínio da intenção, juntamente com o domínio da espreita são as duas obras-primas dos novos videntes, que marcam o advento dos videntes dos dias de hoje.”
O Fogo Interior, pág. 164


· "Uma das grandes manobras dos espreitadores é contrapor o mistério à estupidez que há em cada um de nós." Explicou que as práticas da espreita não são coisas para alguém se rejubilar; na verdade, são completamente censuráveis. Sabendo disso, os novos videntes percebem que seria contra o interesse geral discutir ou praticar os princípios de espreita em consciência normal. Apontei-lhe uma incongruência. Ele dissera que não há meios de os guerreiros agirem no mundo enquanto se encontram em consciência intensificada, e também que espreitar é simples­mente comportar-se diante de pessoas de maneiras específicas. As duas afirmações contradiziam-se mutuamente.
- Por não ensiná-la em consciência normal referia-me apenas a ensiná-la a um nagual - disse ele. - O propósito de espreitar é duplo: primeiro, deslocar o ponto de aglutinação tão firmemente e a salvo quanto possível, e nada pode fazê-lo tão bem quanto a espreita; segundo, imprimir seus princípios a um nível tão profundo que o inventário humano seja ultrapassado, assim como a reação natural de recusar e julgar algo que possa ser ofensivo à razão.
Falei que duvidava sinceramente que eu conseguisse julgar ou recusar algo dessa forma. Riu e disse que eu não podia ser uma exceção, que iria reagir como todos os outros quando ouvisse sobre os feitos de um mestre espreitador, como seu benfeitor, o nagual Julian.
- Não estou exagerando quando lhe digo que o nagual Julian era o mais extraordinário espreitador que jamais conheci ­disse Dom Juan. - Você já ouviu de todos sobre seus talentos de espreita. Mas nunca lhe contei o que ele fez comigo.”
O Fogo Interior, pág. 178

· “- A arte de espreitar é aprender todos os truques de seu disfarce - retrucou Belisário, não dando atenção ao que Don Juan lhe dizia. - E devem ser apreendidos com tanta eficiên­cia que ninguém perceba o seu disfarce. Para isso, você precisa ser implacável, esperto, paciente e agradável.”
O Poder do Silêncio, pág. 78

· “- Essa sensação de estar arrolhado é experimentada por todo ser humano. É um lembrete da existência de nossa conexão com o intento. Para os feiticeiros essa sensação é ainda mais aguda, precisamente porque seu objetivo é sensibilizar seu elo de conexão até que possam fazê-lo funcionar à vontade.
"Quando a pressão de seu elo de conexão é grande demais, os feiticeiros aliviam-na espreitando a si mesmos.”
- Ainda acho que não compreendo o que quer dizer por espreitar - falei. - Mas em certo nível penso que sei exatamente o que quer dizer.
- Tentarei ajudar você a esclarecer o que sabe, então. Espreitar é um procedimento, um procedimento muito simples. Espreitar é comportamento especial que segue certos princípios.
É um comportamento secreto, furtivo, enganoso, designado a provocar um choque. E quando você espreita a si mesmo, você choca a si mesmo, usando seu próprio comportamento de um modo implacável e astucioso.
Explicou que quando a consciência de um feiticeiro ficava enredada pelo peso de suas aquisições perceptivas, o que estava acontecendo comigo, o melhor, ou talvez o único remédio, era usar a idéia da morte para proporcionar esse choque de espreita.
- A idéia da morte, portanto, é de importância monumental na vida de um feiticeiro - continuou Don Juan. - Mostrei-lhe coisas inumeráveis a respeito da morte para convencê-lo de que o conhecimento de nosso fim pendente e inevitável é o que nos dá sobriedade. Nosso engano mais caro como homens comuns é não se importar com o senso de imortalidade. É como se acreditássemos que, se não pensássemos a respeito da morte, nos pudéssemos proteger dela.”
O Poder do Silêncio, pág. 115

· “- O primeiro princípio da arte de espreitar é que os guerreiros escolhem seu campo de batalha - disse. - Um guerreiro nunca entra na batalha sem saber o que o cerca. A curandeira tinha me mostrado, na sua batalha com Celestino, o princípio da espreita. Depois ela veio para onde eu me encontrava deitada. Eu estava chorando. Era a única coisa que podia fazer. Ela pareceu preocupada; cobriu meus ombros com o cobertor, sorriu e piscou o olho para mim. "O trato continua - disse. - Volte assim que puder, se quiser viver. Mas não traga seu mestre com você, sua putinha. Venha com os que forem absolutamente necessários".
Florinda fixou os olhos em mim por algum tempo. Pelo seu silêncio concluí que ela esperava comentários da minha parte.
- Descartar tudo o que for necessário é o princípio da arte de espreitar - disse ela, sem me dar tempo de dizer nada.
O Presente da Águia, pág. 221

· “- Ela está treinando a arte de espreitar - disse Lídia. – O Nagual ensinou-nos a confundir as pessoas, para elas não nos notarem. Josefina é muito bonita e quando anda sozinha de noite, ninguém a importuna, se for feia e fedorenta, mas se ela sair como realmente é, bem, você mesmo pode dizer o que vai acontecer.
Josefina concordou com a cabeça e depois fez a careta mais feia do mundo.
- Ela consegue ficar com essa cara o dia inteiro - disse Lídia.
Argumentei que se eu morasse por ali, certamente havia de reparar mais depressa em Josefina com o seu disfarce do que se ela não estivesse disfarçada.
- Aquele disfarce foi só para você - disse Lídia, e as três se riram. - E veja como o enganou. Você reparou mais no seu filho do que nela mesma.
Lídia foi para o quarto e trouxe um embrulho de trapos que parecia uma criança embrulhada e jogou-o na mesa diante de mim.
Eu ri às gargalhadas junto com elas.
- Vocês todas têm disfarces especiais? - perguntei.
- Não. Só Josefina. Ninguém por aqui a conhece como ela é mesmo - respondeu Lídia.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 78

· “- Diga-me agora, qual é a arte de espreitar? - perguntei.
- O Nagual era um espreitador - disse ela, e olhou para mim. - Você deve saber disso. Ele lhe ensinou a espreitar desde o prin­cípio.
Ocorreu-me que aquilo a que ela se referia era o que Dom Juan chamava de caçador. Certamente ele me ensinara a ser caçador. Eu lhe disse que Dom Juan me ensinara a caçar e fazer armadilhas. Porém o uso que ela fazia do termo espreitador era mais preciso.
- Um caçador apenas caça - disse ela. - Um espreitador espreita qualquer coisa, inclusive a si mesmo.
- Como é que ele faz isso?
- Um espreitador impecável pode transformar qualquer coisa em presa. O Nagual me disse que podemos espreitar até as nossas próprias fraquezas.
Parei de escrever e procurei lembrar-me se Dom Juan algum dia me apresentara uma possibilidade tão nova: espreitar as minhas fraquezas. Não me recordava que ele jamais tivesse dito a coisa nesses termos.
- Como é que podemos espreitar nossas fraquezas, Gorda? - Do mesmo modo que você espreita a caça. Você estuda os seus hábitos até conhecer todos os atos de suas fraquezas e depois salta sobre elas e as pega como coelhos dentro de uma gaiola.
Dom Juan me ensinara a mesma coisa sobre os hábitos, mas no sentido de um princípio geral de que os caçadores devem ter consciên­cia. Porém a compreensão e a aplicação que ela tinha daquilo eram mais pragmáticas do que as minhas.
Dom Juan dissera que qualquer hábito era, em essência, um "ato" e que um "ato" precisava de todas as suas partes para poder funcionar. Se faltassem algumas partes, um ato se desmoronava. Por ato ele queria dizer qualquer série coerente e significativa de ações. Em outras palavras, um hábito precisava de todas as suas ações com­ponentes para poder ser uma atividade viva.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 167

· “Depois a Gorda descreveu como ela espreitara a sua própria fraqueza de comer exageradamente. Disse que o Nagual sugerira que ela primeiro atacasse a parte maior desse hábito, que se ligava ao seu trabalho como lavadeira; ela comia tudo o que os fregueses lhe da­vam, enquanto ia de casa em casa entregando a roupa lavada. Ela es­perava que o Nagual lhe dissesse o que devia fazer, mas ele apenas riu e caçoou dela, dizendo que assim que ele disse para ela fazer alguma coisa, ela havia de lutar para não fazê-lo. Ele disse que os seres humanos são assim; adoram que se diga o que devem fazer, mas adoram mais ainda lutar e não fazer o que se manda, e assim se con­fundem e detestam aquele que lhes falou em primeiro lugar.
Durante muitos anos ela não conseguiu pensar em nada para espreitar sua fraqueza. Mas um dia ela ficou tão farta de ser gorda que se recusou a comer durante 23 dias. Aquele foi o ato inicial que rompeu a sua fixação. Depois ela teve a idéia de meter uma esponja na boca, para fazer os fregueses acreditarem que ela tinha um dente in­feccionado e que não podia comer. O subterfúgio deu certo não apenas com os fregueses, que pararam de lhe dar comida, mas tam­bém com ela mesma, pois ela tinha a impressão de estar comendo, ao mastigar a esponja. A Gorda riu ao contar que passou anos com uma esponja metida na boca, até acabar com o hábito de comer demais.
- Foi só isso que você teve de fazer para perder o hábito? - perguntei.
- Não. Também tive de aprender a comer como uma guerreira. - E como é que uma guerreira come?
- Uma guerreira come com calma e devagar e muito pouco de cada vez. Eu costumava falar enquanto comia e comia muito depressa e uma porção de comida de cada vez. O Nagual me disse que um guerreiro come quatro bocados de comida de cada vez. Um pouco depois ele come mais quatro bocados e assim por diante.
"Um guerreiro também caminha vários quilômetros por dia. A minha fraqueza de comer nunca me deixava caminhar. Eu a venci comendo quatro bocados de hora em hora e caminhando. Às vezes eu caminhava o dia inteiro e a noite inteira. Foi assim que perdi a gor­dura nas minhas nádegas.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 167

· ”- Mas espreitar as suas fraquezas não é suficiente para perdê­-las - disse ela. - Você pode espreitá-las até o dia do juízo e não vai alterar nada. É por isso que o Nagual não quis dizer-me o que fazer.
O que o guerreiro precisa mesmo a fim de ser um espreitador im­pecável é ter um propósito.
A Gorda contou como tinha vivido à-toa antes de conhecer o Nagual, sem nenhum objetivo. Não tinha esperanças, nem sonhos, nem desejo de nada. Porém a oportunidade de comer estava sempre à mão, para ela; por algum motivo que ela não sabia explicar, sempre houvera bastante comida para ela, desde que nascera. Tanta mesmo que em certa ocasião ela chegou a pesar 107 quilos.
- Comer era a única coisa de que eu gostava na vida”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 168

· “- Um feiticeiro é um tolteca quando recebeu os mistérios de espreitar e sonhar - disse ela, com displicência. - Nagual e Genaro receberam esses mistérios dos benfeitores deles e depois os conser­varam em seus corpos. Nós estamos fazendo a mesma coisa, e devido a isso somos toltecas como o Nagual e Genaro.
"O Nagual ensinou a você e a mim a sermos igualmente de­sapaixonados. Eu sou mais desapaixonada do que você porque não tenho forma. Você ainda tem a sua forma e é vazio, de modo que fica preso em cada armadilha. Mas um dia você será completo de novo e então compreenderá que o Nagual tinha razão. Ele disse que o mundo dos homens sobe e desce e as pessoas sobem e descem com seu mun­do: como feiticeiros, não temos nada de acompanhá-las em suas su­bidas e descidas.
" A arte dos feiticeiros é estar por fora de tudo e passar despercebido. E mais que tudo, a arte dos feiticeiros é nunca desperdiçar o seu poder. O Nagual me disse que o seu problema é que sempre fica preso em besteiras, como o que está fazendo agora. Tenho certeza de que vai perguntar a todos nós a respeito dos tolteca, mas não vai per­guntar a nenhum de nós sobre a nossa atenção.
O riso dela era cristalino e contagioso. Confessei que ela tinha razão. Os pequenos problemas sempre me fascinaram. Também lhe disse que não compreendia o uso que ela fazia da palavra atenção.
- Já lhe disse o que o Nagual me ensinou sobre a atenção - disse ela. - Seguramos as imagens do mundo com a nossa atenção. Um feiticeiro homem é muito difícil de treinar porque a atenção dele está sempre fechada, focalizada sobre alguma coisa. A mulher, ao con­trário, está sempre aberta porque a maior parte do tempo ela não focaliza sua atenção sobre nada. Especialmente durante a mens­truação.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 180

· “A aprendizagem do ensonho não ofende, o máximo que você pode fazer é não acreditar que tal coisa é possível. Por outro lado, a espreita, da maneira como praticam os bruxos, é muito ofensiva para a razão. Muitos guerreiros evitam falar sobre isso, porque não têm estômago para agüentá-lo. Na fase inicial, o aprendiz fica no fogo cruzado e se sente frustrado, não consegue sair do seu ego.
"A espreita é como uma moeda, tem duas caras. Por um lado, é a coisa mais fácil que há, e por outro, é uma técnica muito difícil, não porque seja complexa, mas porque trata de aspectos sobre si mesmas que as pessoas normalmente não querem tratar.
"A espreita induz movimentos minúsculos, mas muito sólidos, do ponto de aglutinação; não é como o ensonho que o move profundamente; mas retrai como um elástico e volta imediatamente ao que você era. Quando espreita, você segue vendo tudo igual como sempre, por isso você tentará aplicar critérios cotidianos às coisas. Se em uma dada circunstância como esta, você é forçado a alguma mudança por seu instrutor, a coisa mais certa é que você ficará ofendido ou ferido em seu orgulho e se afastará do ensino".
Perguntei qual era, então, o modo como os bruxos transmitiam essa arte.
Respondeu que, tradicionalmente, é ensinado em estado de consciência acrescentada e é deixada para o fim.
"Isso não é algo que possa ser dito logo de cara. É necessário entendê-lo nas entrelinhas. Esta parte da aprendizagem pertence aos ensinamentos para o lado esquerdo. Leva muitos anos para ser lembrado em que consiste, e outros tantos mais para poder levá-lo à prática.
"No nível em que você está agora, a única coisa que lhe permite agüentar a espreita é abordar isto com métodos de ensonho. Se em algum momento você sente que estou tocando tópicos demasiado pessoais ou as suspeitas o tomam, olhe para suas mãos ou use qualquer outro convocador que você tenha escolhido. A atenção dos ensonhos ajudará a mover sua fixação".
Encontros com o Nagual, pág. 140

· "A espreita é a atividade central de um rastreador de energia. Embora possa ser aplicado com resultados surpreendentes a nosso tratamento com as pessoas, está desenhado principalmente para afinar o próprio praticante. Manipular e dominar os outros é uma tarefa árdua, mas é incomparavelmente mais difícil dominar a nós mesmos. Por isso a espreita é a técnica que distingue o nagual.
"A espreita pode ser definida como a habilidade de fixar o ponto de aglutinação em novas posições.
"O guerreiro que espreita é um caçador. Mas, ao contrário do caçador ordinário que tem a visão fixa em seus interesses materiais, o guerreiro persegue uma presa maior: sua importância pessoal. Isso o prepara para enfrentar o desafio de lidar com seus semelhantes - algo que o ensonho não pode resolver por si só. Os bruxos que não aprendem a espreitar se transformam em pessoas mal humoradas".
"Porque?"
"Porque eles não têm a paciência para tolerar as bobagens das pessoas.
"A espreita é natural para nós devido a uma característica.de nossa herança animal: para sobreviver, todos desenvolvemos hábitos de comportamento que moldam nossa energia e nos adaptam ao meio. Estudando essas rotinas, um observador atento pode predizer com precisão o comportamento de um animal ou um ser humano em um determinado momento.
"Os guerreiros sabem que toda forma de hábito é um vício. Pode amarrá-lo ao consumo de drogas ou ir para a igreja todos os domingos; a diferença é de forma, não de essência. Da mesma maneira, quando pensamos que o mundo é razoável ou que as coisas em que acreditamos é a única verdade, estamos sendo as vítimas de um hábito que oblitera nossos sentidos, fazendo com que só vejamos o que nos seja familiar.
"As rotinas são padrões de comportamento que seguimos de um modo mecânico, embora já não tenham sentido. Para espreitar é necessário sair do imperativo da sobrevivência.
"Devido ao fato de que ele é o dono de suas decisões, um guerreiro espreitador é uma pessoa que baniu da vida dele todo o vestígio de hábito. Só tem que recuperar sua integridade energética para ser livre. E como ele tem liberdade de escolher, pode envolver-se em formas calculadas de comportamento, seja para tratar com as pessoas ou com outras entidades conscientes.
Encontros com o Nagual, pág. 142

· "Não se complique. Você está tentando caricaturizar o ensinamento. Se você quiser espreitar, observe-se a si mesmo. Todos nós somos uns excelentes caçadores, a espreita é nosso dom natural. Quando a fome aperta, ficamos mais atentos; as crianças choram e alcançam o que querem; as mulheres enrodilham os homens e os homens se vingam entre si, enganando-se em seus negócios. Espreitar é conseguir seu objetivo.
"Se você se dá conta do mundo em que vive, entenderá que manter-se atento a ele, é um tipo de espreita. Considerando que nós aprendemos isso antes que a nossa capacidade de discriminação se desenvolvesse, o damos como um fato natural e quase nunca o questionamos. Porém, todas as nossas ações, até mesmo as mais altruístas, estão, no fundo, impregnadas do instinto do caçador.
"O homem comum não sabe que espreita porque seu caráter foi subjugado pela socialização. Está convencido de que sua existência é importante; dessa forma, suas ações estão a serviço de sua importância pessoal, não do aumento de sua consciência"-
Encontros com o Nagual, pág. 145

· “Não é possível viver estrategicamente o tempo todo - respondi. - Imagine que alguém o esteja esperando, com uma carabina possante, de mira telescópica; ele poderia avistá-lo com precisão a cem metros de distância. O que você faria?
Dom Juan olhou para mim com um ar de descrença e depois deu uma gargalhada.
- O que você faria? - insisti.
- Se alguém me estiver esperando com uma carabina de mira telescópica? - disse ele, evidentemente zombando de mim.
- Se alguém estiver escondido, à sua espreita. Você não terá uma chance. Não pode deter uma bala.
- Não. Não posso. Mas ainda não entendi o que você quer provar.
- Quero provar que toda a sua estratégia não o pode ajudar, numa situação dessas.
- Mas pode, sim. Se alguém estiver à minha espreita com uma carabina possante de mira telescópica, eu simplesmente não vou aparecer.
Uma estranha realidade, pág. 171

· “As Atlantas são o nagual; são sonhadoras. Representam a ordem da segunda atenção transportada; é por isso que são tão ameaçadoras e misteriosas. São criaturas em conflito, mas não des­troem. A outra fileira de colunas, as retangulares, representa a ordem da primeira atenção, a tonal. São espreitadoras, por isso são cobertas de inscrições. São muito pacíficas e sábias, o oposto da fileira da frente.”
O Presente da Águia, pág. 18

· “As espreitadoras eram as que recebiam o impacto do mundo diário; as gerentes de negócios, as que lidavam com as pessoas. Tudo que se relacionava ao mundo de assuntos comuns passava por elas. As espreitadoras eram praticantes da loucura controlado, assim como as sonhadoras eram praticantes do sonho. Em outras palavras, a loucura controlado é a base da espreita, e os sonhos são a base do sonhar. Dom Juan disse que, de um modo geral, a maior realização de um guerreiro na segunda atenção era sonhar, e na primeira aten­ção, espreitar”
O Presente da Águia, pág. 169

· “Explicou que a recapitulação é o ponto forte dos espreitadores, como o corpo sonhador é o ponto forte dos sonhadores. Consistia em recordar sua vida até os mínimos detalhes. Para isso seu benfeitor lhe tinha dado aquele engradado como um instrumento e um símbo­lo. Era um instrumento que lhe permitia aprender a Se concentrar, pois tinha de se sentar lá durante anos até que toda sua vida tivesse passado diante dos seus olhos. E era um símbolo dos estreitos limi­tes da nossa pessoa. Seu benfeitor lhe disse que quando terminasse a recapitulação quebrasse o engradado para simbolizar que não mais mantinha as limitações da sua pessoa.
Ela disse que os espreitadores usam engradados ou caixões de terra a fim de se trancarem dentro enquanto estão revivendo, mais que simplesmente rememorando, todos os momentos de suas vidas. Os espreitadores devem recapitular suas vidas completamente, por­que a dádiva da Águia ao homem inclui a disposição de aceitar uma conscientização substituta, em vez de verdadeira, se tal substituição for uma réplica perfeita. Florinda explicou que como a consciência é o alimento da Águia, ela pode se satisfazer com uma recapitulação perfeita em lugar da consciência.
Florinda me deu então os fundamentos da recapitulação. Disse que o primeiro estágio é um breve relato de todos os incidentes da nossa vida, que se apresentam de uma maneira óbvia para exame.
O segundo estágio é uma recordação mais detalhada, que sistematicamente vai desde a época anterior ao espreitador ter se sentado dentro do engradado, e teoricamente se estende ao momento do nas­cimento.
Ela me assegurou que uma recapitulação perfeita pode mudar um guerreiro tanto, se não mais, quanto o controle total do corpo sonhador. Nesse particular, o sonho e a espreita têm a mesma finalidade, entrar na terceira atenção. É importante, entretanto, que o guer­reiro saiba e pratique os dois. Disse que para a mulher há configu­rações diferentes do corpo luminoso para se aperfeiçoar em uma ou em outra. Os homens, ao contrário, podem realizar os dois com facilidade, mas ao mesmo tempo não podem nunca chegar ao grau de eficiência que as mulheres atingem em cada arte.”
O Presente da Águia, pág. 228

· “Teoricamente, os espreitadores têm de se lembrar de cada sentimento que tiveram na vida, e esse processo se inicia com uma respiração. Ela me avisou que o que estava me ensinando eram apenas preliminares, que mais tarde, em condições diferentes, me ensinaria as complexidades do processo.
Florinda disse que seu benfeitor lhe orientou a escrever uma lista de acontecimentos a serem revividos. Falou que a técnica se iniciava com uma respirada inicial. Os espreitadores começam com o queixo sobre o ombro direito e lentamente inspiram à medida que viram a cabeça num ângulo de cento e oitenta graus. A respirada termina no ombro esquerdo. Uma vez terminada a inspiração, a cabeça volta a ficar relaxada. Eles expiram olhando para a frente.
O espreitador então pega o primeiro acontecimento da lista e se concentra, até que todos os sentimentos que nele se encerram tenham sido recontados. Enquanto se lembram dos sentimentos que tiveram durante o acontecimento recordado, inspiram lentamente, movendo a cabeça do ombro direito para o esquerdo. A função dessa respiração é restaurar energia. Florinda disse que o corpo luminoso está cons­tantemente criando filamentos semelhantes a teias de aranha, que são projetados para fora da massa luminosa, impulsionados por qualquer tipo de emoções. Portanto, cada situação de interação ou cada situa­ção que envolve sentimentos é potencialmente drenada para o corpo luminoso. Respirando da direita para a esquerda enquanto se lem­bram de um sentimento, os espreitadores, através da mágica da respi­ração, pegam os filamentos que foram deixados para trás. A próxima respirada imediata é da esquerda para a direita e é uma expiração. Com ela os espreitadores soltam os filamentos deixados neles por outros corpos luminosos envolvidos no acontecimento que está sendo recordado.
Ela declarou que essas eram as preliminares essenciais da espreita”
O Presente da Águia, pág. 229

· “Dom Juan disse então que, nas listas estratégicas dos guerreiros, a vaidade figura como atividade que consome a maior quantidade de energia, daí seu esforço para erradicá-la.
- Uma das primeiras preocupações dos guerreiros é libertar aquela energia para poder encarar o desconhecido com ela ­continuou Dom Juan. - A ação de recana1izar aquela energia é a impecabilidade.
Disse, ainda, que a estratégia mais eficaz foi elaborada pelos videntes da Conquista, mestres inquestionáveis da espreita. Consiste de seis elementos que interagem entre si. Cinco deles são chamados de atributos do guerreiro: controle, disciplina, paciência, oportunidade e vontade. Estes dizem respeito ao mundo do guerreiro que está lutando para perder a vaidade. O sexto elemento, talvez o mais importante de todos, pertence ao mundo exterior, e é chamado de pequeno tirano.
Olhou-me como se perguntasse silenciosamente se eu compreendera ou não.
- Estou realmente intrigado - disse eu. - Você está sempre dizendo que La Gorda é o pequeno tirano de minha vida.
O que é exatamente um pequeno tirano?
- Um pequeno tirano é um atormentador - explicou. - Alguém que ou mantém poder de vida e morte sobre guerreiros ou simplesmente os perturba, levando-os à distração.”
O Fogo Interior, pág. 27

· “Dom Juan parou de falar, e olhou-me fixamente. Houve um silêncio desajeitado; então começou a falar sobre a espreita. Disse que a espreita teve origens muito humildes e acidentais. Partiu da observação feita pelos novos videntes de que, quando os guerreiros se comportam por algum tempo de modo fora do habitual, as emanações não usadas no interior de seus casulos começam a brilhar. E seus pontos de aglutinação se deslocam de maneira suave, harmoniosa, muito pouco perceptível.
Estimulados por essa observação, os novos videntes começaram a praticar o controle sistemático do comportamento. Chamaram a essa prática arte da espreita. Dom Juan comentou que, embora discordasse do nome, ele era apropriado, porque a espreita envolvia um tipo específico de comportamento diante das pessoas, um comportamento que poderia ser categorizado como sub-reptício.
Os novos videntes, armados com essa técnica, sondaram o conhecido de uma maneira sóbria é frutífera. Pela prática contínua, fizeram seus pontos de aglutinação se deslocar constantemente.
- A espreita é uma das duas maiores realizações dos novos videntes. Eles decidiram que deveria ser ensinada ao nagual dos dias modernos quando seu ponto de aglutinação já se tivesse deslocado bem profundamente para o lado esquerdo. O motivo desta decisão é que um nagual precisa aprender os princípios da espreita sem o incômodo do inventário humano. Afinal, o nagual é o líder de um grupo, e para liderá-lo deve agir rapidamente, sem ter que pensar primeiro.
"Outros guerreiros podem aprender a espreitar em sua consciência normal, embora seja aconselhável que o façam em consciência intensificada... não tanto por causa do valor da consciência intensificada, mas porque isto imbui a espreita de um mistério que ela na verdade não possui; espreitar é meramente um comportamento diante das pessoas."
Disse ainda que eu podia agora compreender que mudar o ponto de aglutinação era a razão pela qual os novos videntes atribuíam um valor tão alto à interação com os pequenos tiranos. Os pequenos tiranos forçavam os videntes a usar os princípios da espreita e, ao fazê-lo, ajudavam-nos a deslocar seus pontos de aglutinação. .
O Fogo Interior, pág. 163

· “Assim que as mulheres partiram, Dom Juan retomou abrup­tamente sua explicação. Disse que à medida que o tempo passava e os novos videntes estabeleciam suas práticas, perceberam que, sob as condições prevalecentes da vida, espreitar deslocava muito pouco os pontos de aglutinação. Para efeito máximo, a espreita necessitava de uma localização ideal; necessitava de pequenos tiranos em posições de grande autoridade e poder. Tomou-se cada vez mais difícil para os novos videntes se colocarem a si próprios em tais situações; a tarefa de improvisá-las ou procurá-las tomou­ se uma carga insuportável.
Os novos videntes julgaram imperativo ver as emanações da Águia para encontrar uma maneira mais adequada de deslocar o ponto de aglutinação. Quando tentaram ver as emanações, foram confrontados com um problema sério. Descobriram que não há maneira de ver as emanações sem correr um risco mortal, e no entanto tinham de vi-las. Essa foi a época em que usaram a técnica de sonhar dos antigos videntes como um escudo para proteger-se do golpe mortal das emanações da Águia. E, ao agir assim, perceberam que sonhar era na verdade o modo mais eficiente de deslocar o ponto de aglutinação.”
O Fogo Interior, pág. 166

· "Os novos videntes perceberam que em nosso estado normal de consciência temos incontáveis defesas que podem resguardar­-nos contra a força de emanações inusuais, que subitamente se alinham durante o sonho."
Dom Juan explicou que sonhar, assim como espreitar, começava com uma simples observação. Os antigos videntes tiveram consciência de que nos sonhos o ponto de aglutinação se desloca ligeiramente para a esquerda; de maneira natural. Com efeito, o ponto de aglutinação relaxa quando o homem dorme, e todos os tipos de emanações inusuais começam a brilhar.
Os antigos videntes ficaram imediatamente intrigados com esta observação e começaram a trabalhar com esse deslocamento natural até se tomarem capazes de controlá-lo. Chamaram esse controle de sonhar, ou a arte de manejar o corpo sonhador.
O Fogo Interior, pág. 167

· “Você é um sonhador. Se não tiver cuidado com sua energia sexual, pode muito bem se acostumar à idéia de movi­mentos erráticos de seu ponto de aglutinação. Há um momento você estava espantado por suas reações. Bem, seu ponto de aglu­tinação move-se quase erraticamente, porque sua energia se­xual não está equilibrada.
Fiz um comentário estúpido e inoportuno sobre a vida se­xual dos machos adultos.
- Nossa energia sexual é o que governa sonhar - expli­cou. - O nagual Elias ensinou-me, e eu ensinei a você, que você ou faz amor com sua energia sexual ou sonha com ela. Não há outra maneira. A razão pela qual menciono tudo isto é porque você está encontrando grande dificuldade em mover seu ponto de aglutinação para aprender nosso último tópico: o abstrato.
"A mesma coisa aconteceu comigo. Só depois que minha energia sexual foi libertada do mundo é que tudo se encaixou no lugar. Esta é a regra para sonhadores. Os espreitadores são o oposto. Meu benfeitor era, você poderia dizer, um libertino sexual tanto como homem comum quanto como nagual.”
O Poder do Silêncio, pág. 53

· “Explicou a Don Juan que espreitar era uma arte aplicável a tudo, e que havia quatro passos para aprendê-la: implacabilidade, esperteza, paciência e doçura.
Senti-me compelido a interromper seu relato mais uma vez. - Mas a espreita não é ensinada em profunda consciência intensificada? - perguntei.
- É claro - replicou com um sorriso. - Mas você pode compreender que para alguns homens usar roupas de mulhe­res é a porta para a consciência intensificada. Com efeito, tais meios são mais efetivos que empurrar o ponto de aglutinação, mas são muito difíceis de arranjar.
Don Juan contou que seu benfeitor afiava-o diariamente nas quatro disposições da espreita e insistia que Don Juan com­preendesse que implacabilidade não deveria ser rudeza, esper­teza não deveria ser crueldade, paciência não deveria ser negligência e doçura não deveria ser tolice.”
O Poder do Silêncio, pág. 80

· “Numa voz muito baixa, Don Juan disse que por eu estar num estado de consciência intensificada, podia compreender mais de imediato o que ia contar-me acerca das duas mestrias: espreita e intento. Chamou-as a glória culminante dos feiticei­ros antigos e novos, a própria coisa com a qual os feiticeiros estavam preocupados atualmente, preocupação semelhante à dos feiticeiros há milhares de anos. Assegurou que espreitar era o princípio, e que antes de tudo ser tentado no caminho do guer­reiro, os guerreiros precisam aprender a espreitar em seguida devem aprender a intentar, e apenas então podiam mover seu ponto de aglutinação à vontade.”
O Poder do Silêncio, pág. 91

· “Na arte de espreitar - continuou Don Juan - há uma técnica que os feiticeiros usam muito: loucura controlada. Segundo eles, a loucura controlada é a única maneira que têm de
lidar consigo mesmos, em seu estado de consciência e percepção expandidas, e com todos e tudo no mundo dos afazeres diários.
Don Juan explicou a loucura controlada como a arte do engano controlado ou a arte de fingir estar profundamente imerso na ação - fingindo tão bem que ninguém pudesse distingui-lo da coisa real. A loucura controlada não é um engano direto, mas um modo sofisticado, artístico, de estar separado de tudo permanecendo ao mesmo tempo uma parte de tudo.
- A loucura controlada é uma arte - continuou Don Juan. - Uma arte que causa muitas preocupações, e muito difícil para se aprender. Muitos feiticeiros não suportam isso, não porque haja alguma coisa inerentemente errada com a arte, mas porque é preciso muita energia para exercê-la.
Don Juan admitiu que a praticava conscienciosamente, embora não gostasse particularmente de fazê-lo, talvez porque seu benfeitor fosse tão adepto a ela. Ou talvez fosse porque sua personalidade - que ele disse ser basicamente tortuosa e mesquinha - simplesmente não tinha agilidade necessária para praticar a loucura controlada.
Olhei para ele com surpresa. Parou de falar e fixou-me com seus olhos maliciosos.
- Na época em que chegamos à feitiçaria, nossa personalidade já está formada - disse, e encolheu os ombros em sinal de resignação -, e tudo que podemos fazer é praticar a loucura controlada e rir de nós mesmos.”
O Poder do Silêncio, pág. 233

· “Dom Juan mostrou seu espanto com o fato de, dentre todas as coisas maravilhosas que os feiticeiros antigos aprenderam explo­rando esses milhares de posicionamentos, somente a arte de sonhar e a arte de espreitar permanecem hoje em dia. Reiterou que a arte de sonhar tem a ver com o deslocamento do ponto de aglutinação. E então definiu a espreita como a arte que lida com a fixação do ponto de aglutinação em qualquer posicionamento para o qual ele foi deslocado.
- Fixar o ponto de aglutinação em qualquer novo posicio­namento para o qual foi deslocado significa adquirir coesão ­falou. - Você esteve fazendo exatamente isso em seus exercícios de sonhar.
- Achei que estava aperfeiçoando minha atenção sonhadora - falei, um tanto surpreso com sua afirmação.
- Você está fazendo isso e muito mais; está aprendendo a ter coesão. Sonhar faz isso forçando os sonhadores a fixar o ponto de aglutinação. A atenção sonhadora, o corpo energético, a segun­da atenção, o relacionamento com seres inorgânicos, o emissário do sonho, são apenas subprodutos do processo de adquirir coesão; em outras palavras, são todos subprodutos de fixar o ponto de aglutinação em várias posições do sonhar.
- O que é uma posição do sonhar, Dom Juan?
- Qualquer novo posicionamento para onde o ponto de aglutinação tenha se deslocado durante o sono.”
A Arte do Sonhar, pág.86

· "A arte de espreitar, como já disse, tem a ver com a fixação do ponto de aglutinação. Através da prática os feiticeiros antigos descobriram que ainda mais importante do que deslocar o ponto de aglutinação é fazer com que ele fique no novo posicionamento, onde quer que seja.
Explicou que, se o ponto de aglutinação não ficar estacionário, não há possibilidade de percebermos coerentemente. O que per­ceberíamos seria um caleidoscópio de imagens desassociadas. Por isso os feiticeiros antigos punham tanta ênfase no sonhar quanto na espreita. Uma arte não pode existir sem a outra, especialmente para o tipo de atividade em que eles estavam envolvidos.
- Quais eram essas atividades?
- Os feiticeiros antigos chamavam-nas de complexidades da segunda atenção e de grande aventura do desconhecido.
Dom Juan disse que essas atividades eram resultantes dos deslocamentos do ponto de aglutinação. Os feiticeiros antigos aprenderam não somente a deslocar seu ponto de aglutinação para milhares de posicionamentos na superfície ou no interior de sua massa energética, como também a fixar o ponto de aglutinação nessas posições, e assim manter indefinidamente a coesão.
- Qual é o benefício disso, Dom Juan?
- Não podemos falar sobre benefícios. Só podemos falar sobre resultados finais.
Explicou que a coesão dos feiticeiros antigos era tamanha a ponto de permitir que se tornasse perceptivo e fisicamente tudo que fosse ditado pelo posicionamento específico de seu ponto de aglutinação. Podiam transformar-se em qualquer coisa para a qual tivessem um inventário específico. Segundo ele um inventário era a relação de todos os detalhes de percepção envolvidos em tornar­-se, por exemplo, jaguares, pássaros, insetos etc. etc.
A Arte do Sonhar, pág.94

· Explicou que, como tudo que é relacionado ao corpo energético depende do posicionamento adequado do ponto de aglutina­ção, e como o sonhar nada mais é do que um meio de deslocá-lo, espreitar - conseqüentemente - é o meio de fazer o ponto de aglutinação fixar-se na posição ideal; neste caso, a posição onde o corpo energético pode ser consolidado, e da qual ele finalmente emerge.
Dom Juan disse que, no momento em que o corpo energético consegue se movimentar sozinho, os feiticeiros presumem que foi encontrado o posicionamento ideal do ponto de aglutinação. O passo seguinte é espreitá-lo, isto é, fixá-lo naquela posição para completar o corpo energético. Observou que o procedimento é de uma simplicidade total. Basta intentar espreitá-lo.
Silêncio e olhares de expectativa seguiram-se a essa afirma­ção. Esperei que ele dissesse mais, e ele esperou que eu tivesse compreendido o que dissera. Não tinha.
- Deixe seu corpo energético intentar a chegada ao melhor posicionamento de sonhar - ele explicou. - Em seguida, deixe seu corpo energético intentar a permanência naquele posiciona­mento, e você estará espreitando.
A Arte do Sonhar, pág.181

· “- Vou propor uma linha de ação para você- falou num tom cortês, quando terminamos o almoço. - É a última tarefa do terceiro portão do sonhar, e consiste em espreitar os espreitadores; uma manobra misteriosíssima. Espreitar os espreitadores significa que você deliberadamente retira energia do mundo dos seres inorgânicos com o objetivo de realizar um ato de feitiçaria.
- Que tipo de ato de feitiçaria, Dom Juan?
- Uma viagem; uma viagem que usa a consciência como um elemento do ambiente. No mundo da vida cotidiana a água é um elemento do ambiente que usamos para viajar. Imagine a consciência como um elemento semelhante, que pode ser usado para viajar. Através da consciência batedores de todo o universo vêm até nós. E através da consciência os feiticeiros vão aos confins do universo.
Havia alguns conceitos, dentre a enorme quantidade de conceitos que Dom Juan me fizera conhecer no decorrer de seus ensinamentos, que não precisavam de insistência para atrair meu interesse total. Esse era um deles.
- A idéia de que a consciência é um elemento físico é uma coisa revolucionária - falei espantado.
- Não falei que ela é um elemento físico - ele me corrigiu. - É um elemento energético. Você precisa fazer essa distinção. Para os feiticeiros que vêem, a consciência é um brilho. Eles podem atrelar seu corpo energético àquele brilho e viajar com ele.
- Qual é a diferença entre um elemento físico e um elemento energético? - perguntei.
- A diferença é que os elementos físicos são parte de nosso sistema de interpretação, mas os elementos energéticos não. Os elementos energéticos, como a consciência, existem em nosso universo. Mas nós, como pessoas comuns, só percebemos os elementos físicos porque nos ensinaram isso. Os feiticeiros percebem os elementos energéticos pelo mesmo motivo: porque lhes ensinaram a fazê-lo.”
A Arte do Sonhar, pág.205

· Dom Juan me dizia o tempo todo que os feiticeiros estavam divididos em dois grupos: um grupo de sonhadores; o outro de espreitadores. Os sonhadores eram aqueles que tinham grande fa­cilidade de deslocar o ponto de aglutinação. Os espreitadores eram aqueles que tinham grande facilidade em manter o ponto de aglutinação fixado naquela nova posição. Sonhadores e esprei­tadores complementavam uns aos outros, e trabalhavam em pa­res, afetando uns aos outros com suas inclinações inatas.
Dom Juan assegurou-me que o deslocamento e a fixação do ponto de aglutinação poderiam ser alcançados à vontade, por meio da disciplina férrea dos feiticeiros. Disse que os feiticeiros de sua linhagem acreditavam que havia pelo menos seiscentos pontos na esfera luminosa que nós somos, e que quando alcançados à vontade pelo ponto de aglutinação pode nos dar um mundo totalmen­te inclusivo; o que significa que, se o nosso ponto de aglutinação é deslocado para qualquer desses pontos e permanecer fixo nele, perceberemos um mundo como inclusivo e total, como o mundo da vida cotidiana, porém, mesmo assim, um mundo diferente.
O Lado Ativo do Infinito, pág. 223

· “Dom Juan dissera que a arte dos espreitadores entra em jogo depois que o ponto de aglutinação foi deslocado. Manter o ponto de aglutinação fixo na nova posição assegura aos feiticeiros a per­cepção do novo mundo que eles entraram em sua absoluta ple­nitude, exatamente como nós fazemos no mundo dos assuntos corriqueiros. Para os feiticeiros da linhagem de Dom Juan, o mun­do da vida cotidiana não é mais do que uma camada de um mun­do total consistindo em pelo menos seiscentas camadas.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 224

· “Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista desapegado, da mesma maneira que nós aprendemos, quando crianças, a avaliá-lo a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da atenção, está muito mais próximo da realidade energética das coisas.
"Sem essa precaução, a convulsão emocional resultante do exercício de espreitar a nossa auto-importância pode ser tão dolorosa que o aprendiz pode ficar louco ou ser levado ao suicídio. Quando ele aprender a contemplar o mundo a partir da não compaixão, intuindo que por trás de toda a situação que implique um desgaste energético há um universo impessoal, o aprendiz deixa de ser um nó de sentimentos e se torna um ser fluido.
Encontros com o Nagual, pág. 39

· "Recapitular é espreitar nossas rotinas, submetendo-a a um escrutínio sistemático e impiedoso. É a atividade que nos permite visualizar nossa vida como totalidade e não como uma sucessão eventual de momentos. Porém, e ainda que isto possa parecer estranho, só os bruxos recapitulam como norma; o resto das pessoas apenas o faz por casualidade.
"A recapitulação é a herança dos antigos videntes, a prática básica, a essência da bruxaria. Sem ela não há nenhum caminho.”
Encontros com o Nagual, pág. 79

· “A recapitulação é uma forma especializada de espreita e vocês devem empreender isto com um alto sentido de estratégia. Trata-se de entender e pôr em ordem nossas existências, vendo-as tal e qual são, sem remorsos, repreensões ou felicitações, com desapego total e um ânimo leve, até de humor, porque nada em nossa história é mais importante que nada e todas as relações, afinal, são efêmeras.
"O importante é começar, porque a energia que nós recuperamos desde o primeiro intento nos dará forças para continuar recapitulando aspectos mais e mais intrincados de nossas vidas. Primeiro, é necessário começar pelo investimento mais forte que são os sentimentos mais desgarrados. Depois seguimos por aquelas memórias tão profundas que nós já acreditávamos esquecidas, mas que estão ali.
Encontros com o Nagual, pág. 82

· “Carlos continuou dizendo que os bruxos antigos usavam plantas de poder para parar o diálogo interno. Mas os guerreiros atuais preferem condições menos arriscadas e mais controladas.
"Podemos obter os mesmos resultados produzidos pelas plantas quando nos colocamos contra a parede. Ao enfrentar situações limite, como o perigo, o medo, a saturação sensorial e a agressão, algo em nós reage e toma o controle. A mente se põe em alerta e suspende a tagarelice automaticamente. Colocar-se a si mesmo deliberadamente nessas situações se chama espreita.”
Encontros com o Nagual, pág. 95

· "Fui com meu dilema ver Don Juan. Ele riu do assunto e falou que um princípio dos espreitadores é não se confrontar com ninguém, e menos ainda com pessoas mais poderosas que eles.
Encontros com o Nagual, pág. 120

· "Talvez você não tenha tido boa sorte. Meu mestre dizia que cada ser humano traz sua tendência de nascença. Nem todos são bons ensonhadores; alguns têm maior facilidade para a espreita. A questão importante é que você insista".
Encontros com o Nagual, pág. 125

Apontando as pessoas que voltavam do trabalho, falou: "O que você acha que eles foram fazer? Essas pessoas foram viver seu último dia! A coisa triste é que, provavelmente, poucos deles sabem disto. Cada dia é único e o mundo não é só como nos falaram. Cancelar a força do hábito é uma decisão que se toma de uma vez. A partir desse ato, o guerreiro se torna um espreitador"-
Encontros com o Nagual, pág. 143

· "E não pode acontecer que o guerreiro acabe fazendo do seu propósito algo cotidiano?"
Não. Isto é algo que você tem que entender muito bem, pois do contrário sua busca por impecabilidade perderá seu frescor e você terminará traindo-a. Romper rotinas não é o propósito do caminho, mas apenas um meio. A meta é estar consciente. Tendo isso em consideração, outra definição da espreita é: 'uma atenção inflexível sobre um resultado total”
"Esse tipo de atenção sobre um animal dá como resultado um pedaço de carne.(???) Se o aplicarmos isto sobre outra pessoa, produz um cliente, um discípulo ou um enamoramento. E sobre um ser inorgânico, nos proporciona o que os bruxos chamam 'um aliado.' Mas só se aplicarmos a espreita em nós mesmos, pode ser considerada uma arte tolteca, porque então produz algo precioso: a consciência".
Encontros com o Nagual, pág. 144

· "O método do bruxo consiste em focalizar de uma maneira nova a realidade em que vivemos. Mais que acumular informação, o que se busca é recompactar a energia. Um guerreiro é alguém que aprendeu a espreitar-se a si mesmo e já não carrega uma pesada imagem para mostrar aos outros. Ninguém pode descobri-lo se ele não o desejar, porque não tem apegos. Está além do caçador, pois aprendeu a rir de si mesmo".
Contou como sua instrutora, dona Florinda Matus, o ensinou a passar despercebido.
Exatamente no momento em que meus livros me transformaram em um homem rico, ela me enviou a fritar hambúrgueres em um restaurante de estrada! Durante anos trabalhei vendo meu dinheiro sem poder usá-lo. Disse que isso me ensinaria a não perder a perspectiva adequada. E aprendi minha lição!
Encontros com o Nagual, pág. 146

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